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the old soul girl

the old soul girl

04
Set23

mad world

girl

Nem sei muito bem como começar a escrever este post, porque sei, de antemão, que isto poderá dar pano para mangas. Mas é um tema que me anda a consumir nos últimos tempos e que me tira do sério, por mais que eu tente ser pacífica e a favor da paz. 

O que é que se anda a passar com as pessoas? Será que as pessoas sempre foram mesquinhas, más, reles, e eu é que não via? Ou escolhia não ver? Ultimamente, tenho-me confrontado com situações que me deixam estupefacta e, honestamente, muito desiludida. Talvez porque cresci a acreditar que as pessoas são genuinamente boas, que existe sempre um contexto no qual podemos enquadrar um comportamento, uma atitude e que se isso não justifica tudo, pelo menos ajuda-nos a compreender um pouco mais. 

Primeiro, no trabalho. Eu já sei que as pessoas tendem a revelar o seu lado menos bom e mais aguçado em ambientes de grande pressão, onde o stress está ao rubro e nos faz funcionar em modo de luta ou ataque. Mas isso não me permite compreender o porquê de as pessoas tomarem a decisão, deliberadamente, de prejudicarem outros colegas, só porque sim. Porque entre estarem sossegados a fazer o seu trabalho ou a regarem os outros a gasolina e atirarem-lhe um fósforo para cima, preferem a última opção. Preferem os conflitos, sendo muitas vezes os criadores dos mesmos. Apontam o dedo a tudo e a todos, esquecendo-se de que, muitas vezes, ganhamos mais se olharmos para os dedos que temos apontados a nós próprios. Há pessoas que acordam e escolhem vestir esta pele de lobo, de vilão e isso nunca deixará de me chocar. No dia em que me tornar imune a tal coisa, é porque me perdi de mim mesma e dos meus valores. 

Mas não é apenas no trabalho que encontro estes rasgos de estupidez e malvadez. Pensei muito se deveria trazer este tema para cima da mesa, porque não queria dar palco e microfone a algo que considero ser um mero sussurro, insignificante. Mas, ao mesmo tempo, acho importante marcar a minha posição, porque me sinto cansada de ser testemunha deste tipo de comportamentos. Estou a referir-me a um anónimo, seja lá ele quem for, até podem ser vários, que comenta os posts deste blog recorrentemente. Comenta também outros blogs, porque já o/a encontrei noutras secções de comentários e pelo estilo da escrita, tratar-se-á certamente da mesma pessoa. Este anónimo não é ofensivo, não chama nomes, não é mal educado. Mas destila a sua mesquinhez em todos os textos que escrevo. Por norma, questiona-me sempre qual é a utilidade dos meus textos e qual é o interesse que os outros têm em ler as coisas que eu escrevo. Chega ao ponto de questionar comentários que me são deixados, porque se acha senhor/a da razão. 

E agora, questiono eu: qual é o seu objetivo? Se não gosta deste tipo de partilha, se não se identifica, se não lhe interessa, para quê dar-se ao trabalho de incomodar alguém? Aproveite a sua liberdade de expressão para partilhar as coisas que lhe interessam, que o apaixonam, que o fazem sentir bem. Usufrua da sua capacidade de escrita e escreva os seus próprios textos, deixando os outros sossegados a fazer o mesmo. Não consigo conceber como é que alguém tão insatisfeito com aquilo que escrevo, pode ser uma presença tão constante e assídua neste espaço. Não me faz sentido. Do mesmo modo, que não consigo desvendar o que leva uma pessoa a sentir-se no direito de fazer este tipo de comentários. Se eu sei que não vou acrescentar nada, que apenas vou destabilizar e chatear, eu remeto-me ao silêncio. No limite, se me sentir muito tentada a comentar um tema polémico, a marcar a minha posição, tento fazê-lo com maior respeito possível pelo outro e pela sua visão. 

Não sei o que se passa com o mundo. Evoluímos tecnologicamente, vivemos mais tempo, com uma aparente maior qualidade de vida, vamos ao espaço e já hipotetizamos mudar-nos para outros planetas, mas no meio de tudo isto, parece-me que estamos a tornar-nos menos pessoas. Estamos a perder as características que nos tornam humanos e nos distinguem das outras espécies. Entristece-me que estejamos todos menos tolerantes, menos compassivos e compreensivos. Sobretudo por termos todos vivido, até há bem pouco tempo, uma adversidade mundial que, penso eu, poderia ter sido a catapulta perfeita para nos tornarmos pessoas um bocadinho melhores. 

É normal não gostarmos de tudo, não gostarmos de toda a gente, cairmos na armadilha de fazer julgamentos errados, sermos injustos. Somos falíveis, imperfeitos e isso é o que nos torna fascinantes. No meio de tanta coisa incontrolável e que não depende de nós, acho que temos a ganhar se nos dedicarmos às coisas que podemos fazer, que estão ao nosso alcance. E contribuir para o bem-estar do outro, do que está ao meu lado, que partilha a mesma condição humana que eu, é algo que pode ser a nossa escolha. No limite, se não nos apetecer fazer o bem, ao menos que não pratiquemos o mal! 

