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the old soul girl

the old soul girl

07
Set23

my little sister

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Eu sou a mais velha, mas ela é a que dá o exemplo e me inspira. É a pessoa mais hilariante que conheço, aquela a quem tudo lhe acontece e a forma como relata as suas peripécias ainda as torna mais caricatas. É uma contadora de histórias nata e os momentos em que o faz, são aqueles em que me sinto mais focada no aqui e no agora, são o verdadeiro mindfulness. Acho que nunca ouvi uma história sua até ao fim sem me rir às gargalhadas. Sabem aquela galhofa boa, que nos faz doer os músculos da barriga e ficar em apneia? Com a minha irmã são incontáveis esse tipo de situações e memórias. 

Ela é a minha representação de coragem. Prefere sempre uma verdade dura a uma mentira, uma desilusão a um estado de felicidade e inocência não reais. Tem medos e fragilidades, mas não deixa que estes a limitem. Pelo contrário, abraça-os, trabalha-os, investe ativa e continuamente na sua evolução e melhoria. Face a um desafio, o entusiasmo vence sempre o medo. Não teme o fracasso, conhece-o de perto e isso apenas a transformou numa pessoa melhor, mais real e autêntica.

É sensível, compassiva e tão, mas tão justa. Procura sempre defender o lado mais frágil da balança, usa a sua voz para defender causas e ideias, sendo raras as situações em que a ouvi criticar alguém. É inteligente, culta e tem a rara capacidade de explicar de forma simples o que é complexo. 

É dona de uma beleza clássica, com um sorriso que ilumina qualquer espaço em que entre. Talvez porque sorrir é-lhe tão natural como respirar. Tem um toque de fada mágica dos bosques, seja lá o que isto queira dizer. 

É a minha protegida, a minha confidente, a única pessoa neste mundo que conhece todos os meus lados, ângulos e recônditos. Não faz anos hoje, não há nenhum motivo especial para lhe dedicar estas palavras. Nem tem de existir. Ela faz parte da minha lista diária de gratidão, tem um lugar cativo na enumeração de todas as coisas e pessoas pelas quais agradeço todos os dias. E hoje, que me apeteceu começar o dia a pensar naquilo que me faz sentir bem e imensamente feliz por estar viva, as minhas palavras são sobre ela e para ela. A minha irmã mais nova, o meu coração que bate fora do peito. 

21
Ago23

Reencontros felizes

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Este fim-de-semana encontrei uma amiga que já não via há imenso tempo. Uma amiga que conheci na infância, reencontrei na adolescência e que foi companhia e presença constante nos anos da faculdade. Uma daquelas pessoas que encarna o fenómeno agulha num palheiro, por ser tão especial que, de facto, nos faz sentir que dificilmente encontraremos alguém semelhante. Foi tão engraçado encontrá-la no meio de uma avalanche de gente, ver aquele sorriso no meio de tantos rostos e aqueles braços abertos para me receber num abraço apertado, de saudade e alegria. 

Poderia ter-se passado uma década desde o nosso último encontro, a nossa última conversa e, ainda assim, tenho a certeza que teríamos a mesma facilidade em comunicar uma com a outra. Há pessoas, há amizades assim. O tempo passa, passa por cada uma de nós, mas não machuca a conexão criada e é simplesmente fácil. É simples. É um regresso a casa. É aquela sensação de conforto e serenidade de estarmos num espaço familiar e seguro. 

Atualizamos as novidades das nossas vidas. Somos ambas da mesma área profissional e, como tal, partilhamos as mesmas dificuldades, desafios e dúvidas. Optamos por percursos muito diferentes, mas parece-me que o resultado final não difere assim tanto. Ela, sempre mais persistente e sonhadora, decidiu abraçar o desafio de continuar na nossa área; eu, mais pragmática e realista, decidi seguir de imediato para o plano b, que rapidamente se tornou no único plano possível. Hoje estamos as duas afastadas da nossa paixão, com algumas desilusões e amarguras colecionadas pelo caminho.

A verdade é que a faculdade foi um período dourado nas nossas vidas. Não por não existirem dificuldades e momentos duros, porque existiram e a maioria deles aconteceu na nossa vida pessoal e não tanto académica. Mas porque tivemos a felicidade de decidir estudar uma área que nos preencheu por completo e nos fez sentir que estávamos no sítio certo. Eu, pelo menos, passei grande parte da minha vida de estudante a sentir-me desintegrada. Nunca fui uma má aluna, pelo contrário, mas sempre me senti à deriva. Estudava para ter boas notas, porque sabia que era o meu dever, porque os meus pais me incentivavam a tal, mas nunca estudei com um propósito maior. Nunca soube o que queria ser, a não ser saber que queria ser feliz. E isso significa que, independentemente do que estivesse a fazer, eu queria sentir-me feliz a fazê-lo. Quando chegou o momento de escolher, a minha opção foi feita pelo método mais arriscado: exclusão de partes. Excluindo tudo o que tinha a certeza que não gostava e não queria, sobraram poucas opções em cima da mesma e foram essas as minhas escolhas. 

Por isso, descobrir que, no meio do acaso, a escolha foi a certeira, foi uma sensação que ainda hoje não encontro palavras para descrever. Acho que foram os cinco anos mais felizes da minha vida e nos quais me consegui descobri e ser finalmente eu, se é que isto faz algum sentido. Foram anos de muito crescimento, de desafio, de estar simplesmente no caminho certo. Cada descoberta era mágica e reforçava as minhas certezas. 

