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the old soul girl

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27
Fev20

"apenas depende de ti"

girl

Faltar-me-ão sempre estudos para compreender as pessoas (em específico os patrões e entidades patronais) que consideram as questões motivacionais dos seus colaboradores um não assunto. Ou, como já ouvi, um capricho. Divido-me sempre entre pensar que é ignorância ou estupidez ou até um pouco de ambos. Uma coisa sei: inteligência não é certamente.
Sei que não se pode agradar a gregos e a troianos e também sei que existem muitos queixosos crónicos. São aquele grupo de pessoas que se queixa sempre de tudo, tem sempre um problema para cada solução e que parece sentir um genuíno prazer em protestar. Estas pessoas não são apenas assim no trabalho, são assim na vida em geral e os que os aturam têm um lugar reservado no céu. Mas mesmos estes queixosos crónicos ressentem quando a motivação é tratada como um capricho e uma questão que apenas depende do colaborador (como também já ouvi).
A verdade é que a motivação nunca será uma questão exclusiva do trabalhador ou do empregador. É um filho cuja guarda é partilhada e, como tal, cada um tem de fazer a sua parte para que o filho cresça e chegue a bom porto. No entanto, a realidade a que assisto diariamente é que as empresas se descartam da sua responsabilidade e exigem aos colaboradores que a sua automotivação se multiplique e que substitua o papel que só diz respeito ao empregadores. Por muito que um colaborador goste do seu trabalho e chegue todos os dias à empresa com vontade de se exceder e alcançar o seu potencial, não depende apenas de si. Este mesmo colaborador precisa de ter feedback quanto ao seu trabalho, precisa de ver as suas competências valorizadas e não apenas monetariamente, embora também seja muito importante. Mas creio que um "bom trabalho!" enche mais os reservatórios da vontade e dedicação do que alguns euros a mais que, por vezes, com tantos descontos e acertos, se diluem rapidamente. É extremamente importante orientar os colaboradores, dar-lhes oportunidades de crescimento e melhoria contínua, investindo na sua formação não só profissional, mas também pessoal. Proporcionar um bom ambiente de trabalho, no qual sintam que errar não é sinónimo de ter a cabeça a prémio, pelo contrário, utilizar os erros para fomentar aprendizagens e potenciar o seu desenvolvimento. Muitas das pessoas que erram são aquelas que estão sobrecarregadas, divididas entre tantas tarefas que, mais tarde ou mais cedo, alguma vai resvalar e falhar. Ninguém é imenso e o tempo é democrático, todos temos direito às mesmas 24h. Motivar os colaboradores passa também por respeitar a vida destes, sabendo que a esfera profissional é apenas isso, uma esfera no meio de outras igualmente importantes, como a família, os amigos, os tempos livres. Atualmente, as empresas exigem uma disponibilidade quase total aos seus colaboradores, indo além das fronteiras físicas das suas instalações através de chamadas e emails fora de horas. As pessoas não descansam, nunca desligam, entram num ritmo frenético do qual não conseguem encontrar a saída.
Envolvidos num stress constante e crónico, começam a surgir os primeiros sintomas - falta de concentração, de energia, de criatividade para pensar em soluções face aos problemas - e são apenas a pontinha do iceberg. A questão mais fascinante (e ridícula) é que as empresas perdem dinheiro com estes fenómenos, porque depois surgem as baixas, as demissões ou o famoso presentismo, em que temos as pessoas presentes fisicamente no trabalho, mas estarem ou não estarem é quase o mesmo. Está o corpo, mas não está a cabeça.

