Férias
Já perdi a conta ao número de vezes que ouvi pessoas a dizer "para tirar férias e ficar em casa, prefiro estar a trabalhar!". Por mais que tente compreender esta forma de olhar para as férias, admito que ainda não consigo empatizar com esta visão. Talvez seja porque não adoro o meu trabalho, talvez seja porque me "contento" com pouco, não sei. Para mim, o conceito de férias é simples: não ir trabalhar. Não preciso de ter grandes planos, não preciso sequer de sair de casa, basta quebrar a rotina de acordar cedo, preparar almoço, passar o dia no escritório, para me sentir de férias.
Este ano tirei uma semana de férias sozinha. O meu namorado mudou recentemente de emprego e, como tal, em ano de admissão o direito às férias só surge após seis meses de trabalho. Eu, pelo contrário, como mudei de emprego no ano passado, acumulei alguns dias de férias. Assim, marquei uma semana de férias para desfrutar da minha companhia e, sem dúvida, que me soube pela vida!
A liberdade de fazer o que me apetece, não ter de conciliar vontades nem fazer cedências, não ter de esperar por ninguém, ser a dona do meu tempo e determinar a que horas vou fazer o que me apetecer fazer foi maravilhoso. Aproveitei para me dedicar a tudo que me nutre e faz sentir feliz, viva: caminhar com a música como companheira, pela natureza, pela praia; ler; ouvir música; descansar no sofá, com direito a ver filmes românticos e com finais felizes; escrever: sentar-me a ver o mar, as ondas, a sentir o sol. Foi tão bom parar e descobrir o que existe à minha volta.
Acima de tudo, foi a oportunidade mágica para estar comigo e entender que solidão e solitude são conceitos muito diferentes. Estive quase sempre sozinha, mas senti-me sempre acompanhada, plena e feliz por estar na minha companhia. Cheguei, inclusive, a ir lanchar sozinha, levar o meu caderno e escrever sobre o desconforto inicial que senti por estar sozinha num café, a lanchar, e sobre o modo como, ao aceitar esse desconforto, ele se foi dissipando e a experiência se foi tornando, gradualmente, cada vez mais prazerosa e rica. O modo como me senti viva e presente, focada nos estímulos à minha volta a que, por norma, estou alheia. Depois do lanche, ainda fui caminhar até à praia, em modo de passeio, desfrutando do sol, do vento, da alegria de ter tempo para mim e para usufruir dos pequenos prazeres da vida.
Confesso que também existiram momentos em que senti que seria bom estar acompanhada, em que gostaria de ter companhia para partilhar aquela sensação de paz e de bem-estar, de felicidade. Mas nunca foi um sentimento predominante e que me fez aproveitar menos o tempo livre. Pelo contrário, fez-me sentir grata por ter pessoas na minha vida com quem gosto de estar, de viver, e como uma dessas pessoas, a mais importante, sou eu mesma.
Estar de férias, torno a dizer, é apenas não trabalhar. Por a rotina em stand-by e ter tempo para ser, para estar, para sentir, para fazer o que nos dá prazer e não apenas o que são obrigações e deveres. É desligar o despertador, mesmo que se continue a acordar cedo como se ele tocasse. Não faz mal, é um despertar completamente diferente. É a sensação de acordar para mais um dia, cheio de possibilidades, onde podemos escolher o que fazemos com cada segundo, porque somos os donos do nosso tempo. É cozinhar pratos deliciosos, que nos levam mais tempo, requerem mais técnica e trabalho, mas não faz mal, porque temos tempo para nos dedicarmos a eles. É conversar e estar com as pessoas de quem mais se gosta sem olhar para o relógio, porque existe todo o tempo do mundo para desfrutarmos uns dos outros, podemos dar atenção total a cada um. É um despir completo de afazeres, de telefonemas, emails, demandas. É abrandar para olhar para o céu, para ir ver o mar, para sentir o sol no rosto, para olhar para as árvores e flores e perceber que existe tanta natureza, todos os dias, à nossa volta. É regressar a casa, à casa que somos e cuidar dela, adorná-la, limpá-la, fazê-la sentir bonita, arrumada, serena novamente. É a sensação de regresso, de retorno, após uma longa temporada de ausência, de viver a meio gás, à superfície, apenas pela metade.