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the old soul girl

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03
Mai24

Quando a terapeuta vai à terapia #1

girl

Se há tema no qual me sinto uma verdadeira impostora, é no que diz respeito à terapia. Casa de ferreiro, espeto de pau; faz o que eu digo e não o que eu faço; são alguns provérbios que ilustram tão bem a minha relação com a ideia de fazer terapia. Sei que faz tão bem, sei que pode fazer a diferença na vida de qualquer pessoa e, ainda assim, no que me concerne, andei a mastigar a ideia de forma ruminativa, sem nunca avançar. Entreguei-me a vários argumentos que justificavam a minha inércia e fui escrevendo esta vontade nos meus objetivos anuais, nas transições de vários anos, quando somos invadidos por aquela súbita e misteriosa força motivadora de mudar a vida num ápice. 

Mesmo sabendo que a terapia é umas das melhores ferramentas que podemos ter na nossa caixinha de utensílios para fazer face aos desafios da vida, sempre temi sentar-me do outro lado da secretária. Tive medo de me abrir com alguém que não soubesse acolher-me, a mim e às minhas dores, às minhas fragilidades e questões. Tive receio de ser vulnerável com alguém desconhecido, cuja atenção está só e somente focada em mim, não me dando escapatória e não me permitindo nenhuma saída de emergência. Precisamente por conhecer a terapia tão de perto, por dentro, tive receio de não ser capaz. Mesmo sabendo que, do outro lado, existe um profissional treinado para saber ouvir e escutar, ler nas entrelinhas, procurar significados, relacionar acontecimentos e iluminar padrões escondidos e subterrados. É uma daquelas situações em que a lógica e a emoção não se casam e, por mais que o racional grite, o emocional parece sempre mais forte e vencedor. 
Um dia, da forma mais natural e espontânea do mundo, deparei-me com uma aplicação que providencia consultas psicológicas online e fiquei curiosa. Embora não goste nada de videochamadas e considere que não se consegue reproduzir a intensidade de uma presença física, de um espaço partilhado por duas pessoas, que se olham e escutam diretamente, achei interessante a possibilidade de fazer algo que tanto me assustava no conforto da minha casa, do meu espaço, com a distância de segurança devida. E achei ainda mais interessante a possibilidade de conciliar com a minha rotina, que é sempre tão preenchida. Decidi arriscar, movida pelo pensamento "vamos ver o que isto é, se não gostar, não preciso de continuar". E lá marquei uma sessão. 
Senhores, como eu estava nervosa para aquela primeira sessão! Só conseguia pensar em todos os meus clientes, os passados e os atuais, e na sua coragem para, semanalmente, se sentarem diante de mim e se abrirem comigo. Que honra ser merecedora dessa confiança, dessa entrega! Acho que suei mais naqueles instantes antecedentes ao início da sessão do que nas últimas caminhadas que fiz. 
Começou a sessão e eu, de forma automática e inconsciente, começo a tirar notas mentais do modo como a psicóloga me recebe e se apresenta. Começo a estudá-la e apercebo-me que ela espera que eu comece a falar acerca do motivo que me levou a marcar a sessão. Explico, de forma desajeitada e atrapalhada, numa tentativa de elaborar e, ao mesmo tempo, de não ser demasiado descritiva e aborrecida. Alterno entre o papel de cliente e o de psicóloga, colocando-me no lugar dela e pensando que será mais fácil quanto mais objetiva eu for, quanto mais clareza eu conseguir oferecer ao meu raciocínio. 
Ela pede-me para falar acerca das minhas primeiras memórias e, quando dou por mim, a sessão está a chegar ao fim e ela pede-me para identificar um sentimento que esteja presente depois de 50 minutos a falar acerca da minha trajetória de vida. Falo-lhe de um sentimento de leveza e de alívio. E de surpresa, por ter sido capaz de falar tanto e de forma tão honesta. Despedimo-nos, agendando a próxima sessão e desejando uma boa semana uma à outra. O ecrã desliga-se e vejo a minha reflexão no monitor. A sorrir, orgulhosa de mim, do passo que fui capaz de dar. Com a certeza, mais uma vez, de que a experiência é o melhor antídoto do medo. 
Desde dessa 1ª sessão, tenho feito um diário de terapia, onde vou escrevendo sobre as sessões, sobre as minhas reflexões pós consulta e os meus pensamentos em relação ao próprio processo terapêutico. Ajuda-me a organizar as ideias e a construir esta experiência; a decifrar melhor os meus ângulos mortos. Não sei se vou alcançar o objetivo terapêutico, mas sei que a cada sessão que compareço, que me apresento e me entrego, estou a dar o meu melhor. E isso é suficiente. Ser eu é suficiente. Ser é suficiente. 
Estou mais focada no processo do que no resultado. Mais do que alcançar o que me levou a marcar a consulta, estou a alcançar pequenas vitórias que não faziam parte do meu objetivo principal. Uma delas é, sem dúvida, permitir-me ser vulnerável, falar do que me preocupa, mostrar as minhas feridas sem vergonha, verbalizar o que vai dentro de mim sem ter de me preocupar se vou ferir suscetibilidades. Estas são conquistas que não posso negligenciar e parte desta jornada é estar consciente da relação que estabeleço comigo mesma. Em vez de ser a minha maior crítica, a inimiga nº1 de mim própria, estou a tentar ser genuinamente minha amiga e torcer por mim, aplaudir as minhas vitórias e incentivar-me, mesmo quando as coisas nem sempre correm como eu gostaria.
Há uma vozinha em mim que me diz que este não é o match perfeito e que a minha psicóloga não é exatamente o tipo de pessoa que eu procurava, mas estou a tentar ser paciente com ela também e com ambas. Uma relação não se constrói num só encontro, requer algum tempo e entrega, dedicação. Fiquei apreensiva quando, no início da 2ª sessão, me questionou, novamente, o nome próprio. Fez-me sentir ... esquecida? Invisível? Sei que pode parecer um pormenor pequenino e insignificante, mas talvez por também conhecer o lado de lá, de me sentar semanalmente na cadeira oposta à que me sento quando estou nestas sessões, é que senti um desconforto quando me fez esta pergunta. Poderia estar cansada, ter tido um dia, uma semana difíceis, é certo. Mas ... questionar o nome fez-me sentir pequena num espaço em que me deveria sentir à minha altura. 
Estou a tentar compreender se poderei estar a ser demasiado implacável ou se poderá existir aqui alguma razão de ser, que me possa levar a procurar outra pessoa, com quem sinta uma base mais sólida no que diz respeito à relação terapêutica. Por isso, estou a dar-me tempo, mantendo-me atenta a estas sinergias e dinâmicas.  
Para terminar este desabafo, deixo-vos com uma questão que, de quando a quando, me vou colocando e me ajuda a reorientar: se alguém falasse convosco como vocês falam convosco próprios, seriam amigos dessa pessoa? 
(Nem vou comentar nada sobre a ausência do blog, porque seria chover no molhado. Já se compreendeu que este lugar é como um caderno, um bloco de notas infinito, onde existe sempre uma folha branca disponível, à espera da composição frásica. Não é um diário, mas é um fiel companheiro. A todos vocês que me vão deixando comentários, sempre tão carinhosos, muito obrigada por continuarem aí )
18
Ago23

