uma previsão futura
Naquela sexta-feira de manhã, durante a conversa sobre o futuro com as amigas, deu-se um daqueles momentos eureka! Em segundos, visualizou como seria o seu futuro e mal podia esperar para chegar a casa e contar o seu plano ao seu amor.
Foi a correr da estação de metro até casa, subindo os degraus dois a dois, na ânsia de lhe contar. Porque sabia que se o plano que idealizara fosse ridículo e impossível de passar à ação, ele seria a primeira pessoa a dizê-lo. Era uma das suas características base - a capacidade de análise - e daquelas que ela nem sempre gostava, porque a fazia regressar ao planeta terra enquanto vagueava pelo universo.
Ele estava dedicado ao almoço, fazendo um incrível malabarismo entre controlar as panelas que estavam ao lume, cortar os alimentos e temperar o manjar que estava a preparar para os dois. Esta, por sua vez, era uma das suas características que ela mais gostava. Não havia nenhuma refeição preparada por ele que não a deliciasse.
Quando chegou a casa, a hiperventilar pela excitação (e pela subida veloz das escadas), disse-lhe ofegante "tive uma ideia para o meu sítio de estágio e vou precisar da tua ajuda!". Ele olhou-a curioso e fez-lhe sinal para avançar e começar a contar o seu plano. Ela, numa adrenalina incontrolável, contou-lhe tudo, pormenorizadamente, detalhe a detalhe. Durante a viagem de metro, que lhe pareceu interminável, teve oportunidade de pensar em todas as respostas às possíveis questões que ele lhe pudesse questionar. É o que acontece quando se namora com uma mente puramente racional: pensa-se em todas as possibilidades e mais algumas.
Terminou de falar, olhando-o com expectativa e ele, refletindo acerca de tudo que ela acabara de lhe dizer, sorriu, concordando com ela que era uma excelente ideia. E mais: faria tudo que pudesse para a ajudar a transformar o seu plano numa realidade. Sorriram os dois, com o coração a antecipar o que o futuro lhes reservaria.
Afinal, aproximava-se o término de uma fase das suas vidas, seguindo-se de imediato o começo de outra, talvez a mais importante e a mais assustadora até à data. Iam passar da vida académica para a vida profissional, dar o salto. Desta vez não existiam guiões pré-definidos do que iria acontecer, seriam eles os autores da sua própria história. Um poder que os deixava ora entusiasmados, ora assustados.
Aquele plano, nascido de uma conjugação aleatória de sinapses neuronais, transformou-se em realidade. Porque ela era aquele tipo de pessoa que quando se propunha a um objetivo, não descansava até o alcançar. Ela sabia que podia não ser a pessoa mais inteligente ou com mais recursos, mas sabia que compensava todos os défices com o seu excesso de esforço e vontade. Era focada, não havia nada que ela sentisse que, com esforço, não seria capaz de conseguir realizar. Porque esta era a curiosidade acerca de si: não gostava de pensar no futuro, tinha aversão a criar expectativas sobre o que quer que fosse pelo preço da desilusão, mas quando se permitia sonhar e idealizar, só parava quando a previsão se transformasse em realidade.