Ao encontrar a minha amiga, viajei até esses anos, tão bons, tão ricos. Tempos em que o tempo era meu, era da minha total e inteira responsabilidade. Em que o mundo parecia estar nas nossas mãos e tudo era possível. Foi tão bom encontrar uma das personagens principais dessa época e perceber que, apesar tudo, a amizade, a pureza, se mantêm intactas. E que, apesar de tudo, das nossas vidas não se terem concretizado exatamente como prevíamos e desejávamos, conseguimos encontrar novos caminhos, reconstruir propósitos, compreender que há muitas opções diferentes para se ter um final feliz e que Carl Rogers foi sábio nas suas palavras e visão da vida:

"The good life is a process, not a state of being. It is a direction, not a destination.". Estamos a caminho, querida amiga 

11
Ago23

Férias

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Já perdi a conta ao número de vezes que ouvi pessoas a dizer "para tirar férias e ficar em casa, prefiro estar a trabalhar!". Por mais que tente compreender esta forma de olhar para as férias, admito que ainda não consigo empatizar com esta visão. Talvez seja porque não adoro o meu trabalho, talvez seja porque me "contento" com pouco, não sei. Para mim, o conceito de férias é simples: não ir trabalhar. Não preciso de ter grandes planos, não preciso sequer de sair de casa, basta quebrar a rotina de acordar cedo, preparar almoço, passar o dia no escritório, para me sentir de férias. 

Este ano tirei uma semana de férias sozinha. O meu namorado mudou recentemente de emprego e, como tal, em ano de admissão o direito às férias só surge após seis meses de trabalho. Eu, pelo contrário, como mudei de emprego no ano passado, acumulei alguns dias de férias. Assim, marquei uma semana de férias para desfrutar da minha companhia e, sem dúvida, que me soube pela vida!

A liberdade de fazer o que me apetece, não ter de conciliar vontades nem fazer cedências, não ter de esperar por ninguém, ser a dona do meu tempo e determinar a que horas vou fazer o que me apetecer fazer foi maravilhoso. Aproveitei para me dedicar a tudo que me nutre e faz sentir feliz, viva: caminhar com a música como companheira, pela natureza, pela praia; ler; ouvir música; descansar no sofá, com direito a ver filmes românticos e com finais felizes; escrever: sentar-me a ver o mar, as ondas, a sentir o sol. Foi tão bom parar e descobrir o que existe à minha volta.

Acima de tudo, foi a oportunidade mágica para estar comigo e entender que solidão e solitude são conceitos muito diferentes. Estive quase sempre sozinha, mas senti-me sempre acompanhada, plena e feliz por estar na minha companhia. Cheguei, inclusive, a ir lanchar sozinha, levar o meu caderno e escrever sobre o desconforto inicial que senti por estar sozinha num café, a lanchar, e sobre o modo como, ao aceitar esse desconforto, ele se foi dissipando e a experiência se foi tornando, gradualmente, cada vez mais prazerosa e rica. O modo como me senti viva e presente, focada nos estímulos à minha volta a que, por norma, estou alheia. Depois do lanche, ainda fui caminhar até à praia, em modo de passeio, desfrutando do sol, do vento, da alegria de ter tempo para mim e para usufruir dos pequenos prazeres da vida.

Confesso que também existiram momentos em que senti que seria bom estar acompanhada, em que gostaria de ter companhia para partilhar aquela sensação de paz e de bem-estar, de felicidade. Mas nunca foi um sentimento predominante e que me fez aproveitar menos o tempo livre. Pelo contrário, fez-me sentir grata por ter pessoas na minha vida com quem gosto de estar, de viver, e como uma dessas pessoas, a mais importante, sou eu mesma. 

Estar de férias, torno a dizer, é apenas não trabalhar. Por a rotina em stand-by e ter tempo para ser, para estar, para sentir, para fazer o que nos dá prazer e não apenas o que são obrigações e deveres. É desligar o despertador, mesmo que se continue a acordar cedo como se ele tocasse. Não faz mal, é um despertar completamente diferente. É a sensação de acordar para mais um dia, cheio de possibilidades, onde podemos escolher o que fazemos com cada segundo, porque somos os donos do nosso tempo. É cozinhar pratos deliciosos, que nos levam mais tempo, requerem mais técnica e trabalho, mas não faz mal, porque temos tempo para nos dedicarmos a eles. É conversar e estar com as pessoas de quem mais se gosta sem olhar para o relógio, porque existe todo o tempo do mundo para desfrutarmos uns dos outros, podemos dar atenção total a cada um. É um despir completo de afazeres, de telefonemas, emails, demandas. É abrandar para olhar para o céu, para ir ver o mar, para sentir o sol no rosto, para olhar para as árvores e flores e perceber que existe tanta natureza, todos os dias, à nossa volta. É regressar a casa, à casa que somos e cuidar dela, adorná-la, limpá-la, fazê-la sentir bonita, arrumada, serena novamente. É a sensação de regresso, de retorno, após uma longa temporada de ausência, de viver a meio gás, à superfície, apenas pela metade. 

24
Set20

#16 Self-care journal: 5 most beautiful moments you've ever witnessed

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Surpreendentemente, não foi difícil pegar num punho de momentos bonitos que já tive oportunidade de testemunhar. Claro que existem muitos, alguns até nem tão felizes, mas incrivelmente belos, no entanto, estes foram os cincos que surgiram mais rapidamente na minha cabeça. Neste desafio específico, gostava de vos ler e conhecer momentos bonitos que tenham experienciado. Quais foram? O que fez deles especiais? O que sentiram? O que é que isso diz acerca de vocês? Partilhem comigo enquanto eu vos deixo cinco dos meus.