17
Ago23

Ainda sobre a perda de expectativas ...

girl

Acho que uma das conclusões mais difíceis de digerir, para mim, é a de que não temos o poder de mudar ninguém. Eu sei, eu sei, é uma daquelas verdades absolutas e óbvias, mas, ainda assim, custa-me aceitá-la.

Custou, inicialmente, a nível profissional. Quem trabalha na área da saúde, creio que partilha esta espécie de savior complex, em que achamos que podemos fazer a diferença na vida das pessoas que recorrem aos nossos cuidados. E, de facto, podemos. Podemos fazer a diferença, mas dentro de um raio delimitado, que apenas amplia se a outra pessoa assim o desejar. Podemos dar todos os recursos, oferecer as melhores estratégias e cuidados, mas, no final, será sempre a pessoa a decidir se deseja aplicar o que temos para oferecer. Não depende de nós. E se hoje isso me parece libertador, quando comecei a trabalhar, era um peso que carregava nos meus ombros. Sentia, genuinamente, que tinha o dever, a obrigação de transformar para melhor a vida das pessoas com quem me cruzava. Conseguem imaginar o quão difícil é gerir esta expectativa? E o quão impossível? 

Quando me reconciliei com esta ideia, a nível profissional, não a apliquei de imediato às outras esferas da minha vida. Continuei, secretamente, a acreditar ser responsável pelo bem estar e felicidade das pessoas que me são próximas. De que os problemas delas, são os meus problemas. E, mais uma vez, voltei a confrontar-me com sentimentos de culpa e de fracasso. Porque, como é óbvio, ninguém é responsável pela felicidade de ninguém! E, como tal, por maior que seja a nossa vontade de mudar o mundo do outro, se este não quiser, não vamos conseguir! É uma receita para o desastre isto de acreditar que vamos conseguir fazer alguém feliz, que vamos ser os impulsionadores da mudança do outro. Não vamos. Podemos inspirar a mudança, podemos incentivar, manifestar o nosso apoio, a nossa presença, podemos ser companheiros dessa viagem, mas jamais, em momento algum, seremos os condutores dessa viatura. Não é o nosso papel. Não é a nossa vida. Podemos contribuir, mas temos de reconhecer os limites da nossa ação, até onde podemos e devemos ir. 

Para mim, isto não é pacífico. Continua a ser difícil aceitar e gerir esta ansiedade que surge em mim. Tenho de repetir a mim mesma, muitas vezes, que não sou responsável pela felicidade de ninguém, a não ser da minha. Tenho de fazer desta conclusão uma espécie de mantra, de lema, de afirmação, para conseguir encontrar alguma paz dentro de mim. E é muito difícil quando as pessoas que quero "salvar" me são tão próximas, tão queridas, tão amadas. É igualmente difícil desconstruir esta crença que fui alimentando ao longo dos anos de que o problema de um é problema de todos, de que cuidar é esta entrega exclusiva e obrigatória ao outro. Que é um dever. Isto não tem nada de altruísta, nem de bondade. Isto é sentido, por mim, como algo que devo fazer, que tenho de fazer, que é esperado de mim. Quebrar este padrão requer uma força dantesca e extinguir o sentimento de culpa é algo que ainda estou a aprender a fazer. 

Ontem dei comigo a pensar nisto, porque tentei tantas vezes arranjar soluções para um "problema" que não é meu e estas foram sempre devolvidas. Aquela pessoa quer amarrar-se ao problema, ainda não está disposta a abraçar as soluções. Se eu tento incentivar a ver o copo meio cheio, a pessoa responde-me que o vê meio vazio. Se eu digo que é tão bom ter um copo, a pessoa diz-me que não precisa do copo para nada. E eu encontro-me com esta frustração, com esta angústia e entendo que não há nada, absolutamente nada, que eu possa fazer para que aquela pessoa tente mudar a sua visão, a sua perspetiva. Fico triste, lamento, mas ontem, pela primeira vez, não me senti responsável, não me senti culpada por isso. Aceitei, simplesmente, que a minha ajuda ou tentativa de, atingiu o seu alcance e que não há nada mais que eu possa fazer, neste momento. Gostaria que a situação fosse diferente? Sem dúvida alguma que sim. Depende exclusivamente de mim? Não. E pensei que, talvez, esta pessoa não precise das minhas soluções, mas sim da minha presença, da minha validação de que existe um problema. Esta vontade de querer mudar o outro e o seu mundo, às vezes, leva-me a achar que são necessárias grandes atitudes e grandes feitos, quando, na verdade, nem sempre é isso que é necessário. 

É estranho afastar-me deste sentimento tão familiar, de culpa, de responsabilidade, mas é libertador. E, acima de tudo, é essencial para o meu bem estar e felicidade. Esses que são, sim, da minha total responsabilidade e para os quais, sim, devo e tenho de trabalhar diariamente. 

14
Ago23

the art of mourning

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Alerta para um post advindo de um emaranhado de fios mentais, de um novelo de ideias dispersas e enroladas umas nas outras. Esta é uma tentativa de desfazer nós e esticar linhas de pensamentos. 

