Everything will slide, Love will never die
Ontem adormeci a pensar nas minhas avós, relembrando-as numa tentativa de as manter vivas em mim, resgatando-as do esquecimento que a morte traz consigo. Ao pensar nelas, pensei naquela fase distante da minha vida em que tudo era diferente. Regressei àqueles dias maravilhosos, que na altura me pareciam banais, em que elas existiam no plano físico e a sua presença era o suficiente para me sentir sempre protegida e em casa. Aos dias em que elas, cada uma à sua maneira, me amaram e me fizeram acreditar no mundo, inspirando-me com a sua força, determinação e garra. As minhas avós eram autênticas gladiadoras, mulheres de forças e armas, pilares fortes e densos da nossa família.
Inevitavelmente, o meu coração apertou-se com as saudades. Saudades delas, saudades de mim, saudades desse tempo em que elas estavam cá e, só por isso, tudo era diferente e melhor. Este aperto adensa-se com o contraste gigante que existe entre a vida, nessa altura, e a vida agora. Como tudo se alterou, como todos os caminhos que pareciam certos se desvaneceram e nos levaram a um circuito labiríntico, que nos faz andar às voltas, sem encontrar a saída.
Não sei o que pensariam de tudo isto, bem não seria certamente. Sei que não poderiam inverter o rumo que os acontecimentos tomaram e sei, com segurança, que nada poderiam fazer para tornar a situação fácil. Mas também sei, com toda a certeza que existe no mundo, que tornariam tudo mais suportável. Que a sua presença, apenas, por ser tão forte, nos faria sentir um bocadinho menos perdidos, menos inseguros e mais capazes. Que o seu abraço, o seu colo, as suas sábias palavras tornariam toda a nossa realidade mais aceitável e menos negra. Porque esta é, talvez, a característica que mais associo aos avós, a todos no geral e aos meus em particular: a capacidade de nos fazer sentir protegidos, como se fossem o nosso escudo contra os males do mundo. A realidade não deixa de nos atingir, de nos provocar qualquer tipo de dano ou estrago, mas quando o faz, passou primeiro pela nossa bolha protetora. E quando nos trespassa, estão sempre, calorosos, com um abraço que nos desarma e nos faz encolher como se regressássemos à fase mais pura e inocente das nossas vidas.
Avós, tenho saudades. A cada ano que passa, imagino como teria sido se estivessem cá. As alegrias, que celebraríamos juntas, as tristezas, que partilharíamos, juntas também. Aliás, juntas sempre. Tenho saudades. Acredito que algures saibam que a nossa vida só empobreceu com a vossa partida, abriu-se um vazio, uma espécie de buraco negro, impossível de preencher. Tenho sempre saudades vossas, mas, se for de alguma forma possível, acho que hoje tenho ainda mais um bocadinho, a somar à enorme quantidade de saudades que já sinto. E sabem? Não sinto apenas saudades vossas, sinto também saudades de quem eu era com vocês. Esse lado meu, chamemos-lhe assim, que foi com vocês, assim que decidiram embarcar. A única coisa que me aquece o coração é saber o quanto de vocês, que também ficou, comigo.