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the old soul girl

the old soul girl

30
Dez19

2019 foi o ano em que ... #4

girl

... desfrutei mais da cultura. Fui a concertos, peças de teatro, espectáculos de stand-up comedy, tentei aproveitar um bocadinho de tudo que cabia dentro do meu orçamento financeiro e me enchia a alma.

Após todas estas experiências, dei comigo a cair sempre na mesma conclusão: a cultura não tem limites e nunca se aproveita em demasia. Fica sempre uma vontade crescente de repetir, de ir mais vezes, de se estar atento a todas as agendas culturais e marcar presença nos eventos que fazem matching com os nossos interesses. Temos tantos eventos culturais disponíves e possíveis, alguns até gratuitos, o que me faz convencer que, no meu caso, é a inércia que me faz ficar em casa. É porque está frio, é porque está calor, é porque acaba tarde, é porque começa cedo. Há sempre um motivo justificativo para ficar em casa e, mais do que isso, permanecer na rotina. Mas a verdade é que sabe tão bem assistir a um bom espectáculo. Aquela sensação de entusiasmo e deslumbramento, a forma como o tempo voa porque se está tão absorvido, a sensação de leveza que nos acompanha no regresso a casa.
Levo comigo para 2020 esta vontade de aproveitar ainda mais a cultura e fugir mais à rotina.

26
Dez19

2019 foi o ano em que ... #3

girl

... li compulsivamente. 

Se o mundo fosse a preto e branco e as pessoas se pudessem colocar em categorias, eu seria sempre elemento cativo do grupo dos leitores. Desde sempre que adoro ler e tenho alguma dificuldade em compreender as pessoas que não partilham comigo esta adoração, porque ler é uma das melhores coisas desta vida e eu poderia estar horas a escrever sobre isto e nunca conseguiria encontrar as palavras acertadas e capazes de retratar fielmente, com toda a verdade o quão maravilhoso ler é. 

Mas, embora sempre tenha adorado ler, não me lembro de um ano em que tenha lido tanto como este. É certo que ter independência económica potenciou este hobbie, permitindo-me comprar todos os livros que bem me apetecer, o que não acontecia quando a fonte para os comprar eram os meus pais. No entanto, ainda assim, associo esta compulsão não apenas à minha liberdade financeira, mas também (e sobretudo) à vontade de fugir da minha realidade, da minha própria história, e mergulhar noutros mundos. 

Porque ler é como ter um bilhete de avião vitalício, que nos leva a todos os destinos que desejarmos. Leva-nos para longe, sem termos de sair do sítio onde estamos, fazendo-nos perder em histórias e personagens tão cativantes, que absorvem a nossa atenção ao ponto de nos esquecermos de nós. Tudo que diz respeito à nossa vida fica como que suspenso, em pausa. Além disso, como acontece nas viagens, os livros também nos proporcionam experiências que abalam a nossa forma de ver o mundo, de o compreender e, desse modo, estremecem a forma como nos vemos e como encaramos as nossas vivências e problemas. Foram tantas as personagens deste ano que me deixaram a pensar nos meus problemas de perspetivas completamente opostas às quais recorro habitualmente. Pode até não resultar em nada específico, mas desloca-nos da posição confortável em que habitualmente nos colocamos para estudar os nossos dramas pessoais. 

2018 foi o ano em que a tempestade nos atingiu em força, mas 2019 foi o ano em que lidamos com os estragos provocados por ela. Este ano foi muito mais difícil, emocionalmente consumiu todas as energias e reservas que existiam em mim. Ainda estou a lidar com as consequências de tudo isto e de todos os mecanismos de resposta disponíveis, ler tem sido a minha fuga, a minha saída de emergência. Por isso, este foi o ano em que mais li, em que devorei os livros como se a minha vida fosse acabar e não houvesse tempo suficiente para tanta coisa que quero ler. 

