one way or another
Mais do que nunca preciso de manter este emprego, mais do que nunca apetece-me desistir e entregar a minha carta de demissão. Estou numa encruzilhada, onde sei qual é o caminho a seguir, embora não seja o caminho certo. Porque o caminho a seguir é o da responsabilidade e bom senso, de me manter sossegada e focar-me no objetivo mais importante, que é ter dinheiro para pagar todas as contas que vão cair no final deste mês. O caminho a seguir é assegurar que o dinheiro não falta, porque ter um emprego, neste momento, é uma segurança, uma tábua de salvação no meio do oceano e todos sabemos que os próximos tempos serão de tempestade. Mas o caminho certo não é este. O caminho certo é aquele que é percorrido com dignidade, com os valores que me foram transmitidos e com a certeza de que a minha saúde está em primeiro lugar. Porque, neste momento em que me encontro, não posso afirmar estar doente, mas também não estou sana e conheço bem a velocidade com que se entra em espirais de tristeza, cansaço e desespero. Conheço-me bem e sei quando estou à beira daquele que é o meu limite.
Mas também sei que estou numa situação em que não o posso fazer. Uma situação na qual o limite tem de se expandir, tem de ir mais além. Porque preciso, mais do que alguma vez precisei, do dinheiro e da segurança que este emprego do demo me traz. Sinto-me uma hipócrita, sinto que me estou a apunhalar nas próprias costas. E questiono-me até quando vou aguentar. Se serei eu a parar ou o meu corpo a parar por mim. O copo encheu, transbordou e não cabe nem mais uma gotícula. Se até aqui já me sentia desmotivada e num ambiente hostil, os últimos dias mostraram-me que ainda não tinha visto nada. Que o pior ainda estava para vir. E tanto estava para vir, que chegou, instalou-se e eu não sou mais a mesma dentro destas quatro paredes. A diferença é notória, visível, palpável. O meu rosto cansado, a minha falta de energia, o meu sorriso caído.
Gostaria de pensar que estou num dilema, mas na verdade, não estou. O caminho a seguir é muito óbvio e claro. Só espero que, ao percorrê-lo, não me perca.