Ando a procrastinar esta resposta, porque acho muito difícil escrever sobre os dez momentos mais entusiasmantes da minha vida. Por um lado, parece-me que não existe nada digno de entrar neste top 10, o que me faz sentir mesmo desinteressante. Por outro, acho que existem tantos momentos que já vivi com euforia e excitação que não sei como escolher apenas 10. Ando a arrastar esta lista, todos os dias tento acrescentar mais um momento que me marcou pela forma entusiástica como o vivi, mas confesso-vos que é um exercício exigente. Tentem fazer apenas este desafio dos 100 que são propostos e depois digam-me o que acharam.
Ora bem, vamos lá falar dos dez momentos mais entusiasmantes da minha vidinha, que já conta com um quarto de século:
1. Quando me apaixonei pelo meu amor
Não foi um momento, é certo, foram vários. Apaixonei-me sem me aperceber, deixei-me levar e nunca esquecerei o dia em tomei consciência da dimensão dos meus sentimentos. Foi como se a terra estremecesse, mas apenas no metro quadrado que eu ocupava; somente eu senti os efeitos avassaladores daquela queda na realidade. Passou-se uma década e ainda sorrio quando ouço a For Once in My Life do Stevie Wonder. Naquele dia, com um sorriso do tamanho do mundo, foi isso mesmo que senti: for once in my life I have someone who needs me, (...) for once unafraid I can go where life leads me.
2. Sempre que viajamos juntos
Pensei referir a primeira vez que viajamos juntos, mas não seria justo, porque a verdade é que todas as viagens que fazemos, por muito curtas e singelas que sejam, têm entrada direta para o meu álbum de recordações favoritas de todo o sempre. Adoro quando nos perdemos num lugar novo, à descoberta, a absorver e partilhar tudo um com o outro. Quando éramos mais novos, sempre que embarcávamos numa viagem, eu sentia que te roubava do mundo e te tinha só para mim o tempo todo. Adoro descobrir tudo contigo, és e sempre serás o melhor companheiro de viagem. Mesmo nas viagens quotidianas para o trabalho e do trabalho para casa. Contigo, tudo é uma aventura.
3. 10 de Julho de 2016
Será sempre um dos momentos mais felizes que já vivi. Estava com os meus amigos, foi a euforia das euforias: Portugal sagra-se campeão europeu! Começamos todos aos saltos, aos abraços, saímos disparados para a rua festejar, a alegria não cabia dentro de nós. Foi daqueles momentos em que olhei em meu redor e senti que seria uma daquelas memórias épicas que irei contar aos meus (futuros) filhos.
4. A faculdade
Eu sei que estou a ser a maior batoteira neste desafio, mas não consigo selecionar apenas um momento entusiasmante. Sobretudo no que diz respeito à minha experiência universitária. Não fiz parte da praxe, não fui a festas académicas, não tive a experiência que é habitualmente associada à faculdade. Mas fui imensamente feliz nos anos em que lá andei. Foi a oportunidade de viver sozinha pela primeira vez, a responsabilidade de estar por minha conta e ter, pela primeira vez, a liberdade de fazer as coisas à minha maneira; foi ter escolhido a área certa, mesmo tendo sido uma escolha completamente às cegas; foram os amigos que lá fiz, a família que construí e que trago comigo para toda a vida; foi, acima de tudo, a sensação de estar no sítio certo, no lugar onde pertencia. Foram anos de desafios, de aprendizagens, de sentir que o esforço e empenho, a somar à paixão, se refletiam nos resultados obtidos. Cresci muito naqueles cinco anos, conheci pessoas incríveis que me inspiraram a ser não só uma boa profissional, mas uma melhor pessoa.
5. O dia em que passei no exame de condução
Eu fui para o exame de condução com a certeza de que iria chumbar. Era um dado adquirido. Apenas tinha um objetivo: não chumbar de imediato no centro de exames, ao deixar o carro ir abaixo três vezes seguidas. Eu estava tão certa que ia falhar, que acabei por passar. Lembro-me de que a certeza do falhanço me libertou do medo de realmente falhar. Então, como estava sem esse peso, aproveitei o momento e desfrutei, conduzi com prazer e gosto. Nesse dia percebi como o medo de falhar pode paralisar uma pessoa e a falta dele permite que o verdadeiro potencial se evidencie. Porque eu fui convicta de que era um chumbo imediato, o meu colega foi convencido que ia ensinar o engenheiro a conduzir. Ele estava nervoso porque sabia que tinha de fazer boa figura, tinha de fazer uma figura que correspondesse ao que realmente ele sabia conduzir. Já eu, que sabia que era péssima (ou achava que era), convenci-me de que já estava derrotada e vencida, não tinha nada a provar. Quando percebi que tinha passado, sem erros graves e perigosos, fiquei em êxtase. E acreditei, pela primeira vez, na sorte. Porque ainda demorei muito tempo a acreditar que não fora apenas sorte, mas também alguma competência da minha parte.