26
Dez19

be here now

girl

E já lá vai o Natal. É sempre assim, uma correria desenfreada, toda uma antecipação e energia que se dissipam num piscar de olhos. Fica um vazio que nos leva a questionar "a sério que já passou?". 

Os dias de férias que tirei foram o verdadeiro presente de natal. Além de me terem permitido curar o corpo, que começa a manifestar por todos os lados que está cansado e a precisar de reforços, permitiram-me descansar a mente. Foram dias passados no sofá, enrolada numa manta e acompanhada com um chá a perder-me em clássicos da Disney, que apenas me fizeram confirmar que os filmes infantis são sempre mais para nós, adultos, do que para as crianças. As saudades que eu tinha de me maravilhar com um filme, de não ter o tempo contado, de me poder dar ao luxo de optar entre ler um livro ou vegetar em frente à televisão. 

Não acordei fora de horas um único dia, porque quando estou de férias, toda uma energia se apodera de mim, como se gritasse "tens de aproveitar cada segundo livre!", e salto da cama cheia de vontade de fazer coisas. Foi o que me aconteceu, por exemplo, ontem de manhã. Tinha-me custado tanto a adormecer, dormi muito pouco, mas eram 7h e pouco da manhã e já estava com as ganas de me levantar e fazer qualquer coisa. O que me vale é que apenas me desloquei da cama para o sofá e perdi-me a ver o Coco, um filme que ainda não tinha tido oportunidade de ver e me fez chorar como já não me lembrava. 

Foram dias que me fizeram pensar na forma como vivemos. Ou melhor, como existimos, porque cada vez compreendo melhor que passamos pela vida e poucos são os momentos em que podemos afirmar com certeza que a vivemos. E desengane-se quem pensa que para viver é preciso fazer um conjunto infinito de coisas e saltar de paraquedas, viajar ou ir a um restaurante novo todas as semanas. Sim, isso são experiências que nos podem fazer sentir vivos e, dessa forma, nos levarem a aproveitar a vida, mas não precisa de ser algo tão excêntrico. Basta estarmos presentes e plenos no que estamos a fazer. Retirar alguma satisfação e prazer. Seja a ver um filme, a ler, a cozinhar, a conversar, o que for. Tudo aquilo que aquecer a nossa alma e nos fizer sorrir, que nos fizer sentir aquela felicidade espontânea de gratidão por estarmos cá, já nos faz viver. 

É preciso aproveitar mais as coisas boas que temos disponíveis, as pessoas que temos em nosso redor, viver com leveza, tentando descomplicar, sobretudo naqueles momentos em que sabemos que temos tendência para nos perder em angústias e preocupações. Este natal foi este o meu exercício: deliciar-me com os pequenos prazeres da vida que tantas vezes sinto como inacessíveis. E o maior prazer é aquele que é vivido com calma, desfrutando sem pressas, sem exigências. Por isso, acho que esta foi a melhor prenda de natal que poderia ter oferecido a mim mesma: estar presente. 

20
Dez19

2019 foi o ano em que ... #2

girl

... descobri a escritora Colleen Hoover. Sabem quando descobrem algo maravilhoso e se questionam como é que foi possível viverem tanto tempo sem saber que existia algo assim tão bom? Pronto, é assim que me sinto em relação à Colleen (olhem só para mim a tratá-la pelo primeiro nome, como se fossemos as melhores amigas)!

Comecei por ler o Confesso e não fiquei deslumbrada, embora ache que tenha sido mais culpa minha do que do livro. Não o li no momento ideal, o que fez com que não me envolvesse tanto na história como seria de esperar, porque esta tem todos os ingredientes para ser viciante. 

Depois aventurei-me no Caso Perdido e este sim, foi paixão à primeira página. Arrisco a dizer que foi dos melhores livros que li este ano e quando terminei, fiquei com uma sensação de vazio que somente os bons livros são capazes de provocar. O que me valeu foi descobrir que existia outro livro, o Uma Nova Esperança, que contava a mesma história, mas na versão do outro protagonista. Escusado será dizer que adorei e a sensação de vazio só amplificou. 