1. Basílica de São Pedro

Foi o primeiro momento que me veio à mente quando li este desafio. Regressei de imediato às férias de maio de 2015, aquela longa semana, em que muitos estavam a viver a queima das fitas enquanto eu e o meu amor partimos para Roma, para viver e sentir na pele o verdadeiro significado de dolce far niente. No dia em que fomos ao Vaticano, estava um calor abrasador e eu, que lido mal com temperaturas acima dos 25º/27º, sentia-me sem grande paciência de ficar horas na fila, debaixo de sol, para entrar na basílica de S. Pedro. Mas o meu namorado fincou o pé e disse que valeria a pena. Não gosto de admitir, mas o rapaz tem (quase) sempre razão e quando entrei na basílica, senti-me esmagada pela beleza daquele lugar e pela fé que ali se sentia. Eu, que não me considero crente, não consigo não me emocionar quando me vejo rodeada pela fé e esperança dos outros, é algo que me comove e me faz sentir que, independentemente do que cada um de nós acredita, estamos todos juntos nesta aventura e, por vezes angústia, que é a vida. Ora, na basílica existe uma espécie de sala à parte, que é uma parte da igreja dedicada à oração. Está separada por umas cortinas e se queremos entrar nesse espaço, devemos manter-nos em silêncio como sinal de respeito por quem está ali a orar. Assim que ultrapassei as cortinas e entrei naquele espaço, fui invadida por um silêncio aconchegante, oposto ao som, barulho e burburinho que se ouvia fora, na basílica. Sentei-me num dos bancos e olhei em meu redor, quando o vi e não fui capaz de desviar o olhar. Num outro banco, ajoelhado, estava um senhor, com as mãos coladas uma à outra, em posição de reza, a olhar fixamente o altar. Enquanto orava, compenetrado na figura sagrada, chorava e sorria em simultâneo. Senti-o em paz. Como se encontrasse ali um conforto e uma tranquilidade perdidas algures. Nunca mais me esqueci daquele rosto, daquele momento e daquela sensação. Tanta gente que ali estava, focada em se fotografar a si e ao espaço, e aquele senhor parecia alheio a tudo e ali estava ele, a orar, quem sabe a agradecer, quem sabe a falar com quem já cá não está, como se estivesse envolvido numa bolha impenetrável.

 

2. Concerto de Jazz

Muito escrevi sobre este momento aqui. E foi tão incrível, tão maravilhoso, tão intenso, tão inesquecível, que aquela hora e meia de concerto será sempre um dos momentos mais bonitos que vivi e testemunhei. Porque não me consigo esquecer daqueles músicos entregues a si mesmos, alheios ao público, focados apenas no seu instrumento e na melodia, a transpirar música e a entregarem-se como se a vida coubesse toda ali, naquele momento, naquele palco. Ouvir música é uma das experiências pela qual vale a pena viver, mas ter a oportunidade de ver a conceção da música é sublime. 

 

3. Concerto de gospel 

Mais um concerto, é verdade, e deixo já o disclaimer que não ficarei por aqui. Uma atmosfera completamente diferente da que vivi no concerto de Jazz, mas igualmente incrível. Escrevi também sobre este momento e torno a fazê-lo porque aquelas duas horas de concerto foram das mais alegres e divertidas que já vivi. Quando olhei para a sala onde estava só via todas as pessoas, de uma ponta da sala à outra, de pé, a dançar, a cantar bem alto, despidas de vergonhas e entregues à música. O grupo de gospel rendido ao público e o público rendido a eles. Foi um momento de união, como se cada alminha ali presente estivesse alinhada e unida pela alegria que é viver e que é celebrar a vida. No nosso quotidiano, creio que agimos todos em modo automático, porque as exigências são tantas que não há tempo para parar, respirar e apreciar onde estamos, com quem estamos ou até quem somos. Naquele momento, senti que estávamos todos presentes, a viver apenas aquele momento e, por isso, senti-me tão viva. 

 

4. Consolo de um coração partido

Sei que escrevo muitas vezes sobre a minha família e nem sempre são as palavras mais felizes e apaixonantes que lhes dedico. E também sei que, embora não sejamos mais aquela família de quatro, unida e pronta para o que der e vier, teremos sempre essas memórias de quando éramos felizes. Serão sempre nossas e uma das mais especiais, que me comoveu muitíssimo, foi quando vi o meu pai consolar a minha irmã, após esta sofrer o seu grande primeiro desgosto de amor. A nossa união era de tal forma que naquele dia não se partiu um só coração, mas sim quatro. E foi ternurento ver o meu pai abraçá-la, conforta-la com as palavras mais doces, ternas e sinceras, a assegurar-lhe de que era linda, especial, perfeita e que alguém iria dar-lhe todo o valor que ela possui. É que o meu pai, embora tenha falhado redondamente como marido, foi, é e será sempre um super pai. E aquela imagem deles os dois juntos será sempre comovente. 

 

5. Concerto de orquestra de música clássica

De cinco momentos, três deles são relativos a música, eu sei, é pouca variedade, mas não posso evitar que sejam estes os momentos mais felizes que já presenciei. Este último é o mais recente e foi uma autêntica catarse emocional para mim. Chorei desde a primeira nota tocada até à última. Encharquei a minha máscara, lavei a minha alma naquela hora e meia e tudo pela beleza e pela gratidão daquele momento. Observar uma orquestra a tocar é magistral e digno do adjetivo "perfeito". A sincronia, as melodias e harmonias, a forma como o todo abraça e se estende para além da soma das partes, a coordenação sentida e rigorosa do maestro, que vibra com cada corda, cada sopro e percussão. Olhava e escutava os músicos e sentia que era como estar a vislumbrar uma obra de arte em movimento e composição. As emoções não couberam dentro de mim, acabando por transbordar. Novamente, a sensação de estar viva, de me sentir maravilhada e grata, de estar sintonizada com aquele momento. 

14
Ago20

#5 Self-care Journal: 10 beauty self-care ideas to try

girl

As minhas ideias de beleza e autocuidado são muito básicas e assentam numa premissa simples: cuidar do interior é também uma forma de cuidar do exterior. Por isso, seguem as dicas que pratico no meu quotidiano, alternando entre a camada externa e interna:

1. Beber água

É um desafio para pessoas que, como eu, podem passar um dia inteiro sem sentir sede. O truque (que funciona comigo) é ter sempre uma garrafa de água e ir bebendo ao longo do dia, em quantidades menores, mesmo que o corpo não manifeste grande vontade. O foco é estabelecer um objetivo de x litros por dia e orientar forças para a concretização desse mesmo objetivo. O meu são os 2L diários e tenho-me superado!