As minhas recomendações #1

girl

Hoje apetece-me fazer um post sobre recomendações, que é algo que adoro fazer às pessoas da minha vida. Gosto genuinamente de partilhar quando encontro coisas interessantes para ler, ouvir, ver. Por isso, deixo aqui algumas delas, que tive o prazer de descobrir nos últimos tempos:

 

- Debaixo da Língua, podcast de Rui Maria Pêgo, da Rádio Comercial 

Se eu pudesse escolher uma pessoa "conhecida" (não gosto deste termo, mas também não gosto do termo "famoso") da qual gostaria de ser amiga, o Rui Maria Pêgo seria a minha escolha. Acho-o uma pessoa super interessante e cheia de mundo; é culto, é um comunicador nato e brilhante. As conversas que tem com os seus convidados, no podcast, são tão bem desenvolvidas, as questões que coloca tocam nos "nervos" certos, a sua presença na conversa torna-a melhor, mais profunda, mas nunca se sobrepõe ao convidado. É empático, é divertido, é carismático e faz as perguntas certas, da forma certa. Ainda não ouvi um episódio que não achasse interessante e no qual não tivesse aprendido algo ou ficado a pensar em algum tema de forma diferente. O episódio com o ator Nuno Queimado, por exemplo, tem estado a ecoar na minha mente há dias. O episódio com a apresentadora Maria Botelho Moniz é inspirador. O episódio com a Andreia Criner fez-me sorrir o tempo todo e, pela primeira vez, ouvi duas pessoas (a Andreia e o Rui) a descrever na perfeição o porquê de os concertos serem experiências tão mágicas e intensas. Aconselho vivamente a darem uma oportunidade a este podcast; eu tenho ouvido enquanto trabalho, enquanto passo a ferro, arrumo a cozinha, é uma excelente companhia. 

 

- Inacreditável, podcast de Inês Castelo Branco, da Rádio Comercial

Mais um podcast da Rádio Comercial que vale muito a pena. Confesso-vos que ainda nenhum episódio conseguiu superar o primeiro, que é sobre a experiência de Mónica, no tsunami de 2004, na Tailândia. Este primeiro episódio, que dá o pontapé de saída do podcast, é absolutamente avassalador e inacreditavelmente bom. Depois deste, há outros episódios interessantes e, como o nome do próprio podcast sugere, inacreditáveis. Histórias felizes, de coincidências, de situações engraçadas e que se tornaram em boas histórias para contar. A Inês é uma atriz incrível, como se sabe, mas vocalmente, a forma como narra e conta as histórias é envolvente e deliciosa. O que não é assim tão interessante, rapidamente se torna, através da sua voz, da tua entoação. 

 

- Série de Livros Cottonwood Cove, da Laura Pavlov

Sabem a sensação de alegria de ler um livro de uma escritora que não conhecem, mas que ficam imediatamente a adorar? E a sensação de histeria de descobrir que ela tem vários livros publicados, que ainda estão a aguardar por vocês? É uma das coisas maravilhosas da vida. Tinha o Into the Tide há meses no meu kobo, a aguardar ser escolhido. Protelei, li outros livros, até que decidi dar uma oportunidade a este, que é o primeiro da série Cottonwood Cove. É escusado dizer que adorei. Faço o disclaimer, desde já, que é um romance e, por isso, não criem a expectativa de que é um nobel da literatura à espera de ser reconhecido. É uma leitura leve, cativante, com direito a final feliz, que eu tanto gosto. Tem os ingredientes que eu adoro num romance: tem dual POV; as personagens são cativantes, não só as principais, mas todas as restantes; é steamy, o que significa que temos uma história de amor com intensidade; está bem desenvolvido, não é um insta-love. Depois deste, já li os dois a seguir e encontro-me a aguardar pelo 4º livro da série, que será publicado em setembro deste ano. No que toca a leituras, tenho dado preferência aos romances, porque são a minha zona de conforto, de desafio, de aconchego e felicidade. Mesmo que sejam clichés, adoro sempre ler sobre amor, sobre duas personagens que se cruzam, que se conectam, se amam e desejam. Vibro com elas, sofro com elas, fico feliz quando tem direito ao seu final feliz e acredito, genuinamente, que os romances são a minha grande fuga da realidade, porque o mundo fica suspenso quando estou perdida no mundo dos livros. Fazem-me sonhar, suspirar e deliciar. 

 

- Reputation, álbum de Taylor Swift

Não sei se alguma vez escrevi aqui sobre a Taylor Swift. Talvez porque nunca fui, nem sou, aquilo que se considera uma Swiftie. Sou, na verdade, alguém que inicialmente não gostava desta artista, não entendia o hype associado à mesma. E sou, também, a pessoa que ouviu o álbum Folklore e, depois, Evermore, e recolheu tudo aquilo que tinha lançado para o mundo anteriormente sobre esta pessoa. A Taylor Swift é um furacão musical e é raro assistir-se a um fenómeno desta dimensão, alguém que nasce na música country, consegue brilhar nesse registo e, ao mesmo tempo, desvincular-se do mesmo e abraçar outros estilos e fazendo brilharete em todos eles. Não sou, como já referi, uma Swiftie, porque não sou a fã dos anos iniciais, não gosto particularmente dos álbuns da Taylor adolescente, mas respeito-os. E sou verdadeiramente fã de trabalhos posteriores, como é o caso deste álbum, Reputation, que tenho ouvido em repeat e tenho adorado. Gosto da sonoridade, gosto das letras das músicas, da história e da mensagem que elas nos contam, gosto do facto de ser um álbum "chapada na cara, de luva branca" depois de uma época em que a Taylor esteve debaixo de fogo e a tentaram extinguir do meio. Não só não conseguiram, como libertaram a besta interior dela, no melhor dos sentidos, e nos proporcionaram esta maravilha musical. É especialmente bom ouvir este álbum assumindo esta perspetiva, imaginando-nos na pele dela ou simplesmente de alguém que passou pelas chamas e sobreviveu para contar a história. 

14
Ago23

the art of mourning

girl

Alerta para um post advindo de um emaranhado de fios mentais, de um novelo de ideias dispersas e enroladas umas nas outras. Esta é uma tentativa de desfazer nós e esticar linhas de pensamentos. 

Estou há horas a tentar escrever alguma coisa decente. Penso, escrevo, apago. Torno a pensar, torno a escrever, torno a apagar. Vejo o desânimo apoderar-se de mim, sinto o cansaço nas minhas pálpebras, a desmotivação a instalar-se na minha postura corporal. Ouço os meus pensamentos, presto-lhes a devida atenção. Eles dizem-me que não tenho jeito nenhum para isto. Que não consigo elaborar e trabalhar esta ideia que me surgiu. Que esta desorganização mental é real e por mais que tente arrumá-la, há sempre alguma reflexão que fica de fora e obriga a repensar toda a ordem até então criada. Que trabalhar a uma segunda-feira, numa véspera de feriado deveria ser proibido e que, por esse facto, me posso entregar a uma dose de letargia. Que me apetece muito criar coisas, investir, inventar. Que isso é difícil e não sei por onde começar. Que quero a mudança, mas será que estou disposta a pagar o preço que ela custa? Será que é um bom investimento? Que me sinto aborrecida. E isto não é apenas um pensamento que me ocorre, é também toda uma emoção e sentimento em si mesmo. Que me sinto triste. E cansada. Que existem várias fontes de cansaço na minha vida, de diferente origem, mas que se completam e fortalecem esta sensação de desfalecimento quotidiano. Que me sabe tão bem dormir e ler. Que em ambas as atividades me distancio de mim, deste estado de consciência e navego para outros mundos, outras realidades, outras pessoas e possibilidades. Que sinto fome. E que devo comprar um chocolate para aguentar até ao fim do dia, pois vai ser longo. Que não trabalhei quase nada e o dia já vai a meio, mas que também não em preocupo muito com isso. Que se lixe.

