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the old soul girl

the old soul girl

01
Out23

Hold tight, you're slowly coming back to life

girl

E chegamos a outubro! E ao outono! Quem é que desse lado também adora esta estação do ano? Os dias que começam a mingar, as manhãs e os finais de dia arrefecem e já não conseguimos sair de casa sem um casaquinho às costas, o chá quente que aquece a alma, as mantas e os cobertores, o roupão que está atrás da porta do quarto que começa a seduzir e a pedir uso, as folhas começam a amarelar e a desvincular-se dos tons verdes, é um festival de cores, de sensações, de emoções. 

Tenho sentido falta de escrever, mas os dias andam corridos, entre tarefas que parecem nunca terminar. Ao final de um dia de trabalho, passado em frente ao computador, admito que não sinto muita vontade de chegar a casa e tornar a sentar-se em frente a um monitor. Tenho lido e dormido muito, às vezes adormecendo a meio de uma página, porque o cansaço fala mais alto e o corpo me pede descanso. Felizmente, as férias estão à porta e terei oportunidade para parar e dedicar-me ao que tanto gosto.

Neste fim-de-semana de calor louco e fora de época, aproveitei para ir caminhar até à praia, ver o mar e perder-me no seu horizonte e imensidão, sentir o sol no rosto e dar-me tempo e espaço, para respirar, para me sentar à beira mar e ver o sol desaparecer, aos bocadinhos, naquela paleta alaranjada cujas palavras são sempre insuficientes para descrever a sua beleza e magia. 

Tenho pensado muito na importância de abraçar os pequenos momentos da vida e do quotidiano. E, mais do que pensar, tenho-me obrigado a aprecia-los e vive-los. A saborea-los. Com uma mente tão agitada e hiperativa, tenho a sensação constante de que estou sempre a pensar sobre tudo e a sentir muito pouco. É como se o mundo me chegasse através de pensamentos e não tanto através de sensações, de cheiros, de sabores, de cores. Eu vejo, eu ouço, eu sinto, mas penso demasiado. E tenho-me dedicado a sentir mais e a pensar menos. Não é fácil, mas convenço-me de que estar consciente de que tal acontece e tentar inverter esta tendência é o primeiro passo. 

07
Set23

my little sister

girl

Eu sou a mais velha, mas ela é a que dá o exemplo e me inspira. É a pessoa mais hilariante que conheço, aquela a quem tudo lhe acontece e a forma como relata as suas peripécias ainda as torna mais caricatas. É uma contadora de histórias nata e os momentos em que o faz, são aqueles em que me sinto mais focada no aqui e no agora, são o verdadeiro mindfulness. Acho que nunca ouvi uma história sua até ao fim sem me rir às gargalhadas. Sabem aquela galhofa boa, que nos faz doer os músculos da barriga e ficar em apneia? Com a minha irmã são incontáveis esse tipo de situações e memórias. 

Ela é a minha representação de coragem. Prefere sempre uma verdade dura a uma mentira, uma desilusão a um estado de felicidade e inocência não reais. Tem medos e fragilidades, mas não deixa que estes a limitem. Pelo contrário, abraça-os, trabalha-os, investe ativa e continuamente na sua evolução e melhoria. Face a um desafio, o entusiasmo vence sempre o medo. Não teme o fracasso, conhece-o de perto e isso apenas a transformou numa pessoa melhor, mais real e autêntica.

É sensível, compassiva e tão, mas tão justa. Procura sempre defender o lado mais frágil da balança, usa a sua voz para defender causas e ideias, sendo raras as situações em que a ouvi criticar alguém. É inteligente, culta e tem a rara capacidade de explicar de forma simples o que é complexo. 

É dona de uma beleza clássica, com um sorriso que ilumina qualquer espaço em que entre. Talvez porque sorrir é-lhe tão natural como respirar. Tem um toque de fada mágica dos bosques, seja lá o que isto queira dizer. 

