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the old soul girl

the old soul girl

21
Ago23

Reencontros felizes

girl

Este fim-de-semana encontrei uma amiga que já não via há imenso tempo. Uma amiga que conheci na infância, reencontrei na adolescência e que foi companhia e presença constante nos anos da faculdade. Uma daquelas pessoas que encarna o fenómeno agulha num palheiro, por ser tão especial que, de facto, nos faz sentir que dificilmente encontraremos alguém semelhante. Foi tão engraçado encontrá-la no meio de uma avalanche de gente, ver aquele sorriso no meio de tantos rostos e aqueles braços abertos para me receber num abraço apertado, de saudade e alegria. 

Poderia ter-se passado uma década desde o nosso último encontro, a nossa última conversa e, ainda assim, tenho a certeza que teríamos a mesma facilidade em comunicar uma com a outra. Há pessoas, há amizades assim. O tempo passa, passa por cada uma de nós, mas não machuca a conexão criada e é simplesmente fácil. É simples. É um regresso a casa. É aquela sensação de conforto e serenidade de estarmos num espaço familiar e seguro. 

Atualizamos as novidades das nossas vidas. Somos ambas da mesma área profissional e, como tal, partilhamos as mesmas dificuldades, desafios e dúvidas. Optamos por percursos muito diferentes, mas parece-me que o resultado final não difere assim tanto. Ela, sempre mais persistente e sonhadora, decidiu abraçar o desafio de continuar na nossa área; eu, mais pragmática e realista, decidi seguir de imediato para o plano b, que rapidamente se tornou no único plano possível. Hoje estamos as duas afastadas da nossa paixão, com algumas desilusões e amarguras colecionadas pelo caminho.

A verdade é que a faculdade foi um período dourado nas nossas vidas. Não por não existirem dificuldades e momentos duros, porque existiram e a maioria deles aconteceu na nossa vida pessoal e não tanto académica. Mas porque tivemos a felicidade de decidir estudar uma área que nos preencheu por completo e nos fez sentir que estávamos no sítio certo. Eu, pelo menos, passei grande parte da minha vida de estudante a sentir-me desintegrada. Nunca fui uma má aluna, pelo contrário, mas sempre me senti à deriva. Estudava para ter boas notas, porque sabia que era o meu dever, porque os meus pais me incentivavam a tal, mas nunca estudei com um propósito maior. Nunca soube o que queria ser, a não ser saber que queria ser feliz. E isso significa que, independentemente do que estivesse a fazer, eu queria sentir-me feliz a fazê-lo. Quando chegou o momento de escolher, a minha opção foi feita pelo método mais arriscado: exclusão de partes. Excluindo tudo o que tinha a certeza que não gostava e não queria, sobraram poucas opções em cima da mesma e foram essas as minhas escolhas. 

Por isso, descobrir que, no meio do acaso, a escolha foi a certeira, foi uma sensação que ainda hoje não encontro palavras para descrever. Acho que foram os cinco anos mais felizes da minha vida e nos quais me consegui descobri e ser finalmente eu, se é que isto faz algum sentido. Foram anos de muito crescimento, de desafio, de estar simplesmente no caminho certo. Cada descoberta era mágica e reforçava as minhas certezas. 

Ao encontrar a minha amiga, viajei até esses anos, tão bons, tão ricos. Tempos em que o tempo era meu, era da minha total e inteira responsabilidade. Em que o mundo parecia estar nas nossas mãos e tudo era possível. Foi tão bom encontrar uma das personagens principais dessa época e perceber que, apesar tudo, a amizade, a pureza, se mantêm intactas. E que, apesar de tudo, das nossas vidas não se terem concretizado exatamente como prevíamos e desejávamos, conseguimos encontrar novos caminhos, reconstruir propósitos, compreender que há muitas opções diferentes para se ter um final feliz e que Carl Rogers foi sábio nas suas palavras e visão da vida:

"The good life is a process, not a state of being. It is a direction, not a destination.". Estamos a caminho, querida amiga 

07
Ago23

my body is my home

girl

Uma das estratégias que me ajuda a reorganizar pensamentos e emoções é falar sozinha. Sei que parece estranho, mas há qualquer coisa de libertador em falar comigo mesma, em voz alta. Ajuda-me a desenrolar o novelo, a teia complicada e emaranhada de emoções que carrego, os pensamentos que se formam sobre as mais variadas coisas e situações. 

Hoje de manhã, enquanto esperava pelo meu namorado, no carro, dei comigo a pensar em voz alta sobre esta fase que estou a atravessar e sobre a necessidade de compreender a origem desta frustração e desmotivação. Se, por um lado, me parece óbvio que esta sensação de estagnação e "desrealização" pessoal advém, em grande parte, do trabalho, por outro lado, creio que essa é uma fatia do bolo, talvez a mais gordinha, mas não é o bolo inteiro. Existem outras variáveis, outros fatores, que contribuem para me sentir como me ando a sentir. Um deles tem sido a minha falta de consistência naquelas que são as 3 rotinas básicas e essenciais de qualquer ser humano: a alimentação, o exercício físico/movimento e o sono. Estes são os pilares do nosso bem-estar e não adianta tudo o resto na nossa vida estar alinhado, se estas três rotinas estão desreguladas, não vamos conseguir abraçar com total plenitude e intensidade tudo o resto que a vida tem para nos oferecer. 

Ultimamente, todas as minhas escolhas têm sido pobres e inconsistentes. A nível alimentar, andei uns tempos a comportar-me lindamente. Procurei aconselhamento de uma nutricionista, porque sentia que a informação existente é muita e, em grande parte, contraditória. Assim, decidi ir atrás de quem sabe do assunto e tentei compreender como poderia fazer escolhas mais saudáveis no meu quotidiano. Não fui à procura de dietas para emagrecer, não fui com um peso alvo que pretendo alcançar. O objetivo principal foi educar-me a nível alimentar, entender se as minhas escolhas eram corretas, descobrir alternativas mais saudáveis. Aprendi conceitos importantes e, acima de tudo, fáceis de incutir no quotidiano. No entanto, a alimentação é (quase) sempre um espelho da nossa vida emocional. A desmotivação, a sensação de cansaço, a frustração apelam a escolhas mais ricas em açúcar, que nos trazem aquela sensação imediata de conforto e prazer. No meu caso, não sou uma grande fã de doces, mas o que é certo é que tenho feito escolhas cada vez mais pobres a nível nutricional. Tal impacta os níveis de energia, de bem-estar geral. Sinto-me mais cansada, reativa, pesada, inchada. Falta-me a leveza e, acima de tudo, a sensação de que estou a nutrir aquele que é o meu maior aliado nesta jornada: o meu corpo. 