Não era sobre nada disto que queria escrever. Mas talvez não seja sobre o que quero, mas sobre o preciso de escrever. Quero escrever sobre livros, podcasts, música; mas preciso de escrever sobre as minhas dores e os meus pensamentos sobre elas.

Dou por mim a refletir sobre o conceito de luto e, inevitavelmente, sobre o de perda. Parece-me que andam de mãos dadas, a cara e a coroa da mesma moeda. Para cada perda tem de existir um luto. Mas há tantas formas de perda. A mais comum, e das mais assustadoras, é a perda de alguém que amamos. Mas existem outras que não exigem uma ausência física, o que não significa que não impliquem uma ausência. Há perdas de expectativas, de sonhos, de projetos. Há perdas de pedaços de nós, há perdas da totalidade de nós. Há perdas de rumo, de sentido, de propósito, de missão. E no meio destas perdas todas, há tanto luto por trabalhar. Sim, o luto é um trabalho. Duro, ingrato, escravo, controlador, precário. Um trabalho para o qual é difícil arranjar candidatos, por maiores e melhores que sejam as promessas de condições de trabalho. Lembram-se daquela expressão horrenda que estava inscrita nos portões dos campos de concentração nazis, O trabalho liberta? Naquele contexto e naqueles moldes, o trabalho não libertava, matava. Mas nesta minha linha de raciocínio condicional, se o luto é um trabalho e se o trabalho liberta, então o luto é um trabalho que liberta.

E é mesmo. Por mais que custe, por mais que demore, por mais que pareça não ter fim, o luto liberta-nos. E eu vejo-me neste compasso de espera, de indecisão, de avançar ou de me encolher perante este processo. De um lado, vejo as minhas perdas empilhadas, acumuladas umas atrás das outras. Perdas simples, simbólicas, essencialmente de expectativas que nem sabia que tinha criado. O próprio mecanismo de proteção de não criar expectativas advém de uma perda maior, que me convenceu que não se pode perder nada que não se possua em primeiro lugar. Claro que esta aprendizagem (não) brilhante foi feita num momento de desilusão, de estilhaços de sonhos e fantasias no chão. Mas pior do que perder um sonho, é perder todos pela perda da capacidade de sonhar. Durante muito tempo confiei que esta era uma boa estratégia, mas já não estou convicta disso. Sinto saudades de sonhar e, num plano mais amplo e abrangente, sinto saudades de mim, de um “eu” onde sonhar era um prazer.

As nossas perdas não trabalhadas, não choradas não se extinguem. Não evaporam. Apenas se sedimentam, formando várias camadas, umas em cima de outras, que vão causando erosão na nossa identidade e nas nossas relações, com os outros e com o mundo. É isto que vejo do outro lado. Existe uma expectativa e existe a realidade; quando ambas coincidem, maravilhoso, quando ambas se contrariam, é preciso chorar essa contrariedade. É preciso mastigar (não ruminar) as emoções que daí surgem e aceitar esta conclusão, encaixando-a na nossa história, na narrativa da qual somos autores. Às vezes este processo é rápido, outras vezes não. Às vezes é difícil olhar para as emoções com aceitação, é difícil estar com o desconforto que elas provocam. E não faz mal, porque isso também é, em si mesmo, um processo. Outras vezes, é difícil a aceitação. Não queríamos determinado desfecho, não queríamos escrever determinado capítulo. Não faz sentido na visão que pretendíamos construir. E, mais uma vez, está tudo bem. Porque é difícil desvincular de uma ideia, de um projeto, de uma vontade. Por mais lógico e racional que seja esse processo de desvinculação, há qualquer cola invisível que nos une àquela ideia, aquela perspetiva. Mudar de óculos, de lentes, requer um período de habituação, não é verdade?

São estes pensamentos que têm pairado na minha cabeça desde manhã. Sei que ainda não trabalhei esta ideia como gostaria, falta-me sustentação, falta-me limar as arestas. Mas o essencial está cá. A ideia central está lançada no mundo: tenho perdas para chorar. Tenho trabalho para fazer. Tenho de olhar para dentro e desembaciar as lentes, que estão ofuscadas pelo medo de sentir. Sim, medo de sentir. Durante muito tempo, fui refém deste medo. Medo de abraçar as emoções, sejam elas quais forem, com os dois braços abertos, de coração para coração. Medo de não ser capaz de as gerir, de elas me esmagarem em vez de me abraçarem. Medo de me paralisarem e me bloquearem. Nunca fizeram tanto sentido as palavras de Carl Jung: o que resiste, persiste. É preciso deixar fluir, seguir o rumo da corrente e não remar em direção oposta. Essa resistência vai criar mais entropia, vai bloquear o ritmo normal e saudável da vida.

O pontapé de saída está dado. Começar a “partir pedra” e desmontar este muro que construi entre mim e as perdas. Afinal, fazemos parte da mesma matéria, partilhamos o mesmo berço. Eu não sou as minhas perdas, mas elas fazem parte de mim. Da minha história.

E depois deste momento de escrita caótico e catártico, os pensamentos continuam presentes, mas eu apenas os observo e contemplo. Que bela atividade mental que para aqui vai.

11
Ago23

Férias

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Já perdi a conta ao número de vezes que ouvi pessoas a dizer "para tirar férias e ficar em casa, prefiro estar a trabalhar!". Por mais que tente compreender esta forma de olhar para as férias, admito que ainda não consigo empatizar com esta visão. Talvez seja porque não adoro o meu trabalho, talvez seja porque me "contento" com pouco, não sei. Para mim, o conceito de férias é simples: não ir trabalhar. Não preciso de ter grandes planos, não preciso sequer de sair de casa, basta quebrar a rotina de acordar cedo, preparar almoço, passar o dia no escritório, para me sentir de férias. 

Este ano tirei uma semana de férias sozinha. O meu namorado mudou recentemente de emprego e, como tal, em ano de admissão o direito às férias só surge após seis meses de trabalho. Eu, pelo contrário, como mudei de emprego no ano passado, acumulei alguns dias de férias. Assim, marquei uma semana de férias para desfrutar da minha companhia e, sem dúvida, que me soube pela vida!

A liberdade de fazer o que me apetece, não ter de conciliar vontades nem fazer cedências, não ter de esperar por ninguém, ser a dona do meu tempo e determinar a que horas vou fazer o que me apetecer fazer foi maravilhoso. Aproveitei para me dedicar a tudo que me nutre e faz sentir feliz, viva: caminhar com a música como companheira, pela natureza, pela praia; ler; ouvir música; descansar no sofá, com direito a ver filmes românticos e com finais felizes; escrever: sentar-me a ver o mar, as ondas, a sentir o sol. Foi tão bom parar e descobrir o que existe à minha volta.