Será que os patrões desta vida não conseguem mesmo compreender a simplicidade da equação colaboradores motivados = sucesso da empresa? Como é que alguém pode exigir aos seus colaboradores para que estes vistam a camisola, se entreguem de alma e coração às balas, se não há qualquer retorno nem apreço? Por caridade? Por misericórdia?
Trabalho numa empresa onde todos os dias assisto a espetáculos deploráveis de extermínio motivacional. E o que me impressiona mais, ao fim de tanto tempo, nem é a forma como a empresa trata os colaboradores, mas a forma como estes toleram e, mesmo assim, se esforçam. A realidade é que as pessoas precisam de trabalhar, as contas no final do mês são certas e há um medo constante do incerto, porque apesar de isto ser mau, ao menos sabemos como é, a empresa do lado pode ser ainda pior. Só que esta tolerância desgasta-se e as pessoas acabam mesmo por adoecer e perdem tanta qualidade de vida. Tenho tantos colegas à beira do esgotamento, outros tantos que mal conseguem falar e passar tempo de qualidade com as suas famílias. Inevitavelmente, questiono-me se isto vale a pena? Dar tanto a quem nos dá tão pouco?
Não posso deixar de me rir quando me dizem que a motivação apenas depende de mim. Não posso aceitar isso, não posso aceitar que sejam exigidos resultados em tempos recordes, perfeitos, quando neste jogo de dar e receber se dá tanto e se recebe tão pouco. E hoje estas questões pesam-me mais porque olho em meu redor e cada vez conto mais os desmotivados. Vejo rostos cansados, olheirentos, corpos que se alimentam de shots diários de cafeína e refeições pouco saudáveis, telemóveis que não param de tocar e vibrar, emails seguidos a entrar, algumas vozes altas em exaltação por pequenas coisas, mas as pessoas perderam a capacidade de distinção entre o que é pequeno e grande, entre o que é grave e leve. É um cenário triste e degradante, mas mais comum e frequente do que se desejaria. 

Por isso, nunca conseguirei compreender como é que a motivação é entendida como um capricho. Ainda falta a muitos administradores e empresários desta vida a capacidade de compreensão de que as pessoas serão sempre o melhor recurso de qualquer negócio. Serão sempre elas o motor, a força motriz, a chave do sucesso. Hoje investe-se muito em tecnologia de ponta, máquinas novas e XPTO, mas cada vez cai mais no esquecimento a valorização dos recursos humanos. Estes são aqueles que são mais difíceis de substituir e que podem ser o elemento chave no sucesso ou deterioração de uma empresa. Mas o que sei eu de gestão? Sou apenas uma colaboradora caprichosa, cuja subida dos níveis baixos de motivação apenas depende de si mesma. 

