objeto de estudo
Gosto de pessoas. Gosto de ouvir as suas histórias de vida. Com atenção, com curiosidade, com admiração. Encontro sempre alguma coisa inspiradora. Alguma aprendizagem, algo que posso extrair e levar comigo. E gosto de conhecer os percursos de vida dos outros para melhor os compreender. Para perceber quais foram os altos e baixos que fizeram toda a diferença no produto final do qual resultou aquela personalidade, aquele comportamento, aquela forma de olhar o mundo.
Gosto de pessoas, na sua maioria, porque me dou ao trabalho de as compreender. E sim, é um trabalho, é um esforço aplicado, porque há pessoas realmente complicadas e difíceis de ler. Mas eu gosto de jogar a carta da empatia e tentar - sim, porque muitas vezes são meras tentativas frustradas - calçar os sapatos do outro. E mais do que calçar, caminhar com eles.
É um exercício desafiante. Obriga-nos a fechar a porta do nosso mundo, atravessar a rua e entrar no mundo do outro. Só que a nossa porta não é fácil de fechar e a do outro não é fácil de abrir. Contando ainda que connosco vêm, frequentemente, pedaços do nosso universo. As nossas experiências, as nossas memórias, as nossas crenças. Por vezes, estas facilitam-nos a apreensão e aquisição do lugar do outro; por outras, funcionam como autênticas barragens.
Gosto de pessoas. Inspiram-me. Milhões, biliões de pessoas neste mundo e, à sua maneira, cada uma é um mundo diferente. Há mundos parecidos, há mundos cruzados, mas nunca deixam de ser únicos e irrepetíveis. Há tanta beleza e, arrisco-me a dizer, tanto milagre nesta organização. Einstein dizia que há duas formas de viver a vida: viver como se tudo fosse um milagre ou como se nada o fosse. Eu faço indubitavelmente parte do grupo dos milagres. Só faz sentido olhar para as coisas dessa forma.
Gosto de pessoas. Ainda assim, considero-me introvertida. Porque gosto de compreender as pessoas, mas nem sempre gosto de conviver com elas. Porque as pessoas são quebra-cabeças, são desafios, são charadas. Há muita complexidade envolvida, centenas de peças que ora se encaixam, ora não, dependendo dos dias, às vezes dos momentos, variando numa série de fatores. Conviver pode ser uma tarefa esgotante. Ao fim de muitas horas em ambientes sociais, preciso de espaço e silêncio para mim. Para recarregar todas as energias consumidas no jogo social.
Gosto de pessoas. Como objeto de estudo e admiração. Gosto delas a uma distância de segurança: onde posso interagir, compreender, mas deixando sempre saídas de emergências por onde posso fugir e retomar ao meu lugar quieto, solitário e simples.