Daisy Jones and The Six
Todos temos paixões que nos acompanham desde sempre. A minha, a par dos livros, é a música. O cupido foi o meu pai, também ele um apaixonado, que me pedia para fazer compilações de músicas em CD's, dando-me listas das músicas que pretendia. Numa época onde ainda não existia Spotify nem as entradas USB nos rádios dos carros, os CD's eram a única opção para conseguirmos ouvir as nossas playlists. As viagens de carro, fossem curtas ou longas, eram sempre feitas com uma banda sonora a acompanhar-nos. Mais do que gostar de música, o meu pai é um entendido na história das bandas, dos músicos, das formações originais, dos sucessos e fracassos dos álbuns lançados. Enfim, uma verdadeira musicoenciclopédia ambulante, que me passou o "bichinho".
Fui uma adolescente que vivia com os phones colocados nos ouvidos, de manhã até à noite. Inclusive nos testes de avaliação, cheguei a pedir a professores para fazer as avaliações com música, porque me ajudava a concentrar e entrar no flow. Passei tardes de sábado a estudar na mesa da sala dos meus pais, com o agora extinto VH1 ligado, onde passavam programas das 50 melhores músicas de sempre, por exemplo. Lembro-me de descobrir tantas músicas e bandas através deste programa e de anotar no meu caderno os nomes, para depois ir pesquisar. Quando comecei a namorar, o nosso ponto de encontro era sempre na biblioteca municipal. Como chegava sempre mais cedo do que o meu namorado, ficava a ler livros sobre a história da música e biografias dos músicos que mais me fascinavam. Tirava apontamentos, fazia daqueles momentos uma verdadeira e autêntica sessão de estudo.
Ainda hoje gosto de ler regularmente sobre o tema, ler entrevistas e reportagens de bandas e músicos, acho delicioso "perder-me" neste mundo musical. Curiosamente, nunca tive vontade de aprender música; o meu fascínio sobre recaiu sobre a história da música, das formações das bandas, como é que os elementos se conheceram, quais as suas maiores lutas e conquistas até conseguirem a sua grande oportunidade, os significados das letras das músicas, os dramas, o processo criativo, a influência do contexto social e histórico na criação da música, a música como "arma", como veículo de intervenção, muitas vezes, política e social.
Por tudo isto, adorei ler o livro da Taylor Jenkins Reid, Daisy Jones and The Six. Não é um livro que recomende a toda a gente, não por não ser bom, porque é!, mas pela sua estrutura: todo o livro é em formato entrevista. Trata-se da história da banda fictícia Daisy Jones and The Six, a sua formação, ascensão e término. O livro consiste em dar a conhecer a história da banda, através de entrevistas aos vários elementos da mesma, que vão partilhando a sua visão dos acontecimentos. É um livro maravilhoso, que nos leva até aos anos 70, uma era musical e histórica muito rica e da qual saíram algumas das maiores bandas de todo o sempre, que ficaram eternizadas na história, como é o caso de Queen, Fleetwood Mac, entre outras. São bandas, são músicas que ainda hoje ouvimos com a sensação de que estamos a ouvir algo inacreditavelmente bom e irrepetível. Não quero dar mais detalhes do livro, porque não quero estragar a experiência de leitura, de maravilha, de descoberta, que é ler este livro!
Depois de ler o livro e descobrir que o mesmo estava a ser adaptado para uma série da Amazon Prime, não descansei enquanto não devorei a série. É sempre difícil ver adaptações de livros a filmes e séries. Creio que é uma popular opinion que dificilmente os livros conseguem ser superados. No meu caso, já apanhei muitas desilusões nestas conversões de livros em filmes/séries, pelo que fui com medo para ver o primeiro episódio da série. Um medo que se revelou completamente infundável, porque a série está fantástica! Desde o casting, o respeito pelos acontecimentos e sequência do livro, o desenvolvimento e complexidade das personagens, a caracterização, os cenários, as músicas!!!! Não posso deixar de frisar aquele que, para mim, é o ponto mais incrível desta série: a banda! Se eu não soubesse, de antemão, que tudo isto é obra de ficção, eu acreditaria piamente que estava a ver um documentário de uma banda real. A qualidade das músicas, do álbum Aurora, que foi lançado, é espetacular. E ainda se torna mais incrível porque as personagens que dão vida e voz aos vocalistas da banda nunca tinham tido nenhuma experiência musical, como aconteceu com os outros atores da série e banda. Mesmo que não tenham interesse nenhum em ver a série, eu recomendo vivamente que ouçam o álbum (está disponível no spotify) do início ao fim e se deixem levar por uma viagem musical e temporal, que vos conduzirá aos sons, aos ritmos e à vibe tão característica dos anos 70.
Assim, este livro é um tri-win: é um bom livro, é uma série muito bem conseguida e é um álbum espetacular. Através de uma "simples" história, foi possível criar três produtos, três obras de arte fantásticas.
Aproveito para incentivar a lerem esta autora, Taylor Jenkins Reid. Não há um único livro dela que seja mau! Todas as obras dela são incríveis, escritas de uma forma tão envolvente, que é difícil pousar o livro sem consumi-lo até à última página. O famoso The Seven Husbands of Evelyn Hugo, que está tão em voga graças ao BookTok, é famoso porque merece sê-lo: é fantástico e quero escrever sobre ele em maior detalhe no futuro. Mas não é apenas este livro da autora que é maravilhoso: é também o caso de Malibu Rising, Carrie Soto is back, Maybe in Another Life, Evidence of the Affair, Forever, Interrupted e, claro, Daisy Jones and the Six. De todas as características da escrita de Reid, a que me conquista sempre, em todos os seus livros, é o modo como constrói as personagens. Todas as personagens parecem reais, pessoas que acreditamos que existem ou existiram, cruas, complexas, falíveis, humanas. Essa proximidade e familiaridade com as personagens envolve-nos ainda mais na história, o grau de contacto é muito próximo.
Por isso, deixo-vos aqui a minha recomendação para futuras leituras, uma série e um álbum de música. Deliciem-se :)
I could've sworn this was the wayTell me again, why do we stayOn such a lonely, lonely, lonely road?You'd never guess, I'd never knowWe're on the same side and it's gonnaBe a lonely, lonely, lonely road
- The River, Daisy Jones and The Six