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the old soul girl

the old soul girl

03
Jan20

2020

girl

Estou há quase 15 minutos num jogo engraçado (e também irritante) de ora escreve ora apaga, resultando numa página em branco, que me olha com desilusão. Acontece-me muitas vezes: ter tanto sobre o que escrever que bloqueio todo o processo de escrita. É o mesmo com as minhas emoções: estão todas tão concentradas e emaranhadas umas nas outras, que se torna impossível sentir uma sem ativar as restantes. É por isso que tristeza, raiva, desilusão, cansaço andam de mãos dadas, como se temessem desintegrar-se caso uma se afaste e tenha o seu momento de protagonismo.
Com a escrita acontece o mesmo. São tantas as vezes que desisto de escrever por não saber por onde começar e por este desnorte espelhar a confusão que vai dentro de mim. Acabei de arrumar a minha secretária de trabalho e só desejava ser capaz de me arrumar com tanta facilidade como acabei de arrumar a minha mesa, deitando fora tanta coisa que carrego comigo como acabei de fazer com pilhas e pilhas de papéis inúteis. Ah, como eu gostava de chamar um serviço de limpeza interior, uma espécie de Marie Kondo emocional, para reformar o meu armário de pensamentos e sentimentos, organizando tudo por categorias como se organiza a roupa por cores. Infelizmente, este é um daqueles trabalhos que se desejamos bem feito, só nós o podemos fazer. Porque somente nós conhecemos detalhadamente a desarrumação que vai dentro de cada um de nós e, de igual modo, só nós podemos fazer a triagem correta entre o que fica e o que vai. Só nós conhecemos o canto de cada coisa e é arriscado deixar tal tarefa em mãos alheias.
Hoje de manhã pensei muito nesta questão da responsabilização e no modo como, muitas vezes, pretendemos ser salvos pelos outros, numa ânsia desesperada que alguém resolva os nossos problemas. Neste último ano, tive a oportunidade de aprender que tal não é possível e que quanto mais tempo perdemos à espera de um salvador, de alguém que nos acuda, mais tempo nos deixamos permanecer no problema. Sinto que ninguém em meu redor pode resolver as minhas questões por mim, compreendi que por mais que tentemos explicar o que vai dentro de nós aos outros, às vezes estes simplesmente não conseguem decifrar o nosso idioma. Não significa que não nos ajudem à sua maneira, que não se preocupem, mas é uma perda de tempo esperar que sejam eles a encontrar a luz ao fundo do túnel e torna-se cansativo depositar esperança e energias num trunfo que claramente não nos garante a vitória.
Quanto mais reflito nisto, mais me apercebo de como me cansei de me tentar fazer entender. Cansei-me de tentar ser compreendida e de forçar os outros a calçar o raio dos meus sapatos. E com este cansaço, veio a sensação de que, na verdade, não preciso que compreendam como é estar no meu lugar, desde que eu seja capaz de o fazer. Afinal, sou eu que estou nesta posição e apenas eu preciso de saber como lidar com ela, certo?
Numa entrevista a um casal que perdeu uma filha, um dos pais dizia que a ideia de que o luto é um processo sequencial é uma perfeita e tremenda estupidez. Seja porque todas as fases se parecem emaranhar umas nas outras, onde deveria haver tristeza junta-se a revolta, onde deveria haver aceitação surge o desespero; seja porque quando se termina o dito ciclo, retorna-se muitas vezes ao início, ficando a sensação de se está preso num círculo vicioso e muito, muito pouco virtuoso. Lembrei-me deste momento, porque acho que esta ideia resume, ou justifica, em grande parte, o remoinho que vai dentro de mim, este novelo de fios e nós, todos cruzados uns nos outros, formando um nó ainda maior.
Sabem, para 2020, não escrevi nenhuma lista de objetivos. Já tinha acontecido o mesmo em 2019, onde me limitei a assinalar 12 desejos que, ao rele-los, considero mais como 12 preces. Porque o grande objetivo, aquele que depois de concretizado abre caminho para todos os outros, grandes e pequenos, é desfazer este nó emocional que tenho em mim. É limpar o que está a ocupar espaço, libertar o que está a fazer peso e a impedir o movimento fluído e simples da vida. 2020 não vai ser o ano, tem de ser o ano.

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