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the old soul girl

the old soul girl

18
Nov19

it's you, it's me

girl

Acaba de me ligar para contar duas boas notícias. Sinto o entusiasmo na sua voz e sorrio. Adoro que me ligue sempre, sejam boas ou más notícias. Adoro a necessidade que sente de partilhar comigo o que abala o seu mundo, sabendo que abala também o meu. É como se ao fazê-lo multiplicássemos as alegrias e dividíssemos as tristezas. Adoro que ele saiba tudo que se passa na minha vida e que tenha estado lá desde o começo de toda esta tragédia. Mas que também tenha estado no começo de outras fases e tenha acompanhado de perto cada uma delas, inclusive o seu fim. De igual modo, adoro estar presente em todas as fases da sua vida. Há uma vida que partilhamos, mas depois existem pequenas ramificações que precisamos de vivenciar sozinhos. Nessas estradas paralelas, é bom sentir que estamos do outro lado da rua um para o outro.
Adoro a necessidade e o gosto que sinto em partilhar com ele alguma coisa que me acontece ou que descubro. Sinto essa urgência e, ao longo do meu dia, vou anotando mentalmente todas as coisas que lhe quero contar quando conversarmos à noite. Sempre foi o nosso ritual. Não somos adeptos de mensagens, preferimos falar ao telemóvel: é mais fácil, prático e podemos ouvir a voz um do outro. Podemos ouvir as expressões, as entoações, os risos, os suspiros. Habituamo-nos a conversar todas as noites, nem que seja para desejar uma boa noite um ao outro e dizer que nos amamos. Adoro quando me liga mais cedo do que o habitual para termos mais tempo para falar. Às vezes sou forçada a interromper a leitura, mas por ele quase que não importa. Aliás, importa só um bocadinho no início, a meio da chamada já não tem qualquer relevo. Afinal, ele é a minha história de amor real, verdadeira e não ficcionada. Uma das personagens principais da trama da minha vida.
Hoje dei por mim a pensar que nos conhecemos há praticamente uma década e que é muito pouco o que não sabemos um do outro. Ainda vamos descobrindo coisas novas, não só porque estamos, ambos, em constante mudança, mas também porque vamos partilhando cada vez mais de nós e com a exposição, vem a vulnerabilidade e todas as possíveis defesas e máscaras tombam. Gosto desta dualidade: de o conhecer tão bem e, ainda assim, encontrar coisas novas em si. Da descoberta. É como Proust diz "a única verdadeira viagem de descobrimento consiste não em procurar novas paisagens, mas olhar com novos olhos". O que significa que não é só ele que se dá a conhecer, sou também eu que vou ao encontro do que ele me dá. Porque se há coragem e entrega para dar, é preciso ter também a abertura e atenção para receber.
Sinto que nos aceitamos como somos e que nos permitimos ser livres. Não preciso de me esconder, de me refugiar numa versão qualquer que não a minha única e real. Ele não tem qualquer reserva em ser ele mesmo e eu fico feliz com isso. Que seja livre e, desse modo, nunca sinta necessidade de voar para longe.

Penso que isto é intimidade. Mais do que conhecermos os nossos corpos nus, conhecemos as nossas almas despidas, frágeis e vulneráveis. Somos experts um do outro. Companheiros desta viagem única, que escolhemos viver em conjunto e lado a lado. Porque sim, eu acredito que amar é uma escolha que fazemos todos os dias. Escolhemos aquela pessoa para ser a nossa pessoa, apostamos as nossas fichas todas nela e no que juntos construímos. Trabalhamos para os mesmos fins, aplicando os mesmos esforços e meios. Só assim faz sentido. Dois têm sempre de ser mais do que um, só assim vale a pena. 