O mesmo se aplica ao exercício físico. Tenho um trabalho exclusivamente sedentário, onde passo o dia sentada, em frente ao computador. Começo a trabalhar muito cedo, pelo que não consigo encaixar o exercício físico na minha rotina matinal, algo que me custa muito, porque treinar de manhã sabe-me sempre melhor do que à tarde. Ao final do dia, é necessária uma dose extra de motivação e energia para me dedicar ao exercício. Conclusão: não tenho feito rigorosamente nada. Noto os efeitos desta falta de movimento, não apenas no corpo, mas também na mente. Exercitar o corpo traz mais energia, mais felicidade, uma sensação geral maior de bem-estar. E, no meu caso, que gosto tanto de caminhadas ao ar livre, ainda tinha esta vantagem acrescida: a oportunidade de contactar com a natureza, apanhar ar puro e fresco. 

Quanto ao sono, sei que todas as pessoas são diferentes na quantidade mínima que precisam de dormir para se sentirem eficientes e funcionais. Feliz ou infelizmente, faço parte do grupo das pessoas que precisa de dormir e precisa de uma noite de, pelo menos 7h de sono. Não consigo fazer noitadas, sou uma morning person e não uma notívaga. Como o meu dia começa muito cedo, é imperativo que termine cedo também, para conseguir ter uma dose razoável de descanso. Contudo, é tão fácil derrapar e atrasar, arrastar a hora de ir dormir. Sobretudo se estiver perdida num livro. Aliás, este é o meu maior problema: é convencer-me de que é apenas só mais um capítulo e, quando me apercebo das horas, já estou completamente distante da hora aceitável para apagar as luzes e dormir. 

Funciona como uma bola de neve, em que tudo contribui para me sentir cada vez mais distante de mim, da sensação de bem estar, de ter vontade e energia para fazer coisas, para investir em projetos. Por isso, esta semana pretendo trabalhar nestes três pilares, começar pela base, pela estrutura "mãe". Preciso de assegurar que as minhas necessidades básicas estão satisfeitas e cuidadas, para depois conseguir investir em necessidades de nível superior. 

É o meu desafio para esta semana. Nutrir-me bem, mexer-me e dormir. Na alimentação, tenho como objetivos beber água, hidratar-me e fazer uma alimentação rica em vegetais, frutas, proteína e desvincular-me dos açúcares. A nível físico, proponho-me a caminhar depois do trabalho, aproveitar que os dias ainda são grandes e está bom tempo, bem como pretendo fazer pelo menos um ou dois treinos em casa, com música e muito movimento. A nível de sono, o limite são as 22h30, a essa hora, custe o que custar, tenho de desligar as luzes e tentar dormir. Mesmo que não adormeça logo, o corpo relaxará seguramente. 

Eu sei, por experiência, que a consistência é a chave do sucesso. É fazermos alguma coisa, todos os dias, mesmo que pequena. É comparecer, é apresentarmo-nos ao serviço. Alguma coisa, por mais pequenina que seja, é sempre melhor que nada. Por isso, esta semana este será o meu mindset, a minha bússola orientadora. 

28
Jul20

trust

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Os sinais existem e estão presentes, basta estarmos atentos e, talvez o mais importante, estarmos recetivos. Hoje entro no meu computador de trabalho, iniciando sessão e abrindo o google chrome, que me recebe sempre com uma frase inspiradora para começar o dia em pleno. A frase que me abraçou hoje foi a seguinte:

Unless you try to do something beyond what you have already mastered you will never grow. - Ralph Waldo Emerson 

Esta citação resume na perfeição a fase que estou a viver. Estou perante um processo de aprendizagem enorme, que me está a desafiar a todos os níveis. Está a mexer com todos os meus medos e receios, com todas as minhas forças e fragilidades. Tenho momentos de confiança e, a seguir, começo a sentir o medo a espreitar, a aproximar-se e a sussurar-me ao ouvido "será que és mesmo capaz?". Sinto o entusiasmo, a adrenalina de me dedicar a algo que me enche tanto o coração e me faz sentir tão viva, mas, ao mesmo tempo, os velhos receios e os pensamentos negativos explodem diante de mim. Quero focar-me apenas no lado positivo, mas não existe luz sem sombra; esta experiência é um todo e, como tal, é também constituída por momentos de angústia no meio de tantos momentos de alegria e euforia. 

Olho para dentro de mim e vejo dois caminhos. Vejo o velho e conhecido caminho, aquele que me faz sentir segura, mas frustrada; que é reto, plano e não requer grande energia da minha parte para ser percorrido (porque, de tão velho que é, conheço-lhe cada milímetro e percorro-o de olhos fechados). E depois vejo um outro, que não está sequer finalizado, que brilha com muita intensidade, com tanta luz, que me ofusca e faz sentir tonta e desnorteada. É tentador, mas deixa-me apreensiva, o meu estômago enrola-se em si mesmo e sinto a minha garganta contorcer-se num nó cego. Por um lado, quero sentir-me segura e estável; por outro, quero a aventura, o desafio. Quero ambos os caminhos, quero se cruzem e formem um só. 

No fundo, o que eu quero é sentir-me segura nesta nova fase. Quero adquirir a experiência que me faz sentir tranquila e plena, embora, para tal, necessite de percorrer o caminho desconhecido vezes e vezes sem conta até este se tornar familiar. Quero ser grande sem precisar de crescer. Faz algum sentido? Ser sábia sem ter de passar pelas adversidades e lições da vida? 

Sei que esta ânsia é a minha necessidade de controlo a falar. É a minha necessidade de ser bem sucedida, não aos olhos dos outros, mas aos meus. Porque os meus olhos são os mais exigentes de todos. Eu sou a única que não me permito falhar, que não aceito a incerteza, que não normalizo o que é natural. Tenho tanto medo de fracassar, de fazer e dizer a coisa errada, de descobrir que sou uma farsa, uma impostora. No fundo, é como se todo o meu valor dependesse do que sou capaz de alcançar. 

Preciso de abraçar a incerteza com curiosidade; de me permitir errar; de desfrutar mais do processo e desligar-me do resultado final; de viver mais no agora do que nos meus medos imaginários, que apenas pertencem a um futuro longínquo e, muito provavelmente, nunca tornado realidade. 

Estou a crescer e a ser desafiada. Já me tinha esquecido de como é assustador e entusiasmante ao mesmo tempo. Preciso de respirar fundo e aceitar que este processo é mesmo assim. Que estes momentos de incerteza e vontade de desistir fazem parte. É a necessidade de conforto e controlo a gritar, são as resistências a fazer força e pressão. Respiro fundo e sei que, apesar de tudo, nunca conseguirei desistir. Pelo menos não agora. Porque se o fizesse não seria pelos motivos corretos. Não seria por perceber que afinal não é isto que me preenche e não é isto que quero para mim. Seria apenas pelo medo. 