2. Hidratação

Além da hidratação via ingestão aquosa (ver dica 1), é importante cuidar da pele (e também cabelo). Para mim, que sou uma preguiçosa no que diz respeito a estas coisas, aplicar creme hidratante todos os dias é um feito. O meu mindset passou a ser o seguinte: uma ação só se torna um hábito depois de ser praticada n vezes. Por isso, comecei a aplicar creme diariamente, a aproveitar esse momento para descontrair, e o que era um frete passou a ser um hábito que faço com todo o gosto. Além disso, tem o plus de que a pele fica super fofinha e a cheirar maravilhosamente bem!

3. Exercitar o corpo

Movimento, o nosso corpo precisa de movimento! Nós fomos feitos para nos movermos! Mas quando se tem um emprego em que as oito horas são passadas sentadas em frente a um computador, pode tornar-se um bocado difícil nos movermos a toda a hora. Para algumas pessoas, o gosto pelo desporto é inato e sentem-se verdadeiramente felizes quando estão a sofrer entre pranchas e halteres. Para outras, o exercício físico é um tormento. No entanto, tenho a minha teoria: todos nós gostamos de exercício, só temos de descobrir qual é o ideal para nós. Depois de descobrirmos o que nos faz sentir ativos e vivos, rapidamente se torna em algo prazeroso! Até porque, vamos lá admitir, não há muitas sensações que saibam tão bem como chegar ao final de um treino, com a sensação de dever cumprido certo? Eu adoro caminhadas, cardio, dança, localizada. Gosto, acima de tudo, de estabelecer objetivos e de me superar. Ter um corpo tonificado e saudável são os bónus! 

4. Dormir

O sono é a melhor meditação de todas as meditações, já dizia Dalai Lama, e é a mais pura das verdades. Dormir bem é reparador, não só para o corpo como para a mente. O nosso cérebro precisa do sono para fazer a triagem da informação recebida durante o dia, selecionando a que fica guardada daquela que vai direta para a reciclagem. Sei que no nosso quotidiano o tempo é algo que nos foge das mãos e, por isso, tentamos aproveitar todos os segundos e consideramos que parar é morrer, que dormir é um desperdício de tempo. Mas não é verdade, dormir é uma condição essencial para estarmos a 100% para aproveitar a vida. Poucas coisas sabem tão bem como dormir uma noite inteira, sem despertares, profundamente!

5. Alimentação saudável

Eu não vos disse que as minhas dicas eram do mais básico que poderia existir? Isto são apenas verdades de La Palice! No entanto, nunca é demais reforçar que o nosso corpo é a nossa casa, é o nosso templo sagrado e, como tal, temos de cuidar dele da melhor forma possível. É preciso nutrir o nosso corpo com alimentos do bem, ricos em nutrientes, que nos permitam ter energia e vitalidade para usufruir da nossa estadia nesta vida maravilhosa. Claro que há espaço para o chocolatinho maroto, para a francesinha mensal, há espaço para tudo, desde que a palavra-chave seja equilíbrio! 

6. Respirar conscientemente

Aprender a respirar bem é uma ferramenta importantíssima, que todos devíamos ter na nossa caixa de pronto socorro da vida. Respirar profundamente, sem pressas, permitindo ao corpo absorver o ar puro e libertar o tóxico liberta-nos a mente e tranquiliza-nos o corpo. Parar ao longo do dia para verificar como está a nossa respiração e perder uns segundos a fazer três a cinco respirações conscientes é das melhores formas que temos para expressar ao nosso corpo e à nossa mente de que está tudo bem, está tudo tranquilo. Muitas vezes, no trabalho, quando vou à casa de banho, fico um bocadinho a respirar fundo. Inspiro lentamente, sentindo o ar chegar a cada ponto do meu corpo e depois expiro, de forma controlada e longa, de forma a que o ar vá saindo aos poucos, como se o meu corpo estivesse a esvaziar. Aparentemente nada se altera, mas por dentro sinto-me plena e confortada.

7. Expressão emocional

Rir, chorar, soltar um suspiro, um grito se for necessário. Expressem-se pela vossa saúde. As emoções existem para nos guiar, são indicadores do nosso estado mental e precisam de ser ouvidas e libertadas. Aceitar o que estamos a sentir, neste instante, é o truque para que a emoção, seja ela qual for, seja experienciada e passe. Sim, as emoções são transitórias quando as aceitamos e lhes damos espaço para se libertarem. Afinal, qual é a pior coisa que pode acontecer? O pior advém, acreditem, quando não o fazemos. 

8. Sorrir :)

Faço parte do grupo de gente que acredita que a sorrir tudo se torna melhor. Sorrir ilumina-nos e ilumina os que estão ao nosso redor. Mesmo nos dias difíceis, um sorriso tem a capacidade de apaziguar a dor e, biologicamente falando, quando sorrimos transmitimos ao nosso cérebro a mensagem de que está tudo bem. Por isso, sorriam sempre e sorriam muito :)

9. Desfrutar da vida

Não se levem a sério, aproveitem a vida ao máximo, mesmo nas coisas mais simples e singelas. Estejam abertos à experiência e não tenham medo de correr riscos. Eu escrevo-vos isto e escrevo-o para mim também, que vivo sempre com o modo medo ativado. Cantem a caminho do trabalho, dancem no quarto, façam coisas que elevem o vosso espírito para cima, que vos preencham o coração. Para mim, ler um bom livro, ver aqueles filmes clássicos que já vi mil vezes mas que mesmo assim me encantam sempre (sim Dirty Dancing, estou-me a referir a ti!), jogar uno com a minha família, ouvir música bem alto e dançar sem vergonhas, escrever,  beber uma boa chávena de chá, são tudo coisas que me fazem sentir bem. Descubram o que vos faz bem e façam-no! 