Estou há horas a tentar escrever alguma coisa decente. Penso, escrevo, apago. Torno a pensar, torno a escrever, torno a apagar. Vejo o desânimo apoderar-se de mim, sinto o cansaço nas minhas pálpebras, a desmotivação a instalar-se na minha postura corporal. Ouço os meus pensamentos, presto-lhes a devida atenção. Eles dizem-me que não tenho jeito nenhum para isto. Que não consigo elaborar e trabalhar esta ideia que me surgiu. Que esta desorganização mental é real e por mais que tente arrumá-la, há sempre alguma reflexão que fica de fora e obriga a repensar toda a ordem até então criada. Que trabalhar a uma segunda-feira, numa véspera de feriado deveria ser proibido e que, por esse facto, me posso entregar a uma dose de letargia. Que me apetece muito criar coisas, investir, inventar. Que isso é difícil e não sei por onde começar. Que quero a mudança, mas será que estou disposta a pagar o preço que ela custa? Será que é um bom investimento? Que me sinto aborrecida. E isto não é apenas um pensamento que me ocorre, é também toda uma emoção e sentimento em si mesmo. Que me sinto triste. E cansada. Que existem várias fontes de cansaço na minha vida, de diferente origem, mas que se completam e fortalecem esta sensação de desfalecimento quotidiano. Que me sabe tão bem dormir e ler. Que em ambas as atividades me distancio de mim, deste estado de consciência e navego para outros mundos, outras realidades, outras pessoas e possibilidades. Que sinto fome. E que devo comprar um chocolate para aguentar até ao fim do dia, pois vai ser longo. Que não trabalhei quase nada e o dia já vai a meio, mas que também não em preocupo muito com isso. Que se lixe.

Não era sobre nada disto que queria escrever. Mas talvez não seja sobre o que quero, mas sobre o preciso de escrever. Quero escrever sobre livros, podcasts, música; mas preciso de escrever sobre as minhas dores e os meus pensamentos sobre elas.

Dou por mim a refletir sobre o conceito de luto e, inevitavelmente, sobre o de perda. Parece-me que andam de mãos dadas, a cara e a coroa da mesma moeda. Para cada perda tem de existir um luto. Mas há tantas formas de perda. A mais comum, e das mais assustadoras, é a perda de alguém que amamos. Mas existem outras que não exigem uma ausência física, o que não significa que não impliquem uma ausência. Há perdas de expectativas, de sonhos, de projetos. Há perdas de pedaços de nós, há perdas da totalidade de nós. Há perdas de rumo, de sentido, de propósito, de missão. E no meio destas perdas todas, há tanto luto por trabalhar. Sim, o luto é um trabalho. Duro, ingrato, escravo, controlador, precário. Um trabalho para o qual é difícil arranjar candidatos, por maiores e melhores que sejam as promessas de condições de trabalho. Lembram-se daquela expressão horrenda que estava inscrita nos portões dos campos de concentração nazis, O trabalho liberta? Naquele contexto e naqueles moldes, o trabalho não libertava, matava. Mas nesta minha linha de raciocínio condicional, se o luto é um trabalho e se o trabalho liberta, então o luto é um trabalho que liberta.

E é mesmo. Por mais que custe, por mais que demore, por mais que pareça não ter fim, o luto liberta-nos. E eu vejo-me neste compasso de espera, de indecisão, de avançar ou de me encolher perante este processo. De um lado, vejo as minhas perdas empilhadas, acumuladas umas atrás das outras. Perdas simples, simbólicas, essencialmente de expectativas que nem sabia que tinha criado. O próprio mecanismo de proteção de não criar expectativas advém de uma perda maior, que me convenceu que não se pode perder nada que não se possua em primeiro lugar. Claro que esta aprendizagem (não) brilhante foi feita num momento de desilusão, de estilhaços de sonhos e fantasias no chão. Mas pior do que perder um sonho, é perder todos pela perda da capacidade de sonhar. Durante muito tempo confiei que esta era uma boa estratégia, mas já não estou convicta disso. Sinto saudades de sonhar e, num plano mais amplo e abrangente, sinto saudades de mim, de um “eu” onde sonhar era um prazer.

As nossas perdas não trabalhadas, não choradas não se extinguem. Não evaporam. Apenas se sedimentam, formando várias camadas, umas em cima de outras, que vão causando erosão na nossa identidade e nas nossas relações, com os outros e com o mundo. É isto que vejo do outro lado. Existe uma expectativa e existe a realidade; quando ambas coincidem, maravilhoso, quando ambas se contrariam, é preciso chorar essa contrariedade. É preciso mastigar (não ruminar) as emoções que daí surgem e aceitar esta conclusão, encaixando-a na nossa história, na narrativa da qual somos autores. Às vezes este processo é rápido, outras vezes não. Às vezes é difícil olhar para as emoções com aceitação, é difícil estar com o desconforto que elas provocam. E não faz mal, porque isso também é, em si mesmo, um processo. Outras vezes, é difícil a aceitação. Não queríamos determinado desfecho, não queríamos escrever determinado capítulo. Não faz sentido na visão que pretendíamos construir. E, mais uma vez, está tudo bem. Porque é difícil desvincular de uma ideia, de um projeto, de uma vontade. Por mais lógico e racional que seja esse processo de desvinculação, há qualquer cola invisível que nos une àquela ideia, aquela perspetiva. Mudar de óculos, de lentes, requer um período de habituação, não é verdade?

