love of my life
Não sei sobre o que escrever. Se escrevo sobre estar a atingir os limites dos limites da paciência relativamente à minha família ou se escrevo sobre a vontade que sinto de estar em isolamento e desligada dos dramas que circulam à minha volta, como se fossem as tragédias mais drásticas deste mundo. Mas, depois, concluo que mais do que estar cansada desta situação, estou é mesmo cansada de viver em torno dela e me arrastar como se isto fosse a coisa mais importante da vida, o que não é. E, por isso mesmo, hoje vou escrever sobre ti, amor da minha vida, que tens sido a tábua a que me amarro, com unhas e dentes, nesta tempestade que assolou o oceano da minha vida e, por seres parte fundamental dela, te atingiu também a ti.
Houve uma fase, algures no tempo, em que eu, também fruto da minha veia romântica e dos inúmeros filmes que devorava, achava que o amor se expressava nas longas e delicadas cartas de amor, nos buquês de flores inesperados, nas surpresas imaginadas e preparadas ao milímetro, nas grandes manifestações que, por vezes, roçam o piroso. E eu cobrava-te todas essas coisas. Queria que provasses o quanto me amavas através desse conjunto de gestos, mesmo que ao exigir-te tudo isso, estivesse a desejar que fosses uma pessoa completamente diferente da que és.
Mais tarde, felizmente, a vida encarregou-se de me mostrar que expressavas todo o teu amor todos os dias, nas mais pequenas e singelas coisas. Naquelas coisas que, por tomarmos por garantidas, achamos que são banais e comuns, quando, muitas vezes, são essas que tornam as relações especiais. O teu amor nunca chegou em gestos espalhafatosos, muitas vezes mais destinados aos olhares dos outros. Mas chegou sempre e, nos momentos mais difíceis, transbordou, chegando mais longe e mais fundo do que alguma vez tinha chegado.
Sabes que eu acredito que todos os momentos da nossa vida, mas sobretudo os mais duros, têm sempre um lado positivo. Algumas pessoas acreditam que sou uma otimista incurável, outras julgam que sou só parva, mas, sendo uma ou sendo outra, continuo a acreditar piamente que na adversidade também existe riqueza. No seio das maiores adversidades da minha vida até à data, sendo esta última a mais arrebatadora, tu tens sido essa riqueza. Essa dádiva que mostra que nada nos é tirado, sem nos ser dado algo em troca.
Desde o primeiro instante em que o meu telemóvel tocou e a minha vida antiga se desfez em cacos, tu estiveste comigo. Tu estás comigo todos os dias, em cada volta e reviravolta. Tu abraças-me para me confortar, abraças-me para me proteger e abraças-me quando não sabes o que me dizer mais. Abraças-me e todo o teu corpo me diz que me ama e que, se pudesses mudar alguma coisa, eu não estaria a passar por isto. E ficas genuinamente incomodado com este assunto, mas és o único que fica revoltado e zangado pela posição que ocupo. És o único que fica indignado com a carga diária de coisas que carrego às costas e és também o único que zela pelo meu bem-estar, sem qualquer condição.
Mas mais do que toda esta preocupação e todas as vezes que cedes aos meus pedidos e ainda mais do que as vezes que limpas as minhas lágrimas (que, como sabes, só surgem na tua presença), o que me deixa perplexa no teu amor por mim é o modo incondicional como me amas quando eu deixo de ser eu. Quando eu me comporto como uma pessoa que certamente não é a pessoa pela qual te apaixonaste, quando eu me deixo cair num estado de total falta de vitalidade e me entrego ao meu modo de isolamento. Quando eu mudo de humor quatro vezes no espaço de meia hora. Quando tudo me parece um fardo, um esforço e mais uma exigência. O que me deixa abismada é que nesses momentos em que é verdadeiramente difícil amar-se uma pessoa, tu nunca deixas de me amar.
Por isso, hoje, no lugar de me queixar ao mundo (pela centésima vez), desta situação que não escolhi, mas na qual estou envolvida, prefiro dizer obrigada à vida e, acima de tudo, obrigada a ti por seres a parte mais bonita dela. Ensinas-me todos os dias que existem mil e uma maneiras de amar. Tu, meu amor, não sabes nunca o que dizer, mas sabes sempre o que fazer. E a coisa que fazes melhor, no conjunto das inúmeras coisas que fazes bem, é, sem qualquer dúvida, amar-me.