Quando aceitei este desafio, foi com as palavras do meu amor em mente e com o bichinho de felicidade que se instalou no meu coração. Ele disse-me "aceita, nem que seja para perceberes se gostas!". E quando ele me disse estas palavras, tudo fez sentido e percebi que queria muito isto. Queria muito tentar. Mesmo que, para isso, me sinta tão perdida e desorientada tantas vezes. Mas se há característica que faz parte de mim é a persistência. Para ser grande, sê inteiro! Põe quanto és, no mínimo que fazes! Este é o meu lema, é a minha forma de estar na vida e é o modo com que encaro todos os desafios que me são lançados. Talvez seja até desta dedicação que nascem as ramificações do meu medo de fracassar, pois dou tudo de mim, pelo que é inevitável surgir o pensamento "e se, mesmo assim, não for suficiente?". O meu medo é proporcional à quantidade de esforço, energia e dedicação que emprego. Quanto maior é o meu medo, maior é a minha vontade de o ultrapassar. Mas quanto maior é o meu esforço e entrega, maior é a possibilidade de o fracasso ser recebido com angústia e dor. 

Independentemente de tudo, estou consciente de tudo o que estou a sentir e a pensar. Estou consciente de que este é um processo. E comecei este texto a falar de sinais. Comecei a escrever este texto ontem e hoje, quando regressei ao meu rascunho, sabem qual era a frase que me esperava?

Trust the process.

Acho que me resta confiar, certo? Em mim e em que tudo vai dar certo. Seja lá o que for esse certo!

21
Jul20

Life is a gift; experience is the beauty

girl

Passou-se um mês desde que escrevi pela última vez. Não tenho escrito por uma miríade de motivos, desde falta de tempo, de vontade, de assunto, excesso de preguiça, etc e etc. Mas escrever faz parte do meu ADN e, como tal, não posso ignorar a minha natureza. Por isso, cá estou, novamente, na minha casinha digital, pronta para fazer um update dos acontecimentos ocorridos neste mês de ausência.

Considero-me uma pessoa a quem nunca acontece nada realmente interessante de ser partilhado. Não sou, nunca fui, aquele tipo de gente a quem tudo lhe acontece e tem sempre uma história ou novidade para partilhar. Às vezes até penso na minha vida como uma paisagem alentejana, plana e árida, sempre igual por maior que seja o número de quilómetros percorridos. Não que isto me entristeça, porque, como gosto de ver o copo meio cheio, tendo a pensar que ausência de novidades pode muito bem ser sinónimo de ausência de tempestades. 

No entanto, este mês, uma novidade, das boas, veio bater-me à porta. Recebi, inesperadamente, uma proposta para trabalhar na minha área de formação em part-time. Uma proposta que me permite conciliar com o meu trabalho atual, permitindo-me ter o conforto e estabilidade, por um lado, com o desafio, criatividade e paixão, por outro. Quando recebi a proposta, o meu primeiro instinto foi declinar. Típico da minha pessoa, assustei-me, pensei logo que era areia demais para o meu camião e fiquei com medo. Aquela vontade de dizer "não" era o meu medo de falhar a falar por mim. Mas depois, com calma e com o apoio do meu mais que tudo, que me disse "eu aceitava sem pensar duas vezes, não penses, diz já que sim!", percebi o quão feliz estava por me estar a ser dada uma oportunidade tão boa, sem eu sequer ter ido atrás dela, sem ter dispendido um único segundo ou milésimo de energia. Literalmente, bateu-me à porta. Fiquei extasiada de felicidade e entendi que a minha alegria e vontade de aceitar o desafio conseguiam ser maiores e mais fortes do que o meu medo. Senti que seria uma ingratidão enorme da minha parte declinar uma prenda que o universo me estava a dar. Soube que me iria arrepender se não tentasse, que passaria a minha vida toda a pensar "e se ...?". E, talvez o mais importante, tive a certeza de que esta prenda da vida carregava um conjunto de aprendizagens, em que a maior delas todas é, sem qualquer dúvida, enfrentar o medo que me aprisiona e condiciona tantas vezes: o de falhar, o de não corresponder às expectativas e o de não ser suficiente. Esta oportunidade veio mascarada de desafio, no sentido em que me obriga a dar um salto de fé, no desconhecido, onde as certezas pura e simplesmente não existem. Por todos estes motivos, soube que recusar não era uma opção. Eu fiquei eufórica, com a adrenalina a percorrer-me o corpo, sabem aquela sensação de entusiasmo tão forte, que se confunde com ansiedade, mas uma ansiedade boa? Como é que eu poderia dizer não a algo que, pelo simples facto de vir ao meu encontro, já me deixara tão feliz? 

Posso dizer-vos que já iniciei este projeto e que, como em todos os começos, a ânsia, o nervosismo, o medo estavam presentes. Tentei dar-me consolo, conforto e colo. Procurei normalizar o que estava a sentir, dando espaço a todos os sentimentos para se expressarem. Convidei todas as emoções a apresentarem-se, entendendo que as emoções são temporárias, tal como aparecem também desvanecem. Assim como os pensamentos. A minha mente, não fosse ela hiperativa, fez mil e um filmes, desde os românticos aos catastróficos. Mas os pensamentos são também eles fugazes e tentei ao máximo não me prender a nenhum deles, com a exceção de um: vai tudo correr bem.

Por maior que seja o meu medo de errar, e acreditem que é muito grande, eu tenho sempre uma luzinha acesa no meu íntimo, que simboliza a esperança de que tudo vai correr bem. Mesmo que tudo corra mal, há sempre a oportunidade de retirar algo de bom. Até porque a maior parte dos nossos medos são ficcionários e imaginativos, nunca chegam a transformar-se em realidade. Foi o que me aconteceu. Estava muito ansiosa, mas quando se deu o click "ação!", tudo fluiu e fez sentido. Como se aquele fosse o meu lugar, a minha casa, onde pertenço.