São estes pensamentos que têm pairado na minha cabeça desde manhã. Sei que ainda não trabalhei esta ideia como gostaria, falta-me sustentação, falta-me limar as arestas. Mas o essencial está cá. A ideia central está lançada no mundo: tenho perdas para chorar. Tenho trabalho para fazer. Tenho de olhar para dentro e desembaciar as lentes, que estão ofuscadas pelo medo de sentir. Sim, medo de sentir. Durante muito tempo, fui refém deste medo. Medo de abraçar as emoções, sejam elas quais forem, com os dois braços abertos, de coração para coração. Medo de não ser capaz de as gerir, de elas me esmagarem em vez de me abraçarem. Medo de me paralisarem e me bloquearem. Nunca fizeram tanto sentido as palavras de Carl Jung: o que resiste, persiste. É preciso deixar fluir, seguir o rumo da corrente e não remar em direção oposta. Essa resistência vai criar mais entropia, vai bloquear o ritmo normal e saudável da vida.

O pontapé de saída está dado. Começar a “partir pedra” e desmontar este muro que construi entre mim e as perdas. Afinal, fazemos parte da mesma matéria, partilhamos o mesmo berço. Eu não sou as minhas perdas, mas elas fazem parte de mim. Da minha história.

E depois deste momento de escrita caótico e catártico, os pensamentos continuam presentes, mas eu apenas os observo e contemplo. Que bela atividade mental que para aqui vai.

11
Ago23

Férias

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Já perdi a conta ao número de vezes que ouvi pessoas a dizer "para tirar férias e ficar em casa, prefiro estar a trabalhar!". Por mais que tente compreender esta forma de olhar para as férias, admito que ainda não consigo empatizar com esta visão. Talvez seja porque não adoro o meu trabalho, talvez seja porque me "contento" com pouco, não sei. Para mim, o conceito de férias é simples: não ir trabalhar. Não preciso de ter grandes planos, não preciso sequer de sair de casa, basta quebrar a rotina de acordar cedo, preparar almoço, passar o dia no escritório, para me sentir de férias. 

Este ano tirei uma semana de férias sozinha. O meu namorado mudou recentemente de emprego e, como tal, em ano de admissão o direito às férias só surge após seis meses de trabalho. Eu, pelo contrário, como mudei de emprego no ano passado, acumulei alguns dias de férias. Assim, marquei uma semana de férias para desfrutar da minha companhia e, sem dúvida, que me soube pela vida!

A liberdade de fazer o que me apetece, não ter de conciliar vontades nem fazer cedências, não ter de esperar por ninguém, ser a dona do meu tempo e determinar a que horas vou fazer o que me apetecer fazer foi maravilhoso. Aproveitei para me dedicar a tudo que me nutre e faz sentir feliz, viva: caminhar com a música como companheira, pela natureza, pela praia; ler; ouvir música; descansar no sofá, com direito a ver filmes românticos e com finais felizes; escrever: sentar-me a ver o mar, as ondas, a sentir o sol. Foi tão bom parar e descobrir o que existe à minha volta.

Acima de tudo, foi a oportunidade mágica para estar comigo e entender que solidão e solitude são conceitos muito diferentes. Estive quase sempre sozinha, mas senti-me sempre acompanhada, plena e feliz por estar na minha companhia. Cheguei, inclusive, a ir lanchar sozinha, levar o meu caderno e escrever sobre o desconforto inicial que senti por estar sozinha num café, a lanchar, e sobre o modo como, ao aceitar esse desconforto, ele se foi dissipando e a experiência se foi tornando, gradualmente, cada vez mais prazerosa e rica. O modo como me senti viva e presente, focada nos estímulos à minha volta a que, por norma, estou alheia. Depois do lanche, ainda fui caminhar até à praia, em modo de passeio, desfrutando do sol, do vento, da alegria de ter tempo para mim e para usufruir dos pequenos prazeres da vida.

Confesso que também existiram momentos em que senti que seria bom estar acompanhada, em que gostaria de ter companhia para partilhar aquela sensação de paz e de bem-estar, de felicidade. Mas nunca foi um sentimento predominante e que me fez aproveitar menos o tempo livre. Pelo contrário, fez-me sentir grata por ter pessoas na minha vida com quem gosto de estar, de viver, e como uma dessas pessoas, a mais importante, sou eu mesma. 

Estar de férias, torno a dizer, é apenas não trabalhar. Por a rotina em stand-by e ter tempo para ser, para estar, para sentir, para fazer o que nos dá prazer e não apenas o que são obrigações e deveres. É desligar o despertador, mesmo que se continue a acordar cedo como se ele tocasse. Não faz mal, é um despertar completamente diferente. É a sensação de acordar para mais um dia, cheio de possibilidades, onde podemos escolher o que fazemos com cada segundo, porque somos os donos do nosso tempo. É cozinhar pratos deliciosos, que nos levam mais tempo, requerem mais técnica e trabalho, mas não faz mal, porque temos tempo para nos dedicarmos a eles. É conversar e estar com as pessoas de quem mais se gosta sem olhar para o relógio, porque existe todo o tempo do mundo para desfrutarmos uns dos outros, podemos dar atenção total a cada um. É um despir completo de afazeres, de telefonemas, emails, demandas. É abrandar para olhar para o céu, para ir ver o mar, para sentir o sol no rosto, para olhar para as árvores e flores e perceber que existe tanta natureza, todos os dias, à nossa volta. É regressar a casa, à casa que somos e cuidar dela, adorná-la, limpá-la, fazê-la sentir bonita, arrumada, serena novamente. É a sensação de regresso, de retorno, após uma longa temporada de ausência, de viver a meio gás, à superfície, apenas pela metade. 

