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the old soul girl

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22
Out19

Um lugar querido

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Começa por um campo de girassóis. Milhares de girassóis abertos de um amarelo tão forte que poderia cegar o próprio sol. Ouve-se aqui e ali o zumbido das abelhas, que sugam sofregamente o néctar dos girassóis, ziguezagueando numa coreografia ensaiada, que não permite erros. O céu limpo, pintado por um azul sereno, onde se ergue o sol, forte e quente. Raios são disparados em todas as direções, iluminando e aquecendo toda a superfície. Está calor e uma brisa leve corre num compasso lento, envolvendo e refrescando. 

Ao longe, avista-se um pequeno lago, cuja água calma é tão fresca e limpa, que poderia servir de espelho. Nada estremece, apenas se vislumbram pequenos peixes nadando em círculo, em liberdade. Um pouco mais à frente, uma árvore de copa grande cria a única sombra existente. Uma árvore jovem, em plena primavera, cheia de frescura e folhagem verde. A sua sombra serve tanto de proteção do calor emitido pelo sol como de encosto para divinas sestas pós almoço. Ouve-se o chilrear dos pássaros, como se estivessem em conversação uns com os outros. A erva que os pés pisam é macia e suave, permitindo aos pés andarem descalços sem medos e preocupações. 

No horizonte, vislumbra-se o mar. Com atenção, pode até escutar-se a melodia das ondas: ora formando-se, ora desvanecendo-se na areia, formando pequenos vestígios de espuma. Está sereno, convidativo e reluz o brilho do sol, como se estivessem imersos milhões de diamantes a pedir socorro. 

Chama-se refúgio. É um lugar de fuga, mas também de reencontro. É um lugar querido, porque é um lugar que se quer e, acima de tudo, que nos acolhe como se nos quisesse. 

21
Out19

1. Uma memória feliz

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Encontrei este desafio no Pinterest e estou decidida a dedicar-me a ele durante os próximos 30 dias. Desde que criei o blog, sinto cada vez mais vontade de escrever e à medida que vou partilhando os meus pensamentos, surgem-me cada vez mais ideias e temas para serem libertados cá para fora. Sempre gostei de escrever. Hoje, mais do que por gosto, escrevo pela necessidade de me expressar e de organizar as várias gavetas da minha cabeça, colocando as coisas nos devidos sítios e ordem. Quem quiser, junte-se a mim neste desafio, carreguem no link para conhecerem as regras e deliciem-se escrevendo :)

1. Uma memória feliz

A casa da avó sempre foi mágica. Eu adorava dormir com ela e ainda hoje recordo aqueles serões como as noites mais felizes da minha vida. Tudo na avó gritava conforto e aconchego. Desde a comida que comprava e cozinhava especialmente para mim, com o cuidado de ser sempre o meu prato favorito, que, à época, consistia num delicioso bife cheio de batatas fritas e ovo estrelado, até à permissão para tomar longos banhos de espuma, mesmo que o chão da casa de banho ficasse inundado até à altura da maçaneta da porta. Já comi, desde então, tantos bifes com batatas fritas e ovo estrelado; já tomei tantos banhos de espuma; mas em nenhuma da vezes fui tão feliz como quando o fazia na casa da avó. Naqueles dias, estes pequenos gestos eram autênticos luxos; eram fugas à rotina e escapadelas para a terra dos mimos. 

Mas o que eu mais gostava em dormir na casa da avó era precisamente isso: dormir. A cama da avó tinha feitiços. Era muito grande, mas nós as duas conseguíamos sempre encontrar as nossas mãos e entrelaça-las uma na outra durante a noite; quando mergulhávamos nos lençóis, não havia qualquer choque térmico, porque estes estavam sempre quentes e fofos (vim a saber, mais tarde, que os super poderes eram um cobertor elétrico e uma botija de água quente); quando fechava os meus pequenos olhos, pedia à avó para me contar a história de jesus e, quando menos esperava, já tinha aterrado na terra dos sonhos.