Naquele dia, senti um conjunto ambivalente de emoções. Primeiro, senti-me feliz e plena. Depois, quando comecei a dar corda à minha mente e aos meus medos, fiquei apreensiva e envolvida em pensamentos de "será que dei o meu melhor?", "será que deveria ter feito aquilo assim?", "e se não sou capaz?", "e se eu descubro que sou uma nódoa nisto?", entre outros. Posso dizer-vos que passei dois dias completamente abananada e perdida no meu mundo interno de terror. O meu namorado olhava para mim e dizia-me que estava estranha. E estava. Sentia-me cheia de medo e apavorada. Até que parei para pensar na forma como me estava a tratar. Estava a regressar aos meus velhos hábitos de exigir de mim o inatingível, de não me oferecer compaixão e compreensão quando me é tão fácil oferecer aos outros, de me massacrar vezes e vezes sem conta com as coisas que podiam ter corrido melhor em vez de olhar para as que correram espetacularmente bem, de me pressionar a ser perfeita à primeira. Percebi que era aqui que residia a oportunidade de fazer diferente. Desta vez, em lugar de me fechar numa masmorra de autopunição e autocrítica, eu quero fazer as coisas de forma diferente. Quero dar-me espaço, liberdade e tempo. Quero permitir-me errar e quero, acima de tudo, tratar-me com amor. Quero dizer-me que farei asneiras, terei momentos de impasse e dificuldade, mas que serei capaz de os ultrapassar, recorrendo às minhas competências, à ajuda de colegas e de estudar as vezes que forem necessárias para me tornar cada vez melhor. Quero desfrutar da viagem, sentir o vento no rosto, o sol a queimar, ver paisagens diferentes, sem me importar se chego rápido. Eu quero apenas chegar longe. 

Quando interiorizei tudo isto, a calma regressou. E ainda me senti mais plena quando fui reler antigos documentos de projetos anteriores e me confrontei com a paixão que sinto pela minha área. Como aquilo que estudei é tão enriquecedor e, ao mesmo tempo, tão complexo e exigente. Preciso de me dar permissão a ser uma mera aprendiz para me tornar numa profissional excelente. E só o posso fazer se, em simultâneo, me desenvolver enquanto pessoa. 

Este texto vai longo, mas queria contar-vos sobre esta oportunidade, porque acredito que este processo que estou a vivenciar é comum a muitos de vós e a outros tantos. Quantas vezes deixamos que seja o medo a comandar a nossa vida e a tomar as decisões por nós? Quantas vezes abdicamos de sonhos e paixões porque somos dominados pelo medo de errar? Eu recebi uma oportunidade rara e única, sem sequer a procurar, e fiquei completamente dividida entre o êxtase e o terror. Aceitei e, todos os dias, me questionei se fiz bem, seguindo-se o pensamento de que sim, fiz. Somos tão complexos e frágeis, temos todos medo de errar, de expor as nossas vulnerabilidades e de nos confrontarmos com a desilusão. Eu tenho medo de fracassar, de não ter controlo, de ficar à mercê dos meus pontos fracos. Mas o que mais me assusta é nem sequer tentar e ser infeliz por este medo de errar. 

Esta semana torno a ter uma reunião deste projeto. Sinto-me tranquila, estou entusiasmada a preparar tudo o que quero abordar, sinto-me até receosa de me sentir tão bem. Porque esta é outra característica muito comum do medo: espreitar entre a felicidade, fazendo-a parecer estranha e incomum. Mas estou atenta aos meus mecanismos de sempre. Estou aberta à experiência e estou genuinamente curiosa para ver o resultado final. Do projeto e de mim mesma. 

 

23
Jun20

quem fui, quem sou

girl

Naquela semana mítica e inesquecível de dois feriados seguidos, aproveitei para remodelar o meu quarto. Claro que não o poderia fazer sem a ajuda da minha mãe, que adora todo e qualquer tipo de atividade que envolva decoração e remodelação. O que começou por ser apenas um projeto de quarto rapidamente se estendeu a outras divisões da casa, em que, a dado momento, já era tanta a confusão instalada que nos fez pensar “porque é que nos metemos nisto?”. Conhecem esta sensação de arrependimento quando olham para o caos instalado à vossa volta? Tudo desarrumado, não sabem onde começa e termina a bagunça? A sorte é que tanto eu como a minha mãe nos guiamos pela velha, mas sábia, máxima de Nelson Mandela, em que tudo parece impossível até estar feito. Por isso, deitamos as mãos ao trabalho e o que deveria ser um feriado transformou-se num dia de muito trabalho, em que as únicas pausas que fizemos foi para comer qualquer coisa.

No meio deste projeto, encontramos um baú, mais antigo do que eu, onde guardamos todos os álbuns de fotografias. Sim, eu ainda sou da geração foto, em que toda a gente andava de máquina fotográfica e rolos na mão para, a seguir, ir a correr ao fotografo revelar as fotos, não sabendo ao certo o que encontraria nelas. E sou da geração primeira filha, o que significa que, como novidade da casa, tudo era digno de ser eternizado. Podem imaginar a quantidade astronómica de fotografias da minha pessoa, nas mais variadas posições e atividades, em todas as estações do ano e festividades. Começamos a abrir álbum a álbum, embarcando numa viagem pelo tempo, até a um passado distante, mas que, por vezes, parece tão próximo. Ri-me muito a ver todas aquelas fotografias, em muitas delas apareciam os meus avós, que saudades deles. Que saudades dos meus velhinhos, já na altura velhinhos, acho que para mim sempre o foram. Aquelas fotos fizeram-me sentir tão amada. Tão desejada, tão querida. Fui uma criança imensamente feliz e aquelas fotografias comprovam-no. E acho que essa felicidade advém pura e simplesmente de todo o amor que sempre recebi. Dos meus pais, tios, avós, primos. Fui uma criança muito amada e adorada, o que me transformou numa criança com um sorriso do tamanho do mundo. A minha mãe conta-me muitas vezes que as pessoas passavam por mim na rua e diziam-lhe: a sua filha é uma criança tão feliz.

Acho que foi um dos traços que nunca perdi, assim como a minha criança interior. Nunca perdi a alegria espontânea e o sorriso fácil. Muitas vezes dou por mim a sorrir sozinha, a sentir-me feliz simplesmente por existir, por cá estar. Sempre que passo num espelho e vejo o meu reflexo, ofereço-me um sorriso. Não conheço em detalhe o meu rosto sem ser com um sorriso espetado. Não sei ser séria, nunca soube. Nunca consegui esconder emoções, nunca soube mentir, sou transparente como a água.

Olhar para aquelas fotografias fez-me sentir grata. Sei que a minha família mudou e já não somos aquele grupo unido e indestrutível. Já não somos uma única unidade, mas sim quatro pessoas distintas, que coabitam debaixo do mesmo teto. Ainda assim, o meu berço, os meus alicerces foram construídos no seio de uma felicidade inesgotável. Cresci com união e amor, são os valores que reconheço sem qualquer dúvida. Por isso, apesar de tudo se ter perdido, desmantelado, não deixo de me sentir grata por ter acontecido agora, quando já sou uma adulta formada. Agora que tenho outros recursos e maturidade para compreender as coisas como são. Sinto-me grata pela família que outrora tive. E conheço a aprender a sentir-me grata pela que tenho presentemente. Porque a verdade é que, juntos ou não, tenho os meus pais e sei que posso contar sempre com eles para tudo. Os meus pais separaram-se, mas nunca, nem por um segundo, deixaram de ser meus pais. E eu continuo a ser filha, embora, por vezes, me sinta mãe deles. Mas continuo a saber, inconsciente e conscientemente, de que eles nunca me falharão enquanto cá estiverem. O amor deles mantém-se intacto.

