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the old soul girl

the old soul girl

31
Out19

objeto de estudo

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Gosto de pessoas. Gosto de ouvir as suas histórias de vida. Com atenção, com curiosidade, com admiração. Encontro sempre alguma coisa inspiradora. Alguma aprendizagem, algo que posso extrair e levar comigo. E gosto de conhecer os percursos de vida dos outros para melhor os compreender. Para perceber quais foram os altos e baixos que fizeram toda a diferença no produto final do qual resultou aquela personalidade, aquele comportamento, aquela forma de olhar o mundo. 

Gosto de pessoas, na sua maioria, porque me dou ao trabalho de as compreender. E sim, é um trabalho, é um esforço aplicado, porque há pessoas realmente complicadas e difíceis de ler. Mas eu gosto de jogar a carta da empatia e tentar - sim, porque muitas vezes são meras tentativas frustradas - calçar os sapatos do outro. E mais do que calçar, caminhar com eles. 

É um exercício desafiante. Obriga-nos a fechar a porta do nosso mundo, atravessar a rua e entrar no mundo do outro. Só que a nossa porta não é fácil de fechar e a do outro não é fácil de abrir. Contando ainda que connosco vêm, frequentemente, pedaços do nosso universo. As nossas experiências, as nossas memórias, as nossas crenças. Por vezes, estas facilitam-nos a apreensão e aquisição do lugar do outro; por outras, funcionam como autênticas barragens. 

Gosto de pessoas. Inspiram-me. Milhões, biliões de pessoas neste mundo e, à sua maneira, cada uma é um mundo diferente. Há mundos parecidos, há mundos cruzados, mas nunca deixam de ser únicos e irrepetíveis. Há tanta beleza e, arrisco-me a dizer, tanto milagre nesta organização. Einstein dizia que há duas formas de viver a vida: viver como se tudo fosse um milagre ou como se nada o fosse. Eu faço indubitavelmente parte do grupo dos milagres. Só faz sentido olhar para as coisas dessa forma. 

Gosto de pessoas. Ainda assim, considero-me introvertida. Porque gosto de compreender as pessoas, mas nem sempre gosto de conviver com elas. Porque as pessoas são quebra-cabeças, são desafios, são charadas. Há muita complexidade envolvida, centenas de peças que ora se encaixam, ora não, dependendo dos dias, às vezes dos momentos, variando numa série de fatores. Conviver pode ser uma tarefa esgotante. Ao fim de muitas horas em ambientes sociais, preciso de espaço e silêncio para mim. Para recarregar todas as energias consumidas no jogo social.

Gosto de pessoas. Como objeto de estudo e admiração. Gosto delas a uma distância de segurança: onde posso interagir, compreender, mas deixando sempre saídas de emergências por onde posso fugir e retomar ao meu lugar quieto, solitário e simples. 

30
Out19

descobertas infantis

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Estávamos as duas – eu e a minha melhor amiga – no quarto da mãe dela. Era o único compartimento da casa onde a televisão apanhava canais do cabo o que, naquela altura, era um verdadeiro luxo. Passávamos horas em frente à televisão a ver tudo o que era séries e desenhos animados. Hoje parece tempo perdido, mas na altura não o sentíamos assim. Eram as melhores horas do nosso dia, depois de um dia longo de escola.

Foi numa dessas tardes que o meu pequeno cérebro infantil fez uma descoberta inacreditável. Na verdade, foram duas descobertas, interligadas e absolutamente fascinantes. Não sei como conta-las sem parecer ridícula, mas foquemos que, à data, era uma inocente criança com um superpoder: o da imaginação. E neste voo mágico eu acreditava em duas coisas: a primeira, que as pessoas que via na televisão estavam realmente dentro da televisão e, a segunda, na minha opinião a mais mirabolante, que todos os atores falavam várias línguas e portanto, não existiam dobragens, os atores eram capazes de falar em inglês, português, espanhol, todos os idiomas!

Depois destas descobertas, seguiram-se muitas outras, sempre neste plano entre o imaginário e o surreal. A cada nova, perdia-se um pouco mais de inocência, ganhava-se um pouco mais de racionalidade. Compreender o mundo, o lugar e a ordem das coisas, o porquê, o como. Não há dúvida de que conhecimento é poder, mas confesso que há dias em que tenho saudades do incrível e fantástico que construía na minha mente. Com pouco sentido, mas sem sombra de dúvida, bem mais divertido. 

30
Out19

uma experiência triste

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Já vos falei daqueles momentos em que, num segundo, a vida como a conhecíamos jamais torna a ser a mesma. Infelizmente, tenho uma coleção de alguns desses, o que significa que a minha vida tem sofrido várias transformações, sem qualquer controlo ou vontade da minha parte. E está tudo bem, a vida é mesmo assim, eu quero é por cá andar muito tempo e honrar a oportunidade de viver.