10. Agradecer

Por último, mas não menos importante, agradeçam. Agradeçam o simples facto de estarem vivos, de respirarem, de cá estarem. Agradeçam, mesmo pelas adversidades que a vida trouxer, porque não há crescimento nem transformação sem dor, a vida é mesmo assim, uma constante e incessante procura pelo equilíbrio. Pensem no milagre que é o funcionamento do nosso planeta, do nosso corpo, na riqueza que existe neste mundo e sintam-se gratos por terem a oportunidade, ainda que vã, de poderem usufruir desta magia. Quando agradecemos pelo que temos, mesmo que não pareça ser muito, o pouco transforma-se em riqueza. 

12
Ago20

#3 Self-care Journal: Describe your perfect mourning

girl

A manhã perfeita começa com um acordar tranquilo, sem despertador, abraçada no conforto e calor dos braços do meu amor. Levanto-me, esticando o corpo, e vou até à janela para descobrir um sol luminoso, envolvido por um céu azul com apenas um rasgo aqui e ali de nuvens, semelhante às linhas deixadas pelos aviões. A temperatura está ótima, está calor e corre apenas uma ligeira e suave brisa, que sabe pela vida. Tomo um pequeno-almoço rico e nutritivo, repondo os níveis de energia para viver este dia maravilhoso que me foi dado. Como sem pressas, saboreio, delicio-me com o contraste de sabores e termino em grande, com a minha sempre fiel chávena de chá. Faça frio, faça calor, o meu chá nunca pode faltar.
Refresco-me com um banho rápido, que me dá a verdadeira sensação de despertar e visto uma roupa confortável, leve e fresca. Não preciso de me arranjar, não são necessárias mordomias. Calço as sapatilhas de desporto e sigo o meu caminho. Vou ao encontro do meu lugar favorito. Um lugar onde o mar e o monte se abraçam, onde posso percorrer trilhos envolvidos pelas árvores altas e frescas e outros acompanhados pelo mar, olhando para o horizonte infinito. Caminho com vitalidade e vigor, a cada passo que dou sinto-me viva e grata pela vida. O sol queima-me a pele, o suor começa a escorrer pelas costas abaixo, mas tudo me sabe a vida e continuo o meu percurso. Estou na natureza mais pura e simples, sinto uma tranquilidade que me faz sentir em casa. Ali estou em paz, enquanto me movimento e me perco nas flores, nas árvores, no chilrear dos passarinhos, no som das ondas. Quando termino a minha caminhada, sou invadida por uma sensação de bem-estar que ultrapassa qualquer cansaço.
Regresso a casa, agora pronta a tomar um banho demorado. A água lava-me o corpo e também a alma. Não há dor nenhuma que um banho de água quente não seja capaz de apaziguar. Seco-me, hidrato a minha pele com cuidado, penteio o meu cabelo, olho-me ao espelho e sorrio. O meu rosto está vermelho do vapor da água quente, os meus olhos brilham com a felicidade que sinto dentro de mim e o meu sorriso faz-me sentir plena.
É então que me sento, por vezes no chão, por vezes na minha cama, e me entrego à meditação. Respiro devagar e profundamente, entrego-me a cada inspiração e expiração como se nada mais importasse naquele momento porque, na verdade, nada realmente importa. Regresso a mim, regresso a casa. Sinto-me em paz e grata. Sinto-me numa relação de amor comigo mesma. Agradeço-me e agradeço à vida. Quando olho para o relógio, a manhã já passou e, como sempre, foi vivida em perfeita harmonia.

21
Jul20

Life is a gift; experience is the beauty

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Passou-se um mês desde que escrevi pela última vez. Não tenho escrito por uma miríade de motivos, desde falta de tempo, de vontade, de assunto, excesso de preguiça, etc e etc. Mas escrever faz parte do meu ADN e, como tal, não posso ignorar a minha natureza. Por isso, cá estou, novamente, na minha casinha digital, pronta para fazer um update dos acontecimentos ocorridos neste mês de ausência.

Considero-me uma pessoa a quem nunca acontece nada realmente interessante de ser partilhado. Não sou, nunca fui, aquele tipo de gente a quem tudo lhe acontece e tem sempre uma história ou novidade para partilhar. Às vezes até penso na minha vida como uma paisagem alentejana, plana e árida, sempre igual por maior que seja o número de quilómetros percorridos. Não que isto me entristeça, porque, como gosto de ver o copo meio cheio, tendo a pensar que ausência de novidades pode muito bem ser sinónimo de ausência de tempestades. 

No entanto, este mês, uma novidade, das boas, veio bater-me à porta. Recebi, inesperadamente, uma proposta para trabalhar na minha área de formação em part-time. Uma proposta que me permite conciliar com o meu trabalho atual, permitindo-me ter o conforto e estabilidade, por um lado, com o desafio, criatividade e paixão, por outro. Quando recebi a proposta, o meu primeiro instinto foi declinar. Típico da minha pessoa, assustei-me, pensei logo que era areia demais para o meu camião e fiquei com medo. Aquela vontade de dizer "não" era o meu medo de falhar a falar por mim. Mas depois, com calma e com o apoio do meu mais que tudo, que me disse "eu aceitava sem pensar duas vezes, não penses, diz já que sim!", percebi o quão feliz estava por me estar a ser dada uma oportunidade tão boa, sem eu sequer ter ido atrás dela, sem ter dispendido um único segundo ou milésimo de energia. Literalmente, bateu-me à porta. Fiquei extasiada de felicidade e entendi que a minha alegria e vontade de aceitar o desafio conseguiam ser maiores e mais fortes do que o meu medo. Senti que seria uma ingratidão enorme da minha parte declinar uma prenda que o universo me estava a dar. Soube que me iria arrepender se não tentasse, que passaria a minha vida toda a pensar "e se ...?". E, talvez o mais importante, tive a certeza de que esta prenda da vida carregava um conjunto de aprendizagens, em que a maior delas todas é, sem qualquer dúvida, enfrentar o medo que me aprisiona e condiciona tantas vezes: o de falhar, o de não corresponder às expectativas e o de não ser suficiente. Esta oportunidade veio mascarada de desafio, no sentido em que me obriga a dar um salto de fé, no desconhecido, onde as certezas pura e simplesmente não existem. Por todos estes motivos, soube que recusar não era uma opção. Eu fiquei eufórica, com a adrenalina a percorrer-me o corpo, sabem aquela sensação de entusiasmo tão forte, que se confunde com ansiedade, mas uma ansiedade boa? Como é que eu poderia dizer não a algo que, pelo simples facto de vir ao meu encontro, já me deixara tão feliz? 