07
Ago23

Encontro-me quando ...

girl

... me perco num livro,

 escrevo,

ouço música,

aprendo coisas novas,

caminho na natureza,

sinto o sol abraçar-me,

ouço a chuva,

estou na minha companhia,

danço, 

liberto o meu lado mais infantil e me permito brincar,

me rio, 

me abraçam,

sou uma testemunha da bondade, da tolerância e da resiliência,

vou a concertos de música,

sorrio ao meu reflexo no espelho,

desafio os meus medos, 

abraço a coragem,

não tenho receio de fazer questões às quais ainda não sei as respostas,

me aceito, tal e qual como sou. 

02
Ago23

It's not you, it's me

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Ando a sentir uma desmotivação extraordinária no que diz respeito ao trabalho. Não é apenas uma falta de vontade em fazer as coisas das quais sou responsável, nem se cinge apenas à necessidade de férias que se começa a sentir nesta altura do ano. É algo mais profundo e denso. É falta de realização, é aborrecimento, é constatar que o locus do problema não se localiza fora, mas está bem dentro de mim, por mais que existam fatores externos que contribuam para me sentir assim. 

Mudar de emprego fez-me perceber algumas coisas que são essenciais para mim e na minha forma de estar profissionalmente. Até então, não valorizava estas "características", porque não sentia falta delas, eram um dado adquirido. Apenas sabia que um valor essencial para mim era ter um ambiente de trabalho saudável, sem medo, onde é possível crescer e, por isso mesmo, é possível falhar sem ser a pior coisa do mundo. Como escrevi ontem, nada disto existia onde trabalhava antes e, talvez por isso, quando procurei a saída, foquei-me neste aspeto quase exclusivamente. Não me interpretem mal, continua a ser um valor base para mim, do qual jamais abdicaria, mas hoje compreendo que não basta isso para termos um trabalho que nos realiza e satisfaz. É como numa relação amorosa: amar é importante, mas não é suficiente para fazer uma relação durar e prolongar-se no tempo. No meu caso, é exatamente isto: adoro o ambiente descontraído e respeitador que aqui se vive e no qual se trabalha, mas não me chega para sentir que trabalharei aqui até ao fim dos meus dias. 

Sinto falta de organização, por exemplo. Desculpem a redundância, mas a organização é organizadora. Dá coerência, sentido e sensação de controlo. Quando as coisas têm nome, lugar e espaço, é mais fácil trabalhar. Infelizmente, no sítio onde trabalho, vivemos numa desorganização que, muitas vezes, sinto como caótica. Entendo que é fruto de um crescimento rápido, que não foi planeado e gradual, as chamadas "dores de crescimento". No entanto, esta desorganização desmotiva, é exaustiva, as pessoas perdem-se naquelas que são as suas tarefas e no estabelecimento de prioridades. Quando as coisas não estão organizadas, tudo parece importante e urgente. Estou constantemente a sentir que me está a escapar alguma coisa, que me estou a esquecer de fazer algo. Tudo isto é oposto ao local de onde vim. Acho que foi na anterior empresa que aprendi a importância da organização, de ter as coisas bem estruturadas, saber sempre onde está determinado documento, determinada informação. 

Sinto falta do rigor. De trabalhar com cabeça, tronco e membros. De fazer as coisas com qualidade. De haver controlo de qualidade. Quando não existe rigor no que se faz, caímos no desmazelo. Tanto dá se fazemos assim ou assado; tudo serve. Tenho dificuldade em trabalhar nestes moldes. Tenho dificuldade em encontrar sempre tantos obstáculos para conseguir fazer um trabalho bem feito, um trabalho que cumpra com todos os requisitos e necessidades. 

Sinto que falta uma comunicação mais aberta e transparente. Não temos (nem devemos) de saber tudo, mas quando tudo parece um segredo de estado, começamos a sentir-nos desconfiados. Quando não existe transparência nos processos mais simples, mais inofensivos, é inevitável surgir uma sensação de desânimo e falta de pertença. Já para não falar dos constrangimentos que se criam, frequentemente, no trabalho por falta de comunicação. Coisas simples, de fácil resolução tornam-se complicadas, porque as pessoas não falam, porque escondem informação, porque estão constantemente a testar-se umas às outras. É cansativo. 

E, acima de tudo, sinto que esta já não é mais a área que me faz feliz. Mais do que todos os constrangimentos acima enumerados, este é o cerne, o ponto fulcral da questão: esta área não me preenche, não me realiza, não me faz sentir nada a não ser estagnação, frustração e desmotivação. Não vejo propósito no que faço. Não me encontro em nada deste trabalho, porque nas pequeninas coisas nas quais poderia fazer a diferença, sinto que não existe espaço para mim. Estou resignada a um trabalho para o qual não estudei, o qual nunca ambicionei nem desejei para mim. Sinto-me prestes a terminar uma relação, na qual o problema não é o outro lado, sou mesmo eu. 