Começo a perceber que a vida é isto mesmo. Não temos o poder de decisão e escolha em tudo o que nos acontece. As coisas simplesmente batem-nos à porta. Não são, muitas vezes, justas, mas a justiça é um conceito criado por nós, humanos, que é quase utópico. Não há justiça num acidente. Não há justiça numa doença. Não há justiça num divórcio. As coisas acontecem e acontecem-nos. O que podemos fazer é escolher como vamos lidar com elas. Neste momento, prefiro abdicar de sentimentos negativos e lamúrias, para me concentrar na riqueza que tenho. Sei que tenho um longo caminho de “cura” interior para fazer no que diz respeito à minha família. É o meu processo de luto e fá-lo-ei. Aliás, faço-o todos os dias até chegar o dia em que este acontecimento estará de tal modo assimilado e integrado, que será apenas mais um acontecimento, no meio de tantos outros. Mas não quero ser vítima dele. Quero ser a pessoa a quem tal aconteceu, mas que reconstrói a sua narrativa de forma a adaptar mais uma vivência. Quero estar plena e quero aproveitar o melhor dos meus pais, duas pessoas completamente humanas e, como tal, falíveis. Pessoas reais, de carne e osso, que cometem erros, que sofrem, que se perdem, que se desorientam e que precisam de ser cuidadas. Não quero ressentimentos nem angústias, opto antes pelo caminho de aceitar que as coisas são como são e que podemos fazer delas algo incrível se nos propusermos a isso. Escolho perdoar tudo que há para perdoar, não apenas por eles, mas sobretudo por mim.

Porque dentro de mim ainda reside aquela menina travessa, de sorriso muito aberto e pronto para devorar o mundo. O passado não regressa, mas funciona como uma boa lanterna para iluminar o futuro. 

(Vou simplesmente ignorar o meu período de ausência. Sim, não senti vontade de escrever, respeitei essa falta de vontade. Afinal, num mundo com tantas obrigações, escrever ainda não é, para mim, uma delas. Talvez seja por isso que me saiba tanto a liberdade. Espero que todos vocês se encontrem bem!)

13
Mai20

"Decide what to be and go be it"

girl

Desde que me lembro que existem palavras e que aprendi a conjuga-las, escrever sempre foi tão natural para mim como respirar. Ainda guardo as dezenas de diários que escrevi durante a minha infância e adolescência, não pelos tesouros literários que representam, mas por serem provas e evidências da pessoa que fui, outrora.

Quando tive, pela primeira vez, o meu próprio computador e descobri que podia criar um blog e escrever nele, deixei os diários e lancei-me na aventura. Ao longo dos anos já criei e abandonei inúmeros blogs, mas nunca os apaguei, apenas deixei de escrever neles e, de quando a quando, vou revisita-los. Este abandono não se relaciona com o maior ou menor sucesso dos diversos blogs, porque, honestamente, nunca criei um único blog com a expectativa de fazer dele um negócio. Primeiro, não acredito ter o talento suficiente para tal e, segundo, escrevo para mim e não a pensar em que me estará a ler. Na maior parte dos textos, até me posso dirigir a um público invisível, através das minhas palavras, mas não o faço acreditando que do outro lado estão realmente pessoas a ler. Faço-o como um exercício de escrita, uma forma de me expressar mais facilmente.
Na semana passada, revisitei um blog que escrevi enquanto ainda era estudante universitária e a minha vida era totalmente diferente. Diverti-me a ler-me, porque aquela rapariga era tão leve, tão solta e tinha tanta energia. Escrevia sobre as coisas boas da vida, não havia espaço para amarguras, embora, claro, também existissem. Senti tantas saudades de mim, daquele eu que já fui e se perdeu pelo caminho. Aquela rapariga romântica, que acreditava nos finais felizes, que não tinha medo. Acima de tudo, sinto saudades disso: de ser destemida.
Claro que hoje compreendo que a minha ausência de medo advinha, em grande parte, por ainda não ter vivido nada verdadeiramente assustador e que faz com que a vida estremeça e tudo se quebre. No fundo, era uma rapariga inocente. Lírica, como a minha mãe gostava de me chamar. Não se passaram assim tantos anos desde que escrevia naquele blog, mas a mudança foi tão grande, que não me consigo reencontrar naquela rapariga de vinte e poucos anos, que escrevia sobre os dramas da faculdade e acordava todos os dias com um sorriso no rosto pela vida que tinha.
Tive a mesma sensação há dias, enquanto olhava para uma parede do meu quarto, que está repleta de fotografias. Algumas são mais atuais, da minha "nova" vida, mas a maioria delas são anteriores a tudo o que aconteceu. Sentei-me na cama a olhar para cada uma daquelas fotografias, a olhar para mim eternizada naquele momento e é uma experiência muito estranha, quase como uma dissociação. Onde está aquela pessoa? Lá vem novamente esta pergunta e eu não sei responder. Não sei o que me aconteceu, mas sinto saudades de mim. Neste processo de perda e luto, nunca parei para fazer o luto de mim mesma. Tenho feito o luto da família que se desmoronou, mas não tenho deixado espaço para chorar a minha própria perda. Tenho percebido que gostava muito mais de mim do que imaginava, naquela altura. Não que tenha deixado de gostar, mas ainda estou a conhecer a nova pessoa que nasceu no lugar da que se perdeu. É como o início de uma relação. Pode ser que se transforme num amor para a vida toda. Ou não.
Talvez tenha de seguir o conselho de Sócrates e investir mais energia em construir o novo, em vez de lutar contra o passado. Mas não consigo deixar de sentir que é importante revisitar o meu passado, quem fui, para saber quem quero ser. Porque há erros que não pretendo repetir, há caminhos que não seguirei, mas, acima de tudo, há coisas que quero manter e preservar. Quero manter intacta a minha leveza, a minha luz, a minha energia romântica e positiva. Quero, agora sim, depois de algo assustador me ter acontecido, ser destemida. Porque, desta vez, não serei destemida por não ter medo, mas sim por ter ganho coragem.