A essa altura, já considerava a escrita e a criatividade da Colleen fora de série. Não há dúvidas que a autora tem a capacidade de nos envolver em histórias deliciosas e que têm sempre um turning point, causando sempre surpresa e deslumbre. Assim aconteceu com o Amor Cruel, que li praticamente em duas noites, chegando ao fim sem sequer me aperceber. Inicialmente, senti que tudo se estava a desenrolar demasiado rápido, sem haver cadência e tempo para absorver a história e conhecer as personagens, mas adiante compreendi que até esse ritmo aparentemente veloz fazia parte da história que a Colleen criou. 

9 de Novembro esteve na mesinha de cabeceira algum tempo, não porque não tivesse vontade de o ler, pelo contrário, mas pela certeza de que assim que o iniciasse não seria capaz de parar. Dito e feito. Sofri com as personagens deste livro como se todos os infortúnios estivessem a acontecer-me a mim e confirmei que a Colleen tem um dom que só lhe permite criar histórias incríveis.

E eis que é lançado o Verity, que foi um autêntico murro no estômago de tão assustador e fantástico que é, tudo ao mesmo tempo. A Colleen afasta-se completamente do seu registo habitual, mas só comprova que escreve bem qualquer coisa, até mesmo uma lista de tarefas. A sério, este livro é tão intenso, chega a ser macabro, que quando o lia, tinha necessidade de fazer pequenas pausas para recuperar a respiração e desenrolar o nó criado na barriga. 

O último que li, li em inglês e foi o Maybe Someday. Este é apenas o primeiro de três e posso assegurar que os restantes já foram encomendados e estão a caminho, porque este livro não é apenas um livro. É uma obra de arte que concilia a escrita com a música. A Colleen colaborou com o músico Griffin Peterson e todas as músicas escritas pelas personagens na história existem na realidade, pela autoria deste músico. Deixem-me fazer um parênteses para falar um bocadinho acerca de Griffin Peterson: as músicas são espetaculares! Não sei se é por ter lido os livros (sim, porque além das músicas do Maybe Someday, o cantor também escreveu duas, uma inspirada no 9 de Novembro e a outra no Amor Cruel) e a história de todos eles ainda estar tão presente em mim, mas dou por mim a ouvir as músicas dele em nonstop. E sempre com uma sensação de felicidade e paz a acompanhar. Aconselho-vos vivamente a ouvirem, porque é mágico. 

Posto isto, a Colleen ocupa, sem qualquer sombra de dúvida, um lugar cativo na minha biblioteca e no meu coração. Continuarei a ler todos os livros já publicados que ainda me faltam ler e lerei todos os que forem publicados no futuro. Para mim, foi uma das descobertas literárias mais felizes que fiz em 2019. 