A maior magia da avó era fazer sentir-me protegida. Todas as noites na casa da avó eram mágicas, porque a avó colocava sempre o mesmo ingrediente em tudo o que fazia: amor. Um amor tão grande, tão terno, tão forte que me fazia esquecer do medo do escuro e da noite. A avó era o meu escudo protetor, que me abraçava e protegia de todos os males. 

Passaram-se 20 anos e esta continua a ser uma das memórias mais felizes da minha vida. O álbum de recordações da minha infância está cheio de momentos bons e alegres; mas as noites na casa da avó continuam a ocupar um espaço especial no meu coração. Porque nelas existia tanto amor e, por causa delas, também eu aprendi o significado de amar. 

 

 

21
Out19

Viajar

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Ando com imensa vontade de viajar. E isto não é um afirmação chocante de se dizer, porque a maioria das pessoas adora viajar e, se pudesse, passaria a vida entre aviões e hotéis. Para mim não é um choque, mas não deixa de ser uma surpresa. 

Este ano, quando fui de férias, estava receosa em ir. Não sentia aquela vontade de ir explorar o mundo, de abandonar a minha zona de conforto e de estar longe de casa. Sobretudo isto: não queria estar longe de casa. Imaginar-me em aventuras, à distância, sabendo todos os problemas que ficavam em terra a precisar de mim estava a consumir-me. Contudo, ao mesmo tempo, o meu namorado dizia-me o quão eu estava a precisar de me afastar de todo o drama e caos do último ano e que nós, enquanto casal, também precisávamos de um momento longe de tudo e todos, para nos reestabelecermos e termos um tempo a dois de qualidade. Como já vos disse, ele é um homem sábio e quase sempre, se não mesmo sempre, tem razão e então lá fomos.

E foi maravilhoso. Senti-me livre. Se me perguntarem do que mais gostei, não vos direi que foi de x monumento ou de y restaurante. Foi da liberdade. Senti-me como já não me sentia há muito tempo: à descoberta, leve, tranquila com a vida. Deixei-me levar, caminhei quilómetros e quilómetros e essa sensação de me perder por ruas, por multidões, fez-me sentir em paz. Ali estava eu, diluída no meio de tantos, a não sei quantos quilómetros de casa e serena. Foram dias mágicos para reestabelecer o meu equilíbrio. 

Desde essa sensação de fuga, que o bichinho por viajar que estava adormecido dentro de mim decidiu acordar. E dou por mim a sonhar com destinos, a planear datas e estipular orçamentos. Acreditem quando vos digo que isto não é nada de chocante, toda a gente que conheço passa a vida entre planos de viagens, mas para mim, voltar a sentir esta vontade de ir descobrir o mundo é indescritível. Tinha receio de nunca mais me sentir viva desta forma, de nunca mais ter vontade de ir, sem medos, sem receios, de coração aberto. 

Não posso negar que há um cantinho do meu cérebro que nunca desliga completamente. Nos primeiros dias fora, ainda me sentia muito angustiada por estar longe e me estar a divertir, quando tudo em casa estava em ebulição. Mas foi uma aprendizagem importante para mim, a de compreender que podia ir viajar, podia ir divertir-me, podia respirar novos ares. Aprendi que sou capaz de estar longe e, mesmo assim, estar perto. Isso deu-me confiança. Fez-me sentir que a preocupação não precisa de me dominar por completo, eu posso ter o controlo. 

Desde que regressei, tenho muitas ganas de tornar a ir. De me aventurar por este mundo, de arriscar tudo, de sentir tudo o que tiver de sentir: adrenalina, felicidade, medo, excitação, tudo! Penso tantas vezes que a vida é tão curta para tudo o que gostaria de fazer, que se não começar o quanto antes, vai fugir-me por entre os dedos. O meu maior medo é desperdiçar a dádiva que é a vida. Tenho tanto medo de sentir que não aproveitei todas as oportunidades que tinha ao meu alcance para me tornar uma pessoa melhor, com mundo dentro, com experiência e sabedoria. 