Já existiu um momento, uma fase, em que este trabalho fazia sentido para mim. Talvez quando ainda estava a aprender como tudo funcionava, talvez quando o meu foco principal era ter um trabalho que me concedesse autonomia, independência financeira. Nessa fase da minha vida, fazia-me sentido. Hoje, depois de alguns anos nesta área, sinto que preciso de mais. Preciso de algo que prima os nervos certos em mim: algo que estimule a minha criatividade, a minha curiosidade, que me desafie. Gosto de aprender coisas novas, de estudar, de investigar. Gosto de trabalhar com pessoas e em equipa. Gosto de fazer, de fazer bem, de fazer o melhor. Não gosto de soluções rápidas, de tapar buracos e não resolver as questões na sua raiz, porque sinto que isso é contornar os problemas e dar-lhes mais profundidade. 

Portanto, quando tornar a mudar (porque não é uma questão de "se", é mesmo de "quando"), sei que será uma mudança radical. Será um afastamento desta área, que já me serviu muito e da qual estou muito grata, mas já não me serve mais. É como quando a nossa peça de roupa favorita deixa de nos servir e, de repente, já não olhamos para ela da mesma forma. Fomos nós que crescemos? Foi a peça que perdeu o seu encanto? Foram ambas as hipóteses? O que é certo é que já não há conexão, já não faz sentido.

Chegar a esta conclusão é, de certo modo, libertador. É obter, finalmente!, o diagnóstico do problema e poder avançar para a cura, porque o problema já está identificado. É altura de tornar a pensar no meu plano de vida, nos valores que me são essenciais, no que considero absolutamente imperativo e do qual não quero, nem posso abdicar. É uma reflexão profunda, à qual me ando a dedicar quase todos os dias, desde há algum tempo. E, por isso mesmo, será tema presente e frequente aqui, porque, como já tantas e tantas vezes referi, escrever permite-me lançar as questões e pescar as respostas. 

19
Ago20

Apesar de tudo ...

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Ontem, quando já tinha desligado a luz e me preparava para adormecer, recebi uma mensagem do meu pai a desejar-me boa noite. Todas as noites, desde que saiu oficialmente de casa, me envia uma mensagem de boas noites, com direito a coração. E todas as noites eu olho para aquela mensagem e penso "apesar de tudo ...". 

Apesar de não sermos mais a família que eu tanto adorava e que desejaria que para sempre fossemos, continuo a ter o amor incondicional e presente dos meus pais. Cada um deles, à sua maneira, continua a ser uma fonte de amor, segurança e conforto. Perdi uma família, mas não perdi os meus pais. Eles, sobretudo a minha mãe, perderam muito mais do que eu. Eu perdi uma estrutura e uma configuração, mas permaneceram os laços, o amor continua ali, disponível para mim. 

Apesar de não vivermos juntos, continuo a ver o meu pai todos os dias. Ele faz questão de me ligar de manhã a desejar um bom dia e todas as noites me embala com uma mensagem. Talvez até o sinta mais presente agora do que quando morávamos debaixo do mesmo tecto e praticávamos horários e rotinas tão diferentes que, muitas vezes, só o ouvia chegar e isso era tudo que sabia dele. 

Apesar de tudo o que nos aconteceu, sobrevivemos e estamos a começar a aprender a viver. Percebemos que nos momentos difíceis, as pessoas fogem-nos. Se há coisa que esta experiência me ensinou foi que as pessoas têm muita dificuldade em lidar com as dores alheias. Talvez por não saberem o que dizer e como agir, optam por se afastar, acreditando que as coisas, com o seu tempo, encontrarão o seu rumo. É verdade, o tempo ajuda a sarar algumas feridas, mas há muito trabalho que temos de ser nós mesmos a fazer. Por vezes, fraquejámos e precisamos que alguém nos incentive a regressar ao caminho. Ainda não entenderam que, muitas vezes, não queremos respostas para as questões que levantamos. Apenas queremos que nos ouçam e entendam a inquietação que se esconde nas entrelinhas das nossas perguntas retóricas. É nestes momentos que conhecemos as pessoas com quem podemos contar. Percebi que estávamos muito sozinhos, mas que, na verdade, não são precisos muitos, desde que os poucos sejam bons. 

Apesar de tudo, e de esta situação nunca ser desejada, podemos ser felizes. Apesar de tudo que nos foi roubado, há tanto que ainda temos. 

18
Ago20

#9 Self-care Journal: If you could act in any movie, what character would you like to play and why?

girl

Celine do Before Sunrise (e também Before Sunset e Before Midnight)

When you talked earlier about after a few years how a couple would begin to hate each other by anticipating their reactions or getting tired of their mannerisms-I think it would be the opposite for me. I think I can really fall in love when I know everything about someone-the way he's going to part his hair, which shirt he's going to wear that day, knowing the exact story he'd tell in a given situation. I'm sure that's when I know I'm really in love.