6. Concerto de Jazz com a minha mãe
Este aconteceu no ano passado, em pleno inverno, numa das salas de teatro mais bonitas do nosso país. Como companhia levei a minha mãe, que ia cheia de medo de achar o concerto entediante e ter de o suportar até ao fim. Eu ia com a certeza de que seria incrível e saí de lá dececionada, porque o concerto conseguiu ser ainda mais magnífico do que eu já suspeitava que seria. Quando me lembro daquele momento, arrepio-me pela forma como a minha memória se mantém intacta, preservando todas as emoções e sensações que experienciei. Foi um daqueles momentos na vida em que nos sentimos tão vivos e, simultaneamente, tão gratos por cá estarmos e podermos usufruir de algo tão belo como é a música. Além disso, foi um momento que partilhei com a minha mãe e fez-me tão feliz vê-la a desfrutar e a maravilhar-se. Foi uma felicidade multiplicada, que tornou tudo ainda mais perfeito.
7. A última grande viagem em família
Sim, fiquei doente, arrestei-me durante dias para acompanhar os meus pais e a minha irmã, mas foi a nossa última grande viagem enquanto família de quatro. Foi aquela viagem em que usufruímos sem olhar a nada, em que fomos só nós numa cidade completamente desconhecida e fomos nós mesmos, com tudo que isso inclui. Rimo-nos, vimos um dos espetáculos mais incríveis de sempre, passeamos, mimamo-nos. Na altura já me tinha parecido bom, mas agora ao olhar para trás ainda consigo dar mais valor àqueles dias que passamos os quatro. Depois dessas férias fizemos outras, mas nenhuma foi tão especial como essa.
8. As noites passadas na casa da minha avó
Por mais lugares que descubra, concertos que assista e experiências que viva, vai sempre existir um cantinho especial, ao estilo catedrático, para as noites em que dormia na casa da minha avó. Eu sentia um entusiasmo tão grande sempre que me era permitido ir dormir com a minha avó, que cada vez que ia me sabia à primeira, mesmo já tendo ido centenas de vezes. Sentia-me sempre tão feliz de saber que ia dormir naquela cama gigante, quentinha, com a minha avó a abraçar-me; que ia comer a melhor das melhores das refeições, aquele bife tenrinho, cheio de batatas fritas e ovo estrelado por cima; que ia ver desenhos animados uns atrás dos outros, apenas sendo interrompida para lanchar aquelas torradinhas barradas a manteiga e o leite achocolatado, que era mais chocolate que leite; que ia tomar longos banhos de espuma; que ia acordar naquele quarto tão acolhedor e familiar, o da minha avó. Não, não há experiência que apague este entusiasmo inocente e infantil que eu sentia sempre que estava na casa da minha avó.
9. Os passeios de canoa com a minha irmã e o meu pai
Era tão divertido enfiar-me numa canoa com o meu pai e a minha irmã, determinados a desbravar o rio e chegar o mais longe possível. A natureza, as gargalhadas, o cansaço do meu pai que, a dado momento, já remava pelos três, o encostar da canoa em terra para descansar e usufruir das praias desertas, o sol a queimar a pele com o contraste da água fresca e fria. Com o tempo fomos deixando de fazer coisas em conjunto e de passarmos tempo juntos. Apareceram os namorados e amigos, a escola, a falta de tempo e a distância acabou por se impor. Mas tenho saudades destes planos aventureiros que fazíamos.
10. O Natal
Para fechar em grande, só poderia escrever acerca do Natal. Não de um em específico, mas de todos, os passados e aqueles que o futuro me reservar. O Natal é a minha época favorita do ano, é sinónimo de casa cheia, de partilha, de amor, de convívio, de contrastar o frio das rua com o calor da casa quente e acolhedora. Mesmo com a família desmembrada, o Natal não perde a sua magia e eu pareço sempre uma criança pequena, maravilhada com tudo.