Antes, não tinha nem um milésimo do dinheiro que tenho hoje e viajei muito. Arranjava sempre forma de ir, de juntar mais algum dinheiro e não tinha reservas nenhumas em ir. Fui mesmo muito feliz nessa época e não foi apenas pelo mundo que conheci nas minhas viagens, foi também pela sensação de conquista que cada viagem representou para mim. Sensação de ser capaz, de ser do mundo, de ter uma sede insaciável por conhecer mais e mais. Nesses tempos eu sentia-me capaz de tudo. Viajar era a minha força motriz. Hoje, que tenho bem mais recursos para o fazer, estou aprisionada na minha própria teia de inseguranças e receios. É por isso é que é tão importante para mim voltar a sentir esta vontade de conquistar o globo. Porque me faz sentir eu, um eu de quem tenho muitas saudades. Um eu que, por vezes, parece um flash, um vislumbre de uma outra vida, na qual eu fui tão, tão imensamente feliz. 

Sócrates deixou-nos a célebre lição de que os nossos esforços devem ser aplicados em construir o novo e não em recuperar o velho. Às vezes, ainda me debato com este jogo de forças e sinto-me presa ao passado. Mesmo sabendo que ele não regressa e que eu, invariavelmente, também já não sou aquela pessoa. Assim como amanhã não serei quem sou hoje. Serei alguém melhor. Alguém novamente capaz, de coração aberto à vida e à experiência, sem que o medo de se magoar seja maior do que o medo de não viver. 

20
Out19

something has broken

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Estou a começar a escrever este post e, curiosamente, toca a música "Something has broken" dos Fingertips numa lista automática qualquer do YouTube. Curioso porque é exatamente assim que me sinto, como se algo em mim se tivesse quebrado, de uma forma quase irremediável e desconcertante. 

Não sei como escrever sobre isto. Não consigo escolher as palavras certas, porque não existem, em lado nenhum, palavras capazes de traduzir tudo o que aconteceu dentro de mim quando descobrimos que o meu pai estava a ter um caso com outra pessoa que não a minha mãe. Foi um daqueles momentos na vida em que num simples segundo tudo se transforma e sabemos que não podemos recuperar a vida tal como ela era antes dessa descoberta. Eu já tinha passado por alguns momentos assim, como quando a minha avó morreu. Assim que entro em casa e descubro que ela já não estava connosco, soube que a vida jamais seria a mesma. Nesse dia, em que descobrimos a verdade, naquele preciso momento em que recebo a notícia, soube-o de imediato: a minha vida ia mudar e jamais voltaria a ser como era. Eu, pelo menos, não seria a mesma pessoa. 

Nessa noite, dormir foi quase impossível. Lembro-me da velocidade a que corriam os pensamentos na minha mente: tão rápidos, tão intensos, que parecia que iam soltar-se da minha cabeça e começar a correr à minha frente, no meu quarto. Tentava responder a tantas questões, mas a que mais gritava era sobre como seria o nosso futuro. O que iria acontecer-nos? A agonia instalada no meu coração era tanta, que pensei que os outros a conseguissem ver sobressair no meu peito.

Esse foi um dos dias mais difíceis de toda a minha vida. Ir trabalhar, agir como se estivesse tudo igual, quando tudo dentro de mim estava virado do avesso. Sorrir quando por dentro me doía cada pedaço do meu corpo de tanto o contrair para não chorar. Medo de desabar, de abrir as comportas das minhas emoções e ser incapaz de as tornar a fechar. Medo por saber que tudo aquilo era real e que, de alguma forma, teríamos de arranjar forma de lidar com a verdade. 