Acima de tudo, foi a oportunidade mágica para estar comigo e entender que solidão e solitude são conceitos muito diferentes. Estive quase sempre sozinha, mas senti-me sempre acompanhada, plena e feliz por estar na minha companhia. Cheguei, inclusive, a ir lanchar sozinha, levar o meu caderno e escrever sobre o desconforto inicial que senti por estar sozinha num café, a lanchar, e sobre o modo como, ao aceitar esse desconforto, ele se foi dissipando e a experiência se foi tornando, gradualmente, cada vez mais prazerosa e rica. O modo como me senti viva e presente, focada nos estímulos à minha volta a que, por norma, estou alheia. Depois do lanche, ainda fui caminhar até à praia, em modo de passeio, desfrutando do sol, do vento, da alegria de ter tempo para mim e para usufruir dos pequenos prazeres da vida.

Confesso que também existiram momentos em que senti que seria bom estar acompanhada, em que gostaria de ter companhia para partilhar aquela sensação de paz e de bem-estar, de felicidade. Mas nunca foi um sentimento predominante e que me fez aproveitar menos o tempo livre. Pelo contrário, fez-me sentir grata por ter pessoas na minha vida com quem gosto de estar, de viver, e como uma dessas pessoas, a mais importante, sou eu mesma. 

Estar de férias, torno a dizer, é apenas não trabalhar. Por a rotina em stand-by e ter tempo para ser, para estar, para sentir, para fazer o que nos dá prazer e não apenas o que são obrigações e deveres. É desligar o despertador, mesmo que se continue a acordar cedo como se ele tocasse. Não faz mal, é um despertar completamente diferente. É a sensação de acordar para mais um dia, cheio de possibilidades, onde podemos escolher o que fazemos com cada segundo, porque somos os donos do nosso tempo. É cozinhar pratos deliciosos, que nos levam mais tempo, requerem mais técnica e trabalho, mas não faz mal, porque temos tempo para nos dedicarmos a eles. É conversar e estar com as pessoas de quem mais se gosta sem olhar para o relógio, porque existe todo o tempo do mundo para desfrutarmos uns dos outros, podemos dar atenção total a cada um. É um despir completo de afazeres, de telefonemas, emails, demandas. É abrandar para olhar para o céu, para ir ver o mar, para sentir o sol no rosto, para olhar para as árvores e flores e perceber que existe tanta natureza, todos os dias, à nossa volta. É regressar a casa, à casa que somos e cuidar dela, adorná-la, limpá-la, fazê-la sentir bonita, arrumada, serena novamente. É a sensação de regresso, de retorno, após uma longa temporada de ausência, de viver a meio gás, à superfície, apenas pela metade. 

04
Ago23

Daisy Jones and The Six

girl

Todos temos paixões que nos acompanham desde sempre. A minha, a par dos livros, é a música. O cupido foi o meu pai, também ele um apaixonado, que me pedia para fazer compilações de músicas em CD's, dando-me listas das músicas que pretendia. Numa época onde ainda não existia Spotify nem as entradas USB nos rádios dos carros, os CD's eram a única opção para conseguirmos ouvir as nossas playlists. As viagens de carro, fossem curtas ou longas, eram sempre feitas com uma banda sonora a acompanhar-nos. Mais do que gostar de música, o meu pai é um entendido na história das bandas, dos músicos, das formações originais, dos sucessos e fracassos dos álbuns lançados. Enfim, uma verdadeira musicoenciclopédia ambulante, que me passou o "bichinho".

Fui uma adolescente que vivia com os phones colocados nos ouvidos, de manhã até à noite. Inclusive nos testes de avaliação, cheguei a pedir a professores para fazer as avaliações com música, porque me ajudava a concentrar e entrar no flow. Passei tardes de sábado a estudar na mesa da sala dos meus pais, com o agora extinto VH1 ligado, onde passavam programas das 50 melhores músicas de sempre, por exemplo. Lembro-me de descobrir tantas músicas e bandas através deste programa e de anotar no meu caderno os nomes, para depois ir pesquisar. Quando comecei a namorar, o nosso ponto de encontro era sempre na biblioteca municipal. Como chegava sempre mais cedo do que o meu namorado, ficava a ler livros sobre a história da música e biografias dos músicos que mais me fascinavam. Tirava apontamentos, fazia daqueles momentos uma verdadeira e autêntica sessão de estudo. 

Ainda hoje gosto de ler regularmente sobre o tema, ler entrevistas e reportagens de bandas e músicos, acho delicioso "perder-me" neste mundo musical. Curiosamente, nunca tive vontade de aprender música; o meu fascínio sobre recaiu sobre a história da música, das formações das bandas, como é que os elementos se conheceram, quais as suas maiores lutas e conquistas até conseguirem a sua grande oportunidade, os significados das letras das músicas, os dramas, o processo criativo, a influência do contexto social e histórico na criação da música, a música como "arma", como veículo de intervenção, muitas vezes, política e social. 

Por tudo isto, adorei ler o livro da Taylor Jenkins Reid, Daisy Jones and The Six. Não é um livro que recomende a toda a gente, não por não ser bom, porque é!, mas pela sua estrutura: todo o livro é em formato entrevista. Trata-se da história da banda fictícia Daisy Jones and The Six, a sua formação, ascensão e término. O livro consiste em dar a conhecer a história da banda, através de entrevistas aos vários elementos da mesma, que vão partilhando a sua visão dos acontecimentos. É um livro maravilhoso, que nos leva até aos anos 70, uma era musical e histórica muito rica e da qual saíram algumas das maiores bandas de todo o sempre, que ficaram eternizadas  na história, como é o caso de Queen, Fleetwood Mac, entre outras. São bandas, são músicas que ainda hoje ouvimos com a sensação de que estamos a ouvir algo inacreditavelmente bom e irrepetível. Não quero dar mais detalhes do livro, porque não quero estragar a experiência de leitura, de maravilha, de descoberta, que é ler este livro!

Depois de ler o livro e descobrir que o mesmo estava a ser adaptado para uma série da Amazon Prime, não descansei enquanto não devorei a série. É sempre difícil ver adaptações de livros a filmes e séries. Creio que é uma popular opinion que dificilmente os livros conseguem ser superados. No meu caso, já apanhei muitas desilusões nestas conversões de livros em filmes/séries, pelo que fui com medo para ver o primeiro episódio da série. Um medo que se revelou completamente infundável, porque a série está fantástica! Desde o casting, o respeito pelos acontecimentos e sequência do livro, o desenvolvimento e complexidade das personagens, a caracterização, os cenários, as músicas!!!! Não posso deixar de frisar aquele que, para mim, é o ponto mais incrível desta série: a banda! Se eu não soubesse, de antemão, que tudo isto é obra de ficção, eu acreditaria piamente que estava a ver um documentário de uma banda real. A qualidade das músicas, do álbum Aurora, que foi lançado, é espetacular. E ainda se torna mais incrível porque as personagens que dão vida e voz aos vocalistas da banda nunca tinham tido nenhuma experiência musical, como aconteceu com os outros atores da série e banda. Mesmo que não tenham interesse nenhum em ver a série, eu recomendo vivamente que ouçam o álbum (está disponível no spotify) do início ao fim e se deixem levar por uma viagem musical e temporal, que vos conduzirá aos sons, aos ritmos e à vibe tão característica dos anos 70. 