Posso dizer-vos que já iniciei este projeto e que, como em todos os começos, a ânsia, o nervosismo, o medo estavam presentes. Tentei dar-me consolo, conforto e colo. Procurei normalizar o que estava a sentir, dando espaço a todos os sentimentos para se expressarem. Convidei todas as emoções a apresentarem-se, entendendo que as emoções são temporárias, tal como aparecem também desvanecem. Assim como os pensamentos. A minha mente, não fosse ela hiperativa, fez mil e um filmes, desde os românticos aos catastróficos. Mas os pensamentos são também eles fugazes e tentei ao máximo não me prender a nenhum deles, com a exceção de um: vai tudo correr bem.

Por maior que seja o meu medo de errar, e acreditem que é muito grande, eu tenho sempre uma luzinha acesa no meu íntimo, que simboliza a esperança de que tudo vai correr bem. Mesmo que tudo corra mal, há sempre a oportunidade de retirar algo de bom. Até porque a maior parte dos nossos medos são ficcionários e imaginativos, nunca chegam a transformar-se em realidade. Foi o que me aconteceu. Estava muito ansiosa, mas quando se deu o click "ação!", tudo fluiu e fez sentido. Como se aquele fosse o meu lugar, a minha casa, onde pertenço.

Naquele dia, senti um conjunto ambivalente de emoções. Primeiro, senti-me feliz e plena. Depois, quando comecei a dar corda à minha mente e aos meus medos, fiquei apreensiva e envolvida em pensamentos de "será que dei o meu melhor?", "será que deveria ter feito aquilo assim?", "e se não sou capaz?", "e se eu descubro que sou uma nódoa nisto?", entre outros. Posso dizer-vos que passei dois dias completamente abananada e perdida no meu mundo interno de terror. O meu namorado olhava para mim e dizia-me que estava estranha. E estava. Sentia-me cheia de medo e apavorada. Até que parei para pensar na forma como me estava a tratar. Estava a regressar aos meus velhos hábitos de exigir de mim o inatingível, de não me oferecer compaixão e compreensão quando me é tão fácil oferecer aos outros, de me massacrar vezes e vezes sem conta com as coisas que podiam ter corrido melhor em vez de olhar para as que correram espetacularmente bem, de me pressionar a ser perfeita à primeira. Percebi que era aqui que residia a oportunidade de fazer diferente. Desta vez, em lugar de me fechar numa masmorra de autopunição e autocrítica, eu quero fazer as coisas de forma diferente. Quero dar-me espaço, liberdade e tempo. Quero permitir-me errar e quero, acima de tudo, tratar-me com amor. Quero dizer-me que farei asneiras, terei momentos de impasse e dificuldade, mas que serei capaz de os ultrapassar, recorrendo às minhas competências, à ajuda de colegas e de estudar as vezes que forem necessárias para me tornar cada vez melhor. Quero desfrutar da viagem, sentir o vento no rosto, o sol a queimar, ver paisagens diferentes, sem me importar se chego rápido. Eu quero apenas chegar longe. 

Quando interiorizei tudo isto, a calma regressou. E ainda me senti mais plena quando fui reler antigos documentos de projetos anteriores e me confrontei com a paixão que sinto pela minha área. Como aquilo que estudei é tão enriquecedor e, ao mesmo tempo, tão complexo e exigente. Preciso de me dar permissão a ser uma mera aprendiz para me tornar numa profissional excelente. E só o posso fazer se, em simultâneo, me desenvolver enquanto pessoa. 

Este texto vai longo, mas queria contar-vos sobre esta oportunidade, porque acredito que este processo que estou a vivenciar é comum a muitos de vós e a outros tantos. Quantas vezes deixamos que seja o medo a comandar a nossa vida e a tomar as decisões por nós? Quantas vezes abdicamos de sonhos e paixões porque somos dominados pelo medo de errar? Eu recebi uma oportunidade rara e única, sem sequer a procurar, e fiquei completamente dividida entre o êxtase e o terror. Aceitei e, todos os dias, me questionei se fiz bem, seguindo-se o pensamento de que sim, fiz. Somos tão complexos e frágeis, temos todos medo de errar, de expor as nossas vulnerabilidades e de nos confrontarmos com a desilusão. Eu tenho medo de fracassar, de não ter controlo, de ficar à mercê dos meus pontos fracos. Mas o que mais me assusta é nem sequer tentar e ser infeliz por este medo de errar. 

Esta semana torno a ter uma reunião deste projeto. Sinto-me tranquila, estou entusiasmada a preparar tudo o que quero abordar, sinto-me até receosa de me sentir tão bem. Porque esta é outra característica muito comum do medo: espreitar entre a felicidade, fazendo-a parecer estranha e incomum. Mas estou atenta aos meus mecanismos de sempre. Estou aberta à experiência e estou genuinamente curiosa para ver o resultado final. Do projeto e de mim mesma. 