18
Nov19

uma esquina marcante

girl

Era quarta-feira, sinónimo de tarde livre que, por sua vez, era sinónimo de namorar. Estava um dia chuvoso, mas não queriam ficar na escola, pelo que se lembraram de ir para um antigo centro comercial da cidade, semi abandonado e apenas ocupado por escritórios. Assim, estariam abrigados da chuva e poderiam namorar sem estarem preocupados com os comentários e partidas dos amigos.
O namoro ainda era recente e eles eram apenas dois jovens adolescentes a experimentar aquela corrente de sentimentos pela primeira vez. Sentiam-se atraídos um pelo outro, comportando-se como dois ímanes que rapidamente se juntam e só com muito esforço se afastam. Perdiam-se em beijos, uns lentos, outros apressados, não sendo capazes de resistir um ao outro. Naquela esquina escura e escondida, entregavam-se aos braços um do outro, envolvidos num abraço quente, sólido e íntimo. Eram dois miúdos a conhecer-se, a descobrirem os seus corpos e o desejo que deles emanava. Não havia qualquer promiscuidade nem segundas intenções. Cada toque dava origem a um mundo de sensações que parecia ultrapassar os cinco sentidos. Comunicavam através da linguagem dos seus corpos, num idioma criado por eles e no qual somente eles eram fluentes.
Naquela tarde, quando regressava a casa, ela apanhou uma molha valente. Mas, curiosamente, não sentiu a chuva na pele, não sentiu o frio provocado pelas roupas encharcadas e pelos fios de cabelo mergulhados em água. Sentia-se tão feliz, tão viva e quente. Foi o caminho todo a sorrir, como se o seu sorriso fosse uma estrada de mil quilómetros, onde se perde o início e o fim. Um sorriso tão brilhante que poderia servir de lanterna na mais escura gruta.
Aquela esquina escondida e escura havia de ficar para ser marcada na sua memória, por ter sido uma das primeiras vezes que ela deixara alguém tocar no seu corpo e, mais profundamente, na sua alma.

17
Nov19

um equívoco consertado

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Seria sempre e para sempre uma das melhores memórias deles enquanto família. Quatro almas, há muito tempo atrás, tanto que até parece ter sido numa outra vida, em redor da mesa de jantar, riram-se tanto que, a dado momento, gargalhadas deram origem a lágrimas, que se tornaram novamente em gargalhadas, só que mais fortes e descontroladas. Riram-se tão alto que até temeram que os vizinhos pudessem ouvir e pensar que estávamos todos a endoidecer naquele andar.

Sabem aqueles momentos de riso que nos fazem doer a barriga como se tivéssemos acabado de participar numa prova de abdominais para entrar para o exército? Em que nos sentimos leves como penas quando, finalmente, nos conseguimos restabelecer? Mas sabemos que, se alguém não aguentar e retomar o riso, já lá vamos nós também novamente?

Pronto, esta memória é sobre um desses momentos. Um desses momentos inesquecíveis quando ainda éramos uma família da qual eu me orgulhava. Nessa altura, a única refeição que fazíamos todos juntos era o jantar, devido à correria da vida de cada um. Mas o jantar era muito mais do que nos sentarmos à mesa e comermos. Era um momento de partilha, em que cada um de nós contava as novidades do seu dia e se debatiam os mais diversos assuntos. Por vezes, os nossos jantares prolongavam-se, mas era tão difícil sair da mesa e dar por encerrado aquele momento em que sentimos que pertencíamos uns aos outros e juntos éramos capazes de tudo. 

Num desses longos jantares, a propósito não sei bem de quê, houve uma confusão de palavras. A minha mãe queria dizer uma coisa, mas todos entendemos outra que distorcia por completo o que ela nos tentava dizer e tornava a história hilariante. Nós riamos que nem uns perdidos e ela olhava para nós como se fossemos doidos e ela fosse a única pessoa sã naquela mesa. Quando, entre risos e respirações ofegantes, o meu pai tentou esclarecer o equívoco, a minha mãe juntou-se a nós na risota. Finalmente entendeu o que tínhamos percebido e como isso tornava tudo muito mais engraçado.

Rimo-nos tanto naquela noite e continuamos sempre a rir-nos quando recordávamos esse momento épico. Um acontecimento tão simples, mas que nos deixava sempre de sorriso no rosto. Acho que ainda hoje, apesar de não sermos mais uma família e os nossos jantares serem pautados apenas pela comida e longos silêncios, esta memória é capaz de nos fazer sorrir. Porque esta é a parte boa do passado: não pode ser alterado. E, assim, nunca perderemos esse momento, mesmo depois de termos perdido tudo o resto. 

17
Nov19

obra(s) de arte

girl

Uma obra de arte. Na sexta-feira, dia em que o desafio pedia que se escrevesse sobre uma obra de arte, fiquei quase uma hora a olhar para uma página em branco, a ver o piscar daquele que penso ser o símbolo do computador quando está à espera que surja alguma palavra (algo semelhante a isto "|") e soube que estava a vivenciar o primeiro bloqueio criativo deste desafio. Sabia que eventualmente iria acontecer, porque são 30 itens aleatórios e diferentes e nem todos os dias nos sentimos inspirados. Curiosamente, tenho escrito sempre sem dificuldade, mesmo quando começo e não faço ideia sobre como vou acabar. A magia acaba sempre por acontecer e, a meio de uma frase, sei exatamente sobre o que quero escrever, mesmo que tenha começado sem norte.

