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the old soul girl

the old soul girl

16
Dez19

fix me

girl

Na semana passada conversava com duas amigas acerca de autoconfiança. Uma delas, que passou por um período complicado recentemente, contava como se sentia diferente desde que começara a trabalhar na sua confiança própria. Após um árduo trabalho de mudança, a minha amiga está muito mais confiante, aliás, não está muito mais, está simplesmente confiante, característica que antes não possuía e da qual é hoje detentora. Antes bastava olhar para ela para ver a insegurança que carregava, semelhante à bola de ferro acorrentada que os prisioneiros carregam consigo. Hoje orgulho-me dela por emanar confiança assim que entra numa sala, não sendo necessárias quaisquer palavras para se afirmar.
Dei comigo a falar de mim e de como ainda tenho esse longo árduo caminho para percorrer. De como sempre fui a minha inimiga nº 1, embora seja sempre a maior apoiante de todas as outras pessoas à face da terra. De como tenho um bichinho instalado no meu cérebro que se alimenta de auto sabotagem e de dúvidas acerca da minha pessoa.
A falta de confiança em mim mesma não é recente, pelo contrário, acompanha-me há muito tempo. Há tanto tempo que já a transformei parte de mim, como algo que me identifica e caracteriza. Começou nos tempos da escola, em que me sentia sempre diferente das pessoas em meu redor. Não me sentia inferior a ninguém, mas sentia-me incompreendida e estranha. Sentia que existia alguma coisa em mim que não me permitia simplesmente encaixar nos grupos como todas as outras pessoas. Não quer dizer que fui excluída e não tinha amigos, bem pelo contrário, tive sempre muita sorte com as amizades, porque nos grupos aos quais pertenço, o lugar ou a posição que ocupo é mesmo esta: a da pessoa diferente. A rapariga responsável que nunca faz asneiras, nunca se precipita, nunca perde o controlo. A rapariga que gosta das coisas do século passado, de ouvir histórias de vida, de passar tempo em casa, de ler. A rapariga que nunca teve uma rede social por um conjunto diverso de motivos, mas do qual faz parte o motivo de não se querer expor, de não se sinalizar. A rapariga que cora quando sente as atenções viradas para si, que se acha feia quando usa um pouco de maquilhagem porque se olha no espelho e não se reconhece, que tem medo de arriscar e parecer apenas ridícula. 

Sempre me senti diferente da maioria das pessoas e não é que isso seja negativo, aliás, hoje consigo compreender que pode até mesmo ser uma bênção tendo em conta a quantidade de gente parva com a qual me cruzo todos os dias. Mas influenciou a perceção que tenho acerca de mim mesma, de uma forma absolutamente emocional. Porque no plano lógico, olho para mim, para todas as virtudes e defeitos que me compõem e vejo uma pessoa com valor. Mas não o sinto. Sei que nada disto faz grande sentido, mas o que tento dizer é que existe um desencontro entre a forma como me penso e me sinto. Racionalmente, sei que tenho todos os motivos para ser uma pessoa confiante e segura de si mesma. A nível emocional, não me sinto essa pessoa. 

Há dias em que sinto que a minha insegurança é de tal forma visível e palpável que quando entro numa sala, entram dois seres: eu e ela. O que me deixa a pensar que se eu a vejo, todos os outros a podem ver também e tirar partido disso. Quando não estamos seguros de nós mesmos, tornamo-nos presas fáceis para os lobos desta selva que é a vida. Farejam a nossa insegurança e sabem exatamente onde residem as nossas fragilidades, nomeadamente no que diz respeito a impor limites e ser assertivo. Sabem que tememos sempre dizer a coisa errada da forma errada e a forma que adotamos para o evitar é não dizer nada. De igual modo, sabem que temos dificuldade em dizer "não", porque temos sempre uma necessidade latente de agradar e de que gostem de nós, pelo que nos colocam em situações difíceis onde nos sentimos encostados à parede. 

Emocionei-me enquanto falava com as minhas amigas, porque é difícil para mim assumir que sou a velha do Restelo de mim mesma. É até irónico tendo em consideração a forma entusiasta como motivo as outras pessoas nas suas jornadas. É como se ao dar tudo aos outros não me restasse nada para oferecer a mim mesma. Ontem dei o primeiro passo, pequeníssimo na verdade, em direção a um dos meus objetivos. Mais do que isso, a um dos meus sonhos. Inevitável e instintivamente, surgiram as presenças habituais: a dúvida, a auto sabotagem, a descrença. Só que desta vez estou tentada a usá-las para me elevar a um nível de excelência, em vez de desistir. Estou comprometida em provar a mim mesma que consigo, mais do que a qualquer pessoa no mundo. Quero fazer isto por mim e, acima de tudo, para mim. Não vai ser fácil, nem sequer rápido, mas valerá, sem dúvida nenhuma, a pena. 

 

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