Assim, este livro é um tri-win: é um bom livro, é uma série muito bem conseguida e é um álbum espetacular. Através de uma "simples" história, foi possível criar três produtos, três obras de arte fantásticas.

Aproveito para incentivar a lerem esta autora, Taylor Jenkins Reid. Não há um único livro dela que seja mau! Todas as obras dela são incríveis, escritas de uma forma tão envolvente, que é difícil pousar o livro sem consumi-lo até à última página. O famoso The Seven Husbands of Evelyn Hugo, que está tão em voga graças ao BookTok, é famoso porque merece sê-lo: é fantástico e quero escrever sobre ele em maior detalhe no futuro. Mas não é apenas este livro da autora que é maravilhoso: é também o caso de Malibu Rising, Carrie Soto is back, Maybe in Another Life, Evidence of the Affair, Forever, Interrupted e, claro, Daisy Jones and the Six. De todas as características da escrita de Reid, a que me conquista sempre, em todos os seus livros, é o modo como constrói as personagens. Todas as personagens parecem reais, pessoas que acreditamos que existem ou existiram, cruas, complexas, falíveis, humanas. Essa proximidade e familiaridade com as personagens envolve-nos ainda mais na história, o grau de contacto é muito próximo. 

Por isso, deixo-vos aqui a minha recomendação para futuras leituras, uma série e um álbum de música. Deliciem-se :)  

I could've sworn this was the wayTell me again, why do we stayOn such a lonely, lonely, lonely road?You'd never guess, I'd never knowWe're on the same side and it's gonnaBe a lonely, lonely, lonely road

- The River, Daisy Jones and The Six 

 

02
Ago23

It's not you, it's me

girl

Ando a sentir uma desmotivação extraordinária no que diz respeito ao trabalho. Não é apenas uma falta de vontade em fazer as coisas das quais sou responsável, nem se cinge apenas à necessidade de férias que se começa a sentir nesta altura do ano. É algo mais profundo e denso. É falta de realização, é aborrecimento, é constatar que o locus do problema não se localiza fora, mas está bem dentro de mim, por mais que existam fatores externos que contribuam para me sentir assim. 

Mudar de emprego fez-me perceber algumas coisas que são essenciais para mim e na minha forma de estar profissionalmente. Até então, não valorizava estas "características", porque não sentia falta delas, eram um dado adquirido. Apenas sabia que um valor essencial para mim era ter um ambiente de trabalho saudável, sem medo, onde é possível crescer e, por isso mesmo, é possível falhar sem ser a pior coisa do mundo. Como escrevi ontem, nada disto existia onde trabalhava antes e, talvez por isso, quando procurei a saída, foquei-me neste aspeto quase exclusivamente. Não me interpretem mal, continua a ser um valor base para mim, do qual jamais abdicaria, mas hoje compreendo que não basta isso para termos um trabalho que nos realiza e satisfaz. É como numa relação amorosa: amar é importante, mas não é suficiente para fazer uma relação durar e prolongar-se no tempo. No meu caso, é exatamente isto: adoro o ambiente descontraído e respeitador que aqui se vive e no qual se trabalha, mas não me chega para sentir que trabalharei aqui até ao fim dos meus dias. 

Sinto falta de organização, por exemplo. Desculpem a redundância, mas a organização é organizadora. Dá coerência, sentido e sensação de controlo. Quando as coisas têm nome, lugar e espaço, é mais fácil trabalhar. Infelizmente, no sítio onde trabalho, vivemos numa desorganização que, muitas vezes, sinto como caótica. Entendo que é fruto de um crescimento rápido, que não foi planeado e gradual, as chamadas "dores de crescimento". No entanto, esta desorganização desmotiva, é exaustiva, as pessoas perdem-se naquelas que são as suas tarefas e no estabelecimento de prioridades. Quando as coisas não estão organizadas, tudo parece importante e urgente. Estou constantemente a sentir que me está a escapar alguma coisa, que me estou a esquecer de fazer algo. Tudo isto é oposto ao local de onde vim. Acho que foi na anterior empresa que aprendi a importância da organização, de ter as coisas bem estruturadas, saber sempre onde está determinado documento, determinada informação. 

Sinto falta do rigor. De trabalhar com cabeça, tronco e membros. De fazer as coisas com qualidade. De haver controlo de qualidade. Quando não existe rigor no que se faz, caímos no desmazelo. Tanto dá se fazemos assim ou assado; tudo serve. Tenho dificuldade em trabalhar nestes moldes. Tenho dificuldade em encontrar sempre tantos obstáculos para conseguir fazer um trabalho bem feito, um trabalho que cumpra com todos os requisitos e necessidades. 

Sinto que falta uma comunicação mais aberta e transparente. Não temos (nem devemos) de saber tudo, mas quando tudo parece um segredo de estado, começamos a sentir-nos desconfiados. Quando não existe transparência nos processos mais simples, mais inofensivos, é inevitável surgir uma sensação de desânimo e falta de pertença. Já para não falar dos constrangimentos que se criam, frequentemente, no trabalho por falta de comunicação. Coisas simples, de fácil resolução tornam-se complicadas, porque as pessoas não falam, porque escondem informação, porque estão constantemente a testar-se umas às outras. É cansativo. 

E, acima de tudo, sinto que esta já não é mais a área que me faz feliz. Mais do que todos os constrangimentos acima enumerados, este é o cerne, o ponto fulcral da questão: esta área não me preenche, não me realiza, não me faz sentir nada a não ser estagnação, frustração e desmotivação. Não vejo propósito no que faço. Não me encontro em nada deste trabalho, porque nas pequeninas coisas nas quais poderia fazer a diferença, sinto que não existe espaço para mim. Estou resignada a um trabalho para o qual não estudei, o qual nunca ambicionei nem desejei para mim. Sinto-me prestes a terminar uma relação, na qual o problema não é o outro lado, sou mesmo eu. 

Já existiu um momento, uma fase, em que este trabalho fazia sentido para mim. Talvez quando ainda estava a aprender como tudo funcionava, talvez quando o meu foco principal era ter um trabalho que me concedesse autonomia, independência financeira. Nessa fase da minha vida, fazia-me sentido. Hoje, depois de alguns anos nesta área, sinto que preciso de mais. Preciso de algo que prima os nervos certos em mim: algo que estimule a minha criatividade, a minha curiosidade, que me desafie. Gosto de aprender coisas novas, de estudar, de investigar. Gosto de trabalhar com pessoas e em equipa. Gosto de fazer, de fazer bem, de fazer o melhor. Não gosto de soluções rápidas, de tapar buracos e não resolver as questões na sua raiz, porque sinto que isso é contornar os problemas e dar-lhes mais profundidade. 

Portanto, quando tornar a mudar (porque não é uma questão de "se", é mesmo de "quando"), sei que será uma mudança radical. Será um afastamento desta área, que já me serviu muito e da qual estou muito grata, mas já não me serve mais. É como quando a nossa peça de roupa favorita deixa de nos servir e, de repente, já não olhamos para ela da mesma forma. Fomos nós que crescemos? Foi a peça que perdeu o seu encanto? Foram ambas as hipóteses? O que é certo é que já não há conexão, já não faz sentido.