26
Fev20

Querida amiga,

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Antes de te dizer o que pretendo realmente dizer, sinto-me na obrigação de esclarecer algumas questões iniciais. A primeira é de que te estou a dizer isto por escrito e não numa conversa, olhos nos olhos, porque ainda não consegui reunir forças e competências para o fazer. As palavras escritas, como sabes, sempre me permitiram expressar melhor o que vá dentro de mim e temo que se as dissesse em voz alta, não conseguiria sequer chegar a meio do que te pretendo dizer, porque a emoção falaria mais alto que a minha voz. E eu quero mesmo que saibas de tudo, com todos os detalhes, até os mais sórdidos, sádicos e tristes. Ao mesmo tempo, não o consigo dizer-te oralmente, numa conversa real, porque me sinto, de algum modo, envergonhada com esta situação. Num plano lógico e racional, sei que não fui eu a autora desta confusão, que não tenho a culpa do que se passou, mas sinto uma vergonha enorme de tudo o que se passou e, por vezes, também me sinto culpada. Não pelo que se passou, mas pela forma como lidei e lido com isso. Vergonha e culpa são emoções que, desde há dois anos, convivo de perto e sei como nos conseguem debilitar e paralizar. A segunda questão, que para ti será a primeira que vai surgir na mente, é o porquê de não o ter dito mais cedo. E a esta questão acho que te posso dar várias respostas, mas a que congrega todos os motivos, de forma mais simples e clara, é esta: porque ao não o dizer, não tenho de lidar com isto. Ou melhor, ter de lidar com isto, tenho de lidar todos os dias da minha vida, mas não tenho de lidar com as preocupações e questões de outros. Porque já é tão difícil lidar com as questões dos envolvidos, que não sei se aguentaria ter de lidar também com mensagens e dúvidas constantes sobre isto vindo de outros, de fora. Ainda que fossem de preocupação, de cuidado, de amizade, não me senti (e acho que ainda não me sinto) preparada para ver a minha vida exposta desta forma. Logo eu que, como sabes, sofro de exposiofobia. Gosto tanto do meu cantinho às escuras. Portanto, não interpretes esta atitude como um sinal de falta de confiança em ti, porque se for falta de confiança não será em ti, certamente, mas em mim e na minha capacidade de ser vulnerável.
Acho que depois de leres o que tenho para te dizer, todas as peças do puzzle se irão encaixar e tudo te fará muito mais sentido. A minha distância, a minha ausência, o meu silêncio. Os nossos amigos até brincam se eu estou viva ou já estou enterrada, tal é o meu desaparecimento. Acho que conseguirás compreender a minha fuga de qualquer contacto social e o meu isolamento, porque me conheces. E sabes que eu curo as feridas sozinha, no meu espaço, ao meu tempo. Mas a questão é que se passaram dois anos desde que tudo isto aconteceu e as minhas feridas continuam abertas e, se possível, talvez mais ardentes e profundas do que inicialmente estavam. O meu processo de cura não tem sido linear e por cada passo dado em frente, sinto que recuo outros tantos. Acho que faz tudo parte, mas, por vezes, sinto-me perdida e confusa. E nunca deixo de me sentir quebrada. Irremediavelmente quebrada. Se tivesse de escolher uma palavra para me descrever neste momento, essa seria a ideal: quebrada. Estou a fazer tantos lutos em simultâneo: luto da minha família, luto da ideia que tinha dos meus pais, luto de mim mesma, da minha vida antes de tudo isto. Porque em muitos momentos é isso que sinto: que morri. Deixei de ser a pessoa que era. Roubaram-me a leveza, a simplicidade, a tontice. Tornei-me numa pessoa séria e tão zangada. Às vezes a minha raiva faz o meu coração acelerar como se passasse da primeira à quinta mudança em segundos. Não sabia que uma pessoa de 1,65 cm conseguia conter tanta raiva dentro de si, mas ficarias surpreendida com as toneladas que consigo armazenar neste corpo de fada. Também me tornei numa daquelas pessoas que tem um sorriso triste, sabes? Nunca perdi o meu sorriso, mas para os mais atentos, é detetável a diferença de intensidade com que sorrio. Hoje o meu sorriso é um sorriso de nostalgia, de perda. O meu olhar confirma o mesmo. Estou triste, estou imensamente cansada, aliás, estou exausta e estou muito zangada. E tu nunca desconfiaste de nada, não só porque eu tenho fugido de todos os convívios como, quando estou presente, uso a minha melhor máscara. Todos esses momentos sociais são carnaval para mim. Coloco a minha melhor máscara e lá vou eu. Ao mesmo tempo, tenho de te confessar: nunca sabemos como vamos reagir às coisas até estas nos acontecerem. E também só conhecemos a nossa força e resiliência quando as coisas más nos batem à porta. Ainda hoje não te sei explicar como é que, naquela segunda-feira, consegui vir trabalhar e me apresentar ao mundo, quando só me apetecia ter ficado enfiada debaixo dos cobertores, de olhos fechados, a fingir que nada disto era real. Somos mais fortes do que julgamos e isso é uma descoberta positiva no meio de tanta coisa negativa. Mas também sei que esta força tem um custo, um preço.
No meu caso, foi a minha felicidade e, sem dúvida alguma, a minha liberdade. Cortaram-me as asas ao mesmo tempo que me tiraram o chão dos pés. Sei que hoje sou uma pessoa muito mais reativa a qualquer estímulo, salta-me logo tudo. Ando sempre com o coração nas mãos. Sabes, algumas das piores notícias da minha vida foram-me transmitidas via telefone, por isso, criei uma fobia a telefonemas inesperados. Se a minha mãe me liga ou manda mensagem a meio do dia, sem razão aparente, transformo-me numa pilha de nervos em segundos. Até gozam comigo por isso, mas não consigo evitar. Estou sempre em modo alerta e em modo de perigo. Como se me quisesse preparar para o mal que aí vem, porque espero sempre isso: mal. Viver neste constante estado de sobressalto é nocivo e sabes que ninguém melhor do que eu para o saber.
Já te disse tanto e ainda não te disse o mais importante, que foi o que provocou tudo isto. Mas agora que reflito, talvez a causa não seja o mais importante, talvez tudo o que disse até agora seja o mais urgente e pungente.
Amiga, uma lição que aprendi foi que nunca sabemos as lutas que cada pessoa que passa por nós trava no seu interior. Eu tornei-me numa dessas pessoas, que por fora parece intacta e intocável, mas por dentro está estilhaçada em fragmentos de todos os tamanhos e formas. Andamos todos tão cegos, focados em nós mesmos, que nunca esquecemos de olhar para fora de nós e ver o mundo que nos rodeia. Eu sou uma dessas pessoas, vivo aprisionada nos meus dramas e problemas. Com isto, quero dizer-te que tenho falhado como amiga. Não tenho manifestado qualquer interesse na tua vida, se estás bem, se estás a gostar do novo trabalho, se está tudo bem em casa. Não tenho feito nenhum esforço nem investimento em manter a nossa amizade. Mas também tenho de te dizer que esta falta de esforço não provém apenas da minha parca energia e disponibilidade emocional, mas também vem da certeza que a nossa amizade é daquelas de aço, que a água e fogo não conseguem quebrar nem corroer. Que o tempo de ausência se esfuma em segundos de contacto. Sei que estás sempre à distância de um click, a poucos metros de mim, caso seja necessário. Só não consegui ainda quebrar o vidro do alarme para acionar em caso de emergência. Não sei do que estou à espera, mas sei que se o fizer, tu não me faltarás e serás a chefe da fila do meu socorro. Tal e qual como eras sempre a chefe de fila nos simulacros da escola. Uns diriam que era por seres a mais alta da turma, eu acho que sempre foste tu por conseguires reunir a calma e tranquilidade necessárias quando todos os outros se entregavam ao stress e ao pânico.
Talvez eu consiga fazê-lo, talvez nunca o faça. Só espero é que, tanto num caso como noutro, não me falhes nunca.