Por algum motivo, está a ser difícil escrever sobre uma obra de arte. Não sei se é por não conseguir focar-me numa ideia específica ou se é por ter dificuldade em compreender o que é, exatamente, uma obra de arte. Para mim, há tanta coisa que cabe nesta gaveta chamada "arte". E, de imediato, as que me ocorrem mais rapidamente são a música e a escrita. 

Hoje terminei a leitura de mais um livro incrível. Ainda estou a pensar no raio da história e sinto que penso nas personagens e no seu desenvolvimento como se estivesse a pensar sobre algo que algum amigo estivesse a vivenciar e partilhasse comigo. Esta é uma sensação que se repete a cada livro bom que leio. Mas há muitas outras igualmente intensas. Questiono se uma obra de arte não será exatamente "isto"? Algo capaz de nos provocar, de nos abalar, seja positiva ou negativamente. Algo que coloca o mundo real em suspenso e nos faz viajar sem ser necessário tirar os pés do chão. Algo que nos transforma, nem que seja uma minúscula partícula do nosso ser.

Sinto dificuldade em falar de uma obra de arte, porque nesta definição cabe um universo. A natureza é uma obra de arte. O amor de uma mãe por um filho é uma obra de arte. Um beijo apaixonado é uma obra de arte. Uma gargalhada sonora e contagiante é uma obra de arte. Um livro, uma música, uma pintura são obras de arte. 

Por isso, não sei o que vos posso dizer acerca de uma obra de arte. Porque eu, feliz ou infelizmente, só sei reconhecer que existem biliões de coisas que considero obras de arte e jamais conseguiria falar-vos de apenas uma. 

14
Nov19

um adormecer tranquilo

girl

Nenhum lugar no mundo se assemelhava ao conforto e aconchego dos seus braços. Com a cabeça encostada no seu peito, embalada pelo ritmo do seu coração, sincronizavam as suas respirações, inspirando e expirando em uníssono, como se dois corpos se fundissem num só. Ele abraçava-a, cercando-a com os seus braços como se estes criassem uma barreira protetora entre ela e o mundo. Enquanto fosse prisioneira daquela fortaleza, nenhum mal a poderia alcançar, ele não deixaria que tal fosse possível.
Mesmo nas noites difíceis, em que as preocupações invasoras lhe roubavam o sono, só a presença dele, a dormir pacificamente junto de si, deixava-a tranquila. Acabava sempre por adormecer abraçada a ele, como se tentasse assegurar que ele não fugiria nem iria a lado nenhum. Ele era o seu porto seguro e, junto a ele, nenhuma tempestade parecia impossível de ultrapassar.
Foi desde que começaram a dormir juntos que ela descobriu o que era adormecer tranquilamente. Com ele, só existia acalmia, sossego, proteção e conforto. Os beijinhos na testa, o calor dos seus corpos abraçados, os pés entrelaçados (que eram uma verdadeira tormenta para ele, pois os pés dela assemelhavam-se a dois cubos de gelo), um encaixe perfeito das suas posições preferidas para dormir. Com ele, todas as noites eram profundamente deliciosas. Adormecer e acordar a seu lado era experienciar um amor sem limites, que não se esgota, que nunca entra em modo suspensão.

13
Nov19

tão perto e tão longe

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Ele liga-me quase todos os dias e eu, embora contrariada e sem nada para lhe dizer, atendo sempre. Nunca dura mais do que meros minutos, às vezes penso que se passaram horas e qual não é o meu espanto quando o visor do telemóvel marca um minuto e pouco mais. 

Pergunta-me como correu o meu dia. "Bem", respondo, sem me alongar. Sem acrescentar nada mais. Não porque não exista nada para contar, quase sempre existem peripécias no meu dia dignas de escrutínio, mas simplesmente não tenho vontade de as partilhar com ele. Sinto-me cansada só de pensar que teria de lhe contar detalhes e responder a perguntas. E mais cansada fico de imaginar que me tornará a fazer as mesmas perguntas, vezes sem conta, porque nunca regista as respostas que lhe dou. Como se alguma lesão cerebral lhe tivesse comido a capacidade de memorização. 