03
Abr20

we are okay, we are alright

girl

Todas as crises, pequenas, médias e grandes, têm o poder de nos transformar, se estivermos recetivos à mudança. Podemos sempre aprender algo novo sobre nós, sobre os outros, sobre o mundo e a própria vida. Mas temos de estar disponíveis e abertos para olhar para as coisas, até então conhecidas, certas e previsíveis, com um novo par de olhos. Foi o que eu tentei fazer esta semana. Depois de ter vivido praticamente todo o mês de março em sobressalto, envolvida em emoções de angústia, revolta, raiva, injustiça, ânsia e receio, entendi que, pela minha saúde, estava na hora de parar. Como não posso parar no sentido lato da palavra e me ejetar do meu ambiente tóxico (que é o do trabalho), compreendi que tinha de mudar o meu comportamento e a minha atitude perante a situação em que me encontro. Estava farta de me sentir desgastada, de me sentir zangada por qualquer coisa, ainda que mínima, de me estar sempre a queixar das mesmas velhas coisas que, precisamente por serem velhas, significa que não serão elas a mudar, mas que tinha de ser eu a fazê-lo. Podemos sempre fazer uma escolha perante tudo o que nos acontece, é onde reside a nossa verdadeira e única liberdade, como Frankl nos ensinou há muito tempo e fruto de condições muitíssimo mais adversas do que aquelas em que nos encontramos.
Por isso, esta semana quis inverter tudo e comecei pela forma que me é mais familiar: procurar coisas positivas nesta situação. Porque existem. Existem sempre em tudo que nos acontece, basta procurar. E a primeira coisa que me ocorreu foi, ironicamente, o meu trabalho. O meu discurso parece esquizofrénico, eu sei, até eu própria fico confusa. Mas a verdade é que embora esteja perto do limite do estar farta de aqui estar, por outro lado, sei que trabalho num lugar que dificilmente será afetado por esta crise económica que se avizinha, que até ao momento triplicamos os nossos serviços e que não se precisou de tomar qualquer medida que envolva imposição de férias ou lay offs. Por isso, este trabalho, neste momento, assemelha-se muito a um bote salva-vidas no meio de um tempestade no oceano. E para tempestiva já me basta a minha vida familiar, por isso, arrisco-me a dizer que é uma bênção enorme ter este emprego.
Também pode parecer estranho a próxima coisa positiva que vou referir, porque, novamente, parece contraditória. Dava tudo para estar protegida e segura em casa, através de teletrabalho. Todos os dias tenho uns minutos de introspeção de pânico em que penso se já estarei infetada e faço um check-up interno para verificar a possível existência de sintomas. Mas depois olho para a minha família em casa, que está protegida fisicamente, mas que emocionalmente começa a ficar erodida. Os dias parecem-lhes todos iguais, não conseguem acompanhar-me nas celebrações por ser sexta-feira, não tem novidades para contar. Começam a ficar sem ideias para ocupar o tempo, estão saturados uns dos outros (mais do que o normal). E eu penso para mim que, embora seja um ato sádico sair de casa e expor-me, pelo menos, enquanto estou a trabalhar, a minha mente está ocupada com outras coisas que não a situação atual. Estou distraída, às vezes parece que nada mudou para mim, porque no trabalho tudo continua como se nada fosse e a minha rotina não se alterou significativamente. Posso sair de manhã com segurança de que tenho um motivo para estar fora de casa. Não estou tão cansada psicologicamente, ainda consigo incutir alguma esperança e leveza lá em casa, o que é mais do que positivo. É ótimo!
Penso que esta situação tem o poder de unir as pessoas, de nos fazer refletir que sempre estivemos todos no mesmo barco e que ganhamos muito mais se remarmos todos na mesma direção.
E, num microcosmos individual, sinto que esta situação me tem dado a descobrir novas perspetivas sobre mim mesma. Esta semana senti-me leve pela primeira vez em muito tempo. Acho que ajudou tanto ter tido um quase colapso emocional na semana passada, porque me permitiu aliviar muita carga pesada que já carregava há muito tempo. Externalizar, coisa que é tão rara em mim, libertou-me e deu-me espaço para compreender as coisas de outro ângulo. Trouxe-me um ritmo mais calmo, brando e uma capacidade de reflexão maior, que estava refém de uma impulsividade nada amigável. Dou comigo a pensar que tudo vai ficar bem, a cantar mentalmente Andrà tutto benne ao longo do dia, a sentir-me em paz comigo mesma, porque sei que todos os recursos mentais e emocionais devem ser poupados para esta longa caminhada que temos diante de nós. Temos de poupar energias, poupar-nos ao máximo, para sermos capazes de aguentar até o cruzar da meta. Para isso, é preciso flexibilizar, olhar mais para o que temos do que para o que nos falta, acreditar que é uma situação temporária e, acima de tudo, externalizar o que vai dentro de cada um de nós. Não podemos fingir uma tranquilidade que não temos, se é medo que sentimos. Temos de dar espaço a todas as emoções que surgirem, mas não esquecendo que somos nós que tomamos a decisão de quais iremos alimentar.
Esta semana escolhi privilegiar a minha paz interior, abrindo mão de tudo aquilo que não é justo, mas que também não está ao meu alcance mudar. Aceitei que as coisas são como são, que nunca haverá justiça no mundo e que eu apenas posso ser justa comigo mesma e nas ações que pratico, para comigo e para com os outros. Quando compreendi que a minha energia deveria ser canalizada para coisas que poderiam realmente mudar e fazer sentido, alcancei a tranquilidade que não tinha até então. Não estou no estado nirvana e certamente que virão dias em que a minha serenidade será apenas uma memória, mas hoje estou bem e em paz. E esta situação, se serviu para enfatizar algo, foi que só temos o momento presente como certo. Por isso, hoje estou bem, a saborear a ideia de que é sexta-feira e espero que, se alguém ler este texto, pare para pensar em tudo aquilo de bom que tem neste momento e sorria. Porque há sempre um motivo para sorrir. Nem que seja a beleza de um sorriso em si mesmo. 

22
Jan20

back on track

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Nestes últimos dias, tenho refletido tanto acerca do rumo da minha vida e da forma como me apresento ao mundo todos os dias. Faço parte do grupo de pessoas que se preocupa com o que os outros pensam e que gosta que os outros gostem de si. Sim, é verdade, eu gosto que gostem de mim. E acho que não há nada de errado nisso, até porque não acredito que haja alguém que goste de ser desgostado, apenas acho que existem pessoas para as quais a opinião que os outros têm acerca de si lhes é completamente indiferente. Confesso que gostaria de ser mais assim, mas também admito que já fui mais uma people pleaser do que sou atualmente, embora ainda haja um caminho longo a percorrer.

Gostar de ser gostada, gostar de ser vista como a pessoa agradável, simpática e prestável leva-me, muitas vezes, a cair no desejo de agradar os outros. O que tenho refletido nos últimos dias é onde começa o meu desejo de agradar e termina a minha verdadeira essência. Qual é o ponto em que deixo de ser eu, de fazer aquilo que realmente gosto e acho correto, para me transformar numa pessoa que não sou, mas que os outros esperam que eu seja? 

