a música favorita
Poucos lugares neste mundo eram capazes de o fazer sentir-se em casa, mas aquele era uma dessas raras exceções. Não sabia precisar o momento em que descobrira aquele sítio. O mais provável era ter sido por acaso, numa daquelas descobertas aleatórias da vida. Sabia, no entanto, que aquele se transformara no seu refúgio.
Era difícil traduzir a magia daquele lugar. Nenhuma palavra parecia suficiente, nenhuma combinação frásica parecia capaz de espelhar a magnitude que só aquele lugar tinha. Porque quando ali chegava, era invadido por uma sensação de paz e aconchego que só o abraço de uma mãe é capaz de igualar. Era como se todos os sentidos ficassem reféns daquela magia e, por consequência, todo o corpo e mente entrassem numa espécie de dormência, quase que anestésica, relaxante. Assemelhava-se à ridícula comparação do conforto sentido quando se chega a casa e se despe a roupa e descalça os sapatos, oficializando a sensação de "estou em casa!".
Quando lá estava, perdia a noção do tempo. Podiam passar-se horas ou segundos, era-lhe completamente indiferente. A desconexão com o mundo era de tal ordem, que tempo e espaço ficavam à porta. Era esse tipo de sítio.
Para lá chegar, bastava-lhe premir o botão certo: o do play. Para intensificar a impermeabilidade com o exterior, era simples: aumentar volume. E era sempre ali, na sua música favorita, que encontrava o ninho.