24
Fev20

músicas que fazem todo o sentido #1

girl
I ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, ain't got no class
Ain't got no skirts, ain't got no sweater
Ain't got no perfume, ain't got no bed
Ain't got no man
 
Ain't got no mother, ain't got no culture
Ain't got no friends, ain't got no schoolin'
Ain't got no love, ain't got no name
Ain't got no ticket, ain't got no token
Ain't got no god
 
Hey, what have I got?
Why am I alive , anyway?
Yeah, what have I got
Nobody can take away?
 
Got my hair, got my head
Got my brains, got my ears
Got my eyes, got my nose
Got my mouth, I got my smile
I got my tongue, got my chin
Got my neck, got my boobies
Got my heart, got my soul
Got my back, I got my sex
 
I got my arms, got my hands
Got my fingers, got my legs
Got my feet, got my toes
Got my liver, got my blood
 
I've got life, I've got my freedom
I've got life
I've got the life
And I'm going to keep it
I've got the life
 
Ain't got not/I got life - Nina Simone
19
Fev20

All your perfects

girl

Este blog começa mesmo a transformar-se, aos poucos, num clube de adoração a Colleen Hoover. Mas não consigo evitar tornar a falar de um livro dela, porque foi o último que li (terminei ontem) e foi, talvez, dos mais intensos que já li, se não me atraiçoa a memória. É imperativo escrever sobre este livro, porque, como já disse e torno a repetir, há livros que nos abalam, que nos viram do avesso e que nos transformam. Há livros que são arte, são magia e quando abertos, nos levam não só para outros mundos, mas também para mundos dentro de nós mesmos nunca antes conhecidos e explorados. All your perfects é um exemplo exímio desse tipo de livros. 

A primeira vez que ouvi falar deste livro foi no blog da Mariana Alvim, que faz parte da equipa das manhãs da RFM. A Mariana é uma leitora compulsiva e adora romances, já me "aconselhou" indiretamente a ler muitos livros devido às reviews que faz dos mesmos. E também é fã assumida da Colleen Hoover, pelo que, quando li a sua opinião sobre All your perfects fiquei imediatamente curiosa e com vontade de o ler. Sabia que o leria em inglês, porque ainda não está traduzido, mas sem qualquer problema porque cada vez aprecio mais ler em inglês e tem sido uma excelente forma de poupar uns euros, tendo em conta que os livros são bastante mais acessíveis.

Quando chegou a casa, coloquei-o na mesinha de cabeceira e posso afirmar, com segurança, que permaneceu na fila de espera uns bons meses. Sempre que acabava de ler um livro, olhava para ele e sentia que ainda não era o momento. Não sei se mais alguém partilha este traço estranho comigo, mas eu tenho uma espécie de feeling em relação aos livros. Preciso de sentir que estou na fase certa e plena para ler aquele livro em específico, da mesma forma que sei quando preciso de um time-out de determinado género e preciso de ir alegrar os olhinhos com outras leituras. Andei neste jogo durante algum tempo, porque sentia que este livro ia ser intenso, ia absorver toda a minha capacidade emocional, ia esvaziar-me e preencher-me em simultâneo. Atenção, não sabia muito da história, mas do pouco que sabia, sentia que seria um livro profundo e nada light. Aliás, nada do que a Colleen escreve é leve ou simples.

