a vista da janela
Era simples, eficaz e infalível: àquela hora ele apareceria, conduzindo o seu carro, e ela, esperando-o à janela, começaria a sentir um voo descoordenado de borboletas no seu estômago. Mentira: não seria quando ele aparecesse, no fim da rua, com aquele som característico do motor do seu carro, que as borboletas levantariam voo; seria na antecipação da sua chegada.
Era simples e o Princepezinho captara este momento ao proferir que
Se tu vens às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.
Colada à janela, arranjada, perfumada e feliz, ela esperava por ele. Muitas vezes não iam a lado nenhum, deixando-se ficar no carro a conversar e namorar. O destino não era verdadeiramente importante, a companhia sim. Aquela espera deixava-a em suspenso, os minutos pareciam horas e por mais que ele dissesse "estou mesmo quase a chegar!", o quase arrastava-se e ela quase poderia jurar que ele demorava ainda mais a aparecer.
A vista da sua janela era esta. Ela, tal carochinha, via passar um carro, depois outro, depois um vizinho, depois um desconhecido e, quando finalmente ouvia aquele som familiar, as luzes a aproximarem-se e a brilharem com mais intensidade, ela sabia: ele acabara de chegar. E todas as borboletas dançavam, agora num voo coordenado, pois haviam encontrado o seu rumo.