É a minha protegida, a minha confidente, a única pessoa neste mundo que conhece todos os meus lados, ângulos e recônditos. Não faz anos hoje, não há nenhum motivo especial para lhe dedicar estas palavras. Nem tem de existir. Ela faz parte da minha lista diária de gratidão, tem um lugar cativo na enumeração de todas as coisas e pessoas pelas quais agradeço todos os dias. E hoje, que me apeteceu começar o dia a pensar naquilo que me faz sentir bem e imensamente feliz por estar viva, as minhas palavras são sobre ela e para ela. A minha irmã mais nova, o meu coração que bate fora do peito. 

04
Set23

mad world

girl

Nem sei muito bem como começar a escrever este post, porque sei, de antemão, que isto poderá dar pano para mangas. Mas é um tema que me anda a consumir nos últimos tempos e que me tira do sério, por mais que eu tente ser pacífica e a favor da paz. 

O que é que se anda a passar com as pessoas? Será que as pessoas sempre foram mesquinhas, más, reles, e eu é que não via? Ou escolhia não ver? Ultimamente, tenho-me confrontado com situações que me deixam estupefacta e, honestamente, muito desiludida. Talvez porque cresci a acreditar que as pessoas são genuinamente boas, que existe sempre um contexto no qual podemos enquadrar um comportamento, uma atitude e que se isso não justifica tudo, pelo menos ajuda-nos a compreender um pouco mais. 

Primeiro, no trabalho. Eu já sei que as pessoas tendem a revelar o seu lado menos bom e mais aguçado em ambientes de grande pressão, onde o stress está ao rubro e nos faz funcionar em modo de luta ou ataque. Mas isso não me permite compreender o porquê de as pessoas tomarem a decisão, deliberadamente, de prejudicarem outros colegas, só porque sim. Porque entre estarem sossegados a fazer o seu trabalho ou a regarem os outros a gasolina e atirarem-lhe um fósforo para cima, preferem a última opção. Preferem os conflitos, sendo muitas vezes os criadores dos mesmos. Apontam o dedo a tudo e a todos, esquecendo-se de que, muitas vezes, ganhamos mais se olharmos para os dedos que temos apontados a nós próprios. Há pessoas que acordam e escolhem vestir esta pele de lobo, de vilão e isso nunca deixará de me chocar. No dia em que me tornar imune a tal coisa, é porque me perdi de mim mesma e dos meus valores. 

Mas não é apenas no trabalho que encontro estes rasgos de estupidez e malvadez. Pensei muito se deveria trazer este tema para cima da mesa, porque não queria dar palco e microfone a algo que considero ser um mero sussurro, insignificante. Mas, ao mesmo tempo, acho importante marcar a minha posição, porque me sinto cansada de ser testemunha deste tipo de comportamentos. Estou a referir-me a um anónimo, seja lá ele quem for, até podem ser vários, que comenta os posts deste blog recorrentemente. Comenta também outros blogs, porque já o/a encontrei noutras secções de comentários e pelo estilo da escrita, tratar-se-á certamente da mesma pessoa. Este anónimo não é ofensivo, não chama nomes, não é mal educado. Mas destila a sua mesquinhez em todos os textos que escrevo. Por norma, questiona-me sempre qual é a utilidade dos meus textos e qual é o interesse que os outros têm em ler as coisas que eu escrevo. Chega ao ponto de questionar comentários que me são deixados, porque se acha senhor/a da razão. 

E agora, questiono eu: qual é o seu objetivo? Se não gosta deste tipo de partilha, se não se identifica, se não lhe interessa, para quê dar-se ao trabalho de incomodar alguém? Aproveite a sua liberdade de expressão para partilhar as coisas que lhe interessam, que o apaixonam, que o fazem sentir bem. Usufrua da sua capacidade de escrita e escreva os seus próprios textos, deixando os outros sossegados a fazer o mesmo. Não consigo conceber como é que alguém tão insatisfeito com aquilo que escrevo, pode ser uma presença tão constante e assídua neste espaço. Não me faz sentido. Do mesmo modo, que não consigo desvendar o que leva uma pessoa a sentir-se no direito de fazer este tipo de comentários. Se eu sei que não vou acrescentar nada, que apenas vou destabilizar e chatear, eu remeto-me ao silêncio. No limite, se me sentir muito tentada a comentar um tema polémico, a marcar a minha posição, tento fazê-lo com maior respeito possível pelo outro e pela sua visão. 