”If you only shine light on your flaws, all your perfects will dim.”

Posso confirmar que a minha intuição estava certa, porque este livro é tudo menos leve. Sinto-me drenada e arrebatada por ele. E não vou entrar em detalhe nenhum da história, porque ao fazê-lo iria estar a estragar qualquer coisa, ainda que mínima, e este livro não merece isso. Merece que quem o lê, vá completamente ao desconhecido, que se deixe levar, que se entregue e, meus amigos, que sofra. Porque vão sofrer, preparem-se para isso. Isto não significa que o final da história será uma tragédia, apenas significa que é um livro intenso, é forte, é emocional da primeira à última página. Mas também posso assegurar-vos que há um pouco de cada emoção, nem tudo é tristeza. Aliás, há momentos incrivelmente felizes e apaixonantes e é também por esses que sentimos tão intensamente esta história e sofremos tanto com as personagens. Posso dizer que sofri ao ler este livro, chegando ao ponto de me sentir inquieta e desassossegada em alguns capítulos, noutros senti que o meu coração e o meu peito iam arrebentar de tanto ar que sustive. Chorei muito, chorei tanto que o meu namorado olhou para mim, perdido de riso, e me veio acalmar, frisando que era apenas um livro.

Mas a questão é mesmo esta: sendo apenas um livro, não é apenas um livro. Tocou tantos aspetos e tantas dinâmicas com as quais me confronto diariamente. Fez-me questionar muitas coisas da minha própria vida e levou-me a posições e perspetivas novas, que eu nunca tinha experimentado antes, sobre os assuntos de sempre. Foi doloroso ler este livro, porque a história e as personagens misturaram-se com tantos episódios da minha realidade, despertaram-me para pensamentos e atitudes que não quero ter e que, ultimamente, têm sido frequentes. Mas foi igualmente transformador e libertador aceder a alguns lugares estranhos e perdidos dentro de mim e das minhas relações.

Há duas passagens em especial que me tocaram e quero partilhar. Uma está perdida algures neste emaranhado de palavras, outra é com a qual pretendo terminar este texto, que está completamente desformatado em termos de sentido e lógica, mas que se assemelha muitíssimo ao meu interior depois de ler um livro que me destabiliza, como foi o caso deste. Aconselho vivamente e asseguro-vos, por tudo que é mais sagrado, que a Collen não me paga nenhuma comissão por toda a publicidade que lhe faço. Apenas desejo que nunca deixe de escrever, porque nos iria privar de muita riqueza.

“What's the secret to a perfect marriage?'
'Our marriage hasn't been perfect. No marriage is perfect. There were times when she gave up on us. There were even more times when I gave up on us. The secret to our longevity is that we never gave up at the same time.”