Depois desse dia, seguiram-se muitos outros dias maus. Invariáveis conversas entre família, a tentar compreender o que se tinha passado, entre gritos, choro, revolta, mágoa, desespero, medo, raiva, desilusão, perda. Deixem-me dizer-vos uma coisa que aprendi quando acontece uma coisa desta dimensão: a nossa reação dificilmente corresponde ao que acharíamos que seria. Jamais na minha vida pensei que iria reagir com tanta calma, com tanto autocontrolo, com tanta contenção nas palavras e nos atos. Mas a verdade é que quando o mundo nos cai em cima, é muito fácil desintegrarmo-nos e deixarmos de nos reconhecer. Para o bem e para o mal. 

O mais difícil foi ver a minha mãe desintegrar-se em milhões de fragmentos. Eu e a minha irmã tentamos apanhar cada pedacinho seu e tornar a juntar, como se se tratasse de um puzzle. Mas não valeu a pena o esforço, porque a minha mãe já não era mais a pessoa que nós conhecíamos. Aqueles pedacinhos todos juntos não nos traziam a nossa mãe de volta. 

E foi assim que os papéis se inverteram: de filha para mãe. Ali estava ela, ali estava eu, numa nova dinâmica relacional. Ela precisava de colo, de proteção, de segurança. Era como se lhe tivessem tirado o chão dos pés e o ar para respirar. Então ela passou a ser a minha prioridade. A ocupar o meu pensamento a todos os instantes: como será que está? Estará sozinha? Estará a chorar? Aproveitar a vida tornou-se muito difícil, porque de cada vez que eu me estava a tentar divertir, a imagem da minha mãe, sozinha, pequena, perdida, aparecia na minha mente e eu sentia-me culpada. Culpada por estar a sorrir, a rir-me, a viver quando ela se esforçava, dia após dia, para se manter à tona da existência. Eu sentia-me na obrigação de ser empática, de me colocar sempre na sua posição e de lutar para a tirar daquele lugar escuro e sombrio onde ela estava escondida. 

Essa é, talvez, a única coisa que não sou capaz de perdoar ao meu pai. Posso perdoar-lhe o deslize, a vontade de ser novamente feliz, o ter-se apaixonado por outra pessoa. Posso perdoar a sua humanidade, a sua imperfeição, os seus erros, porque todos os cometemos. Mas não sei se serei capaz de lhe perdoar o facto de que, para ele ir atrás da sua felicidade, nos deixou com uma enorme responsabilidade. Não sei se conseguirei perdoar o seu egoísmo. Todos os momentos que perdi por me sentir demasiado culpada para usufruir. Uma culpa que, racionalmente, sei que não me pertence. Não fui eu que falhei. Mas, por algum motivo irracional, não consigo suportar a ideia de ser feliz num mundo em que a minha mãe esteja tão triste. Rouba-me qualquer vontade de sorrir.

A vida está cheia de momentos bons, esplêndidos e outros menos bons, quase destrutivos. Penso muitas vezes que histórias como a minha acontecem todos os dias a pessoas inocentes como eu. Em vez de me perguntar "porquê a mim?", prefiro questionar "porque não a mim?". Porque não estamos protegidos. Cada um de nós está, a cada instante, a ser posto à prova. Viver é mesmo assim. Nem todos os dias podem ser bons e, garantidamente, nem todos os dias são maus. Até há dois anos, eu sentia-me protegida por uma redoma: a da minha família. Sabia que a vida nos iria testar, já o tinha visto acontecer antes, mas sentia que, por muito má que a vida se transformasse, nos teríamos uns aos outros. Porque era assim que eu nos via: unidos, mais fortes juntos do que cada um em separado. 

Essa foi a parte de mim que se quebrou. A ideia de que fazia parte de uma cápsula de vidro resistente a qualquer força. A minha família era a minha bolha protetora neste mundo caótico. Quando o meu pai fez esta bolha estourar, ficamos todos mais vulneráveis, mais pobres, mais frágeis. Expostos a qualquer tipo de mal, sem proteção a não ser nós mesmos. Perdeu-se a inocência, a leveza, a sensação de liberdade. Partiram-me a partir do momento que destruíram o alicerce base do meu ser: a família. 

