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the old soul girl

the old soul girl

17
Nov19

um equívoco consertado

girl

Seria sempre e para sempre uma das melhores memórias deles enquanto família. Quatro almas, há muito tempo atrás, tanto que até parece ter sido numa outra vida, em redor da mesa de jantar, riram-se tanto que, a dado momento, gargalhadas deram origem a lágrimas, que se tornaram novamente em gargalhadas, só que mais fortes e descontroladas. Riram-se tão alto que até temeram que os vizinhos pudessem ouvir e pensar que estávamos todos a endoidecer naquele andar.

Sabem aqueles momentos de riso que nos fazem doer a barriga como se tivéssemos acabado de participar numa prova de abdominais para entrar para o exército? Em que nos sentimos leves como penas quando, finalmente, nos conseguimos restabelecer? Mas sabemos que, se alguém não aguentar e retomar o riso, já lá vamos nós também novamente?

Pronto, esta memória é sobre um desses momentos. Um desses momentos inesquecíveis quando ainda éramos uma família da qual eu me orgulhava. Nessa altura, a única refeição que fazíamos todos juntos era o jantar, devido à correria da vida de cada um. Mas o jantar era muito mais do que nos sentarmos à mesa e comermos. Era um momento de partilha, em que cada um de nós contava as novidades do seu dia e se debatiam os mais diversos assuntos. Por vezes, os nossos jantares prolongavam-se, mas era tão difícil sair da mesa e dar por encerrado aquele momento em que sentimos que pertencíamos uns aos outros e juntos éramos capazes de tudo. 

Num desses longos jantares, a propósito não sei bem de quê, houve uma confusão de palavras. A minha mãe queria dizer uma coisa, mas todos entendemos outra que distorcia por completo o que ela nos tentava dizer e tornava a história hilariante. Nós riamos que nem uns perdidos e ela olhava para nós como se fossemos doidos e ela fosse a única pessoa sã naquela mesa. Quando, entre risos e respirações ofegantes, o meu pai tentou esclarecer o equívoco, a minha mãe juntou-se a nós na risota. Finalmente entendeu o que tínhamos percebido e como isso tornava tudo muito mais engraçado.

Rimo-nos tanto naquela noite e continuamos sempre a rir-nos quando recordávamos esse momento épico. Um acontecimento tão simples, mas que nos deixava sempre de sorriso no rosto. Acho que ainda hoje, apesar de não sermos mais uma família e os nossos jantares serem pautados apenas pela comida e longos silêncios, esta memória é capaz de nos fazer sorrir. Porque esta é a parte boa do passado: não pode ser alterado. E, assim, nunca perderemos esse momento, mesmo depois de termos perdido tudo o resto.