12
Fev20

mau humor

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Não sei quanto a vocês, mas eu, por vezes, tenho uns flashs, uns momentos repentinos e espontâneos, em que olho em meu redor e me sinto abençoada. Grata. Como se me tivesse saído a sorte grande por ser quem sou, por viver onde vivo, por ter a família que tenho, o namorado, os amigos. Não sei explicar, mas é como se as peças se encaixassem todas e formassem uma figura digna de ser admirada. Não é que as peças não estejam encaixadas a maior parte dos dias, mas nem sempre conseguimos ver o todo, às vezes somos ofuscados pelas partes e também não é menos verdade de que o todo é muito mais do que a mera soma das partes.
Hoje tive um desses momentos e, confesso, adoro quando me acontece. É uma das coisas maravilhosas da vida. Sentirmos que temos uma sorte do caraças. Comecei o dia com um humor cujas palavras não são sequer dignas de o descrever. Não sei como é que vocês são quando estão de mau humor, mas eu posso assegurar que sou do pior que há, conseguindo irritar-me a mim mesma. Quando entrei no carro do meu namorado, não éramos apenas dois no carro, éramos três: ele, eu e o meu mau humor. E quando estou nestes dias negros, penso sempre para mim que o melhor é remeter-me ao silêncio, porque sei que tudo me irrita, até o respirar. Mas mesmo calada, a minha cara de poucos amigos grita o quão insuportável estou.
Portanto, a equação perfeita para afastar as pessoas do meu radar, porque primeiro ninguém tem de me aturar e, segundo, toda a gente sabe que o humor é contagioso, sobretudo quando é mau. No entanto, o meu namorado parece estar imune, porque não só não se deixou afetar, como ainda tentou combater as minhas energias negativas demoníacas. Foi o mais atencioso e querido possível, mimando-me, não perguntando sequer o que se passava, porque sabia que não só não valeria a pena como pioraria a situação.
Quando cheguei ao trabalho, vinha a pensar na amabilidade dele. Na forma como me conhece tão bem, como sabe lidar comigo, como me consegue adorar no meu melhor e, acima de tudo, no meu pior. Algures li uma frase que dizia que é nos nossos piores dias que precisamos de ser amados e é a mais pura das verdades. É o derradeiro teste entre quem nos ama como somos e quem apenas nos suporta quando somos suportáveis. Aquela atenção, aquele carinho e, acima de tudo, a paciência aconchegaram-me. Não fiquei, subitamente, no melhor humor do mundo, mas tive um flash, um momento eureka do quão sortuda sou por ter este homem ao meu lado, na minha vida. Senti-me grata, muito grata.
Não é um dia bom, nem sequer posso dizer que é mau, porque não aconteceu nada de mal. Apenas não é o meu dia. Mas mesmo nos dias em que não sou eu, nos dias menos bons, ele está sempre comigo, ao meu lado. E, para mim, amor é isto.

11
Fev20

Como o "Isto acaba aqui" acabou comigo

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Sou uma fã assumida e orgulhosa da Colleen Hoover. Já foram diversos os textos que escrevi sobre o impacto dos seus livros em mim e sobre a forma como admiro o trabalho e o talento de Colleen. Só não me aventuro a criar-lhe um clube de fãs porque já devem existir centenas deles e o meu seria apenas mais um, perdido no universo. E depois leio o "Isto acaba aqui" e começo a reformular toda esta ideia de (não) criar um clube de fãs, porque quando eu achava impossível não me deslumbrar mais pelo trabalho de Colleen, ela é capaz de me surpreender e todo o seu talento se debruça sobre mim como uma avalanche.
Fiquei acordada até às tantas da manhã, num dia de semana, sabendo que teria poucas horas de sono, para acabar de ler este livro. E valeu cada segundo de sono perdido, porque o que perdi em descanso, ganhei em entusiasmo, euforia, tristeza, raiva, eu sei lá, toda uma montanha russa de emoções. O mais curioso é que eu não estava nada curiosa para ler este livro. Aliás, quando lia e relia a sinopse do livro, sentia que não era o tipo de livro que iria prender a minha atenção. Até que num belo dia, numa viagem pelo Goodreads, li uma resposta da Colleen a um fã, que a questionava qual dos seus livros mais gostava. Ao que a Colleen não se poupou a respostas politicamente corretas e, abertamente, disse que era o "Isto acaba aqui", por ser o livro mais pessoal e intenso que já havia escrito. E foi aqui que a coisa se inverteu para mim. Onde antes não havia curiosidade, do nada nasceu toda uma vontade de descobrir este livro e perceber se, afinal, era assim tão incrível como todas as pessoas no Goodreads comentavam, inclusive a própria autora do livro.
E ... o que dizer? O que dizer para além do óbvio e já dito por todo o universo de pessoas que leram este livro? É realmente incrível. É tão incrível que senti necessidade de escrever sobre ele, para que mais pessoas possam deitar os seus olhinhos nele e se deixarem levar por uma história que tem um pouco de tudo e em que não falta nada, mesmo nada.