Esta trilogia - Before Sunrise, Before Sunset e Before Midnight - está no meu pedestal de melhores filmes de sempre, ocupando um lugar generoso no meu coração. Assim que li a pergunta, soube de imediato que gostaria de estar no papel de Celine. Não no sentido de representar este papel, mas de o experienciar verdadeiramente. Adoraria viver uma aventura como Celine e Jesse que, sendo perfeitos desconhecidos, decidem ir explorar Viena juntos até o próximo comboio do dia seguinte os levar a destinos diferentes. Adoraria perder-me pelas ruas de Viena e perder-me, de igual modo, na viagem que é conhecer alguém do qual não sabemos rigorosamente nada e, ainda assim, ficar a conhece-lo melhor do que tanta gente que faz parte da sua vida há tanto tempo. Adoraria correr riscos e aventurar-me mais vezes, dar mais saltos de fé no vazio, sem pensar tanto nas consequências. Adoraria perder-me em conversas como Celine e Jesse, acerca da vida, do amor, da morte, dos sonhos e das desilusões. Adoraria ter tempo para poder fazer tudo isto, sem pressas. Adoraria parar mais vezes e olhar com mais atenção para tudo que me rodeia. 

If there's any kind of magic in this world... it must be in the attempt of understanding someone, sharing something. I know it's almost impossible to succeed... but who cares, really? The answer must be in the attempt.

29
Jul20

surrender

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No dia em que me ligaram a confirmar a minha disponibilidade para o novo desafio que me tinha sido proposto, eu tinha acabado de fazer uma meditação guiada da Sarah Blondin, chamada Learning to Surrender.

Antes de avançar, quero apenas dizer-vos que a Sarah é, provavelmente, das melhores "professoras" de meditação que poderão encontrar. Todas as meditações dela são mágicas, a Sarah tem uma presença que emana tranquilidade e paz. Por isso, fica aqui o meu conselho para a irem pesquisar no Insight Timer, estou certa de que não se arrependerão. 

Retomando. Learning to Surrender. Surrender pode ser traduzido como rendição, entrega. Para mim, como tenho vindo a escrever, a capacidade de entrega, de deixar fluir, é uma aprendizagem contínua, porque toca na minha maior necessidade, que é a de controlo. Controlo e entrega não são compatíveis. Do mesmo modo que controlo e vida também não o são. Na verdade, há pouquíssimas, raras coisas que podemos controlar nesta nossa existência. Podemos controlar os nossos pensamentos (ou, pelo menos, a influência que estes têm sobre nós), os nossos comportamentos e emoções. Podemos controlar a forma como reagimos ao que nos acontece, mas nunca seremos capaz de controlar o que nos acontece. As alegrias e infelicidades da vida não são, muitas vezes, selecionadas por nós. Apenas nos resta ser capazes de lidar com elas da melhor forma possível, do modo que temos disponível naquele momento para enfrentar aquela situação. 

Hoje é o segundo aniversário da morte da minha família como sempre a conheci. Da família onde cresci, onde fui e fomos imensamente felizes. Não escolhi este desfecho, simplesmente aconteceu. Veio bater-me à porta, com uma força e urgência de quem não pede permissão para entrar. Gosto de pensar que tudo o que nos acontece tem o poder de nos transformar. Que tudo pode ser um presente. Mesmo que não venha embrulhado num papel colorido e seja apetecível. Na verdade, há oportunidades únicas de mudança que nunca olharemos como positivas, mas saberemos sempre que foram necessárias para o nosso crescimento. Esta é uma delas. Dificilmente olharei para este acontecimento como positivo, mas consigo extrair dele valiosas aprendizagens. Uma delas é precisamente sobre ser capaz de me render à vida. Aceitar tudo - o bom e o mau - resistindo cada vez menos à mudança. 

Quando me telefonaram, tinha acabado de ouvir a Sarah a dizer que entrega não é o mesmo que desistência. Não é algo passivo. Entrega é sermos capazes de fluir com a vida, de a seguirmos como a água segue o curso natural do rio, que segue o seu caminho ao oceano, fundindo-se num só. É sobre desconstruir resistências, porque tudo aquilo ao qual resistimos, apenas persistirá, como Jung nos ensinou. É sobre compreender, com a mente e o coração, de que o controlo é uma ilusão, de que quando deixamos de ter essa necessidade, podemos estar abertos, curiosos e disponíveis para todas as oportunidades que a vida tem para nós. A meditação acabou, eu ainda estava enfeitiçada por estas palavras mágicas, quando o telefone tocou e me fizeram a proposta oficial. Eu sei que ultimamente tenho falado muito acerca de sinais, mas naquele momento, não fui capaz de ignorar a mensagem. Quando nos propomos a abraçar a vida, com tudo que esta tem para nos oferecer, as coisas simplesmente acontecem. No meu caso, tive esta prenda, mas não me enganei, este é um presente que traz consigo uma dose enorme de desafio e crescimento, como vos tenho contado. Deixou-me muito feliz, mas rapidamente percebi que ia estremecer com todas as minhas inseguranças e defesas. A vida não tira sem nos dar nada em retorno, do mesmo modo que não nos dá, sem nos tirar algo também. É um fluxo contínuo, que não podemos contrariar. 

Por isso, escolho olhar para o dia de hoje como uma oportunidade de recomeço. De renovar pensamentos, de me desfazer de crenças e medos que não me acrescentam, apenas consomem. Somos responsáveis pela nossa vida e, como tal, pela nossa felicidade. Que nos esqueçamos de que somos detentores desse poder e, como tal, dessa responsabilidade. 