Chegar a esta conclusão é, de certo modo, libertador. É obter, finalmente!, o diagnóstico do problema e poder avançar para a cura, porque o problema já está identificado. É altura de tornar a pensar no meu plano de vida, nos valores que me são essenciais, no que considero absolutamente imperativo e do qual não quero, nem posso abdicar. É uma reflexão profunda, à qual me ando a dedicar quase todos os dias, desde há algum tempo. E, por isso mesmo, será tema presente e frequente aqui, porque, como já tantas e tantas vezes referi, escrever permite-me lançar as questões e pescar as respostas. 

01
Ago23

one year later ...

girl

Há um ano preparava-me para entregar a minha carta de demissão e dizer adeus, finalmente, a um lugar que me marcou profundamente. Foi o meu primeiro trabalho, a entrada no mundo profissional, o abraço de uma área próxima da minha de origem, mas não igual. Aprendi imenso durante os quatro anos que estive naquela empresa, desde competências técnicas às chamadas soft skills, por me ter visto obrigada a lidar com pessoas tão diferentes de mim, com feitios e personalidades complexos e difíceis. Foi nesse emprego que vivi o melhor e o pior da minha carreira profissional, que conheci pessoas incríveis e que continuam na minha vida (e espero que permaneçam para sempre), bem como outras que me mostraram como o ser humano consegue transformar-se no seu pior para se manter à tona. Era este o ambiente que vivia naquela empresa: de selva, de constante luta pela sobrevivência. As pessoas trabalhavam com medo e, como se pode imaginar, num lugar onde se teme, não há espaço para aprender, para arriscar, porque os erros comportam graves consequências e a culpa nunca pode morrer solteira. Este clima de opressão, de constante vigilância e terror esticou a minha sanidade mental aos píncaros. 

Assim, quando surgiu uma oportunidade na área, com condições muito semelhantes em termos de salário, função e horário, não hesitei. Naquela altura, o meu namorado, excelente conhecedor do ambiente profissional em que eu trabalhava, apenas me disse: se recusares esta oportunidade, tens de estar consciente de que nunca mais te poderás queixar do sítio onde estás. Porque estaria a optar por ficar nesse mesmo sítio, do qual tanto e tanto me queixava. E se o fizesse por livre escolha, usufruindo da minha liberdade, então teria de assumir a responsabilidade inerente a essa liberdade. 

Aceitei o novo desafio, cheia de entusiasmo, mas também de receios e medo do futuro. Mudar é assustador, faz com que o péssimo se transfigure e se torne "menos mau", porque é um "mau" que nos é familiar, que conhecemos e sabemos como gerir e lidar. O desconhecido, por sua vez, ainda que possa inacreditavelmente maravilhoso, assusta-nos, porque não sabemos o que nos espera, não temos recursos, estratégias nem ferramentas para saber como lidar nem com o que lidar. No meu caso, o que mais me custou foi deixar as "minhas" pessoas. Aceitar a ideia de que aquelas pessoas deixariam de fazer parte do meu quotidiano, deixariam de ser presença diária na minha vida. Reconciliar-me com a realidade de que, perante as adversidades e os dias difíceis de trabalho, não teria aquela rede de segurança, conforto e apoio. 

Integrei-me muito bem no novo trabalho, mas nunca recuperei a sensação de "casa" e "família" que construí com as pessoas do meu primeiro trabalho. Nunca abandonei a sensação de ser uma forasteira, uma espécie de estrangeira neste ambiente, que com o passar do tempo já não é assim tão estranho e novo, mas que ainda não é meu. 

Entregar a minha demissão foi uma prova de fogo, algo que sempre temi fazer. Os dias anteriores à entrega da carta foram vividos num estado de ansiedade angustiante, pensando em todos os cenários possíveis. Quando o momento chegou, convenci-me de que estava a dar um salto de fé, de que apenas poderia controlar o que queria dizer e como dizer. Tudo o resto estava fora do meu alcance. Foi uma das coisas mais simples e, simultaneamente, mais exigentes que já fiz e das quais mais me orgulho. Eu sei, parece ridículo, mas para mim teve um significado colossal ter conseguido desvincular-me de um lugar tão tóxico. 

Associo, ainda hoje, a minha relação àquele lugar como uma relação abusiva, na qual existe um estado constante de medo, de tensão, onde não há espaço para se ser. Um lugar vazio de humanidade, onde as pequenas e raras provas de existência de vida humana pareciam autênticos milagres; onde o que deve ser ordinário se torna extraordinário pela sua condição rara. 

Passado quase um ano desse ato de coragem, de liberdade, de amor próprio, não posso dizer que estou no emprego que sempre sonhei, onde me sinto inteiramente realizada. Porque não estou e sobre isso escreverei num outro dia, num texto dedicado apenas ao tema. Mas estou num ambiente onde é permitido errar, ainda que não seja o desejado. Um sítio onde não venho trabalhar com dores de barriga, onde posso respirar tranquilamente e onde não sinto medo. Sei que tudo isto é básico, isto deveria ser o normal em todos os lugares, todas as empresas que empregam pessoas. Mas também sei que, tal como eu, muita gente trabalha em locais onde as pessoas não são respeitadas, onde nem sequer são vistas e aceites como seres humanos, falíveis, imperfeitos, onde é exigida a perfeição e devoção total. 

Por isso, um ano depois e sei que tomei a decisão certa. Este ainda não é o meu lugar de chegada, a minha meta, mas é o meu caminho até lá chegar. 

24
Set20

#16 Self-care journal: 5 most beautiful moments you've ever witnessed

girl

Surpreendentemente, não foi difícil pegar num punho de momentos bonitos que já tive oportunidade de testemunhar. Claro que existem muitos, alguns até nem tão felizes, mas incrivelmente belos, no entanto, estes foram os cincos que surgiram mais rapidamente na minha cabeça. Neste desafio específico, gostava de vos ler e conhecer momentos bonitos que tenham experienciado. Quais foram? O que fez deles especiais? O que sentiram? O que é que isso diz acerca de vocês? Partilhem comigo enquanto eu vos deixo cinco dos meus.

1. Basílica de São Pedro

Foi o primeiro momento que me veio à mente quando li este desafio. Regressei de imediato às férias de maio de 2015, aquela longa semana, em que muitos estavam a viver a queima das fitas enquanto eu e o meu amor partimos para Roma, para viver e sentir na pele o verdadeiro significado de dolce far niente. No dia em que fomos ao Vaticano, estava um calor abrasador e eu, que lido mal com temperaturas acima dos 25º/27º, sentia-me sem grande paciência de ficar horas na fila, debaixo de sol, para entrar na basílica de S. Pedro. Mas o meu namorado fincou o pé e disse que valeria a pena. Não gosto de admitir, mas o rapaz tem (quase) sempre razão e quando entrei na basílica, senti-me esmagada pela beleza daquele lugar e pela fé que ali se sentia. Eu, que não me considero crente, não consigo não me emocionar quando me vejo rodeada pela fé e esperança dos outros, é algo que me comove e me faz sentir que, independentemente do que cada um de nós acredita, estamos todos juntos nesta aventura e, por vezes angústia, que é a vida. Ora, na basílica existe uma espécie de sala à parte, que é uma parte da igreja dedicada à oração. Está separada por umas cortinas e se queremos entrar nesse espaço, devemos manter-nos em silêncio como sinal de respeito por quem está ali a orar. Assim que ultrapassei as cortinas e entrei naquele espaço, fui invadida por um silêncio aconchegante, oposto ao som, barulho e burburinho que se ouvia fora, na basílica. Sentei-me num dos bancos e olhei em meu redor, quando o vi e não fui capaz de desviar o olhar. Num outro banco, ajoelhado, estava um senhor, com as mãos coladas uma à outra, em posição de reza, a olhar fixamente o altar. Enquanto orava, compenetrado na figura sagrada, chorava e sorria em simultâneo. Senti-o em paz. Como se encontrasse ali um conforto e uma tranquilidade perdidas algures. Nunca mais me esqueci daquele rosto, daquele momento e daquela sensação. Tanta gente que ali estava, focada em se fotografar a si e ao espaço, e aquele senhor parecia alheio a tudo e ali estava ele, a orar, quem sabe a agradecer, quem sabe a falar com quem já cá não está, como se estivesse envolvido numa bolha impenetrável.