Este pensamento começou a surgir na minha mente na semana passada, de manhã, ao chegar ao escritório. Costumo encontrar sempre as mesmas pessoas quando chego, à porta, perdidas nos seus pensamentos enquanto fumam o seu cigarro pré-jornada de trabalho. E cumprimento sempre toda a gente com um sorriso aberto e um audível "bom dia!". Um dos meus colegas ri-se sempre e todos os dias me pergunta "como é que consegues estar sempre tão bem disposta logo de manhã?", seguindo-se por um "quem me dera ser assim". Eu sorrio de volta e fico a pensar no que ele me diz. 

Porque eu não estou sempre bem disposta, isso é garantido. Sabe Deus o terramoto que vai dentro de mim algumas manhãs, em que saio de casa furiosa e cansada, ainda mal o dia começou. Mas quando chego ao trabalho, tomo sempre a mesma decisão: ninguém tem de levar com os meus problemas e mau humor. Escolho sempre colocar um sorriso e apresentar-me como uma pessoa alegre, porque os outros não têm culpa e, também, porque não beneficio nada em continuar mergulhada em mau humor. Mas admito que também o faço porque gosto que as pessoas me vejam como uma pessoa sorridente e descontraída. Gosto que seja essa ideia que lhes trace a mente assim que pensam em mim: a rapariga simpática. 

E neste ponto, acho que não estou a representar uma pessoa que não sou, porque considero-me verdadeiramente simpática. E gosto tanto de oferecer sorrisos, porque sei como podem iluminar a escuridão de um dia mau. É como um pequeno presente diário, que escolho dar ao mundo, porque não escolho a quem o dou, está absolutamente disponível para toda a gente que se cruzar comigo, conhecido o não. 

Mas depois surgem situações em que sei, de antemão, que estou a representar uma persona. No trabalho acontece muitíssimas vezes, mas faço-o não só pelo desejo de ter uma boa reputação. Essencialmente, faço-o porque não quero que estas pessoas me conheçam a sério. Não quero que saibam mais acerca de mim do que precisam de saber, pois não tenho qualquer intenção de que façam parte da minha vida além do mísero papel que já têm. Só que, no trabalho que faço, se por um lado, tento manter inalcançável a minha verdadeira personalidade, por outro, falho redondamente neste exercício. Porque é-me exigido ser uma pessoa diferente da que sou, e até aqui tudo bem, mas é-me imposto ser alguém que não pretendo nunca ser, nem a fingir. E é aqui que a porca torce o rabo e acabo por ser mais transparente do que desejaria ser. Peçam-me tudo menos agir como uma pessoa que se está nas tintas para os outros. 

E volto ao início: ao rumo que quero para a minha vida e à forma como quero estar nela. Sei que não quero continuar a fazer um trabalho que me obriga a ser uma pessoa que não sou. Sei que quero seguir a minha vocação e o meu propósito. Sei, com tanta certeza, de que não nasci para fazer isto e que a culpa não é do trabalho em si, é minha. É como quando se termina um relacionamento: a culpa não é tua, é minha. Mas neste caso, é verdade: a culpa é minha. Este trabalho exige um perfil que não é, de todo, o meu. Não me consigo adaptar a esta forma de trabalhar, embora faça o meu  trabalho com a melhor qualidade que consigo e seja valorizada por isso. Simplesmente não consigo encaixar-me nestes moldes, neste formato. E é libertador chegar a esta conclusão. É libertador perceber, finalmente, que isto não é o caminho certo para mim, embora seja, sem dúvida, o mais seguro e menos arriscado. Eu gosto de segurança, prezo-a muito, mas gosto ainda mais de ser feliz e me sentir realizada. Sensação que só obtenho quando faço aquilo que gosto e que sinto, com certeza, que nasci para fazer. 

Hoje, o meu monitor do Chrome, que tem sempre uma frase inspiradora todos os dias, diz-me o seguinte: 

The secret to happiness is freedom. And the secret to freedom is courage. - Thucydides

Acho que não podia ser brindada com uma frase mais inspiradora e verdadeira do que esta, na fase em que me encontro. É como uma mensagem que entrou diretamente na caixa postal do meu coração e da minha cabeça. E sinto que preciso tanto desta liberdade. Estou a reunir a coragem, porque sei que tenho de começar o quanto antes. Não sinto que perdi tempo, porque esta experiência será sempre uma das mais enriquecedoras que já vivi. Mas já retirei a aprendizagem, a lição e, por isso, já não há quase nada aqui para mim. Chegou o momento de voltar à viagem, fazer-me à estrada e ir ao encontro do que me faz feliz. Esta paragem foi ótima para perceber que não passou disso mesmo, de uma paragem. Este ainda não é o destino final e eu estou de volta à estrada. 

03
Jan20

2020

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Estou há quase 15 minutos num jogo engraçado (e também irritante) de ora escreve ora apaga, resultando numa página em branco, que me olha com desilusão. Acontece-me muitas vezes: ter tanto sobre o que escrever que bloqueio todo o processo de escrita. É o mesmo com as minhas emoções: estão todas tão concentradas e emaranhadas umas nas outras, que se torna impossível sentir uma sem ativar as restantes. É por isso que tristeza, raiva, desilusão, cansaço andam de mãos dadas, como se temessem desintegrar-se caso uma se afaste e tenha o seu momento de protagonismo.
Com a escrita acontece o mesmo. São tantas as vezes que desisto de escrever por não saber por onde começar e por este desnorte espelhar a confusão que vai dentro de mim. Acabei de arrumar a minha secretária de trabalho e só desejava ser capaz de me arrumar com tanta facilidade como acabei de arrumar a minha mesa, deitando fora tanta coisa que carrego comigo como acabei de fazer com pilhas e pilhas de papéis inúteis. Ah, como eu gostava de chamar um serviço de limpeza interior, uma espécie de Marie Kondo emocional, para reformar o meu armário de pensamentos e sentimentos, organizando tudo por categorias como se organiza a roupa por cores. Infelizmente, este é um daqueles trabalhos que se desejamos bem feito, só nós o podemos fazer. Porque somente nós conhecemos detalhadamente a desarrumação que vai dentro de cada um de nós e, de igual modo, só nós podemos fazer a triagem correta entre o que fica e o que vai. Só nós conhecemos o canto de cada coisa e é arriscado deixar tal tarefa em mãos alheias.
Hoje de manhã pensei muito nesta questão da responsabilização e no modo como, muitas vezes, pretendemos ser salvos pelos outros, numa ânsia desesperada que alguém resolva os nossos problemas. Neste último ano, tive a oportunidade de aprender que tal não é possível e que quanto mais tempo perdemos à espera de um salvador, de alguém que nos acuda, mais tempo nos deixamos permanecer no problema. Sinto que ninguém em meu redor pode resolver as minhas questões por mim, compreendi que por mais que tentemos explicar o que vai dentro de nós aos outros, às vezes estes simplesmente não conseguem decifrar o nosso idioma. Não significa que não nos ajudem à sua maneira, que não se preocupem, mas é uma perda de tempo esperar que sejam eles a encontrar a luz ao fundo do túnel e torna-se cansativo depositar esperança e energias num trunfo que claramente não nos garante a vitória.
Quanto mais reflito nisto, mais me apercebo de como me cansei de me tentar fazer entender. Cansei-me de tentar ser compreendida e de forçar os outros a calçar o raio dos meus sapatos. E com este cansaço, veio a sensação de que, na verdade, não preciso que compreendam como é estar no meu lugar, desde que eu seja capaz de o fazer. Afinal, sou eu que estou nesta posição e apenas eu preciso de saber como lidar com ela, certo?
Numa entrevista a um casal que perdeu uma filha, um dos pais dizia que a ideia de que o luto é um processo sequencial é uma perfeita e tremenda estupidez. Seja porque todas as fases se parecem emaranhar umas nas outras, onde deveria haver tristeza junta-se a revolta, onde deveria haver aceitação surge o desespero; seja porque quando se termina o dito ciclo, retorna-se muitas vezes ao início, ficando a sensação de se está preso num círculo vicioso e muito, muito pouco virtuoso. Lembrei-me deste momento, porque acho que esta ideia resume, ou justifica, em grande parte, o remoinho que vai dentro de mim, este novelo de fios e nós, todos cruzados uns nos outros, formando um nó ainda maior.
Sabem, para 2020, não escrevi nenhuma lista de objetivos. Já tinha acontecido o mesmo em 2019, onde me limitei a assinalar 12 desejos que, ao rele-los, considero mais como 12 preces. Porque o grande objetivo, aquele que depois de concretizado abre caminho para todos os outros, grandes e pequenos, é desfazer este nó emocional que tenho em mim. É limpar o que está a ocupar espaço, libertar o que está a fazer peso e a impedir o movimento fluído e simples da vida. 2020 não vai ser o ano, tem de ser o ano.