19
Dez19

2019 foi o ano em que ... #1

girl

... me afastei de muita gente. Não apenas de pessoas que pouco acrescentavam à minha vida, mas de quase toda a gente no geral. E mesmo daqueles dos quais permaneci próxima, afastei-me emocionalmente. Não creio que o isolamento seja uma estratégia eficaz ou benéfica, mas foi uma das poucas que encontrei para me manter à tona, sobretudo nos períodos mais complicados. A ideia de alguém invadir a minha armadura tão bem construída e saber o que se estava a passar na minha vida assustou-me, ainda me assusta, não fosse eu uma pessoa reservada e cautelosa. Mas houve um outro motivo que pesou neste afastamento e que não me deixa orgulhosa. Grande parte de preferir ficar em casa, na minha companhia e dos meus livros, deve-se a não ter o menor interesse em estar a par das vidas dos outros, mesmo que estes outros sejam pessoas próximas de mim e para as quais apenas desejo o melhor.
A paciência para estar no café a ouvir falar do trabalho do x, do concerto ao que o y foi, ou do dilema entre ir a Itália ou a franca de férias deixou de existir. Sei que as conversas triviais fazem falta e mais falta fazem quando tudo em que conseguimos pensar se centra maioritariamente em questões complexas, densas e difíceis. Mas quando estamos tão saturados de tudo, quando sentimos que carregamos o mundo às costas, não nos apetece conviver com aqueles cuja vida corre de feição. Não me interpretem mal, adoro os meus amigos e fico feliz por eles terem a oportunidade de viverem em pleno e completo a idade que têm, de não terem de ser pais dos seus pais ainda, mas a realidade deles é tão diferente da minha, que deixei de me relacionar com aquilo a que chamam problemas e com aquilo que os move e preocupa.
Torno a dizer: não me orgulho. Gostava de ser capaz de me abrir, de chorar as minhas dores, de por tudo para trás das costas e viver mais. Mas também reconheço a necessidade crescente que sinto de estar na minha companhia, por ser uma companhia e presença de onde não me é exigido nada, onde não tenho de me esforçar, onde posso estar tranquila. Faz algum sentido?

Isolei-me na ilha que sou, na tentativa de encontrar toda a serenidade que não consegui (e ainda não consigo) encontrar no mundo exterior. Porque o meu cansaço atingiu um limite tão elevado que até os eventos sociais se tornaram um sacrifício, por serem mais um momento de pura representação, de mais uma vez colocar a máscara e bloquear tudo o que sinto. Há compromissos, como o trabalho, dos quais não posso fugir, mas todos aqueles cuja porta estava aberta, saí e corri sem olhar para trás.  

17
Dez19

nothing lasts forever

girl

Raramente vejo televisão e mesmo quando vejo, não presto muita atenção. É difícil estar concentrada a ver um programa do início ao fim, por isso os formatos que consumo nunca se afastam muito do telejornal e do Joker. No entanto, ontem dei por mim colada à televisão a assistir ao Prós e Contras, programa que aprecio, mas por norma só assisto quando o tema em debate me diz alguma coisa. Foi o caso. 

Com um conjunto de convidados das mais diversas áreas (medicina, filosofia, religião, escrita, teatro, etc.), o debate centrou-se no tempo. Na perceção do tempo, na sua existência e, talvez o mais importante, na sua passagem. Falou-se sobre os diferentes tipos de tempo, sobre a diferença entre imortalidade e eternidade, sobre as diferentes perceções do tempo de acordo com as nossas ideologias religiosas ou, melhor, as diferentes formas de encarar a passagem do tempo.

Fiquei maravilhada ao ouvir falar sobre um tema que ultimamente paira de forma recorrente na minha mente. Não me lembro de em algum momento da minha vida ter pensado tanto sobre o tempo. Talvez porque também nunca tinha sentido com tanta veemência a sua velocidade como tenho sentido. E também nunca me senti tão assustada por não o estar a aproveitar como deveria, da mesma forma que nunca pensei tanto na questão do tempo como uma dádiva que deve ser aproveitada ao máximo. 

Esta foi uma ideia que surgiu ontem no debate, a ligação íntima entre a morte e o tempo, sobretudo na intervenção do escritor Gonçalo M. Tavares com a qual concordo inteiramente. A presença constante da finitude na nossa mente faz-nos valorizar mais o tempo e a vida, porque sabemos que um dia tudo isto terminará e não sabemos quando será esse dia. Quando Gonçalo M. Tavares disse que a cada novo dia nos é dada mais uma oportunidade de viver só me apetecia levantar do sofá e aplaudi-lo. Resume na perfeição o que sinto perante a vida: estar vivo é uma dádiva tão grande. A cada manhã que desperto agradeço a oportunidade de me ser concedido mais um dia de vida, mais uma oportunidade para estar aqui e com os meus. Haverá um dia, sabe-se lá quando, que esse dia não chegará.

