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the old soul girl

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22
Jan20

back on track

girl

Nestes últimos dias, tenho refletido tanto acerca do rumo da minha vida e da forma como me apresento ao mundo todos os dias. Faço parte do grupo de pessoas que se preocupa com o que os outros pensam e que gosta que os outros gostem de si. Sim, é verdade, eu gosto que gostem de mim. E acho que não há nada de errado nisso, até porque não acredito que haja alguém que goste de ser desgostado, apenas acho que existem pessoas para as quais a opinião que os outros têm acerca de si lhes é completamente indiferente. Confesso que gostaria de ser mais assim, mas também admito que já fui mais uma people pleaser do que sou atualmente, embora ainda haja um caminho longo a percorrer.

Gostar de ser gostada, gostar de ser vista como a pessoa agradável, simpática e prestável leva-me, muitas vezes, a cair no desejo de agradar os outros. O que tenho refletido nos últimos dias é onde começa o meu desejo de agradar e termina a minha verdadeira essência. Qual é o ponto em que deixo de ser eu, de fazer aquilo que realmente gosto e acho correto, para me transformar numa pessoa que não sou, mas que os outros esperam que eu seja? 

Este pensamento começou a surgir na minha mente na semana passada, de manhã, ao chegar ao escritório. Costumo encontrar sempre as mesmas pessoas quando chego, à porta, perdidas nos seus pensamentos enquanto fumam o seu cigarro pré-jornada de trabalho. E cumprimento sempre toda a gente com um sorriso aberto e um audível "bom dia!". Um dos meus colegas ri-se sempre e todos os dias me pergunta "como é que consegues estar sempre tão bem disposta logo de manhã?", seguindo-se por um "quem me dera ser assim". Eu sorrio de volta e fico a pensar no que ele me diz. 

Porque eu não estou sempre bem disposta, isso é garantido. Sabe Deus o terramoto que vai dentro de mim algumas manhãs, em que saio de casa furiosa e cansada, ainda mal o dia começou. Mas quando chego ao trabalho, tomo sempre a mesma decisão: ninguém tem de levar com os meus problemas e mau humor. Escolho sempre colocar um sorriso e apresentar-me como uma pessoa alegre, porque os outros não têm culpa e, também, porque não beneficio nada em continuar mergulhada em mau humor. Mas admito que também o faço porque gosto que as pessoas me vejam como uma pessoa sorridente e descontraída. Gosto que seja essa ideia que lhes trace a mente assim que pensam em mim: a rapariga simpática. 

E neste ponto, acho que não estou a representar uma pessoa que não sou, porque considero-me verdadeiramente simpática. E gosto tanto de oferecer sorrisos, porque sei como podem iluminar a escuridão de um dia mau. É como um pequeno presente diário, que escolho dar ao mundo, porque não escolho a quem o dou, está absolutamente disponível para toda a gente que se cruzar comigo, conhecido o não. 

Mas depois surgem situações em que sei, de antemão, que estou a representar uma persona. No trabalho acontece muitíssimas vezes, mas faço-o não só pelo desejo de ter uma boa reputação. Essencialmente, faço-o porque não quero que estas pessoas me conheçam a sério. Não quero que saibam mais acerca de mim do que precisam de saber, pois não tenho qualquer intenção de que façam parte da minha vida além do mísero papel que já têm. Só que, no trabalho que faço, se por um lado, tento manter inalcançável a minha verdadeira personalidade, por outro, falho redondamente neste exercício. Porque é-me exigido ser uma pessoa diferente da que sou, e até aqui tudo bem, mas é-me imposto ser alguém que não pretendo nunca ser, nem a fingir. E é aqui que a porca torce o rabo e acabo por ser mais transparente do que desejaria ser. Peçam-me tudo menos agir como uma pessoa que se está nas tintas para os outros. 

E volto ao início: ao rumo que quero para a minha vida e à forma como quero estar nela. Sei que não quero continuar a fazer um trabalho que me obriga a ser uma pessoa que não sou. Sei que quero seguir a minha vocação e o meu propósito. Sei, com tanta certeza, de que não nasci para fazer isto e que a culpa não é do trabalho em si, é minha. É como quando se termina um relacionamento: a culpa não é tua, é minha. Mas neste caso, é verdade: a culpa é minha. Este trabalho exige um perfil que não é, de todo, o meu. Não me consigo adaptar a esta forma de trabalhar, embora faça o meu  trabalho com a melhor qualidade que consigo e seja valorizada por isso. Simplesmente não consigo encaixar-me nestes moldes, neste formato. E é libertador chegar a esta conclusão. É libertador perceber, finalmente, que isto não é o caminho certo para mim, embora seja, sem dúvida, o mais seguro e menos arriscado. Eu gosto de segurança, prezo-a muito, mas gosto ainda mais de ser feliz e me sentir realizada. Sensação que só obtenho quando faço aquilo que gosto e que sinto, com certeza, que nasci para fazer. 

Hoje, o meu monitor do Chrome, que tem sempre uma frase inspiradora todos os dias, diz-me o seguinte: 

The secret to happiness is freedom. And the secret to freedom is courage. - Thucydides

Acho que não podia ser brindada com uma frase mais inspiradora e verdadeira do que esta, na fase em que me encontro. É como uma mensagem que entrou diretamente na caixa postal do meu coração e da minha cabeça. E sinto que preciso tanto desta liberdade. Estou a reunir a coragem, porque sei que tenho de começar o quanto antes. Não sinto que perdi tempo, porque esta experiência será sempre uma das mais enriquecedoras que já vivi. Mas já retirei a aprendizagem, a lição e, por isso, já não há quase nada aqui para mim. Chegou o momento de voltar à viagem, fazer-me à estrada e ir ao encontro do que me faz feliz. Esta paragem foi ótima para perceber que não passou disso mesmo, de uma paragem. Este ainda não é o destino final e eu estou de volta à estrada. 

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