16
Dez19

fix me

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Na semana passada conversava com duas amigas acerca de autoconfiança. Uma delas, que passou por um período complicado recentemente, contava como se sentia diferente desde que começara a trabalhar na sua confiança própria. Após um árduo trabalho de mudança, a minha amiga está muito mais confiante, aliás, não está muito mais, está simplesmente confiante, característica que antes não possuía e da qual é hoje detentora. Antes bastava olhar para ela para ver a insegurança que carregava, semelhante à bola de ferro acorrentada que os prisioneiros carregam consigo. Hoje orgulho-me dela por emanar confiança assim que entra numa sala, não sendo necessárias quaisquer palavras para se afirmar.
Dei comigo a falar de mim e de como ainda tenho esse longo árduo caminho para percorrer. De como sempre fui a minha inimiga nº 1, embora seja sempre a maior apoiante de todas as outras pessoas à face da terra. De como tenho um bichinho instalado no meu cérebro que se alimenta de auto sabotagem e de dúvidas acerca da minha pessoa.
A falta de confiança em mim mesma não é recente, pelo contrário, acompanha-me há muito tempo. Há tanto tempo que já a transformei parte de mim, como algo que me identifica e caracteriza. Começou nos tempos da escola, em que me sentia sempre diferente das pessoas em meu redor. Não me sentia inferior a ninguém, mas sentia-me incompreendida e estranha. Sentia que existia alguma coisa em mim que não me permitia simplesmente encaixar nos grupos como todas as outras pessoas. Não quer dizer que fui excluída e não tinha amigos, bem pelo contrário, tive sempre muita sorte com as amizades, porque nos grupos aos quais pertenço, o lugar ou a posição que ocupo é mesmo esta: a da pessoa diferente. A rapariga responsável que nunca faz asneiras, nunca se precipita, nunca perde o controlo. A rapariga que gosta das coisas do século passado, de ouvir histórias de vida, de passar tempo em casa, de ler. A rapariga que nunca teve uma rede social por um conjunto diverso de motivos, mas do qual faz parte o motivo de não se querer expor, de não se sinalizar. A rapariga que cora quando sente as atenções viradas para si, que se acha feia quando usa um pouco de maquilhagem porque se olha no espelho e não se reconhece, que tem medo de arriscar e parecer apenas ridícula. 

Sempre me senti diferente da maioria das pessoas e não é que isso seja negativo, aliás, hoje consigo compreender que pode até mesmo ser uma bênção tendo em conta a quantidade de gente parva com a qual me cruzo todos os dias. Mas influenciou a perceção que tenho acerca de mim mesma, de uma forma absolutamente emocional. Porque no plano lógico, olho para mim, para todas as virtudes e defeitos que me compõem e vejo uma pessoa com valor. Mas não o sinto. Sei que nada disto faz grande sentido, mas o que tento dizer é que existe um desencontro entre a forma como me penso e me sinto. Racionalmente, sei que tenho todos os motivos para ser uma pessoa confiante e segura de si mesma. A nível emocional, não me sinto essa pessoa. 

Há dias em que sinto que a minha insegurança é de tal forma visível e palpável que quando entro numa sala, entram dois seres: eu e ela. O que me deixa a pensar que se eu a vejo, todos os outros a podem ver também e tirar partido disso. Quando não estamos seguros de nós mesmos, tornamo-nos presas fáceis para os lobos desta selva que é a vida. Farejam a nossa insegurança e sabem exatamente onde residem as nossas fragilidades, nomeadamente no que diz respeito a impor limites e ser assertivo. Sabem que tememos sempre dizer a coisa errada da forma errada e a forma que adotamos para o evitar é não dizer nada. De igual modo, sabem que temos dificuldade em dizer "não", porque temos sempre uma necessidade latente de agradar e de que gostem de nós, pelo que nos colocam em situações difíceis onde nos sentimos encostados à parede. 

Emocionei-me enquanto falava com as minhas amigas, porque é difícil para mim assumir que sou a velha do Restelo de mim mesma. É até irónico tendo em consideração a forma entusiasta como motivo as outras pessoas nas suas jornadas. É como se ao dar tudo aos outros não me restasse nada para oferecer a mim mesma. Ontem dei o primeiro passo, pequeníssimo na verdade, em direção a um dos meus objetivos. Mais do que isso, a um dos meus sonhos. Inevitável e instintivamente, surgiram as presenças habituais: a dúvida, a auto sabotagem, a descrença. Só que desta vez estou tentada a usá-las para me elevar a um nível de excelência, em vez de desistir. Estou comprometida em provar a mim mesma que consigo, mais do que a qualquer pessoa no mundo. Quero fazer isto por mim e, acima de tudo, para mim. Não vai ser fácil, nem sequer rápido, mas valerá, sem dúvida nenhuma, a pena. 

 

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