Esta consciência da finitude leva-me a pensar no tempo de uma forma completamente diferente do que pensava antes. Custa-me cada vez mais fazer fretes ou desperdiçar tempo a fazer coisas que não me realizam, precisamente porque penso que esse tempo não pode ser recuperado, não volta atrás, não pode ser reaproveitado de outro modo. Ao mesmo tempo, pensar todos os dias na finitude da vida, faz-me valoriza-la mais. É angustiante pensar que morreremos e, em parte, posso até concordar com a perspetiva do psiquiatra José Gameiro que disse que se todos pensássemos na morte todos os dias os consultórios dos psiquiatras estariam a abarrotar. Entendo essa angústia porque estou neste jogo como todos nós: sou humana, não vou viver para sempre e tenho medo. Mas, ao mesmo tempo, não posso discordar mais desta ideia de que não pensar na morte nos faz aproveitar mais a vida. Acho que é precisamente por sabermos que existe uma data de validade e sobretudo por não sabermos exatamente qual ela é, que nos devemos amarrar mais à vida e vive-la intensamente, com propósito.

Uma das provas a favor deste pensamento é a perspetiva dos doentes terminais. Em vários estudos, nomeadamente os de Kubler Ross relativamente ao luto, vários doentes em fase final de vida diziam que agora que tinham aprendido a viver é que estavam às portas da morte. Agora que se sentiam aptos e capazes de viver com sentido é que essa oportunidade lhes estava a ser confiscada. 

Para mim faz todo o sentido viver a vida com o sabor da mortalidade na ponta da língua. Porque, pelo menos para mim, não me faz viver menos. Faz-me viver mais na medida em que faz centrar no que realmente importa, faz-me sentir que o tempo é muito rápido e, acima de tudo, não é garantido. Por tudo ser tão efémero e incerto, faz-me arriscar, experimentar coisas que sempre quis fazer e que vou sempre adiando, faz-me desvalorizar conflitos e situações aparentemente difíceis, mas que na verdade têm sempre uma solução. Até porque só vivendo desta forma, tomando o presente como certo, é que podemos viver em pleno. E seja amanhã ou daqui a 100 anos, quando a nossa jornada chegar ao fim, acredito que percecionaremos a nossa vida como algo que valeu a pena, como uma oportunidade que usufruímos sem limites e que nos elevamos ao expoente máximo. 

17
Dez19

todas as coisas maravilhosas #16

girl

Uma das coisas que mais adoro quando estou a trabalhar, é ter o gabinete só para mim. Partilho-o com outros colegas e embora goste da sua companhia e dos vários momentos que partilhamos, não posso negar que adoro os momentos em que estou sozinha. Não trabalho menos, aliás, trabalho de igual modo, mas estou descontraída, não tenho de os ouvir constantemente em telefonemas, posso colocar a minha música ao volume que me apetecer, estou comigo e em paz. 

Hoje é um desses dias em que estou por minha conta e está a saber-me pela vida. Eu, a música, o trabalho e tudo fluí. Maravilha da vida!