 

2. Concerto de Jazz

Muito escrevi sobre este momento aqui. E foi tão incrível, tão maravilhoso, tão intenso, tão inesquecível, que aquela hora e meia de concerto será sempre um dos momentos mais bonitos que vivi e testemunhei. Porque não me consigo esquecer daqueles músicos entregues a si mesmos, alheios ao público, focados apenas no seu instrumento e na melodia, a transpirar música e a entregarem-se como se a vida coubesse toda ali, naquele momento, naquele palco. Ouvir música é uma das experiências pela qual vale a pena viver, mas ter a oportunidade de ver a conceção da música é sublime. 

 

3. Concerto de gospel 

Mais um concerto, é verdade, e deixo já o disclaimer que não ficarei por aqui. Uma atmosfera completamente diferente da que vivi no concerto de Jazz, mas igualmente incrível. Escrevi também sobre este momento e torno a fazê-lo porque aquelas duas horas de concerto foram das mais alegres e divertidas que já vivi. Quando olhei para a sala onde estava só via todas as pessoas, de uma ponta da sala à outra, de pé, a dançar, a cantar bem alto, despidas de vergonhas e entregues à música. O grupo de gospel rendido ao público e o público rendido a eles. Foi um momento de união, como se cada alminha ali presente estivesse alinhada e unida pela alegria que é viver e que é celebrar a vida. No nosso quotidiano, creio que agimos todos em modo automático, porque as exigências são tantas que não há tempo para parar, respirar e apreciar onde estamos, com quem estamos ou até quem somos. Naquele momento, senti que estávamos todos presentes, a viver apenas aquele momento e, por isso, senti-me tão viva. 

 

4. Consolo de um coração partido

Sei que escrevo muitas vezes sobre a minha família e nem sempre são as palavras mais felizes e apaixonantes que lhes dedico. E também sei que, embora não sejamos mais aquela família de quatro, unida e pronta para o que der e vier, teremos sempre essas memórias de quando éramos felizes. Serão sempre nossas e uma das mais especiais, que me comoveu muitíssimo, foi quando vi o meu pai consolar a minha irmã, após esta sofrer o seu grande primeiro desgosto de amor. A nossa união era de tal forma que naquele dia não se partiu um só coração, mas sim quatro. E foi ternurento ver o meu pai abraçá-la, conforta-la com as palavras mais doces, ternas e sinceras, a assegurar-lhe de que era linda, especial, perfeita e que alguém iria dar-lhe todo o valor que ela possui. É que o meu pai, embora tenha falhado redondamente como marido, foi, é e será sempre um super pai. E aquela imagem deles os dois juntos será sempre comovente. 

 

5. Concerto de orquestra de música clássica

De cinco momentos, três deles são relativos a música, eu sei, é pouca variedade, mas não posso evitar que sejam estes os momentos mais felizes que já presenciei. Este último é o mais recente e foi uma autêntica catarse emocional para mim. Chorei desde a primeira nota tocada até à última. Encharquei a minha máscara, lavei a minha alma naquela hora e meia e tudo pela beleza e pela gratidão daquele momento. Observar uma orquestra a tocar é magistral e digno do adjetivo "perfeito". A sincronia, as melodias e harmonias, a forma como o todo abraça e se estende para além da soma das partes, a coordenação sentida e rigorosa do maestro, que vibra com cada corda, cada sopro e percussão. Olhava e escutava os músicos e sentia que era como estar a vislumbrar uma obra de arte em movimento e composição. As emoções não couberam dentro de mim, acabando por transbordar. Novamente, a sensação de estar viva, de me sentir maravilhada e grata, de estar sintonizada com aquele momento. 

19
Ago20

vulnerabilidade

girl

“Vulnerability is the birthplace of love, belonging, joy, courage, empathy, and creativity. It is the source of hope, empathy, accountability, and authenticity. If we want greater clarity in our purpose or deeper and more meaningful spiritual lives, vulnerability is the path.” - Brené Brown

A meditação de hoje foi sobre vulnerabilidade como forma de autocuidado. Ser vulnerável é uma das missões impossíveis na minha vida. Sabem aquele conjunto de crenças parvas que carregam convosco, mesmo tendo a perfeita noção de que não vos servem de forma alguma, apenas vos pesam? É como eu me sinto em relação a ser vulnerável. Não me permito sê-lo, embora conviva com conforto e tranquilidade com a vulnerabilidade dos outros. Faz algum sentido? Eu sei: nenhum

Com esta meditação, fui levada a refletir acerca do significado que atribuo a ser vulnerável e o que me impede de o ser. O que procuro evitar quando escondo dos outros as minhas angústias, ansiedades e medos? O que diz isso acerca de mim?

Para mim, ser vulnerável é sermos capazes de dizer, sem medos, o que vai dentro de nós, sobretudo quando são coisas menos boas ou difíceis. É uma nudez emocional, é sermos quem somos por inteiro, sem recear o que os outros vão pensar ou se vão gostar de nós. É abrir as portas da nossa alma e convidar os outros a conhecer os nossos recônditos, sobretudo os mais obscuros. É ser visto e estar confortável debaixo da luz dessa atenção. É assumir que não somos perfeitos e inquebráveis. Um assumir que não é lógico, porque cognitivamente todos sabemos que não somos perfeitos; mas emocionalmente, nem sempre compreendemos que essa perfeição é impossível. Digo, muitas vezes, que o meu coração e a minha cabeça tem de andar a ritmos semelhantes para as coisas me fazerem sentido. O que entendo com a mente, nem sempre aceito no coração. 

Então, porque me custa tanto deixar-me ser vista pelos outros? Acho que não me sinto confortável com a atenção. Não gosto de ser notada, nunca gostei. Sempre me senti muito envergonhada quando, de repente, os olhos se voltam para mim e todos esperam algo de mim. Mas acho que também receio mostrar-me ao mundo, tal como sou, e a reação ser negativa. Tenho medo de não ser aceite pelo que sou, embora saiba que ser aceite por algo que não sou não tem qualquer valor. É como se o meu núcleo central fosse tão precioso para mim, tão frágil, que tenho receio do que possa acontecer se o trouxer à luz para todos verem. 

