rescaldo final
Estando oficialmente terminado o desafio de 30 dias de escrita, posso fazer uma reflexão acerca do mesmo, como uma espécie de rescaldo. Em traços gerais, considero que o desafio foi concluído com sucesso porque escrevi acerca de todos os itens propostos, embora confesse que nem sempre o fiz no dia em que era suposto. Isto aconteceu quase sempre aos fins de semana, porque tento estar afastada do computador o máximo possível já que passo a semana em frente a um. E, admito, aconteceu também num item ou dois por falta de inspiração, precisando de mais tempo para escrever alguma coisa coerente.
Comecei este desafio com o objetivo de fazer dele um exercício de escrita criativa. Inicialmente, a minha ideia era escrever ficção, usando como tema de inspiração os diferentes temas propostos. Queria explorar a minha imaginação e capacidade de escrever num registo completamente antipessoal, distanciando-me o máximo possível de mim e das minhas vivências. Como poderão já ter reparado, caso tenham acompanhado o desafio, isto nunca aconteceu. Todos os trinta textos foram escritos com base em experiências reais e um conjunto de sentimentos que me pertencem.
Creio que falhei o meu objetivo porque, se inicialmente o desafio seria um exercício de escrita, rapidamente se transformou num exercício terapêutico. Eu precisava de escrever sobre uma data de coisas que me estavam a incomodar e a remoer cá dentro. E, curiosamente, a cada tema proposto, encontrava sempre um caminho até ao que precisava de escrever para me sentir melhor comigo mesma. Posso dizer que o que perdi em criatividade, ganhei em sanidade mental. Algumas gavetas da minha cabecinha ficaram melhor arrumadas depois de ter despejado tudo que estava dentro delas nos meus textos e lhes ter dado uma nova configuração.
Outro aspeto de que me apercebi no decorrer do desafio foi de como a escrita pode ser um talento, mas que sem prática nunca poderá evoluir e tornar-se em algo realmente bom. Atenção, não quero ser mal interpretada, não me considero dotada nem penso em mim como uma escritora, mas a verdade é que escrever todos os dias tornou a minha escrita mais fluída e dinâmica. Muitos textos foram escritos em menos de 10 minutos, porque uma vez que me lançava às palavras, a magia acontecia e encontrava o meu ritmo rapidamente. Gostei desta sensação de estar a aprimorar a minha escrita e gostei ainda mais de ter algo que me obrigava a escrever todos os dias.
Não posso deixar de referir, ainda no registo terapêutico, o bem que este desafio me fez. Na procura de inspiração para explorar os diferentes temas sugeridos, dei comigo a reviver memórias antigas, a vasculhar no meu sótão cerebral por recordações deliciosas, que me transportaram para outros tempos, em que fui muito feliz. Todos os textos escritos sobre a minha infância são exemplos claros destas viagens feitas ao passado que me aqueceram o coração. Cada item proposto fez-me pensar em experiências vividas e, ao fazê-lo, revivi-as. Nem sempre perdemos tempo a revisitar os melhores momentos do nosso passado e este desafio foi uma boa oportunidade para o fazer.
Gosto de me desafiar a experimentar coisas novas e, como tal, o saldo final desta experiência só pode ser positivo. Acho que até terei alguma dificuldade em saber sobre o que escrever, agora que já não tenho aquele auxiliar fantástico que me fazia focar num tema específico. Gostaria de tentar, no futuro, repetir um desafio deste género e aí sim, focar-me somente na escrita criativa. Mas percebi que precisava de mergulhar primeiro no meu mundo e só depois ir à conquista de outros, de explorar primeiro o real para depois ir à descoberta do fantástico.