Não sei o que se passa com o mundo. Evoluímos tecnologicamente, vivemos mais tempo, com uma aparente maior qualidade de vida, vamos ao espaço e já hipotetizamos mudar-nos para outros planetas, mas no meio de tudo isto, parece-me que estamos a tornar-nos menos pessoas. Estamos a perder as características que nos tornam humanos e nos distinguem das outras espécies. Entristece-me que estejamos todos menos tolerantes, menos compassivos e compreensivos. Sobretudo por termos todos vivido, até há bem pouco tempo, uma adversidade mundial que, penso eu, poderia ter sido a catapulta perfeita para nos tornarmos pessoas um bocadinho melhores. 

É normal não gostarmos de tudo, não gostarmos de toda a gente, cairmos na armadilha de fazer julgamentos errados, sermos injustos. Somos falíveis, imperfeitos e isso é o que nos torna fascinantes. No meio de tanta coisa incontrolável e que não depende de nós, acho que temos a ganhar se nos dedicarmos às coisas que podemos fazer, que estão ao nosso alcance. E contribuir para o bem-estar do outro, do que está ao meu lado, que partilha a mesma condição humana que eu, é algo que pode ser a nossa escolha. No limite, se não nos apetecer fazer o bem, ao menos que não pratiquemos o mal! 

01
Set23

ao meu amor

girl

Estou desde de manhã a tentar escrever algo para registar este dia, que é um dos mais importantes da minha vida. Não encontro as palavras certas. Sinto que já as gastei a todas e, ao mesmo tempo, que não existem palavras suficientes quando o tema do texto és tu.
Tu, que hoje completas mais uma volta em torno do sol. Mais uma década de vida assinalada e eu cheia de orgulho, gratidão e felicidade de poder gritar ao mundo que faço parte dela. Estou aqui há, pelo menos, metade do teu tempo de vida. E, se tu e a vida me permitirem, assim continuarei, até ao final.
Porque imaginar a vida sem ti não é um exercício que seja capaz de concretizar. É ilógico, sem razão e sentido. És tão essencial e presente na minha existência como o ar que respiro, o sol que ilumina e o céu que me envolve. Não se concebe a vida humana sem ar, certo? Da mesma forma, eu não vejo a minha vida sem estar de mãos dadas com a tua.
Tu, meu amor, que és o homem mais descontraído, mais pragmático e resoluto que conheço. És a definição de carisma, confiança e independência. Não fazes fretes, não tens medo de não ser gostado, não aceitas o que não achas justo, mesmo que até possas compreender. És um homem de objetivos e metas, trabalhador e sempre focado no nível a seguir. Ambicioso, observador, minucioso e dado ao detalhe. Consegues passar um tempo infinito a apreciar as formas de um objeto, a estudar a beleza de um espaço. Não te dás ao mundo, escolhes muito bem com quem e em que condições te deixas revelar. Passas, algumas vezes, por arrogante, mas só por aqueles que não te conhecem verdadeiramente e não sabem que atrás do teu escudo protetor, encontramos a humildade e a bondade.

Conheci-te miúdo, apaixonei-me por ti adolescente e hoje amo-te homem, adulto, senhor de si e do mundo. És o meu melhor amigo e não o digo de forma leve. És a pessoa que torce sempre pela equipa do meu eu, inclusive quando eu não o faço. És o meu amor, o meu colo, o meu abraço de paz e conforto, o lugar onde todos os pesos se tornam menos pesados, as dores menos intensas e os problemas menos complexos.
Praticamos um amor incondicional, onde aceitamos as nossas falhas e imperfeições, convivendo com elas com a pacificidade possível e aprendendo, todos os dias, a gostar um do outro não apesar delas, mas por causa delas.
Desejo-te o mundo, meu amor. Quero ser a testemunha da realização e concretização de todos os teus sonhos, sabendo, de antemão, que não se trata de um "se", mas apenas de um "quando". Quero ver-te feliz, sano, completo, sereno, a gargalhar até te doerem os músculos da barriga. Quero-te sempre, para sempre. Feliz aniversário, pequenino.