Ser vulnerável implica ser capaz de pedir ajuda quando precisamos. Não é uma questão de "se precisarmos", é mesmo "quando", porque todos precisamos uns dos outros, nem que seja num momento da nossa vida. Nem sempre tive dificuldade em desabafar, até era algo que quando era mais nova fazia sem esforço. Mas à medida que fui crescendo, as defesas e resistências foram crescendo, comecei a sentir que não valia a pena estar a partilhar as minhas coisas com o mundo. Para quê? Vou chatear alguém e vou chatear-me a mim mesma, por ter de estar a repetir o que já sei. Mas depois, quando, esporadicamente, o faço com alguém próximo, parece que não sei falar, porque não falo, despejo informação. Começando a falar, não consigo parar a torrente de emoções e pensamentos e ideias que tenho. Nesses momentos, apercebo-me que tenho mais necessidade de me abrir com os outros do que quero assumir. Acima de tudo, tomo consciência do bem e da falta que tal me faz.

Olho para a minha situação familiar. Estamos a viver este drama há dois anos. Sabem a quantas pessoas fui capaz de contar o que se passa na minha vida? Apenas a uma. O meu namorado não conta, porque não precisei de lhe dizer nada, ele esteve sempre lá, desde o começo, assistiu a tudo sem precisar que eu o pusesse a par de alguma coisa. Apenas fui capaz de contar a minha história a uma pessoa. Não tenho mais pessoas na minha vida confiáveis, com quem poderia partilhar? Tenho. Lembro-me, de imediato, de mais três ou quatro pessoas a quem gostaria de contar. Mas não o consigo fazer. Não consigo correr o risco. Como é que começaria? E porquê agora? Passados dois anos? Como é que lidaria com a sua abordagem ao meu problema? Sinto vergonha. Uma vergonha que me paraliza, que me faz querer esconder e não ser vista. Para mim, a dificuldade de ser vulnerável é mesmo essa: ser vista. 

Mas o que temo que os outros vejam? Porque é que é tão fácil para mim ajudar alguém, mas tão difícil pedir ajuda quando sou eu que estou a necessitar? Porque é que eu sei que ser vulnerável não tem nada a ver com ser fraco mas, quando penso sê-lo, sinto-o como fraqueza? Porque é que tenho tanto receio de me mostrar ao mundo, mas gosto tanto quando vejo outras pessoas fazê-lo, sem amarras? 

Sei que perco muito quando me fecho na minha prisão interior. A vulnerabilidade é o caminho. É a irmã gémea da autenticidade e da verdade. Lembro-me muitas vezes de um episódio sobre o qual já escrevi, em que desabei num choro incontrolável, num grupo que esperava ouvir a minha resposta. Aquele dia, em que nenhuma defesa estava activa, foi o dia chave para fechar o luto da minha avó. Só foi possível concluir esse capítulo e integrar essa experiência quando libertei com a carga emocional que trazia comigo. Porque os significados, as reformulações, os pensamentos já estavam todos alinhados, mas faltava-me a expressão emocional. Em palavras simples: faltava-me chorar e sentir aquela dor toda. Aquele momento de vulnerabilidade, ainda hoje quando penso nele, me arrepia. Não era eu ali e, ao mesmo tempo, estava ali tudo que sou. Só ganhei com aquela experiência e, mesmo assim, não consegui ainda ser capaz de tornar a repetir. 

É por isso que esta é a minha missão impossível. Não é impossível, na verdade, mas é a minha missão. É o meu desafio. E mexe com muitas outras variáveis que só começo agora a conhecer e combinar. Mas o caminho é por aqui. 

13
Ago20

#4 Self-care Journal: Imagine you're on a relaxing walk on a perfect warm day and describe every detail.

girl

Era o aniversário da minha mãe e o universo decidiu oferecer-lhe como prenda um dia solarengo maravilhoso. Soube que seria um dia bom assim que os raios de sol me despertaram, entrando pelas frinchas teimosas das velhas persianas. Estava decidido: aquele sol não seria desperdiçado. 

Chegamos à praia mais rápido do que a velocidade da luz. Mas não iríamos fazer praia. Não, os nossos planos eram outros. Percorreríamos um dos trilhos mais bonitos que alguma vez conheci, onde o oceano e a terra se abraçam e nunca mais se largam. Naquele dia, éramos um trio de exploradores: eu, a minha mãe e o mar. 

Iniciamos o nosso percurso e foram as flores que captaram a minha atenção. Numa subida particularmente exigente, a minha atenção era toda dirigida às flores que nos cercavam. Amarelas, laranjas, violetas. Acabadinhas de acordar, não fosse primavera! Para onde quer que os meus olhos se dirigissem, apenas via rasgos de cor. A minha mãe olhava para o mesmo cenário e sentia o mesmo encanto. Quando nos apercebemos, já estávamos no topo da colina e o caminho até lá chegar fora passado a admirar o arco-irís em terra. 

Seguimos a direito, numa zona alta, onde se situam diversos moinhos e, mais adiante, um farol. Ao nosso lado, sempre o mar, tranquilo e apaziguante. Os cristais brilhantes provocados pelo reflexo do sol na água será sempre uma das coisas maravilhosas da vida. Continuamos a caminhar, entre conversas de mãe e filha, conversas que aproximam e aquecem, quando chegamos a um desfiladeiro. Descendo, a sentir o sol queimar a pele e a brisa marítima a empurrar o corpo, fomos ter a uma praia. 

A minha mãe, apaixonada pelo areal, quis continuar a caminhada com os pés bem assentes na areia. Fiz-lhe a vontade (afinal, o dia era seu!) e caminhamos, sem destino, pela praia, à descoberta. Não sei quanto a vocês, mas sempre que piso a areia e ouço o mar, sinto uma paz que me domina. É um local sagrado. Os meus olhos percorrem atentamente o areal em busca de conchas e búzios, completamente maravilhados com a arte da natureza. 

De repente, abre-se um caminho diante de nós. Parece-nos convidativo e optamos por abandonar a praia e seguir aquele trilho. O som das ondas torna-se cada vez mais distante à medida que entramos na floresta. As árvores, altas e esguias, protegem-nos do calor do sol. A sua elegância e porte fascina-me. Afinal, as árvores morrem de pé. Não haverá, creio, nada mais digno. A sombra por elas provocada permite-nos refrescar. Naquele paraíso verde, ouvimos os pássaros em melodias entre-cruzadas. Respiro fundo e o ar parece mais puro e fresco. Torno a sentir-me em paz. Uma tranquilidade que só a natureza é capaz de proporcionar. Um conforto que cheira e sabe a casa. Um lugar de pertença. 

No meio da floresta, ouve-se um riacho a correr. Parece uma cena mística e mágica, retirada de um livro de contos. Olho para a minha mãe e sorrio. Ela está tão maravilhada quanto eu. Está feliz. Estamos em sintonia. Sei e sinto que aquela caminhada foi o melhor presente que lhe poderia ter oferecido. Um pedaço de natureza e paz podem saber pela vida quando tudo nos parece poluído e tóxico. 

O sol torna a romper, entre as copas das árvores, e começo a avistar o fim do nosso trilho. Não sou a mesma que era no seu começo. Algures entre o mar e a terra, entre as flores e as árvores, deixei angústias, dores e anseios. Sinto-me viva, renascida, plena. E, ao ver o sorriso da minha mãe, sinto-me feliz e grata. 

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