Sempre que escrevo a minha opinião sobre livros, sou muito superficial, porque não quero, de forma alguma, dar spoilers. Nunca sei como conciliar falar do livro com entusiasmo sem dar demasiadas informações sobre a história, mas vou dar o meu melhor para vos tentar explicar o porquê deste livro me ter arrebatado, como eu nunca, nem nos meus maiores sonhos, imaginei.
O tema base e central deste livro é a violência doméstica. É a história de uma jovem de 25 anos, Lily, que cresceu a assistir a cenas de violência entre os pais, mais concretamente o pai a agredir a mãe. Conhecemos a Lily de hoje, jovem adulta, emancipada, a conquistar todos os sonhos que tem para a sua vida, e, ao mesmo tempo, vamos conhecendo a Lily do passado, com 15 anos, que assistia ao que ninguém deveria alguma vez assistir e ao impacto que todos esses episódios tiveram na construção da sua personalidade e na forma como se relaciona com os outros. E até aqui nada disto parece muito fascinante, mas posso dizer-vos que há uma pessoa especial que cresce com Lily, que a marca para sempre e posso também dizer-vos que surge uma pessoa no presente de Lily, que parece ser a pessoa perfeita, que se apaixona por Lily, por quem Lily se apaixona e por quem, também nós, leitores, acabamos por nos apaixonar a dada altura. Estas duas pessoas terão muito peso e influência na história de Lily, no rumo que a sua vida vai tomar, nas escolhas e decisões que esta terá de tomar.
Mas não é sobre a história de que vos quero falar, embora a tenha adorado. Adorei todos o detalhes dela, todos, todos. Adorei a forma como a Colleen conseguiu criar personagens tão dinâmicas e que, no final, nos fazem acreditar numa frase chave no decorrer deste livro: não há pessoas más, há apenas pessoas que por vezes fazem coisas más. Adorei a genialidade da autora em nos dar a conhecer o passado de Lily através das entradas dos seus antigos diários, que são deliciosas. Mas esta genialidade não se esgota e Colleen consegue escrever sobre as dinâmicas e os conflitos internos da violência doméstica de uma forma que nos envolve, que nos faz sentir que somos aquela vítima, que aquela poderia ser a nossa realidade e poderíamos ter de ser nós a ter de tomar tais decisões. Colleen alerta, em mais do que um momento, para uma questão que me tem passado em loop na mente: tendemos a dirigir os nossos pensamentos mais críticos e duros para aqueles que são vítimas de violência doméstica do que para os agressores. É-nos mais fácil julgar a mulher que não sai de casa, que não abandona o marido violento, pensar nela como fraca e frágil, até como pouco inteligente por cair sempre no mesmo engodo e na mesma armadilha de perdoar, por achar que não se voltará a repetir. E enquanto o fazemos, vamos deixando escapar impune os agressores, que não destroem apenas fisicamente as vítimas diretas, destroem-nas por dentro e destroem todos os que estão em seu redor. Mas, ao mesmo tempo, Colleen ainda nos consegue deixar sentir um pouco de empatia por estes mesmos agressores, mostrando-nos que estes também têm uma história e que, muitas vezes, também estes estão num sofrimento inesgotável. No entanto, Colleen nunca nos deixa cair na armadilha de pensar que ter uma história de vida difícil é um motivo ou uma justificação. É apenas isso: uma narrativa que nos leva a perceber que, novamente, as pessoas não são boas nem más. Apenas fazem coisas más por vezes. 

Há muito da vida, do passado de Colleen neste livro. Há vulnerabilidade, há a sensação de que a autora escreve este livro com um objetivo triplo: engrandecer a mãe, perdoar o pai e libertar-se a si mesma, rescrevendo a sua história ou, pelo menos, a forma como sempre olhou para a mesma. Hoje entendo o porquê deste ser o seu livro preferido e o mais difícil de escrever. A matéria-prima não só era densa, pesada, negra, como vinha de fontes próximas.
Poderia dizer-vos tanto sobre este livro e sinto que seria sempre insuficiente. Quem já o tiver lido, partilhe comigo nos comentários o que achou! Quem não o fez, faça-o, não se irão arrepender. Para mim foi apenas mais uma confirmação de que Colleen Hoover tem um talento que transborda, não tem início nem fim. Foi a confirmação, também, que, de quando a quando, aparece um livro que nos abala, que nos faz estremecer, que nos deixa a pensar, que nos transforma. Tudo nele é brilhante, até o próprio título.

E, em jeito de conclusão, termino com uma frase que me ficará gravada para sempre, que ressoou tanto dentro de mim, pelos motivos mais óbvios: quando a vida é difícil, parecendo não haver solução, há que continuar a nadar. Nem que pareça que apenas flutuamos ou que estejamos a afundar, nunca podemos deixar de nadar. Chegaremos à margem.