31
Ago23

till the end

girl

Avó, hoje é o teu dia. Sempre será. Estejas onde estiveres. Esta data é tua. Não te posso dizer que me lembro especialmente de ti neste dia, porque mentiria. Lembro-me de ti um sem número de vezes, nas mais pequenas circunstâncias da vida e do quotidiano. Quando passo fora da tua antiga casa, cenário de tantas memórias felizes. Foi o palco de uma infância bem vivida, cheia de amor, carinho, mimo, colo. Quando me vejo ao espelho e encontro na forma do meu corpo a tua, a mesma curvatura, a mesma largura. Quando fecho os olhos e te vejo diante de mim, com os braços abertos para me acolheres num abraço apertado. Quando penso na vida e quando penso na morte. Até na tua ausência continuaste a ensinar-me e foi contigo que aprendi o que é morrer, o que é sofrer pela morte de alguém que tanto se ama e o que é recuperar desse lugar escuro e sombrio, que é o luto.

Demorei a processar a tua partida, avó. Tu deverás saber, porque se existe algo mais do que isto, se existe algo além, longe daqui eu sei que continuaste a acompanhar-me com atenção e dedicação. E, por isso, és conhecedora de como somente um ano depois, no lugar mais inesperado e da forma mais surpreendente, fui capaz de chorar a tua morte. Ainda me lembro do desespero das minhas lágrimas e da aflição da minha respiração. Tudo tão cru, tão presente, como se tivesse acontecido no dia anterior. Ensinaste-me que se sobrevive à dor, que é possível conviver com uma saudade que não finda, apenas se multiplica, à medida que o tempo vai passando. Hoje consigo recordar-te como sempre desejei. Feliz, terna, forte, corajosa. Só existe paz, serenidade e amor quando me lembro de ti. 

Adoro-te, avó. Adoro tudo o que me deste, adoro tudo o que representas para mim, adoro cada pedacinho de tempo que tivemos oportunidade de viver juntas. Continuas a ser o meu porto seguro, quando fecho os olhos e regresso ao lugar onde fomos tão felizes.

Hoje celebro a tua vida, avó. E celebro a minha, porque enquanto existir, tu existes também. Vives comigo e em mim, nas minhas memórias mais puras e felizes. Vives nos meus exercícios de gratidão, onde és presença constante. Vives nos meus momentos mais difíceis, como farol, símbolo de força, de coragem e determinação. Vives na pessoa que fui, na pessoa que sou e farás sempre parte da pessoa que um dia serei. 

Até ao meu último dia, este dia é teu e eu aqui estou para o celebrar. 

31
Ago23

Palavras sábias #2

girl

"I do not have the answer to the question of why, at least not now and not in this life. But I do know that there is incredible value in pain and suffering, if you allow yourself to experience it, to cry, to feel sorrow and grief, to hurt. Walk through the fire and you will emerge on the other end, whole and stronger. I promise. You will ultimately find truth and beauty and wisdom and peace. You will understand that nothing lasts forever, not pain, or joy. You will understand that joy cannot exist without sadness. Relief cannot exist without pain. Compassion cannot exist without cruelty. Courage cannot exist without fear. Hope cannot exist without despair. Wisdom cannot exist without suffering. Gratitude cannot exist without deprivation. Paradoxes abound in this life. Living is an exercise in navigating within them.

I was deprived of sight. And yet, that single unfortunate physical condition changed me for the better. Instead of leaving me wallowing in self-pity, it made me more ambitious. It made me more resourceful. It made me smarter. It taught me to ask for help, to not be ashamed of my physical shortcoming. It forced me to be honest with myself and my limitations, and eventually to be honest with others. It taught me strength and resilience."