 

03
Abr20

we are okay, we are alright

girl

Todas as crises, pequenas, médias e grandes, têm o poder de nos transformar, se estivermos recetivos à mudança. Podemos sempre aprender algo novo sobre nós, sobre os outros, sobre o mundo e a própria vida. Mas temos de estar disponíveis e abertos para olhar para as coisas, até então conhecidas, certas e previsíveis, com um novo par de olhos. Foi o que eu tentei fazer esta semana. Depois de ter vivido praticamente todo o mês de março em sobressalto, envolvida em emoções de angústia, revolta, raiva, injustiça, ânsia e receio, entendi que, pela minha saúde, estava na hora de parar. Como não posso parar no sentido lato da palavra e me ejetar do meu ambiente tóxico (que é o do trabalho), compreendi que tinha de mudar o meu comportamento e a minha atitude perante a situação em que me encontro. Estava farta de me sentir desgastada, de me sentir zangada por qualquer coisa, ainda que mínima, de me estar sempre a queixar das mesmas velhas coisas que, precisamente por serem velhas, significa que não serão elas a mudar, mas que tinha de ser eu a fazê-lo. Podemos sempre fazer uma escolha perante tudo o que nos acontece, é onde reside a nossa verdadeira e única liberdade, como Frankl nos ensinou há muito tempo e fruto de condições muitíssimo mais adversas do que aquelas em que nos encontramos.
Por isso, esta semana quis inverter tudo e comecei pela forma que me é mais familiar: procurar coisas positivas nesta situação. Porque existem. Existem sempre em tudo que nos acontece, basta procurar. E a primeira coisa que me ocorreu foi, ironicamente, o meu trabalho. O meu discurso parece esquizofrénico, eu sei, até eu própria fico confusa. Mas a verdade é que embora esteja perto do limite do estar farta de aqui estar, por outro lado, sei que trabalho num lugar que dificilmente será afetado por esta crise económica que se avizinha, que até ao momento triplicamos os nossos serviços e que não se precisou de tomar qualquer medida que envolva imposição de férias ou lay offs. Por isso, este trabalho, neste momento, assemelha-se muito a um bote salva-vidas no meio de um tempestade no oceano. E para tempestiva já me basta a minha vida familiar, por isso, arrisco-me a dizer que é uma bênção enorme ter este emprego.
Também pode parecer estranho a próxima coisa positiva que vou referir, porque, novamente, parece contraditória. Dava tudo para estar protegida e segura em casa, através de teletrabalho. Todos os dias tenho uns minutos de introspeção de pânico em que penso se já estarei infetada e faço um check-up interno para verificar a possível existência de sintomas. Mas depois olho para a minha família em casa, que está protegida fisicamente, mas que emocionalmente começa a ficar erodida. Os dias parecem-lhes todos iguais, não conseguem acompanhar-me nas celebrações por ser sexta-feira, não tem novidades para contar. Começam a ficar sem ideias para ocupar o tempo, estão saturados uns dos outros (mais do que o normal). E eu penso para mim que, embora seja um ato sádico sair de casa e expor-me, pelo menos, enquanto estou a trabalhar, a minha mente está ocupada com outras coisas que não a situação atual. Estou distraída, às vezes parece que nada mudou para mim, porque no trabalho tudo continua como se nada fosse e a minha rotina não se alterou significativamente. Posso sair de manhã com segurança de que tenho um motivo para estar fora de casa. Não estou tão cansada psicologicamente, ainda consigo incutir alguma esperança e leveza lá em casa, o que é mais do que positivo. É ótimo!
Penso que esta situação tem o poder de unir as pessoas, de nos fazer refletir que sempre estivemos todos no mesmo barco e que ganhamos muito mais se remarmos todos na mesma direção.
E, num microcosmos individual, sinto que esta situação me tem dado a descobrir novas perspetivas sobre mim mesma. Esta semana senti-me leve pela primeira vez em muito tempo. Acho que ajudou tanto ter tido um quase colapso emocional na semana passada, porque me permitiu aliviar muita carga pesada que já carregava há muito tempo. Externalizar, coisa que é tão rara em mim, libertou-me e deu-me espaço para compreender as coisas de outro ângulo. Trouxe-me um ritmo mais calmo, brando e uma capacidade de reflexão maior, que estava refém de uma impulsividade nada amigável. Dou comigo a pensar que tudo vai ficar bem, a cantar mentalmente Andrà tutto benne ao longo do dia, a sentir-me em paz comigo mesma, porque sei que todos os recursos mentais e emocionais devem ser poupados para esta longa caminhada que temos diante de nós. Temos de poupar energias, poupar-nos ao máximo, para sermos capazes de aguentar até o cruzar da meta. Para isso, é preciso flexibilizar, olhar mais para o que temos do que para o que nos falta, acreditar que é uma situação temporária e, acima de tudo, externalizar o que vai dentro de cada um de nós. Não podemos fingir uma tranquilidade que não temos, se é medo que sentimos. Temos de dar espaço a todas as emoções que surgirem, mas não esquecendo que somos nós que tomamos a decisão de quais iremos alimentar.
Esta semana escolhi privilegiar a minha paz interior, abrindo mão de tudo aquilo que não é justo, mas que também não está ao meu alcance mudar. Aceitei que as coisas são como são, que nunca haverá justiça no mundo e que eu apenas posso ser justa comigo mesma e nas ações que pratico, para comigo e para com os outros. Quando compreendi que a minha energia deveria ser canalizada para coisas que poderiam realmente mudar e fazer sentido, alcancei a tranquilidade que não tinha até então. Não estou no estado nirvana e certamente que virão dias em que a minha serenidade será apenas uma memória, mas hoje estou bem e em paz. E esta situação, se serviu para enfatizar algo, foi que só temos o momento presente como certo. Por isso, hoje estou bem, a saborear a ideia de que é sexta-feira e espero que, se alguém ler este texto, pare para pensar em tudo aquilo de bom que tem neste momento e sorria. Porque há sempre um motivo para sorrir. Nem que seja a beleza de um sorriso em si mesmo. 