É a primeira vez que me sento para escrever sobre isto. Como já referi algumas vezes, sou incapaz de pedir ajuda e de abrir. Acredito que falar disto com amigos me faria bem, nem que fosse por me fazer sentir mais leve, mas não o consigo fazer. Guardo tudo para mim e, às tantas, todas as emoções se misturam e confundem-se.

Ultimamente sinto-me muito zangada. Tenho tanta raiva dentro de mim. Sei que está a pulsar dentro de mim porque há muita coisa que preciso de processar. Nesta jornada de ser mãe em vez de filha, perdi o meu espaço e tempo para organizar os acontecimentos na minha cabeça. Afinal, sou parte integrante da história. Naquele dia em tudo veio ao de cima, a minha vida como a conhecia até então, deixou de existir. E ainda não lhe fiz o luto. Ainda não me permiti viver cada emoção que tenho pendente, seja em relação ao que se perdeu, seja em relação ao que se transformou. Sobretudo tenho emoções muito díspares em relação ao meu pai e isso afeta a nossa relação todos os dias. Espero que a escrita me permita organizar alguns destes sentimentos, sobretudo agora que me permiti escrever sobre eles pela primeira vez. 

 

18
Out19

Observações de uma pequena aprendiz

girl

Após quase dois anos a fazer oficialmente (e infelizmente também) parte do grupo das pessoas crescidas que têm de trabalhar, refleti acerca de algumas aprendizagens que tenho feito e cheguei a um conjunto de conclusões, que partilho com vocês:


1) Deixam-se de fazer amigos para se passar a ter colegas. O termo "amigo" é quase pecado quando se trata de trabalho, não se olhando com bons olhos as relações desenvolvidas cujo assunto de conversa seja mais do que matéria profissional. Além disso, formar amizades também se torna complicado pela conclusão seguinte.


2) Trabalhar é como entrar diariamente num campo de batalha minado. Nunca na minha vida tinha assistido a tanto gente em modo sobrevivência sem ser em situações de catástrofe e/ou guerra. Juro-vos pelo que é mais sagrado que convivo todos os dias com pessoas em stress contínuo, com disparos de cortisol a cada instante e cujo modo de relacionamento é à defesa ou ao ataque. 

 

3) Falta de confiança. É enorme a falta de confiança que sentimos dos outros em relação a nós, mas também em relação a eles mesmos, ou quanto muito, em relação ao seu trabalho, tamanha é a insegurança demonstrada em algumas atitudes. Já perdi a conta ao número de pessoas que entram e saem porque a pessoa responsável por lhes dar formação lhes dificulta a vida, não passa a informação e bloqueia os canais de comunicação. O que me levou a concluir o seguinte:


4) Só podemos contar connosco próprios. Esta poderia ser uma verdade aplicada a muitas situações, mas no contexto de trabalho é onde a sinto mais presente. No fim de contas, só podemos responder por nós e o nosso trabalho deve falar por si mesmo. E nos momentos difíceis, aquilo que faço é afastar-me da confusão, fazer uma pausa e respirar. Longe de tudo e todos, só comigo. O que não impede de arranjarmos aquilo a que chamo:


5) Um emergency buddy. Ou vários. Estas são as pessoas com quem conseguimos criar pontes em vez de erguer muros e são também aquelas que poderão seguir na nossa vida, mesmo quando já tivermos partido para outro trabalho. Passam de colegas a amigos e, nos momentos difíceis, são aqueles que nos ajudam a acalmar e a organizar as ideias. Todos precisamos de um, pelo menos!


6) Para os restantes é melhor usar uma máscara protetora, que os impede de ler as nossas emoções e de conhecer muito mais além de nós do que o nosso trabalho e competência. Estes são os que ficam na pasta "colegas" e só porque tem mesmo de ser.