Julie Yip-Williams, Letter to her daughters (July 2017) via Letters of Note

 

P.S - Estas palavras sábias chegam-me todas as semanas, através da newsletter do James Clear, autor do famoso (e incrível) livro Atomic Habits. Aconselho vivamente a que subscrevam, todas as quintas-feiras chegam pedacinhos de inspiração, de reflexão, de magia. 

21
Ago23

Reencontros felizes

girl

Este fim-de-semana encontrei uma amiga que já não via há imenso tempo. Uma amiga que conheci na infância, reencontrei na adolescência e que foi companhia e presença constante nos anos da faculdade. Uma daquelas pessoas que encarna o fenómeno agulha num palheiro, por ser tão especial que, de facto, nos faz sentir que dificilmente encontraremos alguém semelhante. Foi tão engraçado encontrá-la no meio de uma avalanche de gente, ver aquele sorriso no meio de tantos rostos e aqueles braços abertos para me receber num abraço apertado, de saudade e alegria. 

Poderia ter-se passado uma década desde o nosso último encontro, a nossa última conversa e, ainda assim, tenho a certeza que teríamos a mesma facilidade em comunicar uma com a outra. Há pessoas, há amizades assim. O tempo passa, passa por cada uma de nós, mas não machuca a conexão criada e é simplesmente fácil. É simples. É um regresso a casa. É aquela sensação de conforto e serenidade de estarmos num espaço familiar e seguro. 

Atualizamos as novidades das nossas vidas. Somos ambas da mesma área profissional e, como tal, partilhamos as mesmas dificuldades, desafios e dúvidas. Optamos por percursos muito diferentes, mas parece-me que o resultado final não difere assim tanto. Ela, sempre mais persistente e sonhadora, decidiu abraçar o desafio de continuar na nossa área; eu, mais pragmática e realista, decidi seguir de imediato para o plano b, que rapidamente se tornou no único plano possível. Hoje estamos as duas afastadas da nossa paixão, com algumas desilusões e amarguras colecionadas pelo caminho.

A verdade é que a faculdade foi um período dourado nas nossas vidas. Não por não existirem dificuldades e momentos duros, porque existiram e a maioria deles aconteceu na nossa vida pessoal e não tanto académica. Mas porque tivemos a felicidade de decidir estudar uma área que nos preencheu por completo e nos fez sentir que estávamos no sítio certo. Eu, pelo menos, passei grande parte da minha vida de estudante a sentir-me desintegrada. Nunca fui uma má aluna, pelo contrário, mas sempre me senti à deriva. Estudava para ter boas notas, porque sabia que era o meu dever, porque os meus pais me incentivavam a tal, mas nunca estudei com um propósito maior. Nunca soube o que queria ser, a não ser saber que queria ser feliz. E isso significa que, independentemente do que estivesse a fazer, eu queria sentir-me feliz a fazê-lo. Quando chegou o momento de escolher, a minha opção foi feita pelo método mais arriscado: exclusão de partes. Excluindo tudo o que tinha a certeza que não gostava e não queria, sobraram poucas opções em cima da mesma e foram essas as minhas escolhas. 

Por isso, descobrir que, no meio do acaso, a escolha foi a certeira, foi uma sensação que ainda hoje não encontro palavras para descrever. Acho que foram os cinco anos mais felizes da minha vida e nos quais me consegui descobri e ser finalmente eu, se é que isto faz algum sentido. Foram anos de muito crescimento, de desafio, de estar simplesmente no caminho certo. Cada descoberta era mágica e reforçava as minhas certezas. 

