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Na semana passada conversava com duas amigas acerca de autoconfiança. Uma delas, que passou por um período complicado recentemente, contava como se sentia diferente desde que começara a trabalhar na sua confiança própria. Após um árduo trabalho de mudança, a minha amiga está muito mais confiante, aliás, não está muito mais, está simplesmente confiante, característica que antes não possuía e da qual é hoje detentora. Antes bastava olhar para ela para ver a insegurança que carregava, semelhante à bola de ferro acorrentada que os prisioneiros carregam consigo. Hoje orgulho-me dela por emanar confiança assim que entra numa sala, não sendo necessárias quaisquer palavras para se afirmar.
Dei comigo a falar de mim e de como ainda tenho esse longo árduo caminho para percorrer. De como sempre fui a minha inimiga nº 1, embora seja sempre a maior apoiante de todas as outras pessoas à face da terra. De como tenho um bichinho instalado no meu cérebro que se alimenta de auto sabotagem e de dúvidas acerca da minha pessoa.
A falta de confiança em mim mesma não é recente, pelo contrário, acompanha-me há muito tempo. Há tanto tempo que já a transformei parte de mim, como algo que me identifica e caracteriza. Começou nos tempos da escola, em que me sentia sempre diferente das pessoas em meu redor. Não me sentia inferior a ninguém, mas sentia-me incompreendida e estranha. Sentia que existia alguma coisa em mim que não me permitia simplesmente encaixar nos grupos como todas as outras pessoas. Não quer dizer que fui excluída e não tinha amigos, bem pelo contrário, tive sempre muita sorte com as amizades, porque nos grupos aos quais pertenço, o lugar ou a posição que ocupo é mesmo esta: a da pessoa diferente. A rapariga responsável que nunca faz asneiras, nunca se precipita, nunca perde o controlo. A rapariga que gosta das coisas do século passado, de ouvir histórias de vida, de passar tempo em casa, de ler. A rapariga que nunca teve uma rede social por um conjunto diverso de motivos, mas do qual faz parte o motivo de não se querer expor, de não se sinalizar. A rapariga que cora quando sente as atenções viradas para si, que se acha feia quando usa um pouco de maquilhagem porque se olha no espelho e não se reconhece, que tem medo de arriscar e parecer apenas ridícula.
Sempre me senti diferente da maioria das pessoas e não é que isso seja negativo, aliás, hoje consigo compreender que pode até mesmo ser uma bênção tendo em conta a quantidade de gente parva com a qual me cruzo todos os dias. Mas influenciou a perceção que tenho acerca de mim mesma, de uma forma absolutamente emocional. Porque no plano lógico, olho para mim, para todas as virtudes e defeitos que me compõem e vejo uma pessoa com valor. Mas não o sinto. Sei que nada disto faz grande sentido, mas o que tento dizer é que existe um desencontro entre a forma como me penso e me sinto. Racionalmente, sei que tenho todos os motivos para ser uma pessoa confiante e segura de si mesma. A nível emocional, não me sinto essa pessoa.
Há dias em que sinto que a minha insegurança é de tal forma visível e palpável que quando entro numa sala, entram dois seres: eu e ela. O que me deixa a pensar que se eu a vejo, todos os outros a podem ver também e tirar partido disso. Quando não estamos seguros de nós mesmos, tornamo-nos presas fáceis para os lobos desta selva que é a vida. Farejam a nossa insegurança e sabem exatamente onde residem as nossas fragilidades, nomeadamente no que diz respeito a impor limites e ser assertivo. Sabem que tememos sempre dizer a coisa errada da forma errada e a forma que adotamos para o evitar é não dizer nada. De igual modo, sabem que temos dificuldade em dizer "não", porque temos sempre uma necessidade latente de agradar e de que gostem de nós, pelo que nos colocam em situações difíceis onde nos sentimos encostados à parede.
Emocionei-me enquanto falava com as minhas amigas, porque é difícil para mim assumir que sou a velha do Restelo de mim mesma. É até irónico tendo em consideração a forma entusiasta como motivo as outras pessoas nas suas jornadas. É como se ao dar tudo aos outros não me restasse nada para oferecer a mim mesma. Ontem dei o primeiro passo, pequeníssimo na verdade, em direção a um dos meus objetivos. Mais do que isso, a um dos meus sonhos. Inevitável e instintivamente, surgiram as presenças habituais: a dúvida, a auto sabotagem, a descrença. Só que desta vez estou tentada a usá-las para me elevar a um nível de excelência, em vez de desistir. Estou comprometida em provar a mim mesma que consigo, mais do que a qualquer pessoa no mundo. Quero fazer isto por mim e, acima de tudo, para mim. Não vai ser fácil, nem sequer rápido, mas valerá, sem dúvida nenhuma, a pena.