7) Autocontrolo. Deveriam ser dadas formações anuais disto. Capacidade de gerir e regular emoções ou, de modo mais simples e direto, capacidade de não mandar toda a gente à merda. Sobretudo para aqueles dias em que não devíamos ter saído da cama. Ou em que os outros não deveriam ter saído.


8) O tempo não passa: voa! É, de todas as conclusões, a que me assusta mais. Quando se começa a trabalhar, diz-se adeus ao tempo como até então o conhecíamos. Saudades da época em que 24h podiam ser decididas só por mim e davam para tudo. Já vamos a meio de outubro e parece que todos aqueles planos que idealizamos não passaram disso mesmo: de planos!


9) Dá-se mais valor aos momentos livres e ao ar livre. Para quem trabalha todo o dia fechado, sabe com isto é verdade. Começamos a valorizar mais todas as oportunidades que temos para apanhar um bom solinho, para sentir ar fresco e puro (em vez do ar ventilado e saturado), para andar, correr, seja que for, mas que não implique estar sentado. 

 

10) Aprendemos a traduzir o discurso dos que nos rodeiam. A sério, experimentem fazer isto numa reunião de trabalho: ouvir com atenção o que está a ser dito e espremer a informação para conteúdo mais simples. Um exemplo: ainda há dias reunimos com uma empresa de recrutamento e seleção (que parecem cogumelos, sempre a nascer por todo o lado) e quando perguntamos o fee associado ao candidato em questão, o comercial respondia "pautamos o nosso trabalho pela excelência, pelo rigor, procurando sempre destacarmo-nos da demais concorrência, que trabalha numa lógica de base de dados, o que facilita o trabalho, mas não garante a mesma qualidade" e eu traduzia "cobramos caro, não somos como as outras empresas de RH que regateiam fees como se estivessem na feira e depois entregam candidatos que foram entrevistados via telefone". O mercado de trabalho está cheio de etiqueta, de discursos pomposos e bonitos, mas que não se traduzem na prática e que, passando por uma liquidificadora, não enchem nem um quarto do copo. 

Enfim, são apenas algumas observações minhas, mas quero fazer a ressalva de que acredito que muitas destas conclusões estejam associadas ao meu local de trabalho em específico e não se generalizem a todo o mercado profissional. Aliás, quero acreditar! Sei que há ambientes de trabalho incríveis, em que as pessoas são verdadeiramente felizes e, certamente, as conclusões dessas pessoas detonariam as minhas em segundos. Para essas duas pessoas, só tenho duas mensagens: 1) tenho inveja de vocês! e 2) espero um dia fazer parte do vosso grupo :)

16
Out19

walking contradiction

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Sou uma contradição ambulante. Odeio confusões e emaranhados de gente, mas adoro estar diluída na multidão. Sentir que sou apenas mais uma no meio de tantos e, no entanto, sentir-me tão diferente de todos. Pareço extrovertida, falo com qualquer pessoa com facilidade e sou normalmente a pessoa que quebra o gelo, mas tudo não passa de farsa, porque no meu íntimo sou muito introvertida. Gosto de desviar a atenção de mim para os outros, morro de vergonha quando sinto que invadem o meu espaço. Não imaginam como o meu coração dispara quando tenho de me apresentar em grupos, mas, por fora, parece que estou a fazer a coisa mais natural e fácil do mundo. 

Gosto de ajudar os outros. Ouvi-los, escutar com atenção e colocar-me na sua posição. No entanto, sou incapaz de pedir ajuda. Talvez por vergonha, talvez por introversão, mas raramente desabafo com alguém que não seja como uma segunda pele para mim (daí a escrita ser tão importante). Não gosto de inverter papéis: sou a cuidadora.