25
Mar20

my little sister

girl

Dou comigo a pensar nas coisas positivas que podemos retirar desta situação que todos nós nos encontramos. Ainda que estejemos a vivê-la de forma diferente, porque uns estão em isolamento em casa, outros continuam a trabalhar e há aqueles, ainda, que estão doentes, acho que é comum a todos o sentimento de angústia, de ansiedade, de incerteza. Perante um cenário que não se promete colorido e otimista, torna-se, a meu ver, imperativo arranjar estratégias que nos ajudem a viver estes dias com a maior tranquilidade possível.
Por isso, vai daí, que comecei a pensar e uma das coisas positivas que surgiu no topo da minha lista foi a possibilidade de passar mais tempo com a minha irmã. E depois apercebi-me que poucas (ou nenhumas) vezes escrevi sobre ela e isso é uma falha enorme da minha parte, porque a minha irmã é das pessoas mais especiais da minha vida. É aquela pessoa com quem posso não falar uma semana, mas quando falo é como se nada se tivesse alterado. É das poucas pessoas neste mundo com quem me sinto à vontade com a ideia de ser eu mesma e com quem posso realmente sê-lo. Não existem vergonhas nem embaraços entre nós e essa é uma condição que só atingi, nesta vida, com escassas pessoas, que se podem contar pelos dedos de uma só mão. Posso estar à beira de um colapso emocional, mas quando estou perante a minha irmã, assumo o meu lado mais sereno e protetor, como se nada no mundo fosse realmente importante ou grave. Porque, na verdade, quando o objetivo é vê-la calma, nada mais importa.
A minha irmã é um ser humano incrível. Tem sido uma aventura vê-la crescer e transformar-se na pessoa que é hoje. No entanto, confesso sentir saudades de quando éramos, ambas, meras crianças, que passavam horas a brincar ao faz de conta, tão entretidas no nosso mundo imaginário que o tempo passava por nós e nós não dávamos por ele. O tempo passou e tornou a passar, hoje somos duas jovens adultas, que já não brincamos ao faz de conta, é certo, mas não deixamos de brincar. Somos estupidamente parvas, irritamo-nos mutuamente, mas sabemos que tudo aquilo que nos une é muito mais forte do que qualquer coisa que nos separasse.
Por isso, passar mais tempo com ela só pode ser compreendido como uma bênção. Porque a verdade é que crescemos e com o amadurecimento vem também um afastamento inevitável, as nossas vidas nunca deixam de se cruzar, mas passam-se os dias e nós vamos deixando cada vez mais de fazer parte dos dias uma da outra. Perdem-se momentos simples que, com esta situação, estamos a recuperar. É uma alegria chegar a casa e tê-la presente, disponível. É confortante partilharmos o nosso dia uma com a outra, estarmos juntas depois do jantar nas nossas atividades de sempre.

É simplesmente bom. É uma coisa maravilhosa da vida. A minha irmã. 

12
Fev20

mau humor

girl

Não sei quanto a vocês, mas eu, por vezes, tenho uns flashs, uns momentos repentinos e espontâneos, em que olho em meu redor e me sinto abençoada. Grata. Como se me tivesse saído a sorte grande por ser quem sou, por viver onde vivo, por ter a família que tenho, o namorado, os amigos. Não sei explicar, mas é como se as peças se encaixassem todas e formassem uma figura digna de ser admirada. Não é que as peças não estejam encaixadas a maior parte dos dias, mas nem sempre conseguimos ver o todo, às vezes somos ofuscados pelas partes e também não é menos verdade de que o todo é muito mais do que a mera soma das partes.
Hoje tive um desses momentos e, confesso, adoro quando me acontece. É uma das coisas maravilhosas da vida. Sentirmos que temos uma sorte do caraças. Comecei o dia com um humor cujas palavras não são sequer dignas de o descrever. Não sei como é que vocês são quando estão de mau humor, mas eu posso assegurar que sou do pior que há, conseguindo irritar-me a mim mesma. Quando entrei no carro do meu namorado, não éramos apenas dois no carro, éramos três: ele, eu e o meu mau humor. E quando estou nestes dias negros, penso sempre para mim que o melhor é remeter-me ao silêncio, porque sei que tudo me irrita, até o respirar. Mas mesmo calada, a minha cara de poucos amigos grita o quão insuportável estou.
Portanto, a equação perfeita para afastar as pessoas do meu radar, porque primeiro ninguém tem de me aturar e, segundo, toda a gente sabe que o humor é contagioso, sobretudo quando é mau. No entanto, o meu namorado parece estar imune, porque não só não se deixou afetar, como ainda tentou combater as minhas energias negativas demoníacas. Foi o mais atencioso e querido possível, mimando-me, não perguntando sequer o que se passava, porque sabia que não só não valeria a pena como pioraria a situação.
Quando cheguei ao trabalho, vinha a pensar na amabilidade dele. Na forma como me conhece tão bem, como sabe lidar comigo, como me consegue adorar no meu melhor e, acima de tudo, no meu pior. Algures li uma frase que dizia que é nos nossos piores dias que precisamos de ser amados e é a mais pura das verdades. É o derradeiro teste entre quem nos ama como somos e quem apenas nos suporta quando somos suportáveis. Aquela atenção, aquele carinho e, acima de tudo, a paciência aconchegaram-me. Não fiquei, subitamente, no melhor humor do mundo, mas tive um flash, um momento eureka do quão sortuda sou por ter este homem ao meu lado, na minha vida. Senti-me grata, muito grata.
Não é um dia bom, nem sequer posso dizer que é mau, porque não aconteceu nada de mal. Apenas não é o meu dia. Mas mesmo nos dias em que não sou eu, nos dias menos bons, ele está sempre comigo, ao meu lado. E, para mim, amor é isto.

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