descobertas infantis
Estávamos as duas – eu e a minha melhor amiga – no quarto da mãe dela. Era o único compartimento da casa onde a televisão apanhava canais do cabo o que, naquela altura, era um verdadeiro luxo. Passávamos horas em frente à televisão a ver tudo o que era séries e desenhos animados. Hoje parece tempo perdido, mas na altura não o sentíamos assim. Eram as melhores horas do nosso dia, depois de um dia longo de escola.
Foi numa dessas tardes que o meu pequeno cérebro infantil fez uma descoberta inacreditável. Na verdade, foram duas descobertas, interligadas e absolutamente fascinantes. Não sei como conta-las sem parecer ridícula, mas foquemos que, à data, era uma inocente criança com um superpoder: o da imaginação. E neste voo mágico eu acreditava em duas coisas: a primeira, que as pessoas que via na televisão estavam realmente dentro da televisão e, a segunda, na minha opinião a mais mirabolante, que todos os atores falavam várias línguas e portanto, não existiam dobragens, os atores eram capazes de falar em inglês, português, espanhol, todos os idiomas!
Depois destas descobertas, seguiram-se muitas outras, sempre neste plano entre o imaginário e o surreal. A cada nova, perdia-se um pouco mais de inocência, ganhava-se um pouco mais de racionalidade. Compreender o mundo, o lugar e a ordem das coisas, o porquê, o como. Não há dúvida de que conhecimento é poder, mas confesso que há dias em que tenho saudades do incrível e fantástico que construía na minha mente. Com pouco sentido, mas sem sombra de dúvida, bem mais divertido.