Mas hoje quero falar-vos de um outro tipo de momentos. Os momentos em que aquelas pessoas que considerávamos heróis e heroínas, como os nossos pais ou avós, mostram ser, afinal, pessoas reais. Que choram, têm medo, fraquejam e erram. Freud falava deste tipo de momentos: é aquela descoberta inevitável de que os que nos protegem são tão falíveis como nós e, quando magoados, também sangram.

Uma das experiências mais tristes da minha vida foi um desses momentos. No dia em que a minha avó materna chorou nos meus braços, encostada a mim e, entre soluços, me disse que só queria ficar connosco. Podem passar-se anos e, entretanto, já se passaram alguns, mas nunca serei capaz de esquecer o sentimento de desespero dela e o meu, ao vê-la naquele estado. Ainda hoje, ao relembrar este acontecimento, torno a sentir tudo que senti naquele dia, à flor da pele, como se estivesse a ocorrer neste preciso instante. Senti-me esmagada pela tristeza da minha avó, aquele ser tão pequeno e vulnerável, nos meus braços, perdida em lágrimas. Os papéis invertidos naquela cama: ela chorava, eu abraçava-a e consolava-a. Ou tentava consolar.

Depois deste, seguiram-se muitos outros momentos em que fui compreendendo como somos todos humanos: avós, pais, filhos, netos. Estamos todos expostos e vulneráveis a esta aventura que é viver. Não houve, no entanto, nenhum momento tão triste como este. Ainda assim, porque tudo tem dois lados, não houve também oportunidade melhor para estreitarmos o laço forte que nos unia e, naquele abraço apertado, dissemos em gestos – ela, na vulnerabilidade, eu, no consolo – o quanto nos amávamos.

30
Out19

quando as palavras dos outros substituem as nossas

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I love you without knowing how, or when, or from where. I love you straightforwardly without complexities or pride. I love you because I know no other way then this. So close that your hand, on my chest, is my hand. So close, that when you close your eyes, I fall asleep

Hunter - Patch Adams

Porque quando se trata de ti, meu amor, eu perco as palavras, as frases e tudo que é vocabulário. Sobretudo quando estás mal. Porque a tua dor, é a minha dor. A tua revolta é a minha revolta. Como Julio Cortázar escreveu "Si te caes te levanto, y si no, me acuesto contigo." 

28
Out19

ritual de passagem

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Ocorre todas as vezes em que me sento e fecho os olhos. Inspiro calmamente, devagar, sentindo o ar a ocupar lentamente cada pedacinho dos meus pulmões. Também gosto de sentir a minha barriga expandir, como se se tratasse de um balão. Depois, com igual calma, expiro todo o ar anteriormente consumido. Saboreio cada segundo e sinto o ar quente a abandonar o meu corpo e todos os seus recantos retornam ao seu volume inicial. Sei que se segue outra inspiração e o ciclo reinicia. Mantenho-me concentrada neste jogo de entra e sai, de enche e esvazia. Vai-se tornando cada vez mais lento e mais presente.

Uma vez por outra, aparece um pensamento. Uma ideia, algo para fazer em seguida, uma lembrança, uma preocupação. Desligo-me da (literal) corrente de ar e deixo-me ir nesse pensamento. Quando me apercebo que já me afastei o suficiente da costa, paro e torno a regressar. Retomo a atenção na respiração e deixo-me ali ficar. Até que surge outro pensamento, eu torno a ir e torno a regressar. Assim, recorrentemente, vou e venho. Viajo e regresso. 

O meu ritual de passagem dá-se todos os dias. Quando me dedico a meditar, alterno entre dois estados: o automático e o pleno; o passado/futuro e o presente. A meditação é o ritual de passagem que me permite avançar entre a confusão da minha mente, a corrida alucinante dos meus pensamentos e chegar a um lugar de aceitação e serenidade. Porque a verdade é que se há algum tempo atrás me perguntassem o que mais queria da vida, eu diria que é ser feliz; hoje diria, sem hesitar, que é ter paz de espírito. Sem esta tranquilidade, é difícil sermos completamente felizes. E sem ela, garanto-vos, é certamente mais duro enfrentar as adversidades da vida. 

Assim, cumpro este ritual todos os dias. Recolho-me em mim, regresso a casa e transito para o meu lugar de calma. 

