2019 foi o ano em que ... #3
... li compulsivamente.
Se o mundo fosse a preto e branco e as pessoas se pudessem colocar em categorias, eu seria sempre elemento cativo do grupo dos leitores. Desde sempre que adoro ler e tenho alguma dificuldade em compreender as pessoas que não partilham comigo esta adoração, porque ler é uma das melhores coisas desta vida e eu poderia estar horas a escrever sobre isto e nunca conseguiria encontrar as palavras acertadas e capazes de retratar fielmente, com toda a verdade o quão maravilhoso ler é.
Mas, embora sempre tenha adorado ler, não me lembro de um ano em que tenha lido tanto como este. É certo que ter independência económica potenciou este hobbie, permitindo-me comprar todos os livros que bem me apetecer, o que não acontecia quando a fonte para os comprar eram os meus pais. No entanto, ainda assim, associo esta compulsão não apenas à minha liberdade financeira, mas também (e sobretudo) à vontade de fugir da minha realidade, da minha própria história, e mergulhar noutros mundos.
Porque ler é como ter um bilhete de avião vitalício, que nos leva a todos os destinos que desejarmos. Leva-nos para longe, sem termos de sair do sítio onde estamos, fazendo-nos perder em histórias e personagens tão cativantes, que absorvem a nossa atenção ao ponto de nos esquecermos de nós. Tudo que diz respeito à nossa vida fica como que suspenso, em pausa. Além disso, como acontece nas viagens, os livros também nos proporcionam experiências que abalam a nossa forma de ver o mundo, de o compreender e, desse modo, estremecem a forma como nos vemos e como encaramos as nossas vivências e problemas. Foram tantas as personagens deste ano que me deixaram a pensar nos meus problemas de perspetivas completamente opostas às quais recorro habitualmente. Pode até não resultar em nada específico, mas desloca-nos da posição confortável em que habitualmente nos colocamos para estudar os nossos dramas pessoais.
2018 foi o ano em que a tempestade nos atingiu em força, mas 2019 foi o ano em que lidamos com os estragos provocados por ela. Este ano foi muito mais difícil, emocionalmente consumiu todas as energias e reservas que existiam em mim. Ainda estou a lidar com as consequências de tudo isto e de todos os mecanismos de resposta disponíveis, ler tem sido a minha fuga, a minha saída de emergência. Por isso, este foi o ano em que mais li, em que devorei os livros como se a minha vida fosse acabar e não houvesse tempo suficiente para tanta coisa que quero ler.