Às vezes, sinto, do outro lado da linha, a sua frustração. A sensação de que nada entre nós flui. Que alguma coisa se perdeu pelo caminho. Sinto-me culpada por não lhe conseguir dar mais de mim, mas entre a culpa por não o fazer e o cansaço e falta vontade de o fazer, os últimos vencem o primeiro. A culpa começa a tornar-se um sentimento conhecido e sou capaz de lidar com ele; já a falta de vontade é algo que ainda tenho dificuldades em domar. Sobretudo nestes últimos tempos, em que me tenho comportado como uma criança mimada, recusando-me a fazer qualquer tipo de fretes, por muito egoísta que possa parecer. 

Por vezes, sinto que gostaria que eu lhe fizesse questões sobre o seu dia. Sobre como estão as coisas. Não faço, porque não tenho verdadeiro interesse em saber. Responder-me-ia e eu nada faria com essa informação. É-me indiferente se o dia lhe correu bem ou mal. Claro que gosto de saber que está bem, mas não sinto aquela ânsia de o socorrer caso as coisas estejam menos bem. Não fico acordada a pensar em soluções como outrora fiquei. Isso foi numa outra vida e eu já não sou essa pessoa.

Vivemos debaixo do mesmo tecto e apenas nos vemos por escassos minutos todos os dias. De manhã, poderia contar cinco minutos, à noite por vezes nem isso. São múltiplas as vezes que o ouço colocar a chave na porta e apago a luz do meu quarto, fingindo já estar a dormir. Ele abre a porta encostada do meu quarto, espreita e, vendo-me a dormir, torna a fechar a porta. O que ele não sabe é que a escuridão que encontra espelha não só a ausência de luz do quarto, mas também o que vai dentro de mim. 

Vivemos na mesma casa, mas agimos como dois companheiros de casa cujas vidas se desenrolam a ritmos completamente opostos, mal se vendo e encontrando. Parece difícil acreditar que partilhamos os mesmos espaços e usamos os mesmos objetos nas nossas rotinas diárias. 

Parece ainda mais inacreditável pensar que, em tempos, fomos próximos. Eu orgulhava-me tanto dele e da nossa relação. Por ele ser tão presente na minha vida, desde sempre. Por ele ser tão aberto comigo e eu com ele. Lembro-me de adorar as viagens de carro em que íamos os dois a conversar, enquanto a minha mãe e irmã dormiam nos bancos traseiros. O lugar da frente era sempre meu, porque era a única que nunca cedia ao sono e lhe fazia companhia. 

Ele era o meu herói. Pela sua história de vida, pela sua garra e determinação. A sua energia, o seu foco nas soluções em vez de colocar as mãos à cabeça e desesperar. O positivismo e a vontade de viver. Amarrado à vida com força como se temesse que, a cada instante, esta lhe pudesse fugir das mãos. 

Hoje, estes retalhos são meros fragmentos de um passado extinto. Debato-me entre sentimentos de raiva, fúria, desprezo e irritação só de ouvir a sua voz. E, depois, regressa a culpa. O esmagamento que se abate sobre mim por sentir isto em relação ao meu pai. Depois, surge a tristeza. 

A tristeza consome-me. Por isso, evito-a. Penso que ele não tem o direito de me colocar triste. Quase sempre resulta. Mas há dias, por vezes momentos, em que ela se escapa e se infiltra nas fissuras que começam a aparecer nesta armadura desengonçada que construi. E instala-se, bem quieta, junto ao meu coração. E dói. 

Dói estar no quarto ao lado, no lugar da mesa junto ao dele, e, ainda assim, sentir-me tão distante. Senti-lo cá e eu além. Ele que, ainda não há muito tempo, era o meu pai adorado e querido. E hoje não sei quem ele é e ainda não sei para onde foi a pessoa que eu julgava conhecer. 

13
Nov19

um caminhada (nada) curiosa

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Era o seu ritual matinal e de fim do dia: caminhar. Morava a uma distância relativamente curta da faculdade, cerca de dois a três quilómetros, pelo que percorria diária e religiosamente aquele percurso a pé. 

De manhã, caminhava para despertar. Ao som da música, outras vezes a falar com a mãe ao telemóvel ou até em silêncio, entregava-se ao caminho e lá ia ela, acordando gradualmente, dispersando o mau humor, a vontade de dormir, as preocupações e toda uma série de mazelas. Quando chegava à faculdade, sentia-se renovada. Podia fazer chuva, frio ou até um calor desértico, mas nada constituía um obstáculo que não pudesse ser ultrapassado. Tornou-se campeã em enfrentar tempestades, tudo graças à vontade de caminhar e evitar transportes públicos. 