28
Out19

Everything that kills me makes me feel alive

girl

Desde que li este texto da Inês, ando com imensa vontade de responder à pergunta por ela lançada. O que me faz sentir viva? Tenho andado a pensar nisto recorrentemente e a adicionar itens na minha lista imaginária. Hoje trago algumas ideias:

- dançar

- rir

- ler

- correr

- girassóis

- sentir o sol na pele

- ouvir música

- sorrir

- conduzir

- superar desafios/ terminar uma tarefa exigente

- comer algo delicioso

- abraços

- viajar

- jantaradas com amigos

- noite de natal (e toda a antecipação antes desta noite)

- um jogo importante da seleção nacional

- ver um filme/ver um espetáculo que me deixe completamente abismada

- ver o nascer e o por do sol

- mergulhar no mar

Esta é daquelas lista to be continued. É um exercício tão giro, por momentos altera-nos o foco atencional para tudo aquilo que nos faz vibrar positivamente. Recomenda-se :)

28
Out19

a música favorita

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Poucos lugares neste mundo eram capazes de o fazer sentir-se em casa, mas aquele era uma dessas raras exceções. Não sabia precisar o momento em que descobrira aquele sítio. O mais provável era ter sido por acaso, numa daquelas descobertas aleatórias da vida. Sabia, no entanto, que aquele se transformara no seu refúgio. 

Era difícil traduzir a magia daquele lugar. Nenhuma palavra parecia suficiente, nenhuma combinação frásica parecia capaz de espelhar a magnitude que só aquele lugar tinha. Porque quando ali chegava, era invadido por uma sensação de paz e aconchego que só o abraço de uma mãe é capaz de igualar. Era como se todos os sentidos ficassem reféns daquela magia e, por consequência, todo o corpo e mente entrassem numa espécie de dormência, quase que anestésica, relaxante. Assemelhava-se à ridícula comparação do conforto sentido quando se chega a casa e se despe a roupa e descalça os sapatos, oficializando a sensação de "estou em casa!". 

Quando lá estava, perdia a noção do tempo. Podiam passar-se horas ou segundos, era-lhe completamente indiferente. A desconexão com o mundo era de tal ordem, que tempo e espaço ficavam à porta. Era esse tipo de sítio.

Para lá chegar, bastava-lhe premir o botão certo: o do play. Para intensificar a impermeabilidade com o exterior, era simples: aumentar volume. E era sempre ali, na sua música favorita, que encontrava o ninho. 

27
Out19

sonho recorrente

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Ela tinha deixado de sonhar. Não se lembrava de quando é que tinha deixado de o fazer, mas sabia o motivo. Evitar desilusões. Sonhar é criar expectativas, é criar desejos sem necessidade. Se os pés e a cabeça estiverem ambos no chão, o coração manter-se-á protegido. E foi assim que aconteceu: numa decisão rápida e racional, ela havia escolhido nunca mais sonhar.

Foi uma escolha de tal forma séria, que mesmo dormindo não era capaz de sonhar. Acordava com a sensação de mente em branco, como se a noite tivesse sido apenas reparadora do cansaço e nada mais. Não tinha histórias mirabolantes para contar, não se lembrava de nada a não ser do momento em que adormecera e, depois, do despertar para mais um dia. 

Não sabia se invejava os sonhadores ou se tinha pena deles. Pobres criaturas inocentes, suspensas e seguras por uma ilusão, guiadas pelo imaginário. Como é que eles conseguiam? Acreditar num pedaço de imaginação, numa projeção criada pelas suas cabeças? E de onde vinha aquela força, aquela vontade insaciável de concretização? 

Como em tudo na vida, para cada ganho há uma perda. Ela ganhou segurança, perdeu aventura. Ganhou o concreto e palpável à custa do imaginário e abstrato. Ganhou anticorpos à desilusão, mas perdeu a capacidade de sonhar e, assim, também a oportunidade de viver.

Porque dizia o poeta, e bem, que a melhor vida é aquela que é sonhada

 

27
Out19

O domingo perfeito

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Definição de domingo perfeito:

- acordar sem despertador, tarde, mas de preferência não muito, de modo a poder aproveitar a manhã;

- tomar um bom pequeno-almoço, dar uma facadinha na dieta, mas sem remorsos porque, afinal, vezes não são vezes;

- dependendo do estado do tempo: dedicar o dia a ler, enrolada numa mantinha, com um bom chá quente caso esteja um dia chuvoso e frio; em caso de sol, vestir o fato de treino e ir caminhar na natureza; 

- fazer uma preparação física e mental para a semana que está prestes a começar: tomar um banho quente relaxante, hidratar a pele, fazer uma máscara no cabelo, arrumar o que precisa de ser arrumado, meditar, pensar em todos os objetivos que se pretende alcançar;

- relaxar, fazer as coisas com calma e sem pressas, sem stress;

- namorar, conversar, desfrutar da companhia dos que amamos;

- usufruir da nossa casa, do nosso ninho;

- em suma: fazer o que nos apetece, à hora que nos apetece, deitando fora todas as rotinas, porque para essas já temos a semana toda!

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