Freedom to be whoever I wanna be
Quando estava no concerto, uma das coisas que mais me impressionou, para além da música, foi a entrega dos músicos. A sensação de que estavam ali sozinhos, em cima daquele palco, a desfrutar da música, a senti-la, vibrando com ela, esquecendo-se de que estavam centenas de pessoas a observa-los. Aquela liberdade deixou-me fascinada.
A liberdade de sermos nós mesmos. De nos expressarmos sem medo do que vão pensar, de nos entregarmos por completo sem qualquer necessidade de rede de suporte.
Para algumas pessoas, é fácil. É fácil serem eles mesmos, sem reservas e receios. Não precisam de usar nenhum tipo de máscara nem estão preocupados com o que as outras pessoas poderão pensar acerca de si. Eu gostava muito de fazer parte deste grupo de pessoas, mas confesso que me é difícil.
É difícil porque, em primeiro lugar, não gosto de me expor completa nem imediatamente. Acho que ninguém fica com uma ideia concreta da minha personalidade após um primeiro encontro comigo; fica com a ideia que eu quiser transmitir. Em segundo, porque não tenho a ousadia de ser eu a 100% em todos os lugares e contextos. Procuro adaptar-me sempre aos locais onde estou e até acho que o consigo fazer, mas o preço a pagar é nunca me sentir completamente confortável. Porque, lá está, aquela é apenas uma versão de mim, mas não a original, 100% real, com todas as falhas e imperfeições. Além disso, acresce o facto de ser uma daquelas pessoas que gosta de agradar os outros. Gosto verdadeiramente de que gostem de mim e gosto de ver os outros confortáveis comigo. Mas, torno a repetir, a desvantagem é nunca me sentir plena. E é mais do que isto: é estar sempre consciente do que se está a dizer, é pensar mil vezes antes de falar para não magoar ninguém, é bloquear algumas explosões emocionais com medo de assustar alguém e que esse alguém vá embora e desista de tentar.
Com o passar do tempo, tenho selecionado cada vez mais os ambientes nos quais posso ser eu mesma. Sem máscaras e artefactos. Onde sei que me posso passar e ninguém se vai assustar ao ponto de fugir. Onde tenho liberdade para ser eu mesma. E, à medida que o vou fazendo, cada vez me apercebo mais de como é pequeno o nosso círculo de pessoas próximas. De como são escassas as pessoas que nos conhecem em todos os nossos ângulos e mais raras são as que conhecendo, gostam e ficam.
Não sei citar de quem é esta frase, mas guia-me sempre que penso em relações. Amar é dar ao outro liberdade de ser quem ele é. Os anos vão passando e esta frase vai ganhando mais significado e relevância. Sermos nós mesmos, mostrarmo-nos como somos ao mundo é um salto de fé, é uma prova de tremenda confiança. Eu não sou ousada nem corajosa a esse ponto. Mas quando o faço, quando permito que me vejam como realmente sou, tenho consciência de que é uma prova de confiança que dou aos outros. É um voto de fé.
Porque o grande problema de andarmos pelo mundo vestindo uma pele que não é a nossa, é que nunca sabemos se as pessoas gostam verdadeiramente de nós ou da versão que lhes demos a conhecer. Porque o medo de nos mostrarmos como somos só esconde um medo maior: não sermos aceites pelo que realmente somos. O que nos faz esconder é a possibilidade de alguém nos ver e se assustar com o que vê. Mesmo que isso signifique que essa pessoa não deve fazer parte do nosso caminho, não deixa de ser amargo sabermos que alguém desistiu de nós.
E isto leva-me a pensar: não será porque, em primeira instância, nós próprios não nos aceitamos como somos? Porque, se o fizéssemos, saberíamos que independentemente de quantas pessoas gostarem, nos temos sempre a nós mesmos. E isso é suficiente. Por outro lado, se não gostamos de quem somos, se colocamos sempre em evidência tudo o que está mal em nós em vez de dar primazia a tudo o que está bem, torna-se insuportável a ideia de sermos suficientes para nós mesmos. Precisamos de validação e aprovação de outros. Alguém que nos permita sermos nós quando nós não somos capazes de o fazer. E isso, a meu ver, é ainda mais triste.
É triste sermos tão duros e exigentes com a nossa pessoa. Christophé André, um autor do qual já falei no blog e que muito admiro, diz num dos seus livros que a vida, por si só, já é suficientemente dura connosco. Que não há nenhuma necessidade de acrescentarmos dureza ao nos tratarmos mal. Ao usarmos um discurso interno negativo. Pelo contrário, temos o dever de ser os nossos maiores amigos e apoiantes. Porque para exigência, já basta a que vem de fora, a todos os instantes.
Enquanto olhava para os músicos, passavam-me todos estes pensamentos pela cabeça. Toda aquela liberdade misturada com prazer, com adrenalina e presença fizeram-me desejar sentir o mesmo. Ser livre na minha própria pele.