Ao encontrar a minha amiga, viajei até esses anos, tão bons, tão ricos. Tempos em que o tempo era meu, era da minha total e inteira responsabilidade. Em que o mundo parecia estar nas nossas mãos e tudo era possível. Foi tão bom encontrar uma das personagens principais dessa época e perceber que, apesar tudo, a amizade, a pureza, se mantêm intactas. E que, apesar de tudo, das nossas vidas não se terem concretizado exatamente como prevíamos e desejávamos, conseguimos encontrar novos caminhos, reconstruir propósitos, compreender que há muitas opções diferentes para se ter um final feliz e que Carl Rogers foi sábio nas suas palavras e visão da vida:

"The good life is a process, not a state of being. It is a direction, not a destination.". Estamos a caminho, querida amiga 

18
Ago23

As minhas recomendações #1

girl

Hoje apetece-me fazer um post sobre recomendações, que é algo que adoro fazer às pessoas da minha vida. Gosto genuinamente de partilhar quando encontro coisas interessantes para ler, ouvir, ver. Por isso, deixo aqui algumas delas, que tive o prazer de descobrir nos últimos tempos:

 

- Debaixo da Língua, podcast de Rui Maria Pêgo, da Rádio Comercial 

Se eu pudesse escolher uma pessoa "conhecida" (não gosto deste termo, mas também não gosto do termo "famoso") da qual gostaria de ser amiga, o Rui Maria Pêgo seria a minha escolha. Acho-o uma pessoa super interessante e cheia de mundo; é culto, é um comunicador nato e brilhante. As conversas que tem com os seus convidados, no podcast, são tão bem desenvolvidas, as questões que coloca tocam nos "nervos" certos, a sua presença na conversa torna-a melhor, mais profunda, mas nunca se sobrepõe ao convidado. É empático, é divertido, é carismático e faz as perguntas certas, da forma certa. Ainda não ouvi um episódio que não achasse interessante e no qual não tivesse aprendido algo ou ficado a pensar em algum tema de forma diferente. O episódio com o ator Nuno Queimado, por exemplo, tem estado a ecoar na minha mente há dias. O episódio com a apresentadora Maria Botelho Moniz é inspirador. O episódio com a Andreia Criner fez-me sorrir o tempo todo e, pela primeira vez, ouvi duas pessoas (a Andreia e o Rui) a descrever na perfeição o porquê de os concertos serem experiências tão mágicas e intensas. Aconselho vivamente a darem uma oportunidade a este podcast; eu tenho ouvido enquanto trabalho, enquanto passo a ferro, arrumo a cozinha, é uma excelente companhia. 

 

- Inacreditável, podcast de Inês Castelo Branco, da Rádio Comercial

Mais um podcast da Rádio Comercial que vale muito a pena. Confesso-vos que ainda nenhum episódio conseguiu superar o primeiro, que é sobre a experiência de Mónica, no tsunami de 2004, na Tailândia. Este primeiro episódio, que dá o pontapé de saída do podcast, é absolutamente avassalador e inacreditavelmente bom. Depois deste, há outros episódios interessantes e, como o nome do próprio podcast sugere, inacreditáveis. Histórias felizes, de coincidências, de situações engraçadas e que se tornaram em boas histórias para contar. A Inês é uma atriz incrível, como se sabe, mas vocalmente, a forma como narra e conta as histórias é envolvente e deliciosa. O que não é assim tão interessante, rapidamente se torna, através da sua voz, da tua entoação. 

 

- Série de Livros Cottonwood Cove, da Laura Pavlov

Sabem a sensação de alegria de ler um livro de uma escritora que não conhecem, mas que ficam imediatamente a adorar? E a sensação de histeria de descobrir que ela tem vários livros publicados, que ainda estão a aguardar por vocês? É uma das coisas maravilhosas da vida. Tinha o Into the Tide há meses no meu kobo, a aguardar ser escolhido. Protelei, li outros livros, até que decidi dar uma oportunidade a este, que é o primeiro da série Cottonwood Cove. É escusado dizer que adorei. Faço o disclaimer, desde já, que é um romance e, por isso, não criem a expectativa de que é um nobel da literatura à espera de ser reconhecido. É uma leitura leve, cativante, com direito a final feliz, que eu tanto gosto. Tem os ingredientes que eu adoro num romance: tem dual POV; as personagens são cativantes, não só as principais, mas todas as restantes; é steamy, o que significa que temos uma história de amor com intensidade; está bem desenvolvido, não é um insta-love. Depois deste, já li os dois a seguir e encontro-me a aguardar pelo 4º livro da série, que será publicado em setembro deste ano. No que toca a leituras, tenho dado preferência aos romances, porque são a minha zona de conforto, de desafio, de aconchego e felicidade. Mesmo que sejam clichés, adoro sempre ler sobre amor, sobre duas personagens que se cruzam, que se conectam, se amam e desejam. Vibro com elas, sofro com elas, fico feliz quando tem direito ao seu final feliz e acredito, genuinamente, que os romances são a minha grande fuga da realidade, porque o mundo fica suspenso quando estou perdida no mundo dos livros. Fazem-me sonhar, suspirar e deliciar. 