28
Jul20

trust

girl

Os sinais existem e estão presentes, basta estarmos atentos e, talvez o mais importante, estarmos recetivos. Hoje entro no meu computador de trabalho, iniciando sessão e abrindo o google chrome, que me recebe sempre com uma frase inspiradora para começar o dia em pleno. A frase que me abraçou hoje foi a seguinte:

Unless you try to do something beyond what you have already mastered you will never grow. - Ralph Waldo Emerson 

Esta citação resume na perfeição a fase que estou a viver. Estou perante um processo de aprendizagem enorme, que me está a desafiar a todos os níveis. Está a mexer com todos os meus medos e receios, com todas as minhas forças e fragilidades. Tenho momentos de confiança e, a seguir, começo a sentir o medo a espreitar, a aproximar-se e a sussurar-me ao ouvido "será que és mesmo capaz?". Sinto o entusiasmo, a adrenalina de me dedicar a algo que me enche tanto o coração e me faz sentir tão viva, mas, ao mesmo tempo, os velhos receios e os pensamentos negativos explodem diante de mim. Quero focar-me apenas no lado positivo, mas não existe luz sem sombra; esta experiência é um todo e, como tal, é também constituída por momentos de angústia no meio de tantos momentos de alegria e euforia. 

Olho para dentro de mim e vejo dois caminhos. Vejo o velho e conhecido caminho, aquele que me faz sentir segura, mas frustrada; que é reto, plano e não requer grande energia da minha parte para ser percorrido (porque, de tão velho que é, conheço-lhe cada milímetro e percorro-o de olhos fechados). E depois vejo um outro, que não está sequer finalizado, que brilha com muita intensidade, com tanta luz, que me ofusca e faz sentir tonta e desnorteada. É tentador, mas deixa-me apreensiva, o meu estômago enrola-se em si mesmo e sinto a minha garganta contorcer-se num nó cego. Por um lado, quero sentir-me segura e estável; por outro, quero a aventura, o desafio. Quero ambos os caminhos, quero se cruzem e formem um só. 

No fundo, o que eu quero é sentir-me segura nesta nova fase. Quero adquirir a experiência que me faz sentir tranquila e plena, embora, para tal, necessite de percorrer o caminho desconhecido vezes e vezes sem conta até este se tornar familiar. Quero ser grande sem precisar de crescer. Faz algum sentido? Ser sábia sem ter de passar pelas adversidades e lições da vida? 

Sei que esta ânsia é a minha necessidade de controlo a falar. É a minha necessidade de ser bem sucedida, não aos olhos dos outros, mas aos meus. Porque os meus olhos são os mais exigentes de todos. Eu sou a única que não me permito falhar, que não aceito a incerteza, que não normalizo o que é natural. Tenho tanto medo de fracassar, de fazer e dizer a coisa errada, de descobrir que sou uma farsa, uma impostora. No fundo, é como se todo o meu valor dependesse do que sou capaz de alcançar. 

Preciso de abraçar a incerteza com curiosidade; de me permitir errar; de desfrutar mais do processo e desligar-me do resultado final; de viver mais no agora do que nos meus medos imaginários, que apenas pertencem a um futuro longínquo e, muito provavelmente, nunca tornado realidade. 

Estou a crescer e a ser desafiada. Já me tinha esquecido de como é assustador e entusiasmante ao mesmo tempo. Preciso de respirar fundo e aceitar que este processo é mesmo assim. Que estes momentos de incerteza e vontade de desistir fazem parte. É a necessidade de conforto e controlo a gritar, são as resistências a fazer força e pressão. Respiro fundo e sei que, apesar de tudo, nunca conseguirei desistir. Pelo menos não agora. Porque se o fizesse não seria pelos motivos corretos. Não seria por perceber que afinal não é isto que me preenche e não é isto que quero para mim. Seria apenas pelo medo. 

Quando aceitei este desafio, foi com as palavras do meu amor em mente e com o bichinho de felicidade que se instalou no meu coração. Ele disse-me "aceita, nem que seja para perceberes se gostas!". E quando ele me disse estas palavras, tudo fez sentido e percebi que queria muito isto. Queria muito tentar. Mesmo que, para isso, me sinta tão perdida e desorientada tantas vezes. Mas se há característica que faz parte de mim é a persistência. Para ser grande, sê inteiro! Põe quanto és, no mínimo que fazes! Este é o meu lema, é a minha forma de estar na vida e é o modo com que encaro todos os desafios que me são lançados. Talvez seja até desta dedicação que nascem as ramificações do meu medo de fracassar, pois dou tudo de mim, pelo que é inevitável surgir o pensamento "e se, mesmo assim, não for suficiente?". O meu medo é proporcional à quantidade de esforço, energia e dedicação que emprego. Quanto maior é o meu medo, maior é a minha vontade de o ultrapassar. Mas quanto maior é o meu esforço e entrega, maior é a possibilidade de o fracasso ser recebido com angústia e dor. 

Independentemente de tudo, estou consciente de tudo o que estou a sentir e a pensar. Estou consciente de que este é um processo. E comecei este texto a falar de sinais. Comecei a escrever este texto ontem e hoje, quando regressei ao meu rascunho, sabem qual era a frase que me esperava?

Trust the process.

Acho que me resta confiar, certo? Em mim e em que tudo vai dar certo. Seja lá o que for esse certo!

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