Adoro pessoas transparentes, explosivas, que libertam o que lhes vai na alma. Porque eu sou o oposto. Sou um livro fechado, cheio até às goelas de tanto autocontrolo e autoconsciência. Quantas e quantas vezes o meu interior está em tempestade pura e, exteriormente, um sorriso leve. Uma mentira, uma omissão, um segredo. Nem os mais atentos por vezes conseguem desvendar.

Adoro escrever, reprimo este sonho e vontade quase desde sempre por vergonha do que os outros possam pensar. Ao mesmo tempo, quero lá saber da opinião das outras pessoas, sobretudo das que não me dizem rigorosamente nada. 

Necessito de estar sozinha, comigo mesma. Do meu silêncio e companhia. Simultaneamente, há momentos em que preciso de me sentir protegida e acho que não sou suficiente para o fazer. Parece que preciso urgentemente dos meus para ser capaz, para me darem o voto de confiança que não consigo obter de mim mesma.

Todas estas contradições são os diferentes lados que me compõe, como se se tratasse de uma figura geométrica tridimensional. As várias faces de uma moeda. No fundo, não são contradições, são pedaços que se complementam formando uma estrutura algo complexa, algo difícil de compreender. Até para mim mesma. 

 

15
Out19

Ressaca emocional

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É oficial: estou de ressaca emocional. Os sintomas? Sensação de vazio, de perda, vontade de "consumir" mais e ter o pensamento completamente bloqueado e preso no objeto aditivo. Por um lado, dói; por outro, sabe muito bem. 

Falo-vos da única ressaca que tive e tenho na vida: aquela que é provocada após a leitura de um bom livro. Ontem terminei de ler "Sleepness in Manhattan" da autora Sarah Morgan e posso já assegurar duas coisas: 1) fui imediatamente comprar os dois livros seguintes desta coleção; 2) não consigo parar de pensar na Paige e no Jake Romano. A sério, que história tão boa! Tão viciante! 

Foi o primeiro livro que li em inglês. Estava com algum receio que a leitura se tornasse cansativa, porque embora domine bem a língua inglesa, há sempre termos e expressões que desconheço. No entanto, foi uma agradável surpresa: não só li maravilhosamente bem, como fiquei cheia de vontade de continuar a ler em inglês. Há sempre perdas nas traduções, há expressões difíceis de traduzir na íntegra que, ao lermos na sua forma original, fazem muito mais sentido e são muito mais bonitas. Esta descoberta abriu ainda novos horizontes: agora já posso comprar todos os livros que tenho na minha lista de desejos que, por ainda não terem um versão portuguesa, estavam em stand-by. Todo um novo mundo se abre!! 

Mas voltando à minha ressaca. Gosto tanto de ler um bom livro, mas a despedida custa tanto. Quando começo a sentir que são as páginas finais, bem tento demorar, saborear ainda mais a leitura, mas é tão difícil conciliar a vontade de devorar o livro com a de o prolongar. Quero mais, quero saber mais desta história. E quem fala desta fala de tantas outras que tenho lido e me têm deixado autênticos buracos no peito.

Aconteceu-me exatamente o mesmo com o livro Hopeless da Colleen Hoover. A única coisa que salvou o meu desespero foi ter descoberto que havia um outro livro da autora, o Hope, que contava a mesma história, mas pela visão do outro protagonista. Ainda assim, quando terminei o segundo livro, a queda na realidade foi dolorosa. Ainda andei uns dias em negação, incapaz de conseguir pegar num novo livro de tão amarrada que estava à história.

Sei que tudo isto parece ter saído diretamente do discurso de uma doida, mas acredito que quem lê sente o mesmo. Ler é tudo isto e muito mais. Por isso é que esta ressaca emocional é tão ambivalente: custa dizer adeus a uma boa história, mas vale tão a pena. Cada livro capaz de me provocar esta avalanche de emoções, faz-me um bocadinho mais feliz. Mais sonhadora. Mais viva. Como uma autêntica adição. 

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