16
Dez19

fix me

girl

Na semana passada conversava com duas amigas acerca de autoconfiança. Uma delas, que passou por um período complicado recentemente, contava como se sentia diferente desde que começara a trabalhar na sua confiança própria. Após um árduo trabalho de mudança, a minha amiga está muito mais confiante, aliás, não está muito mais, está simplesmente confiante, característica que antes não possuía e da qual é hoje detentora. Antes bastava olhar para ela para ver a insegurança que carregava, semelhante à bola de ferro acorrentada que os prisioneiros carregam consigo. Hoje orgulho-me dela por emanar confiança assim que entra numa sala, não sendo necessárias quaisquer palavras para se afirmar.
Dei comigo a falar de mim e de como ainda tenho esse longo árduo caminho para percorrer. De como sempre fui a minha inimiga nº 1, embora seja sempre a maior apoiante de todas as outras pessoas à face da terra. De como tenho um bichinho instalado no meu cérebro que se alimenta de auto sabotagem e de dúvidas acerca da minha pessoa.
A falta de confiança em mim mesma não é recente, pelo contrário, acompanha-me há muito tempo. Há tanto tempo que já a transformei parte de mim, como algo que me identifica e caracteriza. Começou nos tempos da escola, em que me sentia sempre diferente das pessoas em meu redor. Não me sentia inferior a ninguém, mas sentia-me incompreendida e estranha. Sentia que existia alguma coisa em mim que não me permitia simplesmente encaixar nos grupos como todas as outras pessoas. Não quer dizer que fui excluída e não tinha amigos, bem pelo contrário, tive sempre muita sorte com as amizades, porque nos grupos aos quais pertenço, o lugar ou a posição que ocupo é mesmo esta: a da pessoa diferente. A rapariga responsável que nunca faz asneiras, nunca se precipita, nunca perde o controlo. A rapariga que gosta das coisas do século passado, de ouvir histórias de vida, de passar tempo em casa, de ler. A rapariga que nunca teve uma rede social por um conjunto diverso de motivos, mas do qual faz parte o motivo de não se querer expor, de não se sinalizar. A rapariga que cora quando sente as atenções viradas para si, que se acha feia quando usa um pouco de maquilhagem porque se olha no espelho e não se reconhece, que tem medo de arriscar e parecer apenas ridícula. 

Sempre me senti diferente da maioria das pessoas e não é que isso seja negativo, aliás, hoje consigo compreender que pode até mesmo ser uma bênção tendo em conta a quantidade de gente parva com a qual me cruzo todos os dias. Mas influenciou a perceção que tenho acerca de mim mesma, de uma forma absolutamente emocional. Porque no plano lógico, olho para mim, para todas as virtudes e defeitos que me compõem e vejo uma pessoa com valor. Mas não o sinto. Sei que nada disto faz grande sentido, mas o que tento dizer é que existe um desencontro entre a forma como me penso e me sinto. Racionalmente, sei que tenho todos os motivos para ser uma pessoa confiante e segura de si mesma. A nível emocional, não me sinto essa pessoa. 

Há dias em que sinto que a minha insegurança é de tal forma visível e palpável que quando entro numa sala, entram dois seres: eu e ela. O que me deixa a pensar que se eu a vejo, todos os outros a podem ver também e tirar partido disso. Quando não estamos seguros de nós mesmos, tornamo-nos presas fáceis para os lobos desta selva que é a vida. Farejam a nossa insegurança e sabem exatamente onde residem as nossas fragilidades, nomeadamente no que diz respeito a impor limites e ser assertivo. Sabem que tememos sempre dizer a coisa errada da forma errada e a forma que adotamos para o evitar é não dizer nada. De igual modo, sabem que temos dificuldade em dizer "não", porque temos sempre uma necessidade latente de agradar e de que gostem de nós, pelo que nos colocam em situações difíceis onde nos sentimos encostados à parede. 

Emocionei-me enquanto falava com as minhas amigas, porque é difícil para mim assumir que sou a velha do Restelo de mim mesma. É até irónico tendo em consideração a forma entusiasta como motivo as outras pessoas nas suas jornadas. É como se ao dar tudo aos outros não me restasse nada para oferecer a mim mesma. Ontem dei o primeiro passo, pequeníssimo na verdade, em direção a um dos meus objetivos. Mais do que isso, a um dos meus sonhos. Inevitável e instintivamente, surgiram as presenças habituais: a dúvida, a auto sabotagem, a descrença. Só que desta vez estou tentada a usá-las para me elevar a um nível de excelência, em vez de desistir. Estou comprometida em provar a mim mesma que consigo, mais do que a qualquer pessoa no mundo. Quero fazer isto por mim e, acima de tudo, para mim. Não vai ser fácil, nem sequer rápido, mas valerá, sem dúvida nenhuma, a pena. 

 

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