Ao fim de um dia de aulas, a caminhada já não era um despertador, mas antes um entorpecedor. Entre a faculdade e a chegada a casa, tinha oportunidade de descomprimir, de refletir acerca do dia, de organizar mentalmente a agenda de tarefas, de respirar ar puro. Quando colocava a chave na porta, sentia-se leve. Por muito cansada que chegasse, sentia-se bem. 

Não era um percurso particularmente bonito, mas fazia parte da sua rotina. Não tinha nada de curioso, ao fim de pouco tempo tornou-se até bastante familiar. Era a oportunidade perfeita para estar consigo mesma antes de se conectar com o mundo e, depois, de se desconectar deste. Uma espécie de interruptor. E era mágico. 

12
Nov19

9 de novembro

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Pirosa como a minha irmã gosta de me apelidar, tinha de começar a ler o livro "9 de novembro" da Colleen Hoover precisamente no dia 9 de novembro. Não sei se foi pelo desejo de cumprir a profecia do título, mas a verdade é que o livro já estava há demasiado tempo na mesinha de cabeceira à minha espera. Fui priorizando outras leituras, mas sempre com a sensação de que estava a deixar pendente algo importante. E não me enganei.
Ainda está para surgir o livro da Colleen Hoover que eu leia e não goste. A sério, será que existe algum que não seja maravilhoso? É que além de nos presentear com uma escrita envolvente, a autora ainda nos delicia com personagens apaixonantes, histórias e destinos que se cruzam com magia e surpresa. Começamos a ler pensando que sabemos como vai acabar, mas surgem reviravoltas inesperadas, que nos provocam agitação, calafrios e, por momentos, nos fazem suster a respiração. Foi assim com todos os livros que li até ao momento. Não consigo ler sem sentir um tsunami de emoções a invadir-me. E quando termino, as personagens acompanham-me por longos períodos de tempo, adquirindo um espaço próprio na minha vida.
O "9 de novembro" é uma história linda, incrivelmente bem escrita e ainda melhor conduzida. Cada capítulo é uma surpresa, uma descoberta intensa e impossível de prever. Fez-me tanto lembrar uma das minhas trilogias cinematográficas preferidas: before sunrise, before sunset e before midnight. Fez-me sentir tudo à flor da pele, o bom, o mau, o bonito, o feio, a vida e a morte.
Ontem, 11 de novembro, a leitura estava concluída. Se perdi algumas horas de sono? Perdi. Mas na vida as perdas e ganhos são sempre subjetivos. Acho que ganhei muito mais do que me seria possível se tivesse interrompido a leitura. Não conseguia, nem que quisesse. É como estar numa montanha russa, prestes a deslizar a alta velocidade e querer sair. Não dá, já lá estamos, agora só podemos sair quando o percurso chegar ao fim.
A sério, aconselho muito esta autora. Qualquer obra dela é fenomenal. Acaba de ser lançada uma nova obra e hoje já chegou cá a casa. Porque é aquele tipo de escritor que até a lista de supermercado desejaríamos ler.

P.S - Só mudaria a capa. Acho-a feia e, depois de ler o livro, sinto que nem sequer se adequa à história. Mas pronto, apliquemos o sábio conselho de não julgar o livro pela capa!

12
Nov19

sorriso

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Nesta vida maravilhosa, há uma série de prazeres, dos mais pequenos aos maiores, que me deleitam. Poderia enumerar tantos, desde a leitura compulsiva de um bom livro, uma boa chávena de chá quente num dia frio, um gesto de amor, viajar, um elogio inesperado. Mas quanto mais refletia naquele que é o meu prazer inenarrável, mais percebia que não podia ser nenhum destes. Um prazer deste calibre deve ser um prazer simples, tão singelo que se torna indescritível o seu impacto e força. Para mim é sorrir. 

Chamem-me pirosa, lírica ou ingénua, mas, para mim, um sorriso simpático pode transformar o dia de alguém. Sou a típica romântica que acredita que um sorriso não custa nada a quem o dá e vale tudo para quem o recebe. E isto não é agora, sou assim desde que sou gente. Sorrir é o meu super poder neste mundo cada vez mais caótico e doido, em que toda a maioria das pessoas se esquece que tem uma arma na face e que podia premir o gatilho sempre que assim o desejasse. Uma arma que dispara uma bala de bondade e afeto, de cuidado, de boa disposição, de compaixão, gritando "estamos todos neste barco chamado vida!". 

O meu maior prazer é este. Simplesmente sorrir. Sorrir a mim, aos outros, ao mundo e à vida. Mesmo que não haja motivo nem explicação.