07
Fev20

sextas-feiras

girl

Finalmente sexta-feira. Nunca desejei tanto que uma semana acabasse como esta, sinto-me exausta e farta, fartinha, de trabalhar, de ter de lidar com gente doida à solta. Só quero paz e sossego, só quero dormir sem ser acordada pelo despertador, repor todo o sono em dia e desligar. Esta semana foi muito exigente e sinto que não houve um dia em que me conseguisse desconectar totalmente do trabalho. Não tanto das tarefas que tenho em mãos, mas das preocupações que as pessoas partilham comigo, o descontentamento, o desânimo, a frustração. Mas, mais do que isso, não me senti capaz de me desligar da minha própria frustração.

Ontem, quando entrei no carro, dei por mim a chorar. Não que algo extraordinário tivesse acontecido, mas foi um daqueles dias em que parece que levamos uma bofetada da realidade e percebemos as coisas como são e não como gostaríamos que fossem. Chorei por estar cansada, chorei por ter passado o dia num stress e adrenalina enormes, chorei porque precisava de esvaziar o tanto que acumulei e chorei também de frustração, por confirmar que cada vez reúno menos e menos condições para estar num trabalho que não me acrescenta e, por vezes, ainda me consegue retirar algo. 

Parece que um muro se ergueu no meu caminho, bloqueando-me a passagem. Estou estagnada, sem conseguir avançar mais neste trajeto, tendo a certeza que apenas me resta construir um novo percurso. E, embora possa parecer sádico, estes momentos de frustração fazem mais por mim do que as próprias vitórias e conquistas. Esta insatisfação e sensação de acomodação são a força motriz para mudar, são as tabuletas no meio da estrada que me apontam o caminho a seguir e me indicam que este em que sigo é uma via sem saída. 

Mas hoje é sexta-feira, não há nuvem negra nenhuma que possa pairar no céu azul e luminoso de uma sexta-feira. É tempo de parar, de repor energia, de refletir com a mente tranquila e não agitada como estava ontem. É sexta-feira e, só por isso, sinto-me feliz :) 

03
Fev20

Indignação!

girl

Indignação. É a palavra desta segunda-feira, que ainda vai a meio e já vi um bocado de tudo. Sou uma pessoa indignada com as coisas, não consigo não permitir que me afetem, pelo menos ao ponto de não ter uma opinião sobre elas. Adoraria ser como aquelas pessoas que ouvem barbaridades, testemunham a idiotice dos outros sem sentirem vergonha alheia e sem se sentirem indignados. Eu sempre fui o oposto. Quando vejo alguma coisa que não está correta, quando me deparo com injustiças, tenho de falar. Eu tento controlar esta pulsão interior, a sério, tento com todas as forças. Mas é quase sempre mais forte do que eu e acabo sempre por arranjar (ou criar) oportunidade para falar sobre o que não está bem. Às vezes só faço figura de parva, outras vezes só arranjo lenha para me queimar e já tenho aprendido a ser mais calma e a compreender bem as situações, em primeiro lugar, para só depois agir sobre elas. E, outras vezes, consigo ajudar alguém e é por este nº de vezes, ainda que reduzidas, que ainda me indigno e falo. É por esta necessidade que me atravesso, sujeita a ouvir o que não quero, pelos outros. Porque não consigo ficar indiferente aos problemas dos outros e acabo, frequentemente, por os absorver como se fossem meus, o que também não está certo. Mas envolvo-me, irrito-me, sinto o calor subir-me ao rosto e o estômago a contorcer-se perante injustiças e, acima de tudo, perante o sofrimento dos outros.
Acaba de me acontecer mais um episódio de indignação. Desta vez, comigo, com a minha pessoa. E por mais que odeie sentir-me assim, sei que são estes momentos em que fico estupefacta, a tentar compreender se sou eu que estou a ver mal as coisas, que se acendem as luzes e se dá o click. É o meu momento eureka, o meu "ah!". É o momento em que ganho ainda mais certezas de que não é este o meu local, não é este o meu destino. E sei que tenho repetido neste blogue inúmeras vezes este discurso, estas conclusões repetitivas. Mas de cada vez que o escrevo, reúno certezas e, acima de tudo, forças para procurar a mudança. Porque a mudança é um percurso longo e sinuoso, não se faz de imediato, por maior que seja o nosso desejo.
Por isso, embora me traga tantos dissabores e dores de barriga, gosto dos meus momentos de indignação. Acordam-me para a realidade e reforçam a minha vontade de mudar. Boa segunda-feira para todos!

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