 

- Reputation, álbum de Taylor Swift

Não sei se alguma vez escrevi aqui sobre a Taylor Swift. Talvez porque nunca fui, nem sou, aquilo que se considera uma Swiftie. Sou, na verdade, alguém que inicialmente não gostava desta artista, não entendia o hype associado à mesma. E sou, também, a pessoa que ouviu o álbum Folklore e, depois, Evermore, e recolheu tudo aquilo que tinha lançado para o mundo anteriormente sobre esta pessoa. A Taylor Swift é um furacão musical e é raro assistir-se a um fenómeno desta dimensão, alguém que nasce na música country, consegue brilhar nesse registo e, ao mesmo tempo, desvincular-se do mesmo e abraçar outros estilos e fazendo brilharete em todos eles. Não sou, como já referi, uma Swiftie, porque não sou a fã dos anos iniciais, não gosto particularmente dos álbuns da Taylor adolescente, mas respeito-os. E sou verdadeiramente fã de trabalhos posteriores, como é o caso deste álbum, Reputation, que tenho ouvido em repeat e tenho adorado. Gosto da sonoridade, gosto das letras das músicas, da história e da mensagem que elas nos contam, gosto do facto de ser um álbum "chapada na cara, de luva branca" depois de uma época em que a Taylor esteve debaixo de fogo e a tentaram extinguir do meio. Não só não conseguiram, como libertaram a besta interior dela, no melhor dos sentidos, e nos proporcionaram esta maravilha musical. É especialmente bom ouvir este álbum assumindo esta perspetiva, imaginando-nos na pele dela ou simplesmente de alguém que passou pelas chamas e sobreviveu para contar a história. 

17
Ago23

Palavras sábias #1

girl

"Even before you do anything to help, your wholehearted presence already brings some relief, because when we suffer, we have great need for presence of the person we love. If we are suffering and the person we love ignores us, we suffer more. So what you can do—right away—is to manifest your true presence to your beloved and say the mantra with all your mindfulness: "Dear one, I know you are suffering. That is why I am here for you." And already your loved one will feel better."

Thich Nhat Hanh - Fear: Essential Wisdom for Getting Through the Storm

Tão verdade, tão ao encontro do que escrevi ainda esta manhã, sobre a importância de estar e não de fazer, de querer resolver. Às vezes, a presença é mesmo a resposta mais simples e eficaz. 

17
Ago23

Ainda sobre a perda de expectativas ...

girl

Acho que uma das conclusões mais difíceis de digerir, para mim, é a de que não temos o poder de mudar ninguém. Eu sei, eu sei, é uma daquelas verdades absolutas e óbvias, mas, ainda assim, custa-me aceitá-la.

Custou, inicialmente, a nível profissional. Quem trabalha na área da saúde, creio que partilha esta espécie de savior complex, em que achamos que podemos fazer a diferença na vida das pessoas que recorrem aos nossos cuidados. E, de facto, podemos. Podemos fazer a diferença, mas dentro de um raio delimitado, que apenas amplia se a outra pessoa assim o desejar. Podemos dar todos os recursos, oferecer as melhores estratégias e cuidados, mas, no final, será sempre a pessoa a decidir se deseja aplicar o que temos para oferecer. Não depende de nós. E se hoje isso me parece libertador, quando comecei a trabalhar, era um peso que carregava nos meus ombros. Sentia, genuinamente, que tinha o dever, a obrigação de transformar para melhor a vida das pessoas com quem me cruzava. Conseguem imaginar o quão difícil é gerir esta expectativa? E o quão impossível? 

Quando me reconciliei com esta ideia, a nível profissional, não a apliquei de imediato às outras esferas da minha vida. Continuei, secretamente, a acreditar ser responsável pelo bem estar e felicidade das pessoas que me são próximas. De que os problemas delas, são os meus problemas. E, mais uma vez, voltei a confrontar-me com sentimentos de culpa e de fracasso. Porque, como é óbvio, ninguém é responsável pela felicidade de ninguém! E, como tal, por maior que seja a nossa vontade de mudar o mundo do outro, se este não quiser, não vamos conseguir! É uma receita para o desastre isto de acreditar que vamos conseguir fazer alguém feliz, que vamos ser os impulsionadores da mudança do outro. Não vamos. Podemos inspirar a mudança, podemos incentivar, manifestar o nosso apoio, a nossa presença, podemos ser companheiros dessa viagem, mas jamais, em momento algum, seremos os condutores dessa viatura. Não é o nosso papel. Não é a nossa vida. Podemos contribuir, mas temos de reconhecer os limites da nossa ação, até onde podemos e devemos ir. 

Para mim, isto não é pacífico. Continua a ser difícil aceitar e gerir esta ansiedade que surge em mim. Tenho de repetir a mim mesma, muitas vezes, que não sou responsável pela felicidade de ninguém, a não ser da minha. Tenho de fazer desta conclusão uma espécie de mantra, de lema, de afirmação, para conseguir encontrar alguma paz dentro de mim. E é muito difícil quando as pessoas que quero "salvar" me são tão próximas, tão queridas, tão amadas. É igualmente difícil desconstruir esta crença que fui alimentando ao longo dos anos de que o problema de um é problema de todos, de que cuidar é esta entrega exclusiva e obrigatória ao outro. Que é um dever. Isto não tem nada de altruísta, nem de bondade. Isto é sentido, por mim, como algo que devo fazer, que tenho de fazer, que é esperado de mim. Quebrar este padrão requer uma força dantesca e extinguir o sentimento de culpa é algo que ainda estou a aprender a fazer. 

Ontem dei comigo a pensar nisto, porque tentei tantas vezes arranjar soluções para um "problema" que não é meu e estas foram sempre devolvidas. Aquela pessoa quer amarrar-se ao problema, ainda não está disposta a abraçar as soluções. Se eu tento incentivar a ver o copo meio cheio, a pessoa responde-me que o vê meio vazio. Se eu digo que é tão bom ter um copo, a pessoa diz-me que não precisa do copo para nada. E eu encontro-me com esta frustração, com esta angústia e entendo que não há nada, absolutamente nada, que eu possa fazer para que aquela pessoa tente mudar a sua visão, a sua perspetiva. Fico triste, lamento, mas ontem, pela primeira vez, não me senti responsável, não me senti culpada por isso. Aceitei, simplesmente, que a minha ajuda ou tentativa de, atingiu o seu alcance e que não há nada mais que eu possa fazer, neste momento. Gostaria que a situação fosse diferente? Sem dúvida alguma que sim. Depende exclusivamente de mim? Não. E pensei que, talvez, esta pessoa não precise das minhas soluções, mas sim da minha presença, da minha validação de que existe um problema. Esta vontade de querer mudar o outro e o seu mundo, às vezes, leva-me a achar que são necessárias grandes atitudes e grandes feitos, quando, na verdade, nem sempre é isso que é necessário. 

É estranho afastar-me deste sentimento tão familiar, de culpa, de responsabilidade, mas é libertador. E, acima de tudo, é essencial para o meu bem estar e felicidade. Esses que são, sim, da minha total responsabilidade e para os quais, sim, devo e tenho de trabalhar diariamente. 

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